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domingo, 30 de dezembro de 2012

“A resposta técnica do juiz não basta”


Entrevistas

30dezembro2012
VOCAÇÃO CONCILIADORA

“A resposta técnica do juiz não basta”

A despedida emocionada do ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Massami Uyeda, em novembro deste ano, acabou se convertendo também em oportunidade para que os demais colegas, que prestavam homenagens em sessão, criticassem a norma constitucional que estabelece 70 anos como idade limite para a aposentadoria. Uyeda deixou a corte no final de novembro quando completou sete décadas de vida, sendo ele mesmo favorável à proposta de emenda constitucional que aumenta a idade de aposentadoria de 70 para 75 anos — a chamada PEC da Bengala. A economia aos cofres públicos e a capacidade de juízes que acumularam décadas de experiência e ainda desfrutam do auge de seu vigor intelectual são justificativas eloquentes para o ministro na defesa da proposta.
“O ministro Massami é um dos casos, ao lado dos ministros Cezar Peluso e Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal, para fazer repensar a aposentadoria compulsória por idade, pois são pessoas que chegam aos 70 anos em plena saúde física e mental. Não há, infelizmente, como brigar contra a Constituição Federal”, desabafou, na ocasião, o ministro Paulo de Tarso Sanseverino.
Nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, Uyeda, que integrou o tribunal por mais de seis anos, compunha a 3ª Turma da 2ª Seção, que cuida de matérias de Direito Privado. Em entrevista concedida em seu gabinete à revista Consultor Jurídico, poucos dias antes de se aposentar, o ministro disse que os anos no tribunal lhe deram a dimensão de quanto aquela corte é importante. “A essência desse tribunal é a mesma da Suprema Corte”, disse durante a entrevista. “Tendo essa atribuição de uniformizar a jurisprudência do país e de dar a interpretação da lei infraconstitucional, pode-se dizer que a matéria que interessa diretamente ao cidadão acaba chegando aqui”, observou.
Descendente de imigrantes japoneses e nascido na cidade de Lins, no interior de São Paulo, em 1942, Uyeda dedicou 47 anos ao Direito, destes, 35 ocupados com a magistratura. Ele foi o primeiro nipodescendente a integrar um tribunal superior brasileiro. No final dos anos 1960, atuou como advogado. Foi também promotor de Justiça de São Paulo na década seguinte. Por fim, já na magistratura, foi desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo.
No período em que atuou no STJ, consolidou sua reputação como defensor da conciliação, tentando compor as partes mesmo em recursos especiais. Em um episódio, aproveitou o fato de os advogados de um processo marcarem a audiência no mesmo horário para formular uma proposta de conciliação. Depois de muita conversa com as próprias partes, até então irredutíveis de sua posição e em clima de deflagrada beligerância, o processo acabou sendo encerrado.
Durante a entrevista, o ministro aposentado disse que, com a experiência, suas convicções e certezas na área do Direito recuaram em favor da maturidade da dúvida. E que com a aposentadoria, além de se dedicar à família, pretende suprir lacunas em sua formação como jurista e ser humano. “Julgar é optar por angulação de interpretação. A realidade jurídica, o fato jurídico são multifacetados, não são superfícies lisas. Sempre entendi que a realidade jurídica é complexa porque o ser humano assim o é”, disse.
Massami Uyeda falou também da influência que a filosofia budista exerceu em sua formação. O primeiro contato com o budismo veio ainda em Lins, de um personagem da juventude na cidade, o “Sr. Kojima”, um mestre e orientador. Anos mais tarde, o ministro reencontraria o pedagogo japonês durante estada no Japão. Outra influência, que fez dele um juiz sensível ao papel que elementos como a intuição desempenham na hora julgar e da importância da vocação do juiz como um agente conciliador, vem do filósofo e educador cristão catarinense Huberto Rohden.
“Dentro de um preceito oriental, no imaginário coletivo, afirma-se que a verdade tem, pelo menos, três facetas: a minha, a sua e a verdadeira. A interpretação de um texto legal, de um fato ou ato jurídicos comporta, portanto, várias facetas”, diz Uyeda.
Leia a entrevista:
ConJur — Às vésperas da aposentadoria, quando o senhor olha para trás, qual o sentimento em relação a sua carreira na Justiça, primeiro na advocacia, então no Ministério Público e finalmente na magistratura? A visão que o senhor tem hoje do Direito se transformou muito durante essas décadas? 
Massami Uyeda — Depois que me tornei mestre e doutor em Direito, passei a ter dúvidas sobre o quanto entendia de Direito. Até me tornar doutor eu achava que entendia muito. A surpresa na interpretação da lei é justamente a face, ou melhor posto, as facetas aparentemente pacíficas na matéria, pensadas e decididas, muitas vezes, até de forma superficial.
ConJur — A humildade do intérprete e julgador avança com a experiência? 
Massami Uyeda – Sim. Apresenta-se uma controvérsia, você sopesa as circunstâncias, os argumentos, os elementos e aí então entra o critério da intuição, que deve ser confrontada novamente com o método dedutivo e comparativo. Isso demora um pouco. Por vezes, a primeira impressão, o primeiro feeling é confirmado, é o correto. Confirma-se a intuição.
ConJur — Então há uma tensão entre a intuição e a razão na hora de decidir? 
Massami Uyeda — Muitas vezes, quando se tem o feeling e se desafia este feeling a fim de se racionalizar em demasia, a conclusão acaba sendo prejudicada. O equilibrio para saber se essefeeling está amparado em certas premissas que podem ser levadas em consideração é o mais difícil. A construção de uma interpretação requer uma análise, tanto quanto possível, abrangente — e não só do fato em si.
ConJur — Quais são os projetos em vista com a aposentadoria?
Massami Uyeda — Ao longo dos meus 35 anos de magistratura e 47 no Direito, a despeito da experiência conquistada, reconheço que não tenho o domínio pleno em muitas áreas. Há muitas áreas em que necessito aperfeiçoar minha formação. É o que pretendo fazer. Me dedicar a essas áreas no Direito. Além dessas atividades, tem também os sonhos de uma infância, os quais eu perseguia. O aperfeiçoamento das línguas, por exemplo. Sempre gostei muito do estudo das línguas.
 ConJur – Além de aperfeiçoar o japonês o senhor pretende estudar outras línguas?
Massami Uyeda – Antes de escolher o Direito pretendia seguir carreira como professor. Fiz o vestibular para a Faculdade de Filosofia, Ciências Humanas e Letras da USP, passei e frequentei o curso. Frequentei o curso de Letras Clássicas. Gostava muito de português e latim. Para ser professor dessas duas línguas, eu tinha que conhecer ainda o grego. Eu cursava Direito e Letras, mas precisava trabalhar, e optei por seguir com o Direito. Passados os anos, vejo que essa escolha foi a mais acertada. Lamentavelmente, o magistério não é levado com sua devida consideração.
ConJur – Mas o senhor acabou exercendo o magistério com o Direito, certo? 
Massami Uyeda – Paralelo às atividades na advocacia, magistratura e no Ministério Público acabei voltando à academia. Antes de me tornar mestre e doutor eu lecionava. Lecionava e pensava que entendia do assunto. À medida que conclui o mestrado e o doutorado, a rapidez, a facilidade com que pensava que entendia deu lugar à conclusão contrária. No sentido de compreender, num primeiro momento, por exemplo, que, em dado caso, a interpretação, o estudo seria feito linearmente, de tal forma. Me refiro às premissas básicas de compreensão e entendimento. Passei a compreender que as interações que decorrem desse institutos exigem de todos um conhecimento muito mais amplo.
ConJur – Essa perspectiva de entendimento só pode vir com a experiência, não? 
Massami Uyeda – Só posso dizer o seguinte: tudo isso, tudo o que vivi, parece ter sido um arcabouço, um conjunto de atividades que me prepararam para chegar ao Superior Tribunal de Justiça. Ingressando na corte, me deparei com a demanda advinda do número de processos, na parte de Direito Privado, que abrange um vasto campo. Questões de família, herança e partilha, problemas de sociedades anônimas, falências, liquidações e recuperações, contratos, indenizações, problemas de marcas e patentes, Direito Bancário e Direito Financeiro. São dez ministros que dão conta disso.
ConJur – Em termos de volume de processos o senhor tem uma ideia de quanto julgou no STJ?
Massami Uyeda – Nos seis anos em que permaneci no tribunal, proferi mais de 78 mil decisões. Não estou entre aqueles que criticam o excesso de processos. Na verdade, o excesso de processos é brutal, desumano, é uma anomalia do sistema recursal. Mas se a demanda existe, eu a vejo como a confiança que a população deposita no Judiciário. Mecanismos de contenção têm sido feitos em nível legislativo e constitucional, como a introdução de uma emenda que possa estender a repercussão geral e a lei ordinária que estabeleceu o rito dos recursos repetitivos.
ConJur – O senhor é conhecido como entusiasta das práticas de conciliação, arbitragem e mediação...
Massami Uyeda – Sim. Ferrenho. Aqui mesmo no STJ, como ministro, tive sucesso com as mediações e conciliações. Um caso memorável aconteceu em uma questão de família. Um casal que viveu juntos por mais de 25 anos, com duas filhas e que amealhou uma fortuna imensa. A separação acarretou na partilha dos bens e a partilha foi alvo de uma reclamação da esposa que justificava que o marido não prestava contas e não pagava os alimentos a que ela fazia jus. Por melhor que possa ser uma decisão e levando em conta a demora, ponderei que o processo já havia passado por vários níveis de jurisdição estadual. O estado de ânimo entre as partes era de beligerância. Formulei, então, a proposta para que encontrassemos uma solução que não fosse tão cruel para as partes. Marcamos um dia para as partes virem ao tribunal. Expliquei as vantagens da conciliação no sentido da pacificação, no sentido da preservação da própria saúde física, mental e espiritual e da preservação de uma família que eles, um dia, foram. Depois de uma hora, disse a eles que teria que entrar em julgamento e que o espaço do gabinete estaria disponível, que eles poderiam usar o tempo para conversar, para que não disperdissassem aquela oportunidade. Informei a eles que teriam umas quatro horas para conversar, até eu voltar da sessão. Quando retornei, qual não foi minha satisfação ao verificar que tinham feito um acordo. Houve uma reconciliação e o acordo foi vantajoso para os dois lados.
ConJur – O diálogo foi restabelecido entre as partes.
Massami Uyeda – É o papel do juiz como conciliador, como alguém a quem compete também agregar, e não motivar a discórdia. Houve outros casos. Isso me deixa muito feliz.
 ConJur – Esses valores fazem falta mesmo quando a resposta técnica do juiz é eficiente?
Massami Uyeda – A resposta técnica não basta. Às vezes não é suficiente. Como professor sempre estimulei essa ideia de que o juiz tem também que ter essa vocação de conciliador. Não estamos num campeonato de demonstração de conhecimentos jurídicos. A razão de ser do Judiciário é ser um elemento de pacificação e de transformação social. E não simplesmente um repositório de conhecimentos técnicos, vazio de sentimento. O destinatário de toda a atividade é o ser-humano. “O homem é a medida de todas as coisas”, disse Protágoras. É a razão de ser do próprio Estado. A nossa Constituição abriga esse princípio. No Artigo 1º, o pilar do fundamento do Estado é o respeito à dignidade da pessoa humana. Uma leitura mais completa da Constituição deve buscar a visão de soliedariedade entre os seres humanos. Isso quem me ensinou foi aquele senhor [Kojima]. É algo que vem da filosofia do budismo e que de alguma forma eu assimilei, me impressionou bastante e, desde então, tem me pautado.
ConJur – O senhor se aposenta às vesperas do seu aniversário de 70 anos. O senhor é favorável à proposta constitucional que aumenta a idade para a aposentadoria obrigatória?
Massami Uyeda – Completo 70 anos no dia 28 de novembro. Há um entendimento, a meu ver míope, de que não pode se aposentar no último dia. Então me aposento no dia 23 para evitar problemas nesse sentido.
ConJur – Como o senhor avalia o grau de uniformização das decisões do tribunal? As súmulas têm sido seguidas? 
Massami Uyeda – Esses seis anos e meio, justo numa época de profundas e rápidas transformações, me permitiram uma visão de o quanto é importante este tribunal. O STJ tem assento na Constituição e surgiu de um desmembramento do Supremo Tribunal Federal, que, até antes da Constituição de 1988, acumulava também o julgamento da matéria infraconstitucional. A essência desse tribunal é a mesma da Suprema Corte. Tendo essa atribuição de uniformizar a jurisprudência do país e de dar a interpretação da lei infraconstitucional, pode-se dizer que a matéria que interessa diretamente ao cidadão acaba chegando aqui. Essa corte deu uma contribuição muito importante em questões de família, a questão da união homoafetiva, por exemplo, passou por aqui. A questão das repercussões financeiras dos contratos bancários, dos financiamentos ao longo desses vinte anos de planos econômicos sucessivos, também. Estávamos e ainda continuamos sem saber quais eram os indexadores daquela época. Tivemos, porém, julgamentos aqui que procuraram dar a interpretação mais unânime, segura e reconhecida desse assunto. Matérias relativas a patentes e marcas, como a discussão do período de validade das patentes internacionais, redundaram, por exemplo, na legitimação dos genéricos no Brasil. Há ainda o entendimento que está se pacificando em torno da questão dos planos de sáude. Enfim, um elenco de competências.
ConJur – O tribunal passou também a ter competência para homologar sentença estrangeira.
Massami Uyeda – Sim. Passamos a ter a competência que antes era do Supremo, mas que o STF delegou ao STJ da homologação de sentença estrangeira. O que tem muita relevância mormente porque nós estamos, nesse nível, apreciando homologação de sentença arbitral, de tribunais arbitrais do exterior.
ConJur – O STJ tem um papel pioneiro em decisões no âmbito do Direito Privado?
Massami Uyeda – Sim. Recentemente pronunciei uma decisão em um caso de muita expressão econômica. Nesse julgado, que ainda está sob judice porque há embargos de declaração postos, o julgamento na turma foi unânime, no sentido de legitimar as privatizações ocorridas nos governos anteriores, do presidente Itamar e Fernando Henrique e, por consequência, dar legimidade a chamadas concessões do atual governo, que, a meu ver, são também privatizações. Essa decisão também legitimou a utilização das ditas “moedas podres”.
ConJur – O senhor reconhece frequentemente que sustenta posicionamentos diferentes da maioria dos colegas, que seus votos são divergentes e não acompanham o relator. Qual a razão disso?
Massami Uyeda – Julgar é optar por angulação de interpretação. A realidade jurídica e o fato jurídico são multifacetados, não são superfícies lisas. Sempre entendi que a realidade jurídica é complexa porque o ser humano assim o é. Cada ser humano é um universo e esta é a razão da individualidade de cada qual. Filosoficamente, o universo é a unidade na diversidade.
ConJur – Não bastam a interpretação técnica e linear?
Massami Uyeda – Existe o “um” e os “outros”. E esses “outros” é que vêm compor a realidade que se apresenta como única. O que explica, a meu ver, a adequada interpretação do princípio da igualdade. A igualdade não pode ser única, simétrica, linear. Uma igualdade em situações de desigualdade não pode ser igualdade. A análise de uma argumentação ou fato, objetos da discussão, enfocados apenas de uma maneira singela, linear, não reflete a própria realidade. Dentro de um preceito oriental, no imaginário coletivo, afirma-se que a verdade tem, pelo menos, três facetas: a minha, a sua e a verdadeira. A interpretação de um texto legal, de um fato ou ato jurídicos comporta, portanto, várias facetas.
ConJur – Mesmo quando a matéria é pacífica e a lei é clara?
Massami Uyeda – Existe um artigo linearmente claro em matéria de contrato de seguro de vida que diz que se o evento morte ocorrer no prazo de dois anos da contratação do seguro de vida e se a morte for voluntária, ou seja, suicídio, o capital não será pago ao beneficiário. Apareceu um caso em que o estipulante do seguro se suicidou antes de completar dois anos do termo contratual. A decisão inicialmente aplicada foi que a literal interpretação da lei era aquela. Eu arguí, discordei. Disse que o fato em si de uma pessoa ser levada ao extemo do suicídio, na realidade, é uma patologia. Não é a condição natural. Quando alguém pretende, ainda que deliberada ou premeditadamente, pôr fim a sua vida, esta pessoa teria que programar a morte para dali a dois anos. As vicissitudes da vida podem acarretar em uma série de situações. O contrato de seguro de vida recebe o influxo e o enfoque do Código de Defesa do Consumidor. Se o estipulante manifestar distúrbios psiquiátricos, psicopatológicos, como é que depois podemos dizer que a letra fria da lei disse isso ou aquilo? Fosse tão simples, bastaria contratar um grupo de gramáticos, de professores de língua, para interpretar o texto legal na sua literariedade, não seria necessário termos juízes. Isso gerou um aceso debate. Levado à sessão de julgamento da seção, esse posicionamento saiu vitorioso.
ConJur – A divergência prevaleceu...
Massami Uyeda – A geometria, por exemplo, é uma ciência exata. E diz que o conceito de reta é a menor distância entre dois pontos. A teoria da relatividade, por outro lado, postula que, no fim, o universo se torna uma grande elipse, ele se fecha. Logo, o trecho da reta é parte de uma grande curva. Depende do que, então? Da angulação. Se mesmo na área das ciências exatas a questão é relativa, imagine nas ciências humanas. Se decantarmos a palavra “direito”, ela vem daquilo que é reto. Direito, justo, Justiça, é aquilo que nós denominamos de conceitos jurídicos indeterminados. Todo mundo tem uma ideia do que seja, mas ninguém consegue descrever exatamente.
Rafael Baliardo é repórter da revista Consultor Jurídico em Brasília.
Revista Consultor Jurídico, 30 de dezembro de 2012
http://www.conjur.com.br/2012-dez-30/entrevista-massami-uyeda-ministro-aposentado-stj

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Cartunista brasileiro está no ranking dos “dez mais antissemitas” do mundo


ORIENTE MÉDIO
28/12/2012 - 16h07 | Marina Mattar | Redação

Cartunista brasileiro está no ranking dos “dez mais antissemitas” do mundo

Carlos Latuff se diz "motivado" e afirma que nenhuma campanha de difamação vai fazê-lo abrir mão da causa palestina
 
 
Carlos Latuff


A organização judaica Simon Wiesenthal divulgou nesta quinta-feira (27/12) sua edição anual do ranking dos “10 maiores antissemitas” ao redor do mundo. O cartunista brasileiro e colaborador do Opera Mundi, Carlos Latuff, aparece na terceira posição na lista de 2012 por conta de suas charges críticas a operação Pilar Defensivo, mais recente investida militar israelense na Faixa de Gaza.

Conhecido internacionalmente por suas charges politizadas, o artista se aproximou da luta palestina no final dos anos 1990 quando viajou para o país e desde então, imprime críticas à política israelense em seus traços.

Leia mais: Latuff faz série especial de charges sobre operação israelense em Gaza (veja as imagens)

Abaixo da Irmandade Muçulmana do Egito e do líder iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o artista brasileiro aparece à frente de torcidas organizadas e partidos políticos neonazistas no ranking, que incluiu também o jornalista e editor alemão Jakob Augstein.

Carlos Latuff

“Durante os conflitos recentes instigados pelo Hamas contra o Estado judaico, o brasileiro criticou Israel e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu por fazer o que qualquer outro líder mundial teria feito para proteger civis inocentes”, explica o texto do centro.

A menção a Latuff é ilustrada por uma charge polêmica (veja ao lado), na qual o premiê aparece torcendo o corpo de uma criança palestina em cima de uma urna. A imagem faz referência às possíveis motivações políticas de Netanyahu, em plena campanha para a eleição legislativa marcada para 22 de janeiro, no ataque ao território palestino em novembro deste ano. A charge, no entanto, mas não tem nenhuma menção à religião judaica.

O desenho já havia sido criticado publicamente pelo rabino Marvin Hiers, fundador do Centro Simon Wiesenthal, quando foi divulgado pelo jornal norte-americano Huffington Post no mês passado. O ativista judeu acusou Latuff de “pior que antissemita” e pediu que o site retirasse a charge do ar.

“Estou no caminho certo”

O artista, que classificou sua colocação no ranking de “piada digna de filme de Woody Allen”, revelou ao Opera Mundi se sentir “motivado” pelas críticas do centro judaico. “Se organizações do lobby pró-Israel estão incomodadas com minhas charges, é porque estou no caminho certo”, afirmou ele.

Latuff explica que o lobby sionista tenta associar questionamentos ao Estado de Israel com o sentimento antijudaico para criminalizar a manifestação de posturas críticas e confundir a opinião pública. “Crítica ou mesmo ataque a entidade política chamada Israel não é ódio aos judeus porque o governo israelense não representa o povo judeu, assim como nenhum governo representa a totalidade de seu povo”, escreveu ele em nota (veja abaixo).

Por conta de seu poder no mundo ocidental, essas organizações sionistas tentam boicotar as vozes dissidentes e dificultar o trabalho de muitos artistas, que, por vezes, cedem à sua pressão. Mas, o cartunista alerta: “nenhuma campanha de difamação vai fazer com que eu abra mão da minha solidariedade com o povo palestino”.

Ele lembra que o escritor português José Saramago, o ativista sul-africano Desmond Tutu e o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter, e muitos outros, também sofreram com esse tipo de acusações e brinca:“Estou em boa companhia”.

Charges

O cartunista e ativista Carlos Latuff é colaborador do Opera Mundi. Seu trabalho, que já foi divulgado em diversos países, é conhecido por se dedicar a diversas causas políticas e sociais, tanto no Brasil quanto no exterior. Muitas de suas charges podem ser encontradas no link.

Leia a nota oficial do cartunista em resposta a classificação na íntegra
"Recebo com tranquilidade a citação de meu nome numa lista dos "10 mais antissemitas" pelo Centro Simon Wiesenthal. A organização, que leva o nome de um célebre caçador de nazistas, sob o argumento da proteção aos direitos humanos e combate ao antissemitismo, promove a agenda da política israelense.

A minha charge que acompanha o relatório mostra o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu tirando proveito eleitoral dos recentes bombardeios a faixa de Gaza (o ataque foi realizado a 2 meses das eleições em Israel). Em novembro desse ano, o rabino Marvin Hiers, fundador do Centro Simon Wiesenthal, me acusou publicamente na Internet de ser "pior que antissemita" por fazer tal crítica através do desenho.

Não é por acaso que meu nome foi citado junto com o de diversos extremistas e racistas. É uma estratégia do lobby pró-Israel associar de maneira maliciosa críticas ao estado de Israel com ódio racial/religioso, numa tentativa de criminalizar a dissidência.

Crítica ou mesmo ataque a entidade política chamada Israel não é ódio aos judeus porque o governo israelense NÃO representa o povo judeu, assim como nenhum governo representa a totalidade de seu povo. Essa não foi a primeira e nem será a última vez que tal incidente acontece, e por entender que tais acusações são orquestradas por quem apoia a colonização da Palestina, seguirei com minha solidariedade ao povo palestino".
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/26286/cartunist
a+brasileiro+esta+no+ranking+dos+dez+mais+antissemitas+do+
mundo.shtml

Nunca houve tanto ódio na mídia conservadora do Brasil

28 DE DEZEMBRO DE 2012 - 7H00 
midia golpista
  

Nunca houve tanto ódio na mídia conservadora do Brasil


Os textos de Demétrio Magnoli, Ricardo Noblat, Merval Pereira, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Eliane Catanhede, entre outros, são fontes preciosas para as futuras gerações de jornalistas e estudiosos da comunicação entenderem o que Perseu Abramo chamou apropriadamente de “padrões de manipulação” na mídia brasileira.

Por Jaime Amparo Alves 


Os brasileiros no exterior que acompanham o noticiário brasileiro pela internet têm a impressão de que o país nunca esteve tão mal. Explodem os casos de corrupção, a crise ronda a economia, a inflação está de volta, e o país vive imerso no caos moral. Isso é o que querem nos fazer crer as redações jornalísticas do eixo Rio – São Paulo. Com seus gatekeepers escolhidos a dedo, Folha de S. Paulo, Estadão, Veja O Globoinvestem pesadamente no caos com duas intenções: inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e destruir a imagem pública do ex-presidente Lula da Silva. Até aí nada novo.

Tanto Lula quanto Dilma sabem que a mídia não lhes dará trégua, embora não tenham – nem terão – a coragem de uma Cristina Kirchner de levar a cabo uma nova legislação que democratize os meios de comunicação e redistribua as verbas para o setor. Pelo contrário, a Polícia Federal segue perseguindo as rádios comunitárias e os conglomerados de mídia Globo/Veja celebram os recordes de cotas de publicidade governamentais. O PT sofre da síndrome de Estocolmo (aquela na qual o sequestrado se apaixona pelo sequestrador) e o exemplo mais emblemático disso é a posição de Marta Suplicy como colunista de um jornal cuja marca tem sido o linchamento e a inviabilização política das duas administrações petistas em São Paulo.

O que chama a atenção na nova onda conservadora é o time de intelectuais e artistas com uma retórica que amedronta. Que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso use a gramática sociológica para confundir os menos atentos já era de se esperar, como é o caso das análises de Demétrio Magnoli, especialista sênior da imprensa em todas as áreas do conhecimento. Nunca alguém assumiu com tanta maestria e com tanta desenvoltura papel tão medíocre quanto Magnoli: especialista em políticas públicas, cotas raciais, sindicalismo, movimentos sociais, comunicação, direitos humanos, política internacional… Demétrio Magnoli é o porta-voz maior do que a direita brasileira tem de pior, ainda que seus artigos não resistam a uma análise crítica.

Agora, a nova cruzada moral recebe, além dos já conhecidos defensores dos “valores civilizatórios”, nomes como Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro. A raiva com que escrevem poderia ser canalizada para causas bem mais nobres se ambos não se deixassem cativar pelo canto da sereia. Eles assumiram a construção midiática do escândalo, e do que chamam de degenerescência moral, com o fato. E, porque estão convencidos de que o país está em perigo, de que o ex-presidente Lula é a encarnação do mal, e de que o PT deve ser extinguido para que o país sobreviva, reproduzem a retórica dos conglomerados de mídia com uma ingenuidade inconcebível para quem tanto nos inspirou com sua imaginação literária.

Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro fazem parte agora daquela intelligentsia nacional que dá legitimidade científica a uma insidiosa prática jornalística que tem na Veja sua maior expressão. Para além das divergências ideológicas com o projeto político do PT – as quais eu também tenho -, o discurso político que emana dos colunistas dos jornalões paulistanos/cariocas impressiona pela brutalidade. Os mais sofisticados sugerem que a exemplo de Getúlio Vargas, o ex-presidente Lula cometa suicídio; os menos cínicos celebraram o “câncer” como a única forma de imobilizá-lo. Os leitores de tais jornais, claro, celebram seus argumentos com comentários irreproduzíveis aqui.

Quais os limites da retórica de ódio contra o ex-presidente metalúrgico? Seria o ódio contra o seu papel político, a sua condição nordestina, o lugar que ocupa no imaginário das elites? Como figuras públicas tão preparadas para a leitura social do mundo se juntam ao coro de um discurso tão cruel e tão covarde já fartamente reproduzido pelos colunistas de sempre? Se a morte biológica do inimigo político já é celebrada abertamente – e a morte simbólica ritualizada cotidianamente nos discursos desumanizadores – estaríamos inaugurando uma nova etapa no jornalismo lombrosiano?

Para além da nossa condenação aos crimes cometidos por dirigentes dos partidos políticos na era Lula, os textos de Demétrio Magnoli , Marco Antonio Villa, Ricardo Noblat , Merval Pereira, Dora Kramer, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Eliane Catanhede, além dos que agora se somam a eles, são fontes preciosas para as futuras gerações de jornalistas e estudiosos da comunicação entenderem o que Perseu Abramo chamou apropriadamente de “padrões de manipulação” na mídia brasileira. Seus textos serão utilizados nas disciplinas de ontologia jornalística não apenas com o exemplos concretos da falência ética do jornalismo tal qual entendíamos até aqui, mas também como sintoma dos novos desafios para uma profissão cada vez mais dominada por uma economia da moralidade que confere legitimidade a práticas corporativas inquisitoriais vendidas como de interesse público.

O chamado “mensalão” tem recebido a projeção de uma bomba de Hiroshima não porque os barões da mídia e os seus gatekeepers estejam ultrajados em sua sensibilidade humana. Bobagem! Tamanha diligência não se viu em relação à série de assaltos à nação empreendidos no governo do presidente sociólogo! A verdade é que o “mensalão” surge como a oportunidade histórica para que se faça o que a oposição – que nas palavras de um dos colunistas da Veja “se recusa a fazer o seu papel” – não conseguiu até aqui: destruir a biografia do presidente metalúrgico, inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e reconduzir o projeto da elite "sudestina" ao Palácio do Planalto.

Minha esperança ingênua e utópica é que o Partido dos Trabalhadores aprenda a lição e leve adiante as propostas de refundação do país abandonadas com o acordo tácito para uma trégua da mídia. Não haverá trégua, ainda que a nova ministra da Cultura se sinta tentada a corroborar com o lobby da Folha de S. Paulopela lei dos direitos autorais, ou que o governo Dilma continue derramando milhões de reais nos cofres das organizações Globo e Abril via publicidade oficial. Não é o PT, o Congresso Nacional ou o governo federal que estão nas mãos da mídia.

Somos todos reféns da meia dúzia de jornais que definem o que é notícia, as práticas de corrupção que merecem ser condenadas, e, incrivelmente, quais e como devem ser julgadas pela mais alta corte de Justiça do país. Na última sessão do julgamento da ação penal 470, por exemplo, um furioso ministro-relator exigia a distribuição antecipada do voto do ministro-revisor para agilizar o trabalho da imprensa (!). O STF se transformou na nova arena midiática onde o enredo jornalístico do espetáculo da punição exemplar vai sendo sancionado.

Depois de cinco anos morando fora do país, estou menos convencido por que diabos tenho um diploma de jornalismo em minhas mãos. Por outro lado, estou mais convencido de que estou melhor informado sobre o Brasil assistindo à imprensa internacional. Foi pelas agências de notícias internacionais que informei aos meus amigos no Brasil de que a política externa do ex-presidente metalúrgico se transformou em tema padrão na cobertura jornalística por aqui. Informei-lhes que o protagonismo político do Brasil na mediação de um acordo nuclear entre Irã e Turquia recebeu atenção muito mais generosa da mídia estadunidense, ainda que boicotado na mídia nacional. Informei-lhes que acompanhei daqui o presidente analfabeto receber o título de doutor honoris causa em instituições européias, e avisei-lhes que por causa da política soberana do governo do presidente metalúrgico, ser brasileiro no exterior passou a ter uma outra conotação. O Brasil finalmente recebeu um status de respeitabilidade e o presidente nordestino projetou para o mundo nossa estratégia de uma America Latina soberana.

Meus amigos no Brasil são privados do direito à informação e continuarão a ser porque nem o governo federal nem o Congresso Nacional estão dispostos a pagar o preço por uma “reforma” em área tão estratégica e tão fundamental para o exercício da cidadania. Com 70% de aprovação popular, e com os movimentos sociais nas ruas, Lula da Silva não teve coragem de enfrentar o monstro e agora paga caro por sua covardia.Terá a Dilma coragem com aprovação semelhante, ou nossa meia dúzia de Murdochs seguirão intocáveis sob o manto da liberdade de e(i)mprensa?

(*) Jaime Amparo Alves é jornalista, doutor em Antropologia Social, Universidade do Texas em Austin – amparoalves@gmail.com

Fonte: Sul21 / Pragmatismo Político


http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=202189&id_secao=6

Funcionária discriminada deve receber R$ 100 mil


27dezembro2012
ESGOTAMENTO PROFISSIONAL

Funcionária discriminada deve receber R$ 100 mil

Depois de sofrer diversas ofensas no trabalho, diante de outros funcionários, por ser negra e mulher, e por causa disso desenvolver síndrome de esgotamento profissional, uma funcionária de um hipermercado em Brasília deve ser indenizada em R$ 100 mil por danos morais. A notícia é do Diário de Pernambuco.
Por conta do excesso de trabalho e do tratamento, Sylvia adquiriu a chamada síndrome de esgotamento profissional. A doença, que foi comprovada por laudo psiquiátrico, a incapacitou durante três anos. Por isso, a 6ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho condenou a empresa Carrefour Comércio e Indústria a pagar R$ 100 mil de indenização por danos morais.
No Tribunal no Regional do Trabalho da 10ª Região, o hipermercado havia conseguido reduzir o valor da indenização para R$ 12 mil. A segunda instância entendeu que a indenização deveria compensar os danos sofridos, e não enriquecer a vítima. O caso foi parar no TST.
O ministro Aloysio Corrêa da Veiga, do TST, entendeu que “a decisão regional não respeitou o princípio da proporcionalidade, o caráter pedagógico da medida, nem tem razoabilidade diante dos fatos denunciados”. Ele defendeu o aumento da indenização observando seu papel de coibir abusos por parte das empresas “que adotam comportamento indigno com os seus empregados”.
Revista Consultor Jurídico, 27 de dezembro de 2012

http://www.conjur.com.br/2012-dez-27/funcionaria-discriminada-receber-100-mil-indenizacao

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

TUCANOS E IMPRENSA ATACAM, MAS LULA E DILMA TÊM COMO REAGIR

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Polêmica com Luiz Fux alerta Senado sobre impeachment de ministro do STF


Polêmica com Luiz Fux alerta Senado sobre impeachment de ministro do STF

26/12/2012 14:05
Por Redação - de Brasília

Fux
ministro Luiz Fux admite périplo em busca de vaga ao STF
Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux encontra-se na alça de mira de parlamentares tanto da oposição quanto da base aliada. Fux encontra-se sob fogo pesado, após afirmar a jornalistas que pediu a autoridades dos governos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff para ser indicado à Corte Suprema. Segundo o ministro-chefe da Secretaria da Presidência da República, Gilberto Carvalho, em recente entrevista, “sem que ninguém o perguntasse”, Fux garantiu que “mataria no peito” o julgamento dos líderes de esquerda envolvidos na Ação Penal (AP) 470, encerrado na semana passada com todos os votos do ministro contrários aos réus.
Segundo Gilberto Carvalho, no programa É Notícia do canal aberto Rede TV, apresentado pelo jornalista Kennedy Alencar, Fux o procurou e disse que o processo do ‘mensalão’ “não tinha prova nenhuma” e que “tomaria uma posição muito clara”. Antes, em entrevista ao diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, Fux confessou que pediu apoio aos ministros Palocci, Delfim Netto, ao líder sem-terra João Pedro Stedile, ao deputado Paulo Maluf (PP-SP) e ao governador Sergio Cabral (PMDB), do Rio. Este último se beneficiou com a decisão de Fux de impedir que o Congresso, por meio de uma manobra técnica, votasse os vetos aos royalties do petróleo.
Sobre o assunto, o jornalista Mauricio Dias, na revista semanal de esquerda Carta Capital questiona a decisão do ministro Fux, que beneficiou Sergio Cabral: “Caso a Câmara aprovasse uma lei pela qual o Supremo Tribunal Federal fosse obrigado a julgar os processos na ordem cronológica de ingresso, o que aconteceria? Muito provavelmente o STF diria tratar-se de indevida intromissão na sua regulação interna. Como pode o Ministro Fux intervir no regimento do Congresso ao declarar inconstitucional a aprovação do pedido de urgência para os royalties? No gabinete dele os processos são despachados por ordem de chegada? Ou será que urgência só existe para o Judiciário, não para o Legislativo e o Executivo?”.
Autoritário
Na mesma linha de Maurício Dias, o sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, classifica o ministro de “autoritário”. Em artigo também publicado na edição deCarta Capital que circula nas bancas de jornal e revistas, “o pensamento autoritário já viveu dias melhores no Brasil. Sua credibilidade já foi maior, e suas ideias, mais consistentes. Seus formuladores, mais respeitados e maior sua influência na vida nacional. Se compararmos Oliveira Vianna, Azevedo Amaral, Alberto Torres e Francisco Campos, seus principais expoentes na República Velha e durante o Estado Novo, aos autoritários de hoje, a distância é abissal”.
“Seus sucessores contemporâneos são de dar pena. Salvo as exceções de praxe, faltam-lhes educação e estilo. Substituíram a disposição para o debate pela ofensa e a repetição de lugares-comuns. São ignorantes. O que os une aos antigos são as convicções que compartilham. A começar pelo que mais distingue o autoritarismo ideológico: a certeza de que a democracia pode ser boa no plano ideal, mas é irrealizável na prática. No mundo real, o povo seria incapaz de se governar e precisaria das elites para orientá-lo. Sem sua proteção paternal, se perderia”, acrescenta Coimbra.
Para o sociólogo, “diferentemente do passado, muitos dos autoritários da atualidade se abrigam na mídia conservadora. Sem a proteção que recebem de seus veículos para falar alto e se exibir como valentes, não existiriam. Mas há autoritários hoje no mesmo lugar em que, no passado, militaram vários: no Judiciário e cargos afins. Alberto Torres foi ministro do Supremo Tribunal Federal, Oliveira Vianna, do Tribunal de Contas da União, e Francisco Campos foi consultor-geral da República”.
“O julgamento do ‘mensalão’ tem sido um momento privilegiado para conhecer o pensamento autoritário atual em maior detalhe. Seus representantes na mídia estão esfuziantes. O andamento do processo no Supremo Tribunal Federal foi melhor que a encomenda. No fundo, todos sabiam quão frágil era a denúncia montada pela Procuradoria-Geral da República. A alegria de ver expoentes do ‘lulopetismo‘ condenados os enche de entusiasmo. Querem revidar em compensação a tudo que os entristeceu nos últimos anos. Quantas vezes foram forçados a se desdizer? Quantas projeções furadas fizeram? Quantos amigos na oposição tiveram de consolar?”, questiona.
Coimbra lembra que “não tínhamos tido, até recentemente, a oportunidade de ver, com clareza, o autoritarismo existente no STF. Era um tribunal predominantemente discreto, que trabalhava longe dos holofotes. Vez por outra aparecia, mas para se pronunciar a respeito de questões específicas, ainda que nem sempre de maneira apropriada. Agora, não. Fez parte do pacto da mídia conservadora com a Corte a mudança radical desse padrão. As luzes foram acesas, os microfones ligados e os repórteres postos a serviço. Tudo o que os ministros dissessem seria ouvido, registrado e divulgado, com pompa e fanfarras”.
“E eles se puseram a falar. Ao longo do julgamento, à medida que liam seus votos, vimos quão parecidas são as ideias de quase todos com aquelas dos autoritários de 100 anos atrás. No mês passado, Luiz Fux aproveitou a visibilidade de orador na posse de Joaquim Barbosa na presidência do tribunal para apresentar algumas das suas. Tomemo-las como ilustração do que pensam por lá. O discurso de Fux foi extraordinário. Até no que revelou da cumplicidade que se estabeleceu entre a mídia e o tribunal. É pouco provável que fosse tão assumidamente autoritário se não se sentisse amparado pelos correligionários na mídia. Ficou famosa sua tortuosa formulação de que seria natural que o Judiciário se tornasse mais ativo, para intervir na “solução de questões socialmente controversas, como reflexo de uma nova configuração da democracia, que já não se baseia apenas no primado da maioria e do jogo político desenfreado”, acrescentou.
Para o sociólogo, “parece que Fux imagina ter feito uma descoberta. Que haveria uma ‘nova configuração da democracia’, sabe-se lá o que isso seja, que exigiria deixar de lado o ‘primado da maioria’ e o tal ‘jogo político desenfreado’. Nada há, entretanto, de original no diagnóstico e no receituário. Antes dele, outros autoritários haviam chegado ao mesmo lugar. Todos, de antes ou recentes, têm a mesma aversão à vontade das maiorias. No fundo, acreditam que o povo não está ‘preparado para a democracia’. Que exige ‘homens de bem’ para guiá-lo, livrando-o dos ‘demagogos’. Todo autoritário é antidemocrático, quer frear o ‘jogo desenfreado’. E se imagina ungido da missão de fazê-lo, pela sua autoatribuída superioridade em relação ao cidadão comum. Talvez por desconhecer de onde vêm as ideias que professa, Fux – e os que se parecem com ele – acredita estar sendo ‘novo’. É tão velho quanto a Sé de Braga”.
Impeachment
Diante do fogo cruzado, no qual integrantes da oposição ao governo federal também questionam os últimos pronunciamentos do ministro, o jornalista Paulo Henrique Amorim, apresentador de um jornal da rede de TV abertaRecord, e editor do blog Conversa Afiada adiantou, nesta terça-feira, que na volta do recesso parlamentar, o Senado deverá votar o impeachment do ministro do STF Luiz Fux.
Amorim, em texto publicado na véspera, questiona: “Os votos do Ministro Fux estão irremediavelmente sob suspeita. O depoimento de Gilberto Carvalho o incrimina de forma inequívoca. Como é que um ‘candidato’ (…) a Ministro do Supremo visita um Ministro de um Governo petista e promete a este Ministro petista que ‘tomaria uma posição muito clara’ num processo que ‘não tinha prova nenhuma’ e incriminava líderes? Onde é que nós estamos? Com quem mais ele fez campanha? Com o Daniel Dantas? Com o Padim Pade Cerra?”.
“Não cabe nem julgar se essa promessa de “matar o mensalão (o do PT) no peito” foi decisiva para ser indicado. O que importa é que a “campanha” é inequivocamente espúria. Desonra o Supremo. Não importa saber se ele “não entregou” o que prometeu. E quando o PiG (Partido da imprensa Golpista) começou a votar, ele amarelou. Amarelou e ingressou de armas, bagagens e caderno telefônico nos Chinco Campos (redator da “Polaca”, a Constituição ditatorial de 1937). O que importa é o processo, é o meio. É a tecnologia de chegar ao mais alto posto da Magistratura”, afirma.
Paulo Henrique Amorim lembra que “o Senado perdeu a histórica oportunidade – na verdade, o seu Presidente, José Sarney – de abrir um processo de impeachment de Gilmar Dantas (o jornalista Ricardo Noblat insiste em chamar Gilmar Mendes de Gilmar Dantas), tal qual proposto com argumentos irrefutáveis pelo Dr Piovesan. Onde estão os petistas do Senado? O Suplicy, o Pinheiro, o Vianna? Ou ali só se salvam o Collor e o Requião, que denuncia o Golpismo com todas as letras? Se o Senado – o único instrumento constitucional de censura a um ministro do Supremo – se calar diante das promessas de campanha do Ministro Fux estará aberto o caminho para campanhas similares preencherem as vagas do trânsfuga Ayres Britto e do decano Celso de Mello, aquele que o PiG quer transformar em mentor intelectual do presidente Joaquim Barbosa”.
“O Requião diz que o Congresso transformou-se numa ameba, porque tem o rabo preso. O Collor denunciou um Procurador Geral que chama de chantagista e prevaricador, como quem pregasse no deserto. Tem o PT vermelho, do Marco Maia, que disse não ao Barbosa e, certamente, contribuiu para que a Democracia caísse na cilada do Gurgel. Mas, tem também o PT amarelo, o ‘Odarelo‘. Esse PTOdarelo é o que, aparentemente, predomina no Senado. E, nesse intervalo natalino, o próximo Ministro do Supremo deve estar a prometer ao Felipão, ao Faustão e ao Gilberto Carvalho que vai ‘matar os tucanos’ com um tiro no peito”, concluiu Paulo Henrique Amorim. 

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