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sábado, 31 de agosto de 2013

GLOBO declina: Apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro

Apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro

A consciência não é de hoje, vem de discussões internas de anos, em que as Organizações Globo concluíram que, à luz da História, o apoio se constituiu um equívoco

O Globo
RIO - Desde as manifestações de junho, um coro voltou às ruas: A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura. De fato, trata-se de uma verdade, e, também de fato, de uma verdade dura.
Já há muitos anos, em discussões internas, as Organizações Globo reconhecem que, à luz da História, esse apoio foi um erro.
Há alguns meses, quando o Memória estava sendo estruturado, decidiu-se que ele seria uma excelente oportunidade para tornar pública essa avaliação interna. E um texto com o reconhecimento desse erro foi escrito para ser publicado quando o site ficasse pronto.
Não lamentamos que essa publicação não tenha vindo antes da onda de manifestações, como teria sido possível. Porque as ruas nos deram ainda mais certeza de que a avaliação que se fazia internamente era correta e que o reconhecimento do erro, necessário.
Governos e instituições têm, de alguma forma, que responder ao clamor das ruas.
De nossa parte, é o que fazemos agora, reafirmando nosso incondicional e perene apego aos valores democráticos, ao reproduzir nesta página a íntegra do texto sobre o tema que está no Memória, a partir de hoje no ar:
1964
Diante de qualquer reportagem ou editorial que lhes desagrade, é frequente que aqueles que se sintam contrariados lembrem que O GLOBO apoiou editorialmente o golpe militar de 1964.
A lembrança é sempre um incômodo para o jornal, mas não há como refutá-la. É História. O GLOBO, de fato, à época, concordou com a intervenção dos militares, ao lado de outros grandes jornais, como O Estado de S.Paulo, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil e o Correio da Manhã, para citar apenas alguns. Fez o mesmo parcela importante da população, um apoio expresso em manifestações e passeatas organizadas em Rio, São Paulo e outras capitais.
Naqueles instantes, justificavam a intervenção dos militares pelo temor de um outro golpe, a ser desfechado pelo presidente João Goulart, com amplo apoio de sindicatos Jango era criticado por tentar instalar uma república sindical e de alguns segmentos das Forças Armadas.
Na noite de 31 de março de 1964, por sinal, O GLOBO foi invadido por fuzileiros navais comandados pelo Almirante Cândido Aragão, do dispositivo militar de Jango, como se dizia na época. O jornal não pôde circular em 1º de abril. Sairia no dia seguinte, 2, quinta-feira, com o editorial impedido de ser impresso pelo almirante, A decisão da Pátria. Na primeira página, um novo editorial: Ressurge a Democracia.
A divisão ideológica do mundo na Guerra Fria, entre Leste e Oeste, comunistas e capitalistas, se reproduzia, em maior ou menor medida, em cada país. No Brasil, ela era aguçada e aprofundada pela radicalização de João Goulart, iniciada tão logo conseguiu, em janeiro de 1963, por meio de plebiscito, revogar o parlamentarismo, a saída negociada para que ele, vice, pudesse assumir na renúncia do presidente Jânio Quadros. Obteve, então, os poderes plenos do presidencialismo. Transferir parcela substancial do poder do Executivo ao Congresso havia sido condição exigida pelos militares para a posse de Jango, um dos herdeiros do trabalhismo varguista. Naquele tempo, votava-se no vice-presidente separadamente. Daí o resultado de uma combinação ideológica contraditória e fonte permanente de tensões: o presidente da UDN e o vice do PTB. A renúncia de Jânio acendeu o rastilho da crise institucional.
A situação política da época se radicalizou, principalmente quando Jango e os militares mais próximos a ele ameaçavam atropelar Congresso e Justiça para fazer reformas de base na lei ou na marra. Os quartéis ficaram intoxicados com a luta política, à esquerda e à direita. Veio, então, o movimento dos sargentos, liderado por marinheiros Cabo Ancelmo à frente , a hierarquia militar começou a ser quebrada e o oficialato reagiu.
Naquele contexto, o golpe, chamado de Revolução, termo adotado pelo GLOBO durante muito tempo, era visto pelo jornal como a única alternativa para manter no Brasil uma democracia. Os militares prometiam uma intervenção passageira, cirúrgica. Na justificativa das Forças Armadas para a sua intervenção, ultrapassado o perigo de um golpe à esquerda, o poder voltaria aos civis. Tanto que, como prometido, foram mantidas, num primeiro momento, as eleições presidenciais de 1966.
O desenrolar da revolução é conhecido. Não houve as eleições. Os militares ficaram no poder 21 anos, até saírem em 1985, com a posse de José Sarney, vice do presidente Tancredo Neves, eleito ainda pelo voto indireto, falecido antes de receber a faixa.
No ano em que o movimento dos militares completou duas décadas, em 1984, Roberto Marinho publicou editorial assinado na primeira página. Trata-se de um documento revelador. Nele, ressaltava a atitude de Geisel, em 13 de outubro de 1978, que extinguiu todos os atos institucionais, o principal deles o AI5, restabeleceu o habeas corpus e a independência da magistratura e revogou o Decreto-Lei 477, base das intervenções do regime no meio universitário.
Destacava também os avanços econômicos obtidos naqueles vinte anos, mas, ao justificar sua adesão aos militares em 1964, deixava clara a sua crença de que a intervenção fora imprescindível para a manutenção da democracia e, depois, para conter a irrupção da guerrilha urbana. E, ainda, revelava que a relação de apoio editorial ao regime, embora duradoura, não fora todo o tempo tranquila. Nas palavras dele: Temos permanecido fiéis aos seus objetivos [da revolução], embora conflitando em várias oportunidades com aqueles que pretenderam assumir a autoria do processo revolucionário, esquecendo-se de que os acontecimentos se iniciaram, como reconheceu o marechal Costa e Silva, por exigência inelutável do povo brasileiro. Sem povo, não haveria revolução, mas apenas um pronunciamento ou golpe, com o qual não estaríamos solidários.
Não eram palavras vazias. Em todas as encruzilhadas institucionais por que passou o país no período em que esteve à frente do jornal, Roberto Marinho sempre esteve ao lado da legalidade. Cobrou de Getúlio uma constituinte que institucionalizasse a Revolução de 30, foi contra o Estado Novo, apoiou com vigor a Constituição de 1946 e defendeu a posse de Juscelino Kubistchek em 1955, quando esta fora questionada por setores civis e militares.
Durante a ditadura de 1964, sempre se posicionou com firmeza contra a perseguição a jornalistas de esquerda: como é notório, fez questão de abrigar muitos deles na redação do GLOBO. São muitos e conhecidos os depoimentos que dão conta de que ele fazia questão de acompanhar funcionários de O GLOBO chamados a depor: acompanhava-os pessoalmente para evitar que desaparecessem. Instado algumas vezes a dar a lista dos comunistas que trabalhavam no jornal, sempre se negou, de maneira desafiadora.
Ficou famosa a sua frase ao general Juracy Magalhães, ministro da Justiça do presidente Castello Branco: Cuide de seus comunistas, que eu cuido dos meus. Nos vinte anos durante os quais a ditadura perdurou, O GLOBO, nos períodos agudos de crise, mesmo sem retirar o apoio aos militares, sempre cobrou deles o restabelecimento, no menor prazo possível, da normalidade democrática.
Contextos históricos são necessários na análise do posicionamento de pessoas e instituições, mais ainda em rupturas institucionais. A História não é apenas uma descrição de fatos, que se sucedem uns aos outros. Ela é o mais poderoso instrumento de que o homem dispõe para seguir com segurança rumo ao futuro: aprende-se com os erros cometidos e se enriquece ao reconhecê-los.
Os homens e as instituições que viveram 1964 são, há muito, História, e devem ser entendidos nessa perspectiva. O GLOBO não tem dúvidas de que o apoio a 1964 pareceu aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento a atitude certa, visando ao bem do país.
À luz da História, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original. A democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma.

http://moglobo.globo.com/integra.asp?txtUrl=/pais/apoio-editorial-ao-golpe-de-64-foi-um-erro-9771604

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Orçamento impositivo: deputados aprovam modelo para corrupção

Orçamento impositivo: deputados aprovam modelo para corrupção






https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=tzCx7AJwCFM


Foi redator-chefe de CartaCapital. Trabalhou em IstoÉ (BSB e EUA) e Veja. Repórter da Folha de S.Paulo e JB, fez "São Paulo, Brasil" no GNT/TV Cultura. Comentarista da TVGazeta e Rádio Metrópolis
Conhecer alma e vísceras de uma sociedade é privilégio, ou desprazer, para poucos. Um secretário da Receita Federal é desses poucos. Everardo Maciel foi secretário por 8 anos, no governo Fernando Henrique Cardoso.
É do ex-secretário a opinião sobre um dos motores da corrupção no Brasil: 
- Um dos motivos para alguém ter um mandato político são as emendas parlamentares. 
Everardo explica o porquê.
O cidadão tem a campanha ou parte dela paga pelo dinheiro de um empresário, um empreiteiro, e depois devolve; inclui no orçamento uma obra, algo que pague esse "apoio". E, claro, recebe uma comissão por isso.
Todo parlamentar faz isso? Não, não se pode dizer isso. Mas se pode dizer que muitos fazem. O ex-secretário da Receita afirma:
- É evidente que o financiamento de campanhas eleitorais está na base da corrupção brasileira.
A Câmara dos Deputados aprovou na noite da terça-feira (13) o tal Orçamento Impositivo; esse que dará a cada parlamentar o direito de apresentar até R$ 10 milhões em "emendas" individuais a cada ano. 
Emendas para obras em suas bases eleitorais. No último Orçamento da União foram R$ 20 bilhões destinados para tanto. Nesse rítmo, ao final dos quatro anos de um mandato, teria-se uma conta de R$ 80 bilhões. 
O que deveria ser natural prerrogativa se tornou azeite na engrenagem da corrupção. Ou já nos esquecemos da CPI dos "Anões do Orçamento" e quetais?
Nas ruas, novamente, manifestantes de São Paulo e Rio de Janeiro bradam contra escândalos do momento. Que as ruas que exerçam seus direitos, ótimo, mas partidos políticos deveriam se poupar e nos poupar desse triste espetáculo: a disputa de quem é mais, ou menos, corrupto.
Manifestantes protestam porque, além das qualidades, conhecem também hábitos e costumes da sociedade. De vastos setores da sociedade, não apenas dos "políticos". Não existe corrupção sem ambiente que a favoreça e sem corruptores.
A cada mandato repete-se a encenação: CPIs e um ou outro "herói" escalado para manchetes e o telejornal da noite. "Herói" que, nos conta a história recente, costuma ser réu na CPI seguinte.
Chega dessa farsa. A um ano da eleição, o que está em falta é debate de ideias e soluções para o futuro. 
O que pensam e propõem candidatos e partidos? A quem e o que representam? Ideias, projetos factíveis e com capilaridade na sociedade, não slogans e "programas de governo" criados por marqueteiros.
O sistema de representação político-partidário faliu. Quem vier a ser eleito; seja presidente ou governador, prefeito, será refém da mesma maneira. 
E sabe, porque conhece, que será chantageado da mesma forma por um sistema com mais de 30 partidos. Partidos e partidecos que são moeda de troca para o horário eleitoral e que servem para negociatas. 
O prazo para reforma de leis eleitorais é 3 de Outubro próximo. Por que não mudam, ao menos alguma coisa? Por que, ao menos, não fecham a porteira da farra partidária?
Por que partidos e seus líderes seguem nesse farsesco, ridículo debate sobre quem é mais ou quem seria menos corrupto?
Quem ainda cairá nessa, salvo fanáticos, ingênuos… ou os espertalhões? 
Até quando o espetáculo de gatunagem e chantagem que as ruas conhecem há tempos e que agora, enfim, rejeitam?


Orçamento impositivo: deputados aprovam modelo para corrupção

Conhecer alma e vísceras de uma sociedade é privilégio, ou desprazer, para poucos. Um secretário da Receita Federal é desses poucos. Everardo Maciel foi secretário por 8 anos, no governo Fernando Henrique Cardoso.
É do ex-secretário a opinião sobre um dos motores da corrupção no Brasil: 
- Um dos motivos para alguém ter um mandato político são as emendas parlamentares. 
Everardo explica o porquê.
O cidadão tem a campanha ou parte dela paga pelo dinheiro de um empresário, um empreiteiro, e depois devolve; inclui no orçamento uma obra, algo que pague esse "apoio". E, claro, recebe uma comissão por isso.
Todo parlamentar faz isso? Não, não se pode dizer isso. Mas se pode dizer que muitos fazem. O ex-secretário da Receita afirma:
- É evidente que o financiamento de campanhas eleitorais está na base da corrupção brasileira.
A Câmara dos Deputados aprovou na noite da terça-feira (13) o tal Orçamento Impositivo; esse que dará a cada parlamentar o direito de apresentar até R$ 10 milhões em "emendas" individuais a cada ano. 
Emendas para obras em suas bases eleitorais. No último Orçamento da União foram R$ 20 bilhões destinados para tanto. Nesse rítmo, ao final dos quatro anos de um mandato, teria-se uma conta de R$ 80 bilhões. 
O que deveria ser natural prerrogativa se tornou azeite na engrenagem da corrupção. Ou já nos esquecemos da CPI dos "Anões do Orçamento" e quetais?
Nas ruas, novamente, manifestantes de São Paulo e Rio de Janeiro bradam contra escândalos do momento. Que as ruas que exerçam seus direitos, ótimo, mas partidos políticos deveriam se poupar e nos poupar desse triste espetáculo: a disputa de quem é mais, ou menos, corrupto.
Manifestantes protestam porque, além das qualidades, conhecem também hábitos e costumes da sociedade. De vastos setores da sociedade, não apenas dos "políticos". Não existe corrupção sem ambiente que a favoreça e sem corruptores.
A cada mandato repete-se a encenação: CPIs e um ou outro "herói" escalado para manchetes e o telejornal da noite. "Herói" que, nos conta a história recente, costuma ser réu na CPI seguinte.
Chega dessa farsa. A um ano da eleição, o que está em falta é debate de ideias e soluções para o futuro. 
O que pensam e propõem candidatos e partidos? A quem e o que representam? Ideias, projetos factíveis e com capilaridade na sociedade, não slogans e "programas de governo" criados por marqueteiros.
O sistema de representação político-partidário faliu. Quem vier a ser eleito; seja presidente ou governador, prefeito, será refém da mesma maneira. 
E sabe, porque conhece, que será chantageado da mesma forma por um sistema com mais de 30 partidos. Partidos e partidecos que são moeda de troca para o horário eleitoral e que servem para negociatas. 
O prazo para reforma de leis eleitorais é 3 de Outubro próximo. Por que não mudam, ao menos alguma coisa? Por que, ao menos, não fecham a porteira da farra partidária?
Por que partidos e seus líderes seguem nesse farsesco, ridículo debate sobre quem é mais ou quem seria menos corrupto?
Quem ainda cairá nessa, salvo fanáticos, ingênuos… ou os espertalhões? 
Até quando o espetáculo de gatunagem e chantagem que as ruas conhecem há tempos e que agora, enfim, rejeitam?

'Nós não somos racistas' - Aposentado Invocado falou.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013


'Nós não somos racistas'. Tudo isso foi incentivado pela imprensa corrupta brasileira. É triste!

Jornalista diz que médicas cubanas parecem 'empregadas domésticas'

'Será que são médicas mesmo?', questiona Micheline Borges no Facebook.
Após mais de 5 mil compartilhamentos, ela excluiu a conta na rede social.

Do G1 RN

Mensagem gerou polêmica nas redes sociais nesta terça (Foto: Reprodução/Facebook) 

A declaração de uma jornalista do Rio Grande do Norte sobre a aparência das médicas cubanas que chegaram ao Brasil para trabalhar no Programa Mais Médicos gerou polêmica nas redes sociais nesta terça-feira (27). A jornalista Micheline Borges publicou que as médicas têm cara de "empregada doméstica" e questiona se as mulheres são mesmo profissionais da saúde. "Será que são médicas mesmo?", contesta. Ela excluiu a conta na rede social após a repercussão da mensagem, que gerou mais de cinco mil compartilhamentos até as 16h desta terça.

"Me perdoem se for preconceito, mas essas médicas cubanas tem uma Cara de empregada doméstica. Será que São médicas Mesmo? Afe que terrível. Médico, geralmente, tem postura, tem cara de médico, se impõe a partir da aparência...Coitada da nossa população. Será que eles entendem de dengue? Febre amarela? Deus proteja O nosso povo! (sic)", diz a mensagem postada durante a manhã.

Ao G1, a jornalista pediu desculpas aos que se sentiram ofendidos e afirmou ter sido mal interpretada. "Foi um comentário infeliz, só gostaria de pedir desculpas, fiquei muito angustiada. Ganhou uma proporção muito grande nas redes sociais, onde as pessoas interpretam do jeito que querem. Não tenho preconceito com ninguém, não quis atingir ninguém, nem ferir a imagem nem a profissão de ninguém", declarou.
Justiça
O diretor do Sindicato das Empregadas Domésticas do Rio Grande do Norte, Israel Fernandes, informou que vai analisar a possibilidade de entrar na Justiça contra a jornalista.  "Isso é um absurdo. Em pleno século 21 uma pessoa ainda ter esse tipo de pensamento. Não acredito que essa moça seja jornalista mesmo. É racismo, discriminação, é crime. Vou me reunir com os demais membros do sindicato para analisar a possibilidade de entrar na Justiça. Ela vai responder por esses crimes".

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Em vez Havana? O debate sobre a chegada de médicos cubanos é vergonhoso.


Paulo Moreira Leite
Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o Outro General da Casa".

Em vez Havana?

O debate sobre a chegada de médicos cubanos é vergonhoso.


Do ponto de vista da saúde pública, temos um quadro conhecido. Faltam médicos em milhares de cidades brasileiras, nenhum doutor formado no país tem interesse em trabalhar nesses lugares pobres, distantes, sem charme algum – nem aqueles que se formam em universidades públicas sentem algum impulso ético de retribuir alguma coisa ao país que lhes deu ensino, formação e futuro de graça.
Respeitando o direito individual de cada pessoa resolver seu destino, o governo Dilma decidiu procurar médicos estrangeiros. Não poderia haver atitude mais democrática, com respeito às decisões de cada cidadão. 
O Ministério da Saúde conseguiu atrair médicos de Portugal, Espanha, Argentina, Uruguai. Mas continua pouco. Então, o governo resolveu fazer o que já havia anunciado: trazer médicos de Cuba. 
Como era de prever, a reação já começou.
E como eu sempre disse neste espaço, o conservadorismo brasileiro não consegue esconder sua submissão aos compromissos nostálgicos da Guerra Fria, base de um anticomunismo primitivo no plano ideológico e selvagem no plano dos métodos. É uma turma que se formou nesta escola, transmitiu a herança de pai para filho e para netos. Formou jovens despreparados para a realidade do país, embora tenham grande intimidade com Londres e Nova York. 
Hoje, eles repetem o passado como se estivessem falando de algo que tem futuro. 
Foi em nome desse anticomunismo que o país enfrentou 21 anos de treva da ditadura. E é em nome dele, mais uma vez, que se procura boicotar a chegada dos médicos cubanos com o argumento de que o Brasil estará ajudando a sobrevivência do regime de Fidel Castro. Os jornais, no pré-64, eram boicotados pelas grandes agencias de publicidade norte-americanas caso recusassem a pressão americana favorável à expulsão de Cuba da OEA. Juarez Bahia, que dirigiu o Correio da Manhã, já contou isso. 
Vamos combinar uma coisa. Se for para reduzir economia à política, cabe perguntar a quem adora mercadorias baratas da China Comunista: qual o efeito de ampliar o comércio entre os dois países? Por algum critério – político, geopolítico, estético, patético – qual país e qual regime podem criar problemas para o Brasil, no médio, curto ou longo prazo?
Sejamos sérios. Não sou nem nunca fui um fã incondicional do regime de Fidel. Já escrevi sobre suas falhas e imperfeições. Mas sei reconhecer que sua vitória marcou uma derrota do império norte-americano e compreendo sua importância como afirmação da soberania na América Latina.
Creio que os problemas dos cidadãos cubanos, que são reais, devem ser resolvidos por eles mesmos.
Como alguém já lembrou: se for para falar em causas humanitárias para proibir a entrada de médicos cubanos, por que aceitar milhares de bolivianos que hoje tocam pedaços inteiros da mais chique indústria de confecção do país? 
Denunciar o governo cubano de terceirizar seus médicos é apenas ridículo, num momento em que uma parcela do empresariado brasileiro quer uma carona na CLT e liberar a terceirização em todos os ramos da economia. Neste aspecto, temos a farsa dentro da farsa. Quem é radicalmente a favor da terceirização dos assalariados brasileiros quer impedir a chegada, em massa, de terceirizados cubanos. Dizem que são escravos e, é claro, vamos ver como são os trabalhadores nas fazendas de seus amigos. 
Falar em democracia é um truque velho demais. Não custa lembrar que se fez isso em 64, com apoio dos mesmos jornais que 49 anos depois condenam a chegada dos cubanos, erguendo o argumento absurdo de que eles virão fazer doutrinação revolucionária por aqui. Será que esse povo não lê jornais? 
Fidel Castro ainda tinha barbas escuras quando parou de falar em revolução. E seu irmão está fazendo reformas que seriam pura heresia há cinco anos.
O problema, nós sabemos, não é este. É material e mental. 
Nossos conservadores não acharam um novo marqueteiro para arrumar seu discurso para os dias de hoje. São contra os médicos cubanos, mas oferecem o que? Médicos do Sírio Libanês, do Einstein, do Santa Catarina? 
Não. Oferecem a morte sem necessidade, as pragas bíblicas. Por isso não têm propostas alternativas nem sugestões que possam ser discutidas. Nem se preocupam. Ficam irresponsavelmente mudos. É criminoso. Querem deixar tudo como está. Seus médicos seguem ganhando o que podem e cada vez mais. Está bem. Mas por que impedir quem não querem receber nem atender? 
Sem alternativa, os pobres e muito pobres serão empurrados para grandes arapucas de saúde. Jamais serão atendidos, nem examinados. Mas deixarão seu pouco e suado dinheiro nos cofres de tratantes sem escrúpulos. 
Em seu mundo ideal, tudo permanece igual ao que era antes. Mas não. Vivemos tempos em que os mais pobres e menos protegidos não aceitam sua condição como uma condenação eterna, com a qual devem se conformar em silêncio. Lutam, brigam, participam. E conseguem vitórias, como todas as estatísticas de todos os pesquisadores reconhecem. Os médicos, apenas, não são a maravilha curativa. Mas representam um passo, uma chance para quem não tem nenhuma. Por isso são tão importantes para quem não tem o número daquele doutor com formação internacional no celular.
O problema real é que a turma de cima não suporta qualquer melhoria que os debaixo possam conquistar. Receberam o Bolsa Família como se fosse um programa de corrupção dos mais humildes. Anunciaram que as leis trabalhistas eram um entrave ao crescimento econômico e tiveram de engolir a maior recuperação da carteira de trabalho de nossa história. Não precisamos de outros exemplos. 
Em 2013, estão recebendo um primeiro projeto de melhoria na saúde pública em anos com a mesma raiva, o mesmo egoísmo. 
Temem que o Brasil esteja mudando, para se tornar um país capaz de deixar o atraso maior, insuportável, para trás. O risco é mesmo este: a poeira da história, aquele avanço que, lento, incompleto, com progressos e recuos, deixa o pior cada vez mais distante. 
É por essa razão, só por essa, que se tenta impedir a chegada dos médicos cubanos e se tentará impedir qualquer melhoria numa área em que a vida e a morte se encontram o tempo inteiro. 
Essa presença será boa para o povo. Como já foi útil em outros momentos do Brasil, quando médicos cubanos foram trazidos com autorização de José Serra, ministro da Saúde do governo de FHC, e ninguém falou que eles iriam preparar uma guerrilha comunista. Graças aos médicos cubanos, a saúde pública da Venezuela tornou-se uma das melhores do continente, informa a Organização Mundial de Saúde. Também foram úteis em Cuba. 
Os inimigos dessas iniciativas temem qualquer progresso. Sabem que os médicos cubanos irão para o lugar onde a morte não encontra obstáculo, onde a doença leva quem poderia ser salvo com uma aspirina, um cobertor, um copo de água com açúcar. Por isso incomodam tanto. Só oferecem ameaça a quem nada tem a oferecer aos brasileiros além de seu egoísmo.
http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/colunista/48_PAULO+MOREIRA+LEITE

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

ENTREVISTA STANLEY BURBURINHO

 Do Blog de : LUIZ NASSIF ONLINE

ENTREVISTA STANLEY BURBURINHO



O rosto de Che Guevara encobre um perfil misterioso. Para alguns, um hacker ligado ao PT; outros o entendem como algum figurão do Governo Federal que atua nas redes sociais. O fato é que ele incomoda e não dá trégua às trincheiras oposicionistas. Sua atuação no Twitter é diária; no Facebook foi bloqueado seis vezes.
O pseudônimo Stanley Burburinho é uma espécie de zagueiro daqueles que não têm medo de bola dividida. Se alguma figura de destaque das hostes oposicionistas resolve atacar o governo Dilma, é certeza que Burburinho entrará com informação e argumentação seguras para defender a meta governista.
Com sólida formação acadêmica e passagem pelo renomado Instituto de Tecnologia de Massachusetts, onde fez mestrado e doutorado, ele afirma não ser filiado a nenhum partido, embora admire o PT “porque se preocupa com o povo mais necessitado”.
Mas essa defesa também se revela crítica. Burburinho vê como fraca a atuação da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, ao mesmo tempo que se coloca como fiel escudeiro do projeto político no poder.
Entre suas atuações que se destacaram na web, algumas pautaram a mídia corporativa. Um desses momentos aconteceu em dezembro de 2012, durante o julgamento da AP 470, conhecida como mensalão. Faltando apenas o voto do ministro do STF, Celso de Mello, para que o Supremo, e não o Congresso, cassasse os mandatos dos deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP), Pedro Henry (PP-MT) e o então suplente José Genoino (PT-SP), Stanley Burburinho desencavou um processo de 1995 que deixou o decano em uma “sinuca de bico”. Na iminência de desempatar a votação e decidir que cabe ao STF arbitrar na Casa legislativa, o acórdão encontrado por burburinho trazia uma opinião completamente oposta, em que o ministro deixava claro que somente através do voto secreto na Câmara ou Congresso poderia se cassar um parlamentar eleito democraticamente, sem intromissão de nenhum outro poder. Depois de espalhado na blogosfera, a grande mídia não teve como esconder esse exemplo de jornalismo investigativo que os próprios veículos de mídia parecem ter esquecido de fazer.  
Stanley Burburinho concedeu entrevista exclusiva aos jornalistas Antonio Nelson, Andriano Ribeiro e Zeca Peixoto, que a compartilham colaborativamente em diversas plataformas. Boa leitura. 

Zeca Peixoto - Na sua página no Facebook consta que você passou pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Quem é o Stanley Burburinho que está por detrás da foto de Che Guevara? Por que esse nome?
Stanley Burburinho – Não sou jornalista e nunca me dei bem com o idioma. Sim, passei por lá. Fiz meu MsC. E 
PhD
no MediaLab do MIT. Também fiz alguns cursos em Harvard que fica na mesma cidade.
Ninguém conhecido como muita gente acha. Uma pessoa comum. Já acharam que sou o Nassif, PHA, José de Abreu, José Dirceu, etc. É uma honra acharem que sou um deles. Esse nome peguei na Net, não me lembro mais aonde. Achei curioso.
Zeca Peixoto - Sua atuação na Internet, sobretudo no Twitter, revela uma pessoa bem informada. Você tem fontes seguras no Governo Federal?
Stanley Burburinho - Não me considero bem infirmado como falam. Quem eu considero bem informado é o Nassif, o PHA, o Paulo Moreira Leite da Revista IstoÉ, o Zé Augusto e a Helena do Blog Amigos do Presidente Lula, o LEN, o Azenha, o Blog do Saraiva, o Blog Contexto Livre e vários outros que não me lembro no momento. Tem muita gente bem informada que quase não tem tempo para as redes sociais. Leio todos os citados, todos os dias. Agora, me ligo nos nomes, datas, fatos e nos detalhes. Anoto tudo. Leio todos os links que me passam no Twitter. Então, não tem como você ficar sem informação. E tenho tempo para ler tudo.
Zeca Peixoto - Staley Burburinho é filiado a algum partido político?
Stanley Burburinho ‑ Não sou filiado a nenhum partido. Gosto do PT porque se preocupa com o povo mais necessitado.
Zeca Peixoto - Como avalia as chamadas jornadas de junho? Concorda com a tese de que o atual modelo político está esgotado?
Stanley Burburinho - Acho válidas, mas sem vandalismo. Ficou claro que oportunistas tentam se apropriar das manifestações. Lembra da campanha pela derrubada da PEC37? Repare que as reivindicações dos manifestantes são as mesmas de Dilma. Acontece que não interessa a muita gente do Congresso as mudanças propostas nas manifestações. Sem a ajuda das ruas fica difícil o PT implementá-las. Dos 513 deputados o PT só tem 86 e dos 81 senadores o PT só tem 12. Fica difícil aprovar alguma coisa. Além disso, 45% de todo o Congresso pertencem à bancada dos empresários.
Se a oposição estivesse no poder, acredito que ninguém falaria que o modelo atual está esgotado. A oposição, para retormar o poder e nunca mais sair, quer o voto distrital que só os ricos se elegem. Como nos EUA. Acho que o atual modelo político precisa de reformas. Antes, acho mais urgente uma reforma do Judiciário. Controle externo para o Judiciário e MP. O CNJ fiscaliza o STF e o Judiciário, mas o presidente do CNJ é o mesmo presidente do STF. Quem fiscaliza o PGR e os MPs é o CNMP, mas o presidente do CNMP é o PGR. Isso tem que acabar. Controle externo para o Judiciário e MPs. Ministros do STF tem que ter mandato de no máximo 5 anos. Membros dos MPs poderão ser julgados por um juiz e não só por seus pares. Quantos membros dos MPs ficamos sabendo que foram punidos e demitidos. Eu não sei de nenhum caso. De 2003 até 2012, a PF puniu e demitiu quase 3 mil membros e disponibiliza essa informação no seu site. O MP não.
Zeca Peixoto - Na sua opinião, os partidos políticos perderam importância como interlocutores dos movimentos sociais?
Stanley Burburinho - Acho que não. Vejo muita gente que se diz petista reclamando que Dilma não reconhece a militância. Acho que militante que acredita no projeto do seu partido para o País não precisa de afago. Acham ruim com o PT, pior sem o PT.
Zeca Peixoto - Como avalia a presença de quadros no governo federal que, de alguma forma, têm compromissos com setores da indútria da copy right, das telecomunicações e da mídia tradicional, que é o caso do ministro Paulo Bernardo?
Stanley Burburinho - Acho estranho, se confirmado. Não acredito que Dilma, logo Dilma, que tem muito cuidado com esse tipo de situação, Lula e demais do PT, deixariam que isso acontecesse. Não posso afirmar nem posso negar esses compromissos que você citou na pergunta. Você não relacionou na pergunta a SECOM que acho fraca.
Zeca Peixoto - Tem opinião formada sobre a experiência do coletivo Fora do Eixo, que abriga o movimento Narrativas Independentes de Jornalismo Alternativo, o Mídia Ninja?
Stanley Burburinho - Sinceramente, não conhecia nenhum desses movimentos antes das manifestações. Estou recolhendo informações sobre eles. A Carta Capital de hoje diz que são eleitores de Marina Silva e que o líder do Fora do Eixo lançará o líder do Mídia Ninja como candidado a deputado federal pelo partido Rede de Marina Silva. Vou aguardar um pouco mais para falar sobre eles. Mas acho muito bom como alternativa.
Zeca Peixoto - Você foi bloqueado pelo Facebook. A administração do site chegou a te dar alguma justificativa ou explicação? Deduz qual o motivo da medida tomada por eles?
Stanley Burburinho - Sim. Fui bloqueado pela sexta vez. Alegam que uso no perfil um nome que não é o meu nome verdadeiro e pedem um número de telefone para liberar o acesso à conta. Sempre neguei. Na última vez, passei a usar o perfil Julinho da Adelaide. Outras cem pessoas usam o mesmo nome de perfil, mas resolveram bloquear só o meu. E os demais? E os Anonymous? Desisti. Vou passar a usar o Joindisapora e o Blogoosfero que é nacional, não têm donos e são anti-NSA/CIA porque ficam distribuídos em vários servidores por vários países.
Zeca Peixoto - Onde é preciso avançar no projeto político do PT e aliados?
Stanley Burburinho - Nos jovens. Renovação da militância. Senão correrá o risco ficar sem militância como o PSDB e DEM. Quem tem mais história que o PT?
Zeca Peixoto - Quanto ao atual quadro, há condições de Dilma Rousseff reverter essa queda de popularidade?
Stanley Burburinho – Sim. Já está revertendo. Subiu 6% na última pesquisa. Além disso, as falcatruas da oposição estão vindo à tona e a velha mídia vem perdendo credibilidade.
Zeca Peixoto - E sobre as candidaturas de Eduardo Campos, Marina Silva e Aécio Neves, alguma delas tem chances?
Stanley Burburinho - Nenhuma. Bater em Eduardo Campos, Marina e Aécio, é fazer de graça o trabalho da velha mídia e de Serra. Eduardo Campos é o que é graças ao Lula e Dilma. E os eleitores dele sabem disso. Desconfio que esse suposto “racha” entre Edurado Campos e o PT é encenação. Eduardo Campos e Lula não são bobos. Marina terá sérios problemas pelo conservadorismo religioso e pelo fato de apoiar abertamente o Pastor Feliciano. Além disso, quando os que pretendem votar nela souberem que o vice da Marina, que mora em Londres há mais de dez anos, é o dono da Natura que foi autuada no início do ano pela sonegação de R$ 628 milhões, e que o Banco Itaú, que foi autuado ontem pela Receita Federal por sonegação de R$ 18,7 bilhões, disse na velha mídia que dará apoio financeiro para a campanha de Marina, vão parar para pensar se vale a pena votar nela.
Aécio terá muitas dificuldades em conseguir votos em São Paulo porque Serra e a velha mídia de lá puxarão o tapete dele. Além do mais, o escândalo da Siemens e Alstom chegará até Minas Gerais, via Lista de Furnas. Além de outras coisas sobre Aécio que virão à tona até ano que vem. Várias trazidas pelo Serra que acha que foi Aécio quem detonou o escândalo da Siemens e Alstom.
Antonio Nelson – Pode-se afirmar que Stanley Burburinho é um hacker, no sentido original do termo?
Stanley Burburinho – Já fui. Tenho facilidade em usar o computador porque minha área de atuação é TI, Informática, etc. Fui na época do BBS.
Antonio Nelson – Qual a importância da existência dos hachers no Brasil?
Stanley Burburinho – Os que hoje são chamados de hackers, na minha época eram conhecidos como “escovadores de bits”. São muito importantes. Crackers são os vândalos.
Antonio Nelson - Sob a perspectiva da ética, até que ponto o jornalismo contribui para a memória social? 
Stanley Burburinho – Quase nada porque não depende só dos jornalistas, mas dos donos dos veículos.

Antonio Nelson - Quais as posturas mais antiéticas cometidas pelas grandes empresas de comunicação brasileira com relação ao profissional e a veiculação da informação?
Stanley Burburinho – Demissão de jornalista a pedido de políticos, não deixar que o jornalista publique certas matérias etc. Omissão e distorção da informação etc.
Antonio Nelson – Ética jornalística e revista Veja?
Stanley Burburinho – Nenhuma.
Antonio Nelson – A ética jornalística e a Rede Globo?
Stanley Burburinho – Só no jornal Valor Econômico, que é da Globo e Folha de São Paulo, que a audiência é de empresários e investidores que sabem quando estão mentindo, especulando, omitindo ou fazendo jogo político.
Antonio Nelson – A ética jornalística e a Folha de São Paulo, seus colunistas?
Stanley Burburinho – Só leio o Jânio de Freitas. Aliás, aqui no Rio, quase ninguém lê a Folha de São Paulo.
Antonio Nelson – A ética jornalística e o Estadão?
Stanley Burburinho – Curioso, mas de todos os veículos citados acima foi o único que assumiu abertamente o apoio ao Serra. Não leio.
Antonio Nelson – Há uma elite conservadora e reacionária que teme o crescimento dos veículos jornalísticos na internet?
Stanley Burburinho – Sim. Na década de 90, quando a Internet não era tão forte quanto é hoje, FHC foi eleito e reeleito. A partir de 2002, com a Internet mais forte, nunca mais a oposição conseguiu eleger um candidato. Isso incomoda e muito a tal elite conservadora e reacionária. Por exemplo, o último tucano eleito para o governo do Rio foi em 1994, o Marcelo Alencar. De lá para cá, ninguém da oposição.
Adriano Ribeiro – Você já foi processado ou ameaçado?
Stanley Burburinho – Não. Eu nunca ofendo as pessoas, nunca falo palavrões na Internet e nunca faço acusações sem provas. Sempre mostro o link para a matéria. 
Adriano Ribeiro – Como foi sua relação dele com o primo famoso, o antropólogo Darcy Ribeiro?
Stanley Burburinho – Boa. Mas pouco tempo de convivência. Ele teve que fugir em 64. E, ainda garoto, eu voltei para Montes Claros. Trabalhei nos cinemas do outro primo, Mário Ribeiro, irmão do Darcy. Depois, ainda bem jovem, fui para o Uruguai e para Cuba fazer curso de guerrilha e depois fui para o Araguaia. Estive com ele aqui no Rio, mas por pouco tempo. Fui para os EUA estudar.
Adriano Ribeiro - É filiado ao PT e qual tendência partidária prefere detro do partido?
Stanley Burburinho – Não sou filiado ao PT. Acho que esse negócio de tendência partidária dentro do partido atrapalha e muito.
Adriano Ribeiro - Quando iniciou a militância?
Stanley Burburinho – Acho que desde quando eu nasci. Meu pai era filiado ao Partidão. Em 1961, meu pai ficou muito tempo com o Che, na primeira visita oficial dele ao Brasil.
Adriano Ribeiro - Antes da militância virtual já era ativista político?
Stanley Burburinho – Sim. Sempre fui.
Adriano Ribeiro - Quais momentos que mais o colocaram em destaque na rede?
Stanley Burburinho – Não me lembro de se isso aconteceu. Estou na rede faz tempo. O LEN também é das antigas. A gente ficava no blog do Noblat no Estadão. Todos os dias o Noblat bania o LEN e eu.
Adriano Ribeiro - Qual o maior furo e a maior barrigada?
Stanley Burburinho – Não me lembro mesmo. Não me ligo nisso. Mas deve ter rolado os dois. Não espero retorno da minha militância na Net. Faço porque acredito que o País está melhorando e muito.












sábado, 17 de agosto de 2013

José Dirceu: MP engavetou ações contra tucano

José Dirceu: MP engavetou ações contra tucanos

17/8/2013 16:26
Por Redação, com agências - de São Paulo

O ex-ministro José Dirceu acusa o Ministério Público de omissão no caso do suposto esquema de cartel delatado pela Siemens em contratos de trem e metrô em administrações tucanas, desde a gestão de Mario Covas. Ele resgata em seu blog uma lista de representações protocoladas pelos parlamentares da bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo, entre 2008 e 2010, contra governos tucanos.
José Dirceu
José Dirceu reafirma a intenção de provar sua inocência
É simplesmente vergonhosa a omissão do Ministério Público Federal no caso Siemens-tucanos. Na última semana, a bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP) divulgou todas as representações protocoladas pelos parlamentares da nossa Bancada entre 2008 e 2010.
Faço questão de publicá-las aqui, indicando a página do PT-ALESP onde foram divulgadas. Ao todo foram 15 representações protocoladas entre 2008 e 2010. A matéria frisa que “passados cinco anos, ninguém foi responsabilizado” e lembra que “atos de improbidade administrativa caducam em cinco anos, não sendo mais aplicável punição.
Confiram:
01. 19/06/2008 – MPF Rodrigo de Grandis – irregularidades em contratos de estatais paulistas com a Alstom e pagamento de propina pela Alstom a José Amaro Pinto Ramos, lobista ligado a tucanos / lavagem de dinheiro/ Estadão 18/06/2008 – Jornalista Eduardo Reina – PR/SP-SEPJ 004726/2008 – 10.02.2011 – Representação 1.34.001-003352/2008-39 encaminhada à Justiça Federal em 24/06/2008 recebeu o número 000.7986.86.2008.4.03.6181 – 6º Vara Criminal – aos 10.01.2011 encaminhado ao MPF para manifestação. (está sob sigilo)
02. 24/06/2008 – MPE Silvio Marques – Aditamento ao Inquérito 204/2008 na Procuradoria de Justiça da Cidadania (tel 3017.7869) comunicando protocolo da representação ao MPF de 19/06/2008 denunciando irregularidades nos contratos de estatais paulistas com a Alstom (está sob sigilo)
03. 27/06/2008 – MPE Silvio Marques – representação contra Claudio Luiz Petrechen Mendes pela prática de crime de falso testemunho em depoimento dado ao MP no qual omitiu a sociedade em duas empresas, a Inter empresarial Comercial importação e Exportação Ltda. e Tecpar Engenharia e Participações Ltda, por indícios de prestação de serviços fictícios a empresas do conglomerado Alstom. (“Propina iria para “partido no poder” Jornalista Eduardo Reina – Estadão 20/06/2013) (está sob sigilo)
04. 30/06/2008 – MPF Rodrigo de Grandis – comunica o protocolo da representação ao MPE contra Claudio Luiz Petrechen Mendes pela prática de crime de falso testemunho em depoimento dado ao MP no qual omitiu a sociedade em duas empresas, a Inter empresarial Comercial importação e Exportação Ltda. e Tecpar Engenharia e Participações Ltda por indícios de prestação de serviços fictícios a empresas do conglomerado Alstom. 10.02.2011 – Anexado à Representação 1.34.001-003352/2008-39 (item 3 deste relatório) encaminhada à Justiça Federal em 24/06/2008 recebeu o número 000.7986.86.2008.4.03.6181 – 6º Vara Criminal – aos 10.01.2011 encaminhado ao MPF para manifestação. (está sob sigilo)
05. 18/07/2008 – MPF Rodrigo de Grandis – irregularidades em contratos de estatais paulistas com a Alstom e Siemens. Indícios de utilização de consultorias internacionais para lavagem de dinheiro visando o pagamento de propinas e subornos a diversas autoridades no Brasil (está sob sigilo)
06. 22/07/2008 – MPE Silvio Marques – irregularidades envolvendo o contrato firmado entre o Metrô e a empresa CMW Equipamentos S/A (atualmente Alstom) TC 23179/026/94, que teve inúmeras irregulares e prorrogações de prazo contratual que fizeram com que o contrato assinado em 1994 vigorasse por mais de 10 anos, contrariando disposição expressa da lei 8666/93, que fixa o limite de duração do contrato em 60 meses. 000003030 – IC 397/2008 6ª. PJ – PPS –Silvio Marques – Oficial Isaura (está sob sigilo)
07. 22/07/2008 – MPE Silvio Marques – irregularidades envolvendo o aditamento ao contrato firmado entre o Metrô e a empresa Mafersa S.A. para aquisição de trens (pelo Termo Aditivo 11 a Alstom, que era subcontratada da Mafersa, adquiriu desta os direitos e obrigações decorrentes do contrato firmado) julgado irregular pelo TCE – TC 014593/026/92 uma vez que o Metrô, aproveitando-se de um contrato praticamente exaurido, alterou o objeto, sob a justificativa de atualizações tecnológicas, alterou os preços e substituiu a empresa contratada pela Alstom, quando, na verdade, deveria ter realizado nova licitação. (está sob sigilo)
08. 05/08/2008 – MPF Adriana Zawada Melo – representação contra a Siemens (pelas mesmas irregularidades envolvendo a Alstom), mencionando prisões de vários funcionários da Siemens decorrentes de investigações criminais ocorridas em diversos países pela prática de atos de corrupção envolvendo o suborno de diversas autoridades, e em depoimento a promotores de Munique, Reinhard Siekaczek, ex-diretor da Siemens, afirmou que tinha conhecimento de pagamentos para autoridades de outros países e que o Brasil seria um deles. Sendo assim, a representação solicita investigação dos contratos da Siemens com diversas empresas, CPTM, METRO, CESP, CPFL, DER, dentre outras. ANDAMENTO 06.08.2010 – ESTÁ SOB SIGILO 10.02.2011 – 10.02.2011 – instaurada representação 1.34.001.004673/2008-51 encaminhada para o MPE aos 15/01/2009 (está sob sigilo)
09. 28/08/2008 – MPF Rodrigo de Grandis – representação contra as empresas Alstom e Siemens pela prática de lavagem de dinheiro e pagamento de propinas a diversas autoridades no Brasil. (está sob sigilo)
10. 03/09/2008 – MPE Silvio Marques – aditamento à representação de 22/07/2008, contra a Mafersa, informado que o contrato foi julgado irregular pelo TCE, e noticiando que os escritórios da Alstom na Suiça, responsáveis pela contabilidade, haviam sofrido busca e apreensão de documentos e equipamentos. (está sob sigilo)
11. 16/07/2009 – MPF Rodrigo de Grandis – aditamento à representação de 19/06/2008 informando acerca do bloqueio de bens do Conselheiro do TCE/SP Robson Marinho, suspeito de ajudar a Alstom a conseguir contrato de R$ 110 milhões em 1998, quando já era Conselheiro do TCE, após ter sido Chefe da Casa Civil no Governo Mário Covas e tesoureiro da Campanha de Mário Covas em 1994. (está sob sigilo)
12. 17/09/2009 – MPE Silvio Marques – mesmo teor da representação enviada ao MPF 05/08/2008, contra a Siemens (pelas mesmas irregularidades envolvendo a Alstom), mencionando prisões de vários funcionários da Siemens decorrentes de investigações criminais ocorridas em diversos países pela prática de atos de corrupção envolvendo o suborno de diversas autoridades e, em depoimento a promotores de Munique, Reinhard Siekaczek, ex-diretor da Siemens, afirmou que tinha conhecimento de pagamentos para autoridades de outros países e que o Brasil seria um deles. Sendo assim, a representação solicita investigação dos contratos da Siemens com diversas empresas, CPTM, METRO, CESP, CPFL, DER, dentre outras.
13. 27/07/2009 – MPE Silvio Marques – aditamento à representação de 19/06/2008 informando acerca do bloqueio de bens do Conselheiro do TCE/SP Robson Marinho, suspeito de ajudar a Alstom a conseguir contrato de R$ 110 milhões em 1998, quando já era Conselheiro do TCE, após ter sido Chefe da Casa Civil no Governo Mário Covas e tesoureiro da Campanha de Mário Covas em 1994. (está sob sigilo)
14. 27/10/2010 – MPE e MPF – representação denunciando fraude na licitação da linha 5 – Lilás do Metrô. Está na Sub-procuradoria Geral de Justiça acompanhando a Ação Popular que corre pela 9ª Vara da Fazenda 0039554-31.2010.8.26.0053
15. 21/05/2010 – MPE – Aditamento Alston – IC 397/2008 – 6º PJ – desde 06/04/2009 para elaboração de laudo técnico (informação de 15/10/2012) (está sob sigilo).
Violência contra manifestantes
Aproveito, também, para recomendar a leitura da matéria “PT requer sindicância para apurar ação da Tropa de Choque na Assembleia”, que denuncia a violência policial contra os deputados e cidadãos que tentaram acompanhar a sessão plenária na última quarta-feira (14.08) na Casa. Segundo o deputado Luiz Claudio Marcolino, líder do PT na ALESP, o partido vai requerer uma investigação para esclarecer a distinção feita entre os “convidados a assistir a sessão da discussão de uma proposta de emenda constitucional (constante da pauta) e os cidadãos que vieram participar dos protestos contra a corrupção tucana no Metrô e na CPTM”.

http://correiodobrasil.com.br/noticias/politica/jose-dirceu-mp-engavetou-acoes-contra-tucanos/636196/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=b20130818

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Crises na mídia social: Dá Para Prevenir?

Crises na mídia social: Dá Para Prevenir? Por Cristina Iglecio

Diretora geral da Jeffrey Group Brasil ressalta que a única forma de antecipar uma crise na mídia social é o monitoramento constante desse ambiente

Crises na mídia social: Dá Para Prevenir? Por Cristina Iglecio
Por Cristina Iglecio
Diretora geral da Jeffrey Group Brasil

A ocorrência de uma situação de crise é provavelmente um dos poucos momentos em que todos os altos executivos de uma empresa - independente de suas áreas de atuação - concordam que devem interromper suas atividades para em conjunto discutir um posicionamento. A agilidade nas decisões, que tem a definição antecipada de processos e o mapeamento de riscos como premissas, é o que vai determinar o sucesso da estratégia.

Até aqui, nada novo, tudo muito claro e de fácil compreensão. Grandes corporações, que têm uma estrutura de comunicação robusta, já sabem da importância da Prevenção e Gerenciamento de Crises. Mas o que mudou com a Mídia Social? Crises como conhecíamos anteriormente e crises na Mídia Social são a mesma coisa? Sim e não.

As soluções são as mesmas: transparência, comunicação clara e eficiente, mapeamento de públicos envolvidos, busca de aliados, monitoramento de opositores, utilização de canais adequados. E agilidade. Mas o que significa agilidade atualmente? Minutos! E a diferença entre horas e minutos pode ser a diferença entre o sucesso ou fracasso de uma estratégia.

Para colocar mais uma pitada de dificuldade, pense que você pode estar lidando com informações falsas e aí tudo fica bem mais complicado, pois é muito mais fácil fazer desmentidos na mídia tradicional. A versão oficial, desde que com provas indiscutíveis, era suficiente para conter a repercussão do caso na imprensa. Não é mais assim. Você pode ter que desmentir uma informação falsa para milhões de internautas, que não têm a mesma preocupação com a verdade de um jornalista e que sequer vão tentar checar se a fonte é confiável. É, pode ser bem mais complicado...

E nesse momento vão aparecer muitos especialistas em crises na mídia social, com diversos cases de sucesso. Mas, se você prestar atenção, as histórias são mais ou menos as mesmas e as estratégias vão parecer um pouco simplistas.

O mais importante é saber que cada caso é um caso e não existe uma receita pronta com o passo a passo sobre o que fazer. O ambiente é difuso, os atores são muitos e podem mudar rapidamente. Será preciso dialogar e as empresas nem sempre estão preparadas para isso.

A boa notícia é que quando há convicção na mensagem e no posicionamento, tudo fica mais fácil. E aí a transparência é ainda mais essencial. Não é tão diferente do que era antes, certo? É isso mesmo, o que tem de mais novo em comunicação em situações de crise na mídia social é a mais antiga fórmula: consistência.

Outra coisa que definitivamente não mudou é o fato de que não há empresa que esteja livre da possibilidade de enfrentar uma crise, seja no “mundo real” ou na mídia social. E também que não há nada que se possa fazer para evitar uma situação que coloque a reputação da empresa em risco. O que podemos e devemos fazer ainda é antecipar e consequentemente minimizar o impacto.

E a única forma de antecipar uma crise na mídia social é o monitoramento constante desse ambiente. Isso porque quando o questionamento chegar definitivamente à empresa poderá ser tarde demais. Mas não se esqueça: o monitoramento eficaz exige um aprofundamento sobre o que e por que queremos monitorar. Planejamento, também aqui, é essencial.

Tempos desafiantes, sem dúvida. A velocidade das mudanças pode ser estonteante, mas as respostas do mercado também estão aceleradas. Muitos fóruns de discussão, debates interessantíssimos.

Vale a pena participar!