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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

“Antigamente jornalista perguntava pra gente responder. Agora jornalista responde pra gente perguntar.”

Lula em ação

Lula em ação
“Antigamente jornalista perguntava pra gente responder. Agora jornalista responde pra gente perguntar.”
Não sei se esta tirada é originalmente de Lula. Mas, seja como for, é muito boa.
Lula provavelmente estava se referindo, especificamente, a Noblat. Na sabatina de Dilma no Globo, Noblat mandou Dilma falar menos para que ele e companheiros pudessem falar mais.
Dilma se saiu bem. “Quem é o sabatinado?”, perguntou, rindo.
Você pode gostar ou não de Lula, mas uma coisa é indiscutível: seu senso de humor.
Isso ajuda a aliviar ambientes tensos como o vivido hoje na política brasileira.
Nos últimos dias, Lula tem oferecido várias oportunidades aos brasileiros de rir, a despeito de preferências partidárias.
Ele observou que numa entrevista Aécio falou numerosas vezes de “previsibilidade”, uma palavra largamente usada nos ambientes corporativos.
Aécio estava dizendo que o PT não oferece ao mercado uma economia “previsível”, sem surpresas.
“Se ele fosse tão bom assim em previsibilidadse, por que não previu que sua candidatura ia afundar?”, respondeu Lula.
Mesmo Aécio deve ter rido com a resposta espirituosa.
Marina – é claro – tem estado no centro das piadas de Lula. Ele tornou motivo de risos a promessa de Marina de que governaria com os “melhores”.
Os “melhores”, na tradução irreverente de Lula, viraram “os meió, os meió”. Ele aproveitou para dizer que de tanto procurar os “meio” Marina pode acabar terceirizando seu governo.
Nem a si mesmo ele poupa. Ao falar em avanços na educação em seus dias presidenciais, ele disse que “um semianarfa” criou mais universidades que todos os doutores que o antecederam.
Só alguém muito seguro de si, e com muito humor, poderia se autodefinir como um “semianarfa” num país em que o diploma é tão endeusado.
Lula tem outra característica que deveria ser imitada por mais gente, à direita ou à esquerda: procura não deixar divergências políticas envenenarem relações pessoais.
Por isso ele toma cuidado com as palavras. Ao contrário de muitos militantes petistas, jamais chamou Eduardo Campos ou Marina de “traíras”, por exemplo.
Essa atitude conciliadora pode, sob uma certa ótica mais rigorosa, ser vista como uma espinha mais dobrável que a desejável.
Num exemplo de como isso pode ser controverso, Lula não apenas compareceu ao enterro de Roberto Marinho, que tanto fez para prejudicá-lo, como proferiu um elogio a ele à beira do caixão e decretou luto oficial de três dias.
Essa campanha tem sido pautada por agressões pessoais. Marina disse que tem sido tratada como “exterminadora do futuro”, mas parece ter esquecido que afirmou que o PT colocou “ladrões para assaltar a Petrobras”.
A culpa pela alta tensão da disputa pela presidência jamais poderá ser atribuída a Lula.
Ao contrário, com sua irreverência loquaz, ele desanuvia o cenário.
Muito se falado legado social de Lula, e esta é uma verdade incontestável.
Os brasileiros ganhariam também se prestassem atenção em outro legado subestimado: o humor na política.
(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
 
FONTE DCM

Concentração de renda cresce pela 1.a vez desde 2004, mostra Pnad





A concentração de renda no Brasil aumentou ligeiramente no ano passado pela primeira vez desde 2004, enquanto a taxa de desemprego voltou a subir devido à pequena abertura de vagas, mostrou a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad), divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE.
O rendimento médio do trabalhador brasileiro ocupado, segundo o estudo, subiu 5,7 por cento em 2013, para 1.681 reais, ante 1.590 reais em 2012, mas o avanço foi desigual. A renda dos mais ricos avançou em um ritmo mais forte que o rendimento dos mais pobres, causando aumento da disparidade de renda.
O movimento foi verificado em todos os recortes feitos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), seja pela renda do trabalho, pela renda domiciliar ou pela renda de todas as fontes, que inclui programas de transferência de renda, pensão, aposentadoria e aluguel.
O índice Gini, que mede a concentração de renda, avançou para 0,500 em 2013, ante 0,499 no ano anterior. Pelos critérios do indicador, quanto mais perto de zero menor é a desigualdade de um país. Em 2011, o Gini calculado com base no rendimento domiciliar mensal foi de 0,501.
“Os três recortes mostram uma estabilidade do Gini desde 2011. Para o índice melhorar, as pessoas das camadas mais pobres precisariam ter aumentos superiores aos demais. Não vimos isso e, por isso, não vemos movimentação (na concentração)”, avaliou a economista do IBGE Maria Lúcia Vieira.
A renda média dos 10 por cento mais pobres subiu 2,17 por cento para 470 reais. Por outro lado, a renda média dos 10 por cento mais ricos avançou 4,4 por cento, a 11.758 reais.
Segundo ela, o que mais chama a atenção é que o Gini “está praticamente parado” há três anos no país (2011, 2012 e 2013).
“Antes, o que se via eram quedas importantes a cada ano no Gini e não se vê mais isso. Não dá para dizer que houve melhora ou piora, mas estamos numa mesma condição desde 2011”, acrescentou.

IBGE -PNAD

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

PSB estimula delação nas redes sociais

247 – O advogado do PSB de São Vicente Jefferson Teixeira postou uma lista no Facebook das pessoas que teriam ofendido o deputado Márcio França, quando na verdade apenas teceram críticas, em comentário contra a presidente Dilma Rousseff. “Se você tiver informações que ajudem a localizar essas pessoas, me ajudem!”, diz. Leia o artigo de Diogo Costa sobre o assunto, publicado no GGN:
PSB estimula sociedade de delatores nas redes sociais
Esta prática abominável de estimular a delação relembra as piores ditaduras totalitárias que a humanidade já conheceu. Pois bem, o advogado do PSB, que cumpre este torpe papel, chega mesmo a oferecer "recompensas" para que as pessoas delatem informações sobre as pessoas que o PSB expõe criminosamente nas redes sociais.
Que o PSB nunca foi socialista chega a ser uma obviedade. Mas que o PSB se utiliza de práticas totalitárias, fascistas e nazistas, como este instituto da 'delação recompensada', para mim é novidade.
Isto tem que ser denunciado, isto é uma prática que cabe em ditaduras totalitárias, não em uma democracia como a que estamos construindo no Brasil. Imaginem se amanhã ou depois volta uma ditadura no Brasil... Estes sádicos perseguidores seriam os primeiros a insuflar e recompensar delatores! Foi assim que muita gente acabou morta, torturada e foi assim também que muita gente teve seus corpos ocultados até os dias de hoje.
Lamento profundamente que o PSB estimule este comportamento canalha, calhorda, safado e sem vergonha por parte dos seus advogados. E lamento não porque tenho amigos incluídos nesta porca listagem, mas porque lamentaria em qualquer situação.
 FONTE:
http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/135037/PSB-estimula-dela%C3%A7%C3%A3o-nas-redes-sociais.htm

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O brasileiro, o Estado e o (des)respeito às instituições.

O brasileiro, o Estado e o (des)respeito às instituições.

E aquela história de "homem cordial"?

Publicado em . .
O episódio da vaia à Presidente da República na abertura da Copa do Mundo-2014 expôs um lado hostil e revanchista do brasileiro que, cada vez menos crente no valor fundamental das instituições políticas e republicanas, faz-se indiferente e menos cordial.
Pouco menos de dois meses após o fim da Copa do Mundo no Brasil, pego-me pensando nas ideias do Contrato Social, nos ideais republicanos, no princípio da divisão dos poderes numa nação e no quanto tudo isso deveria ser destacado e reconhecido pelo povo brasileiro.
Desde o início se dizia que a Copa do Mundo seria a vitrine do Brasil e do povo brasileiro para o exterior. Faria o Brasil mais e melhor conhecido pelo mundo lá fora e, por isso – e dentre tantas outras promessas – era assaz importante o apoio popular à sua realização.
E agora, passado o tempo, o impacto e a euforia, lembro-me do texto que segue:
“Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade – daremos ao mundo o ‘homem cordial’. A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa, fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal.”
Assim, Sérgio Buarque de Holanda começa o trecho em que cunhou a expressão que lhe fez mais famoso, até que passasse de festejado autor de “Raízes do Brasil” a “pai de Chico Buarque de Holanda”, como ele mesmo, Sérgio, assumiu. O brasileiro seria o “homem cordial”.
O início da Copa do Mundo no Brasil mostrou totalmente o contrário. Ao contrário do que possa parecer.
Futebol à parte, em tempos em que se discutem a violência e as injúrias raciais (insistentemente chamadas de “racismo” pela imprensa) nos Estádio de Futebol, lembro que naquele dia do primeiro jogo da Copa do Mundo, vários foram os momentos que me incomodaram. Um desses momentos foi aquele em que a torcida brasileira vaiou o time croata na medida em que o esquadrão ia entrando em campo. E daí a gente vê que, pelo menos nessa geração atual de brasileiros, se há algo que não se pode dizer de nós, é que sejamos cordiais.
No papel de país anfitrião, o mínimo que a torcida – cordial – deveria fazer era aplaudir o time croata de modo a que se sentissem bem-vindos ao nosso país para disputar uma partida de futebol e não uma guerra. Mas cadê a hospitalidade. O curioso é que o próprio autor, a certa altura, afirma nesse mesmo “Raízes do Brasil” que “Seria engano supor que essas virtudes possam significar ‘boas maneiras’, civilidade. São antes de tudo, expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante.”
Dentro desse jeito emotivo de ser, o brasileiro é desrespeitoso. E ainda que possam haver aqueles que se queixem do mau hábito da generalização, bem me lembro que, no momento da vaia, eram mais de 60 mil pessoas as pessoas que vaiavam.
Dessa mesma data, também podemos nos lembrar do episódio em que um brasileiro se “sentiu no direito” de quebrar o dedo de um argentino que se recusou a soltar a bandeira de seu país.
Sérgio Buarque de Holanda ainda disse que:
“No ‘homem cordial’, a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência. Sua maneira de expansão para com os outros reduz o indivíduo, cada vez mais, à parcela social, periférica, que no brasileiro – como bom americano – ter a ser a que mais importa. “
Não raro, o ajuntamento de certo grupo de torcedores dá ensejo a reuniões cujo fim tende à desordem, violência, balburdia e tantas outras condutas condenáveis pelo “homem médio”, quanto mais pelo “homem cordial”.
Ao longo da experiência da Copa do Mundo, assistimos estupefatos os torcedores japoneses recolherem os lixos dos estádios, europeus respeitando assentos e filas, como se tudo fosse uma conduta estranha a nós brasileiros. Mas bastava que saíssemos às ruas após cada jogo do Brasil, para que víssemos o resultado de toda “comemoração” dos brasileiros. Lixos e mais lixos lançados ao chão em meio a garrafas quebradas no meio das ruas e calçadas.
É necessário lembrar que éramos os anfitriões? Mostramos mesmo o homem cordial?
Não raro, nos deparamos com torcedores que parecem realmente crer em frases do tipo da que diz que ganhar roubado é mais gostoso. É esse mesmo brasileiro que vai às urnas e que cobra o fim da corrupção? A Copa do Mundo poderia ter sido o momento perfeito a ser aproveitado pelo brasileiro pra gritar ao mundo que ele não transaciona com o erro, mas antes, ele execra e acusa todo o erro e todo o mal feito, que ele prefere as coisas limpas. Mas não foi assim... fizeram pior.
Bastou que a imagem de Sua Excelência, a Presidente da República, aparecesse no telão do Estádio para que, os “cordiais brasileiros”, lhe dirigissem impropérios a plenos pulmões para o mundo inteiro ouvir, todos eles tristemente bem relembrados por todos nós.
Que se ressalte que não se pretende exaltar a pessoa civil que ocupa o cargo, ainda que aqueles maldizeres não são próprios a se dizer a quem quer que seja, quanto mais à uma mulher, mãe e avó. Nesse caso, em questão, não importam as divergências que se tenha com a pessoa da presidente ou com o partido e governo que ela representa: ali, naquele jogo, era a instituição Presidência da República que se encontrava e essa instituição deveria ser vista pelo povo com status semelhante à sacralidade religiosa, até como modo de que esse mesmo povo fosse mais zeloso na hora de escolher seu ocupante. A instituição Presidência da República deveria ser reverenciada e respeitada pelo povo. Não a sra.  Dilma Vana Roussef. Não. Mas sim, a representante maior do Estado brasileiro.
De certo que o mesmo respeito “sacro” deveria ter o eleito ao cargo que representa, de maneira a honrá-lo, não só enquanto instituição, mas também, naquilo que diz respeito à confiança que lhe fora depositada pela maioria do povo. Uma vez que houvesse o Estado cuidando do povo que, por sua vez, fiscaliza o Estado, harmonizaríamos as relações recíprocas de maneira tal que o fim das desigualdades sociais e regionais deixasse de ser “apenas” um objetivo do Estado Brasileiro e se tornasse uma realidade que tingisse de boa sorte toda a sorte de brasileiros.
Por ora, o que se vê é o oposto de tudo. O brasileiro cada vez mais descrente do Estado e suas instituições, fazendo-se indiferente à necessidade de mudanças urgentes no quadro político nacional; de outro lado, confortáveis nas cadeiras que julgam mais suas do que do povo, aqueles que deveriam atender os interesses de uma nação, não se furtam a cuidar dos próprios interesses. E nisso de um não ligar pro outro, a desordem cada vez maior parece sempre próxima e inevitável.
Oxalá Sérgio Buarque ainda se faça certo no futuro que vem. Bom seria se aprendêssemos a receber, a vindicar, a escolher e a suportar consequência, mas sempre no afã de melhorarmos. Porém, em um país em que a devolução de uma carteira de dinheiros achada em algum local público é matéria de destaque, a cordialidade parece ser cada dia menos regra e mais exceção.

Autor

  • William Ricardo Grilli Gama

    Advogado, Professor de Direito Processual Civil na Unesc-Faculdades Integradas de Cacoal/RO, Especialista em Direito Constitucional e Docência no Ensino Superior.