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sábado, 14 de maio de 2016

A hora da resistência

Daniel Almeida: A hora da resistência 


   
O retrato do governo ilegítimo de Temer revela ainda mais os motivos que levaram o vice-presidente da República a patrocinar a interrupção democrática, promovendo, na prática, uma eleição indireta para o Palácio do Planalto. Sem tradição de diálogo com os movimentos sociais democráticos, a equipe do peemedebista terá a missão de implantar na marra um projeto político neoliberal, derrotado nas urnas em 2014.

O avanço do golpe no país só foi possível graças ao empenho de setores do Judiciário, do Ministério Público, da oposição e da mídia. Se não fossem as artimanhas espúrias do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o processo não teria chegado ao Senado. O afastamento da presidenta honesta não teria ocorrido nesta semana. Não existe crime de responsabilidade que o justifique.

Fica claro que a elite brasileira usou Cunha para derrubar Dilma e viabilizar seus interesses. É certo que haverá prejuízos graves para os brasileiros mais pobres. O discurso de que programas sociais - Bolsa Família, Prouni e Minha Casa, Minha Vida – serão “aprimorados” significa que sofrerão um enxugamento profundo. O próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem dito que o corte de despesas públicas será o foco da gestão.

A grande vítima, entretanto, deve ser o trabalhador que enfrentará retrocessos e ameaças a direitos duramente conquistados. Uma das primeiras medidas estruturais que deve ser anunciada pelo governo golpista é propor aposentadoria com idade mínima de 65 anos para homens e de 60 anos para mulheres. Vale lembrar que, em alguns estados, o cidadão terá de trabalhar até a morte, sem ter a oportunidade de desfrutar do merecido descanso, tendo em vista a baixa expectativa de vida das pessoas.

Com a perspectiva de tempos sombrios, é fundamental que todos se mantenham em vigília permanente nas ruas para lutar contra tentativas de redução de direitos sociais e trabalhistas. É hora de resistir! Perdemos uma batalha esta semana no Senado, mas a grande luta está apenas começando. Grandes desafios virão.


*É deputado federal pelo PCdoB da Bahia e líder do Partido na Câmara dos Deputados. 

Imprensa internacional critica governo golpista de Temer

Imprensa internacional critica governo golpista de Temer 


 A mídia internacional criticou o ministério formado por Temer, composto de homens brancos e envolvidos em crimes de corrupção.  A mídia internacional criticou o ministério formado por Temer, composto de homens brancos e envolvidos em crimes de corrupção.
Segundo a revista, os congressistas, por não estarem interessados em cortes de gastos e aumentos de impostos, podem "resistir ao aperto de cinto necessário, especialmente (tendo em vista) a corrida para importantes eleições locais de outubro". A publicação lembrou que Temer é acusado pelos apoiadores de Dilma Rousseff de ser um usurpador do poder.

De acordo com a revista, Temer "carece de legitimidade eleitoral para (executar) as reformas estruturais radicais, como as pensões generosas, as leis trabalhistas rígidas, os impostos bizantinos" e o sistema eleitoral. "É o caso de, se e quando, ele terá em mãos as chaves do (Palácio) da Alvorada", destacou The Economist.

O jornal norte-americano Los Angeles Times afirmou que o novo governo terá de superar as "acusações de que tomou o poder ilegitimamente e, ao mesmo tempo, enfrentar a pior recessão do Brasil em décadas".

No noticiário e no site, a rede de televisão CNN informou que a presidenta afastada Dilma Rousseff terá, depois da aprovação do início do processo de impeachment, "os próximos 180 dias para enfrentar as acusações de que contrariou as leis orçamentárias, (enquanto) Temer tem a tarefa imensamente difícil de conquistar a confiança dos brasileiros".

Críticas ao ministério

O jornal canadense The Globe and Mail, depois de enumerar as medidas anunciadas pelo presidente interino Michel Temer para ajustar a economia e atrair investimentos, acrescentou que a Operação Lava Jato atinge sete dos 24 ministros anunciados pela administração que substituiu Dilma Rousseff.

Em sua edição norte-americana, o jornal britânico The Guardian disse que Michel Temer prometeu restaurar a confiança na maior economia da América Latina, mas para realizar a tarefa nomeou um ministério "visivelmente branco" em uma das nações "mais etnicamente diversas do mundo".

Na matéria principal da seção internacional, o New York Times publicou que a primeira escolha de Temer para ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação era um criacionista (que se opõe à teoria de evolução das espécies) e que ele próprio (Temer) é o primeiro líder brasileiro em décadas que não incluiu mulheres em seu gabinete.

Para a revista norte-americana Time, o escândalo que atingiu a Petrobras revelou a corrupção profunda de todo o setor político brasileiro e que "Temer foi implicado por testemunhas no escândalo, mas ele não foi acusado", informou a revista. A Time lembrou que "vários membros do gabinete de Temer foram atingidos, entre outras, com acusações de corrupção". 


 De Brasília, com Agência Brasil

FONTE : http://www.vermelho.org.br/noticia/280894-1

LEMBRANDO : Vitória do golpe no Senado inicia governo ilegítimo e impostor

Vitória do golpe no Senado inicia governo ilegítimo e impostor

   Com todo apoio do Ministro Gilmar Mendes

 

A votação que terminou na madrugada desta quinta-feira (12) no Senado, foi mais um passo na pantomina golpista que ocorre no Brasil. Por 55 votos contra 22, o golpe perpetrado contra a democracia e a Constituição colocou entre parênteses os 54,5 milhões de votos dados a Dilma Rousseff em 2014. E suspendeu o mandato legítimo da presidenta que agora vai responder ao processo instalado naquela casa legislativa.
 
A votação no Senado dá origem ao mandato interino e ilegítimo de um usurpador, o vice-presidente da República Michel Temer, que conduzirá um governo para o qual não recebeu um único voto popular, mas apenas os votos de 367 deputados federais e 55 senadores que aceitaram a admissibilidade do processo de impeachment da presidenta legitimamente eleita.
 
A ilegitimidade do ocupante do mais alto cargo da nação aponta para uma nova etapa da resistência contra o golpe da direita neoliberal. A oposição manterá as duas faces fundamentais do movimento democrático que ocorre desde o acatamento do pedido de impeachment pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados, o notório punguista Eduardo Cunha. 
 
Estas dimensões são formadas pela mobilização popular, que deverá crescer, e a ação institucional, que se acentuará. Agora com o objetivo de derrotar o golpe ao longo do processo, que poderá durar até 180 dias. Derrotar o golpe principalmente no julgamento que será feito pelo Senado, conduzido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski.
 
Julgamento aliás prenhe de dificuldades para a direita golpista, que precisará demonstrar objetivamente a existência de crime de responsabilidade que a presidenta Dilma Rousseff tenha cometido. Como provar um crime que não existe? O julgamento traz essa dificuldade para a direita – não há crime! 
 
Esta conjectura frágil gera um governo Michel Temer fraco e combalido, que não encontrará solução para a profunda crise criada pela direita que negou no parlamento votos para iniciativas fundamentais promovidas por Dilma Rousseff. 
 
Foram essa negação do voto e as chamadas “pautas bomba” que ajudaram a cimentara o caminho do golpe. 
 
A ilegitimidade de um governo Temer vai enfrentar a oposição organizada dos trabalhadores, dos movimentos sociais, dos democratas e progressistas de todo o país. 
 
A normalidade democrática poderá ser recuperada apenas pela derrota do golpe e pelo restabelecimento do governo Dilma Rousseff, com o reforço de sua base social. Ou pela consulta à única fonte da soberania e poder na República – a vontade do eleitor, a única capaz de deslindar a dúvida sobre a legitimidade do governante. O povo deve ser chamado a falar através de um plebiscito onde poderá manifestar sua vontade sobre os rumos do Brasil.

Uruguai não reconhece governo Temer - GOLPISTA

247 - O ministro das Relações Exteriores e chanceler do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, se posicionou mais uma vez contra o impeachment de Dilma Rousseff, e disse neste sábado que seu país não tem intenções de reconhecer Michel Temer (PMDB) como presidente do Brasil.
"O Uruguai se manifestou politicamente, já disse o que tinha que dizer. Com certeza estamos muito preocupados com esta situação e esperamos que tudo ocorra dentro dos parâmetros constitucionais e institucionais. A posição do nosso governo está clara, pois nós já nos posicionamos a respeito disso", disse Nin Novoa em entrevista a jornalistas na quinta-feira (12), data do primeiro dia de mandato do presidente em exercício.

Questionado se irá entrar em contato com Temer ou com alguém de seu gabinete, o chanceler foi direto: "Não [haverá nenhum tipo de comunicação]. Já dissemos o que deveríamos ter dito, de maneira que não temos mais nada a agregar."
O vizinho do sul não é o único país que não reconhece a legitimidade do peemedebista como chefe de Estado brasileiro. Já a Ministra das Relações Exteriores da Rússia, María Zajárova, afirmou que "é inaceitável a interferência externa na atual situação política do Brasil" e que Moscou espera um país "estável e democrático".
De acordo com o portal da TeleSur, o governo do Chile também manifestou sua preocupação com as circunstâncias em que Dilma foi afastada. "Nos preocupamos com a nossa nação irmã, que tem gerado incerteza em nível internacional", alegou institucionalmente em comunicado.
Ainda no Chile, o Partido Comunista local se posicionou contra "a violação do Estado Democrático de Direito", em referência ao impeachment. Outras legendas e órgãos, como o Die Linke, da Alemanha, e o PSUV, da Venezuela, bem como a Unasur (União das Nações Sul-Americanas), também criticaram duramente o processo.
LEIA MAIS NA FONTE ORIGINAL : http://www.brasil247.com/pt/247/mundo/232220/Uruguai-n%C3%A3o-reconhece-governo-Temer.htm

Golpe contra DILMA desmoraliza o Brasil diante do mundo

247 – A imagem do Brasil no mundo vive hoje seu ponto mais baixo em muitas décadas. O Brasil não é mais o país que eliminou drasticamente a pobreza e se consolidava como uma das democracias mais sólidas do mundo, elegendo um presidente operário e, em seguida, a primeira mulher para o comando da República.
Agora, o Brasil é, aos olhos do mundo, uma república bananeira, onde um Congresso corrupto, liderado por um presidente afastado, com milhões escondidos na Suíça, se uniu para afastar uma presidente honesta.
Esse é o tom dos editoriais dos principais jornais do mundo. A reação ao golpe parlamentar no Brasil foi praticamente consensual – e negativa.

Na Alemanha, a reação foi unânime. O Die Zeit agora classifica o Brasil como um país de "democracia fraca", o que representa uma ameaça para a realização dos Jogos Olímpicos de 2016.
Para o espanhol, a presidente Dilma Rousseff foi afastada "sem provas". O francês Le Monde destacou o caráter misógino da equipe do presidente interino Michel Temer, com seu ministério sem mulheres, composto apenas por homens velhos e ricos.
Segundo o britânico The Guardian, o sistema político corrupto do Brasil é que deveria ser julgado – e não a presidente honesta.
Para o New York Times, a pena imposta a Dilma foi desproporcional. Já o britânico Financial Times elogiou a equipe econômica, liderada por Henrique Meirelles.
Com isolamento no mundo, Temer conta com a boa vontade das empresas familiares de mídia no Brasil.

Ivan Martins: com Temer, Brasil retrocedeu 31 anos em um dia

Felizes com Temer, queridos?
As pessoas que foram às ruas depor Dilma ganharam um governo com cara de 1985, espírito de 1964 e ideário do século 19
Em um dia, retrocedemos 31 anos. De repente, estávamos novamente na posse de José Sarney, mas sem Ulisses Guimarães para freá-lo. Livre para ser o que é, Michel Temer cercou-se rapidamente do que há de pior na política brasileira. A turma do boi, a turma da Bíblia, a turma da bala. Na cena da posse, que parecia um quadro falsificado de Rembrandt, a modernidade ficou de fora. Em vez de jovens, negros, mulheres e grupos homossexuais, ouviu-se o apelo positivista por
 Ordem e Progresso.
O discurso de Temer deve ter enchido de ânimo os corações que depositaram na derrubada de Dilma a esperança de ter no Brasil um “bom governo”. O interino prometeu reconciliar, privatizar, seguir com a Lava Jato e melhorar os programas sociais. Falou em reformar a Previdência e garantir direitos. Soou razoável, equânime, equilibrado. Teve palavras deferentes até para a presidente Dilma, a quem traiu da forma mais abjeta. Um ancião engasgado cavalgando mesóclises.
Com ministros Michel Temer faz seu primeiro discurso como presidente interino - Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil
Com ministros Michel Temer faz seu primeiro discurso como presidente interino – Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil
Apenas que as suas palavras não têm relação com a realidade do governo. Se a Lava Jato seguir implacável, pode levar ao Supremo vários ministros de Temer – alguns muito próximos a ele e muito citados em Curitiba, como Romero Jucá e Geddel Vieira. A presença desses velhos praticantes no primeiro escalão do temerato sugere que a retidão não será prioridade de governo.
A promessa de cuidar de Saúde, Educação e Segurança como “competências naturais” do Estado (o resto talvez possa ser privatizado) nasce estragada pela figura dos novos ministros.
Alexandre de Moraes, da Justiça, dirigiu em São Paulo, com apoio de Geraldo Alckmin, uma polícia que mata jovens negros da periferia de forma sistemática e que reprime adolescentes com violência, mas não consegue deter o avanço do crime organizado, talvez o problema mais grave do Brasil. Em 2015, o jornal O Estado de S.Paulo revelou que Moraes atuou como advogado de uma cooperativa de transporte investigada como braço econômico do PCC. Sabe-se que em 2014 ele advogou por Eduardo Cunha num processo de falsificação de documentos. Um homem complicado.
O novo ministro da Educação e Cultura, Mendonça Filho, não tem formação ou experiência em nenhuma das duas áreas. Seu vínculo mais conhecido com a educação foi criado pela tentativa de seu partido, o DEM, de derrubar a política de cotas no Supremo Tribunal Federal. O novo ministro diz agora que é a favor das “cotas sociais”. Ainda parece inconformado com as cotas raciais, que nos últimos três anos levaram 150 mil jovens negros à universidade, pela primeira vez na história do Brasil.
Ricardo Barros, que ficou com a Saúde, é um engenheiro que se notabilizou na política por duas façanhas. Quando secretário de governo no Paraná, foi pego num telefonema esquisito em que parecia orientar um subordinado a ajeitar uma licitação. Afastou-se da função. Como deputado federal, propôs um corte de R$ 10 bilhões no Bolsa Família, para ajustar o orçamento da União. Enorme sensibilidade social. Sua primeira entrevista no cargo foi para dizer que vai rever o Mais Médicos, programa criado por Dilma que pôs 18 mil profissionais de saúde nos vilarejos do Brasil profundo e na periferia das grandes cidades. Para que, né?
Parece óbvio que Temer vai governar com e para os deputados reacionários que o “elegeram” na votação do impeachment. Isso significa o governo mais conservador, mais à direita e mais antipopular instalado no Brasil desde 1964. Mas não só.
Significa, também, que o Estado brasileiro estará sujeito a uma guerra de interesses paroquiais constante e implacável, incompatível com a condução do governo. Quem achava que Dilma havia leiloado sua administração ainda não viu a quimera que Temer tem a oferecer como governabilidade.
Sem votos, sem legitimidade, inteiramente refém da mídia, do mercado e do baixo clero parlamentar, o interino governará como suplicante, entregando e recebendo favores todos os dias do seu indesejado interregno.
Se desse arranjo insustentável resultar uma administração estável, o Brasil terá se convertido em caso único – um país que no século 21 concordou pacificamente em ser arrastado de volta ao século 19, quando as massas não tinham voto, voz ou direitos, e viviam vidas miseráveis em prol dos 20% no topo da pirâmide. Felizes, queridos?
LEIA MAIS NA FONTE _ http://www.brasil247.com/pt/247/cultura/232236/Ivan-Martins-com-Temer-Brasil-retrocedeu-31-anos-em-um-dia.htm

Momento politico : Tudo a Temer no Brasil


O vice-presidente Michel Temer (PMDB). AFP

Tudo a Temer no Brasil

O Brasil mantém seu histórico de rupturas democráticas a todo custo. Dias temerários virão

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O Brasil desconhece o Brasil, uma certa Buenos Aires tampouco sabe o que se passa na periferia da capital argentina, aqui tiro uma buena onda com o amigo Washington Cucurto, meu escritor portenho contemporâneo predileto, mais para a cumbia do que para o tango, mais para a linguagem da rua e de los perros callejeros, digo, os vira-latas, do que para os cães de madame.
O cara, em termos de linguagem, está mais para as doideiras do Maradona e do Carlito Tévez do que para as estatísticas vitoriosas do Messi. Um portenho de uma Buenos Aires periférica, longe da velha ideia europeia que compramos como fetiche borgiano e metalinguístico de los hermanos.
Encontrei com o Cucurto, ainda nesse longo dia que narraremos adiante, vestido em uma camiseta vintage do Sport Club do Recife, no café da manhã —no seu país ele é torcedor do Independiente— e logo o comuniquei que o seu novo time em Pernambuco perdera na noite anterior para o Santa Cruz. Uma moça bonita, conhecedora da sua obra, me confessou: “Culpa minha, sou rubro-negra mais que tudo nessa vida”.
Cucurto, autor do genial Cosa de negros , entre outros livros, esteve aqui com a gente para participar do Clisertão, um congresso literário que acontece anualmente em Petrolina. Fez uma mesa de bate-papo genial com o escritor Marcelino Freire, mediada pela professora de literatura Paula Santana, sobre o lugar da fala, o batismo das coisas e travessias culturais.

É golpe ou não é?

No que agora indagamos, todo mundo junto, com o auxílio genial de outro nordestino que se achega, falo do paraibano Bráulio Tavares (Campina Grande), um cara que consegue nos contar de tudo nesta noite. Das suas traduções do romance noir de Raymond Chandler —meu autor predileto— aos enredos dos cordéis clássicos e às parcerias com Lenine, nosso amigo comum de comunismos d'antanho.
Pelos meus 30 e tantos anos de jornalismo e de traumas históricos, chamo declaradamente de golpe
Agorinha mesmo na beira do São Francisco, o grande rio da unidade nacional brasileira, tomando uma cerva depois de atravessar de Petrolina a Juazeiro, a grande dúvida é uma só: como nomear o que está acontecendo no país. Pelos meus 30 e tantos anos de jornalismo e de traumas históricos, chamo declaradamente de golpe. Que me desculpem, quem sabe não passo de um paranoico benjaminiano.
Não consigo encontrar os atenuantes semânticos, tampouco eufemismos que justifiquem alguma ideia de processo democrático. A maioria dos amigos me acompanham neste batismo de fogo; outros, educadamente, mesmo trabalhando em fábricas de salsicha, dizem que não é bem assim etc.
Creio, e nisso não vejo nenhuma lenda do Curupira, que a ordem democrática foi quebrada pelo tripé tendencioso constituído, sem se ligar na Constituição, por:
1) Avexamentos de juízes de primeiras instâncias e pela demora exagerada dos ministros das instâncias derradeiras, vulgo STF...
Jamais esquecerei o dia em que um repórter entrou de Curitiba, meio sem saber o que tinha de fato nas mãos, para ler o relatório de um grampo fornecido pelo juiz Moro sobre uma conversa de Lula/Dilma. O grampo ao vivo. O grampo sessão da tarde. O primeiro grampo ao vivo da história da TV brasileira. No justo momento em que havia um certo esmorecimento da direitona... Falo do ritmo do noticiário bipolar que temos vivido.
2) Repare no relato de uma mídia que deixou tudo límpido nos seus editoriais clamorosos e repletos de mesóclises... E, óbvio ululante, pelo Cunha delinquente-mor da Câmara, o grifo é do procurador-geral da República, que comandou todo circo de horrores.
As mesóclises, como todo beletrismo —marca das cartas e poemas do próprio Temer— denunciam, amigo Lacan, a repetição da linguagem golpista. Dar-te-ei... Os editoriais e o vice que versa falavam a mesma língua e tramavam a mesma redundante trama. Só a linguagem denuncia e escancara os sentidos. Lacan vale por mil Janôs ou esperas dos Godôs do STF que deixaram o impeachment chegar antes de qualquer crime de responsabilidade da presidenta. Isso é um escândalo? Nada. É apenas o óbvio ignorado.
3) A mídia dos grandes veículos brasileiros chegou tão longe na sua narrativa de tirar Dilma, mulher, do seu posto, que não pode mais voltar atrás. Todo mundo avançou muitas casas, negociatas foram feitas, os patinhos quem-quéns da Fiesp, nada bossa nova, se instalaram de vez na paisagem, o golpe foi dado como consumado. O Brasil mantém seu histórico de rupturas democráticas a todo custo. Dias temerários virão.
Xico Sá, escritor e jornalista, é autor de “Os Machões dançaram –crônicas de amor & sexo em tempos de homens vacilões” (editora Record), entre outros livros. Na tv, é comentarista do “Papo de Segunda” (canal GNT).