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quinta-feira, 9 de agosto de 2012


E que se faça a justiça porque a perseguição é impiedosa!

Abaixo transcrito do blog de Luiz Nassif


Mensalão: sério risco de anulação

Por implacavel
 O relator aprecia interceptações telefônicas e quebras de sigilo. Assim, Barbosa foi investigador e é juiz do caso. A jurisprudência internacional não permite isso
O julgamento do mensalão começou com duas pedras (jurídicas) no seu caminho: impedimento ou suspeição do ministro Dias Toffoli e separação do julgamento.

No plano estritamente jurídico e longe de qualquer "partidarização" do assunto, restam, ainda, dois outros grandes questionamentos técnicos: o ministro relator -no caso, Joaquim Barbosa-, depois de presidir a fase de investigação, por força do regimento interno do STF, pode ser ao mesmo tempo investigador dos fatos e juiz do processo?

O recebimento da denúncia, por ele, foi uma mera decisão formal ou um veredito "de fundo" (de mérito)? Que diz a jurisprudência da Corte Interamericana sobre tudo isso?
Quanto à suspeição de Dias Toffoli, o principal interessado nessa alegação seria o Procurador-Geral da República, que nada requereu. Logo, o tema ficou reservado à esfera íntima (ética) do próprio ministro.

No que diz respeito à separação do julgamento, pela primeira vez de forma exaustiva o STF enfrentou a questão do julgamento conjunto de pessoas que gozam do antirrepublicano privilégio burguês do foro especial com outros sem esse direito.

O pano de fundo da separação ou não do processo diz respeito, como levantou o ex-ministro Thomaz Bastos, ao direito de todos os réus (pelo menos dos que não têm foro especial) ao duplo grau de jurisdição, que é o direito a um duplo julgamento fático e jurídico, por juízes distintos, em caso de condenação criminal. Trata-se de direito expressamente previsto na Convenção Americana de Direitos Humanos.

Por nove votos a dois, a tese foi corretamente refutada. Quem bem enfocou a questão foi o ministro Celso de Mello, que se valeu da jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que excepciona o direito ao duplo grau no caso de competência originária da corte máxima do país. Em eventual reclamação para a citada corte, portanto, a chance de sucesso da defesa, neste ponto, é praticamente nula.

A mesma coisa não se pode dizer em relação à garantia do julgamento por juiz imparcial.
Atraso cultural, autoritarismo tradicional, democracia incipiente e desrespeito ao direito e à jurisprudência internacionais explicariam a regra do regimento interno do STF (art. 230) que determina ser relator do processo o mesmo ministro que investiga o crime na fase preliminar.

Todos os atos investigatórios ou cautelares, posteriores ao recebimento do inquérito -como requerimento de prisão, busca e apreensão, quebra de sigilo telefônico, bancário, fiscal e telemático, interceptação telefônica, além de outras medidas invasivas- são processados e apreciados, em autos apartados, pelo relator. Sob sigilo, sublinhe-se.

É evidente que esse vínculo psicológico do relator com as diligências investigativas o aproxima da posição do inquisidor, afetando profundamente o que existe de mais sagrado na figura do juiz, a imparcialidade.

Barbosa conduziu toda essa fase preliminar e foi se envolvendo paulatina e psicologicamente com ela, o que seguramente explica o seu enfático e midiático voto pelo recebimento da denúncia. Nessa altura dos acontecimentos, certamente não vai se afastar do processo, mesmo porque, se for coerente com tudo que ele já escreveu e falou publicamente, será o mais implacável algoz de todos ou de muitos dos réus.

O grave problema técnico e jurídico do autoritário regimento é que quem investiga o crime não pode ao mesmo tempo ser juiz do processo.

Quem diz isso? A jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, especialmente no caso Las Palmeras contra Colômbia.

Viola a garantia do juiz imparcial o magistrado que cumpre o duplo papel de "parte" (investigador) e de juiz. Com base nesse argumento, a chance de uma eventual anulação de toda condenação é muito grande.

A despótica determinação regimental, secundada pela jurisprudência do próprio STF, está ultrapassada e contraria frontalmente o direito internacional, ainda muito negligenciado pela vivência jurídica nacional.

De outro lado, há defensor afirmando que Barbosa, no momento em que recebeu a denúncia (contra todos os 38 réus), precisamente em razão da sua vinculação psicológica com a fase inquisitorial, não proferira uma decisão puramente formal, como deveria. Acabou praticamente julgando o mérito do caso. E quem assim procede não pode, depois, ser juiz do processo (caso Herrera Ulloa contra Costa Rica, Corte Interamericana de Direitos Humanos).

A novela do mensalão, como se vê, ainda vai se desenrolar por muitos anos mais, porque ela tende a chegar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.


LUIZ FLÁVIO GOMES, 54, doutor em direito penal, fundou a rede de ensino LFG. Foi promotor de justiça (de 1980 a 1983), juiz (1983 a 1998) e advogado (1999 a 2001)
FOLHA DE S.PAULO
08/08/2012 

segunda-feira, 6 de agosto de 2012


Ação Penal 470 é a última esperança de FHC

Ação Penal 470 é a última esperança de FHCFoto: Juca Varella/Folhapress

DIZENDO-SE OBCECADO COM O MENSALÃO, EX-PRESIDENTE FALA EM DESPERTAR DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS, ELOGIA COLUNISTAS CONSERVADORES, APONTA UMA ECONOMIA NAS CORDAS E DIZ QUE O PT ESTÁ PRESTES A BEIJAR A CRUZ DAS PRIVATIZAÇÕES; SERÁ O JULGAMENTO A OPORTUNIDADE PARA REVIGORAR UMA OPOSIÇÃO COMBALIDA E ENFRENTAR DILMA EM 2014?

05 de Agosto de 2012 às 12:40
247 – A última pesquisa CNT Sensus foi cristalina. Se as eleições de 2014 fossem hoje e Lula o candidato, ele teria 69% do votos. Trocando Lula por Dilma Rousseff, ela teria 59%. Aécio Neves, a alternativa apresentada pelo PSDB, ficaria pouco acima de 10% em ambos os cenários. Ou seja: apesar de todo o desgaste causado pelo “maior e mais atrevido escândalo de corrupção da história”, segundo o procurador-geral Roberto Gurgel, o PT caminha para um ciclo de, pelo menos, 16 anos de poder. Esta é a realidade, goste FHC dela ou não.
No entanto, o ex-presidente é ainda a voz mais articulada do PSDB e das oposições como um todo. E é também o regente do discurso que se espalha nos meios de comunicação de corte mais conservador – aquilo que os petistas mais radicais chamam de PIG, o Partido da Imprensa Golpista.
Num artigo publicado neste domingo em vários jornais, o ex-presidente dá a linha do discurso e elogia também colunistas “perspicazes”, como Merval Pereira, do Globo. Aponta uma economia nas cordas, diz que o governo Dilma está prestes a beijar a cruz das privatizações para retomar investimentos em infraestrutura (sem lembrar, é claro, do seu apagão na área energética) e afirma de forma acaciana que, na Ação Penal 470, “houve crime” – o que não é negado nem pelos réus. A questão é: quais crimes? Caixa dois eleitoral ou compra regulamentar e sistemática de votos no Congresso, com desvios de recursos públicos?
No fim, FHC deixa escapar que o julgamento representa, talvez, a última esperança de uma oposição já combalida no Brasil, depois de três derrotas consecutivas. “Basta que seja sereno e justo para injetar mais ânimo em nossa política”, diz ele.
Seja qual for o resultado do julgamento, não será ele o fator determinante nas eleições de 2014. A avaliação do eleitor levará em conta um único fator: qual projeto será capaz de oferecer maior bem-estar no presente e maior esperança no futuro. Isso, sim, é inescapável. Leia, abaixo, o artigo de FHC:
O inescapável
Fernando Henrique Cardoso
Ao voltar de férias, percorri os jornais: só dá mensalão e Olimpíadas. Não é para menos, mas é pouco. Consolou-me o haver lido uma matéria de David Brooks sobre a campanha eleitoral em seu país. Basta ler o título, “A campanha mais tediosa”, para que o leitor se dê conta do baixo astral que envolveu o comentarista ao seguir os embates entre Obama e Romney. Isso a despeito de os americanos ainda estarem sufocados pela crise e de haver muito que debater sobre como sair dela e sobre o papel dos Estados Unidos em um mundo cheio de incertezas. Mas o cotidiano não se alimenta de decisões históricas...
Como seria bom que pudéssemos apenas nos deliciar com a sensibilidade e a inteligência da crônica de Roberto Da Matta sobre os elos humanos que aparecem na novela Avenida Brasil, não tão diferentes dos que relacionam o antropólogo com seus objetos de estudo. Ela nos dá um banho de vida. Infelizmente, nesta semana não dá para falar apenas das estrelas. A dura realidade é que nela começou um julgamento histórico sobre o qual não faltaram palavras sensatas. Uns, como José Nêumanne, mostraram as falácias e enganos acerca do mensalão de maneira crua e direta. Outros, como Dora Kramer, desvendaram a falsa dicotomia entre julgamento técnico e julgamento político. Outros ainda, como Elio Gaspari, sem negar que torcer faz parte da alma humana, insistem em que o importante é que os magistrados julguem de maneira compreensível para o povo. Que não nos confundam com o jargão da toga. E há os que abrem o jogo, mostram suas apostas, como o Zuenir Ventura, para logo dizer que tudo é mero palpite, pois não se pode saber o que passa na cabeça dos julgadores.
Por mais que se deseje ser objetivo, tenho tentado, e por mais prudente que se deva ser na antevéspera do julgamento (no momento em que escrevo este artigo) é inegável a sensação de que talvez estejamos no começo de uma nova fase de consolidação das instituições democráticas. Existe também o temor de que ela se perca. É isso que produz ansiedade e faz com que os comentaristas mais perspicazes (incluo neles Merval Pereira) ao falar sobre o tema acabem por deixar transparecer o que gostariam que acontecesse. De minha parte torço para que não haja impunidade. Calo sobre quem deva ser punido e em que grau, mas não se deve obscurecer o essencial: houve crime.
Embora, portanto, esteja engrossando o número dos obcecados com o mensalão, não posso esconder certa perplexidade diante da despreocupação com que recebemos as notícias sobre a crise internacional como se, de fato, a teoria da marolinha tivesse substituído o bom senso na economia. Não dá para ignorar que com toda a inundação de dólares a baixo custo, feita pelo Fed americano, a economia do país não reage. Na Europa, por mais que seu Banco Central se diga disposto a cobrir qualquer parada dos especuladores, os mecanismos para tornar efetiva a gabolice estão longe da vista. Resultado: mal estar social e desemprego crescente. A própria China, bastião da grandeza capitalista mundial, parece mergulhar em taxas decrescentes de crescimento, as quais, se bem nos deem água na boca (entre 6% e 7 %), são insuficientes para atender aos reclamos dos chineses e, mais ainda, para sustentar a maré dos preços elevados das matérias-primas, principalmente minerais.
Tudo indica, portanto, que os efeitos da crise mundial, somados à inércia nas transformações de fundo da economia que marcou o governo Lula, acabaram por levar nossa economia senão às cordas, ao canto do ringue. O governo atual, não querendo beijar a cruz, embora já ajoelhado diante da realidade, despejou uma série de paliativos de todos conhecida: redução setorial de impostos, créditos de mãos beijadas a alguns setores beneficiados, expansão dos gastos públicos correntes e até desvalorizações da moeda e redução das taxas de juros.
Em situações “normais” de crise, o receituário funcionaria. Um pouco de sustentação da demanda, jogando-se nos ombros de Keynes a responsabilidade pela ligeireza de certas medidas, animaria o consumo e daria aos empresários o apetite para investir. Diante, entretanto, da duração e da profundidade da crise atual, é pouco. Serão necessárias medidas verdadeiramente keynesianas que dizem respeito à sustentabilidade dos investimentos, públicos e privados, e ao incremento da produtividade. Desafio duro de roer e que não se pode levar adiante só com os recursos públicos nas mãos de uma burocracia politizada.
É este o desafio que o governo Dilma Rousseff tem pela frente. Quem sabe, premido pelas circunstâncias, ele finalmente reconheça, na prática, o que o lulo-petismo sempre negou: que as reformas que meu governo iniciou precisam ser apoiadas e retomadas com maior vigor. Nem as estradas, nem os aeroportos e muito menos as fontes de energia darão o salto necessário sem alguma forma de privatização ou de concessão. Elas terão de vir se quisermos de fato crescer mais aceleradamente. Só com estabilidade jurídica, aceleração dos investimentos em infraestrutura e educação e melhor balanceamento energético será possível despertar, não apenas como está na moda dizer-se, o “espírito animal” dos empresários, mas a crença de todos nós no futuro do Brasil.
Ao contribuir para a consolidação da Justiça como um valor, parte essencial da modernização do Brasil, o julgamento do mensalão poderá ser um marco histórico. Basta que seja sereno e justo para injetar mais ânimo em nossa política e para que esta volte a olhar o país com a clareza de que somos um país capaz de andar com as próprias pernas graças a nossa seriedade e aos conhecimentos que desenvolvemos. Só assim deixaremos de flutuar ao sabor das ondas favoráveis às economias primário-exportadoras para poder dar rumo próprio a nosso futuro.
By : http://www.brasil247.com/pt/247/poder/73520/A%C3%A7%C3%A3o-Penal-470-%C3%A9-a-%C3%BAltima-esperan%C3%A7a-de-FHC.htm

Mensalão, Legalidade, Ética - e a horda que gritava "crucifica-o"


A defesa diz que o mensalão simplesmente não existiu: teria sido um mega-boato com a intenção de derrubar ou pelo menos dificultar ao máximo a atuação do governo petista democraticamente eleito - e quem nasceu há mais de 50 anos e já viu esse filme inúmeras vezes, no Brasil e fora, sabe que é perfeitamente plausível: quem esteve por cima da carne seca nunca a largou sem briga.

Mas... e se tiver havido mesmo o tal mensalão? Será o caso de estar gritando "cadeia nesses ladrões", como tenho visto fazerem algumas pessoas que, por seu envolvimento em outras causas, sei que são bem intencionadas? 

Acho uma grande bobagem o ditado "mente vazia oficina do diabo", mas boas intenções sem boa informação e reflexão consistente, essas com certeza o são. Foi justamente a LIUCAN - Legião dos Inocentes Úteis a CAusas Nocivas - quem amplificou as ondas emitidas por uns poucos malévolos conscientes e possibilitou a ascensão de Hitler, Franco, Médici, Pinochet, Bush, bem como os assassinatos de um Allende, um Gandhi e outros (não muitos) que tenham chegado ao poder ou liderança apesar de serem do bem. O que vale inclusive, segundo os relatos existentes, para a crucificaçãomais famosa da história.

O que, afinal, teria sido o mensalão? Um esquema de apropriação de dinheiro público por parte de gente do governo e de seus aliados? 

Nada disso- segundo a própria acusação. Teria sido um esquema em que gente do governo teria pago - quer dizer: teria soltado dinheiro, não pego, e dinheiro de origem privada, não pública. 

Detalhe: o dinheiro usado seria oriundo de 
atividades publicitárias. Esse tipo de atividade, embora não seja propriamente produtiva, tem altissimo valor de mercado justamente por sua capacidade mágica de fazer qualquer supérfluo ser comprado e gerar fortunas. Ou seja: publicidade é sempre uma máquina de criar valor onde não existia, 
e essa criação de valor é "natural" e perfeitamente legal no sistema capitalista. Mais: obviamente a publicidade não cria valor só para os outros, mas surfa junto na onda do valor que criou. 

De modo que não é preciso perguntar de onde o dinheiro teria sido tirado: se há publicidade envolvida, não seria preciso tirá-lo ilegitimamente de nenhum lugar. A lógica do sistema possibilita concentrá-lo do que está difuso por aí como quem condensa água do ar, sem nenhuma contravenção.
 
Segundo, essa gente do governo teria pago a quem? Não a efetivos aliados - pois verdadeiros aliados jamais cobrariam - e sim a efetivos inimigos (mesmo que não declarados) para que estes suspendessem sua oposição-por-princípio, e possibilitassem ao governo a aprovação de determinados projetos.

E aí (terceiro passo) chegamos ao que mais importa: projetos de quê natureza? Ou: essa gente do governo teria pago para quê? Seriam projetos para se auto-beneficiarem, ou beneficiarem aliados, ou contrários de uma ou de outra maneira ao interesse público?

Aqui o que os acusadores costumam dizer é que o PT pagou para que outros não atrapalhassem o seu "projeto de poder" - e aí os inocentes e culpados úteis exclamam em coro "oh, que horror!" - como se todo partido não fosse, por natureza, legal e legitimamente, um projeto de poder!

Com o que permanecemos dentro do terceiro ponto: o PT queria o poder para quê? Pelo poder em si? Para beneficiar seus próprios membros e aliados?

Ora, os oito anos do governo Lula mostraram claro que não (e opto aqui por não entrar no governo Dilma para não introduzir novas variáveis que não pertencem ao caso): o  que o PT conseguiu reunir de poder foi aplicado basicamente em duas frentes:
  1. construir um espaço de autonomia para o Brasil na cena internacional (sem o qual tampouco haveria autonomia nas decisões internas), e 
  2. iniciar um processo de distribuição mais equitativa, entre a população, do produto social nacional - a começar pela comida no prato.

Tenebrosos objetivos, não?  

Sim, de fato tenebrosos: para as elites que dominaram este território por 502 anos produzindo desigualdade intencionalmente, para através dessa desigualdade concentrarem poder para - elas sim - usarem apenas em benefício próprio.

Ou seja: o PT teria pago, com dinheiro privado, para que o deixassem empregar o mandato recebido da população para seus fins legais e mais do que legítimos: para o bem coletivo dessa mesma população.

Mas, esperem aí: o PT já não havia recebido esse mandato legalmente? Por que ainda precisaria pagar para poder exercê-lo?

Por que - sim, meu caros: a lei foi feita pela mesma classe de senhores que criaram intencionalmente a desigualdade por 502 anos, e cheia de salvaguardas para que o efetivo poder não lhes escapasse das mãos. 

E esses senhores sabiam que os projetos do PT empurrariam o país 
ainda que uns poucos passos no rumo da diminuição do seu poder senhorial.

Mas alguns deles teriam se mostrado dispostos a permitir alguns desses passos - provavelmente na fé de que não iriam muito longe mesmo - em troca de algumas pequenas compensações pessoais.

A esta altura não começa a ficar claro quem são os bandidos, quem foi ou pode ter sido vítima nessa história?

Se vocês pensam que vou dizer "o PT" ainda não estão apanhando todo o alcance da coisa: a vítima nesses casos é sempre o povo brasileiro - e o PT junto com ele, na medida em que estava tentando representar de fato os interesses desse povo, e não apenas nominalmente.


MAS COMPRAR VOTO É CRIME SEJA COMO FOR, NÃO?

Não vou negar: se tiver havido o mensalão, membros do PT terão de fato feito coisas previstas na lei como crimes:formalmente tratar-se-ia de corrupção ativa - ainda que estivessem pagando para que pessoas que atuam normalmente contra o interesse público atuassem uma vez em favor deste - isto é: pagando para alguém se tornar menos mau,precisamente o oposto do sentido da palavra "corromper"!

Uma coisa curiosa neste ponto é: há grandes resistências no próprio congresso quanto ao reconhecimento de culpa nos atos de corrupção ativa - por exemplo, inculpar o empresário que pagou para liberar algo de seu interesse, e não apenas o político ou funcionário que cobrou a propina. Mas no caso do mensalão - apenas neste! - praticamente toda a culpa e recriminação são dirigidas justamente à frente ativa da suposta corrupção; mal se mencionam os nomes da frente passiva, ou seja: dos que teriam pedido e/ou aceitado dinheiro para abrir caminhos, que em outros casos costumam ser os únicos apontados como criminosos.

Outra coisa curiosa é falar-se como se o PT tivesse inaugurado esse tipo de procedimento, quando todos sabem que no Brasil ele é tão antigo quanto a chegada do dinheiro ao território, além de estar presente em qualquer lugar do mundo onde exista esse sistema de poder oligárquico falsamente chamado de "democracia representativa". 

Por que, então, um esquema mais antigo que o Brasil começaria a ser denunciado justamente quando o PT assumiu o poder? Mais: por que a classe média e elites brasileiras, corruptas e corruptoras desde sempre, passaram a fazer campanhas "contra a corrupção no governo" justamente durante os governos que mais combateram a corrupção em toda a história do país? (Basta conferir os números da Polícia Federal para ver o quanto!)

Justamente porque, como já sugeri acima, o PT começou a usar o sistema pseudo-representativo como se fosse pra ser de verdade: em favor dos interesses coletivos da população. 

Então precisa ser apeado do poder seja como for! E até mesmo os que teriam vendido seu voto ao PT devem ser punidos: afinal, teriam traído os interesses de sua própria classe (a
classe dominante) em troca de vantagenzinhas meramente pessoais, e ainda bastante modestas! - mas punidos fora dos holofotes, como também já apontei, pois afinal "no fundo eles ainda são dos nossos"...

Mas admito: nada disso nega o fato de que, se mensalão houve, os atos praticados por membros do PT terão sido ilegais.

Mas terão sido ilegítimos? Ou teriam sido ilegais no sentido em que era ilegal um escravo fugir do seu senhor, ou uma mulher ao domínio do seu marido tirânico?


DA ILEGALIDADE DE TODA REVOLUÇÃO

Embora eu não seja um trotskista - pois não sou -ista nenhum! - neste ponto quero invocar um conceito de Trotsky que me tem feito pensar bastante: ele teria dito que ética é uma questão bastante simples, do ponto de vista revolucionário: ético é tudo aquilo que serve à revolução, antiético tudo aquilo que vai contra ela.

Conheci essa ideia de Trotsky através da crítica que o ex-marxista (e em parte meta-marxista) Edgar Morin faz a ela: observa que Trotsky acabou sendo assassinado por alguém que acreditava piamente estar servindo à revolução com esse ato.

Não é uma crítica desnecessária: mostra que não podemos jamais atrelar todo nosso arsenal de critérios a uma única palavra, pois de uma palavra é muito fácil manipular o sentido conforme nos convém. Precisamos ser capazes de chegar à mesma avaliação partindo de pelo menos dois ou três princípios diferentes, que validem um ao outro.

Feita essa ressalva, podemos passar a considerar que tampouco o conceito de Trotsky é sem fundamento - desde que se olhe com cuidado o sentido da palavra "revolução".

No sentido cru, revolução é simplesmente "revolver, revirar", pôr em cima o que estava embaixo, e vice-versa. Marx a usa no sentido de a classe majoritária da sociedade - a que realiza os trabalhos mais físicos e concretos - vir a assumir o poder, 

... o que seria uma absoluta novidade histórica, pois o poder sempre foi disputado entre classes que estavam mais acima - como a burguesia e a aristocracia feudal -, sem alterar a situação de submissão da classe trabalhadora (embora esta vez por outra seja chamada a ajudar nas lutas dos poderosos, seduzida com lemas como "liberdade, igualidade e fraternidade", apenas para ser chutada escada abaixo assim que não seja mais necessário tê-la ao lado, como aconteceu na revolução burguesa francesa).

Mas Marx não era nenhum imbecil de imaginar que uma classe majoritária pudesse viver sentada em tronos dando ordens a uma pequena minoria de ex-burgueses e ex-nobres que passariam a fazer todo o trabalho pesado! Marx vê essa etapa (a tomada de poder pelo proletariado) apenas como estratégia para a destruição da estrutura de classes, e instauração final de uma sociedade sem classes que, em o sendo, poderia prescindir da instituição do Estado e do próprio dinheiro (o que é perfeitamente lógico, mas obviamente não cabe tentar demonstrar em um ou dois parágrafos!).

Ora, é só tendo em vista seu sentido final (a sociedade sem classes) que a palavra "revolução" ganha seu sentido pleno: trata-se da realização das mesmas velhas e boas igualdade, liberdade e fraternidade - só que realização universal, envolvendo a humanidade inteira, e não apenas as camadas dos "gentis-homens", "filhos de algo", "gente de bem(ns)" e que tais. 

E o que realmente importa é chegar a esse resultado, e não que ele aconteça por este ou por aquele meio. Se Marx, no ponto em que estava, só conseguia enxergar como meio para isso uma "ditadura do proletariado", não quer dizer que por toda a eternidade só possa existir esse meio. Não me proponho aqui a discutir que outros poderia haver, apenas insistir em que a tal ditadura do proletariado foi proposta como meio, e não fim. O fim é a sociedade sem nenhum tipo de exploração ou opressão.

Voltemos agora ao PT, no momento em que assumiu o poder federal. Seu objetivo era dar tantos passos quanto fossem possíveis, na conjuntura atual, na direção da universalização dos direitos. Diante de si tinha um muro multissecular de improbidade e interesses escusos. Brechas se ofereceram que, embora ilegais, permitiriam "colocar um pé na porta", calçar posições a partir das quais depois seria possível prosseguir de modo, digamos, menos informal.

A outra opção seria desperdiçar o mandato que lhe havia sido concedido formalmente, sem realizar conquista nenhuma em favor da população. Ou alguém aqui acha que tinha alguma chance, em vez disso, convocar a população a defenestrar com as próprias mãos os corruptos do congresso? Por muito menos que isso João Goulart foi apeado em 1964, por militares brasileiros comprados pelo capital internacional.

Em resumo: acredito que não houve mensalão, mas se tiver havido eu o entendo como perfeitamente legítimo e ético como ato revolucionário. Pelo menos no momento em que teria acontecido, um ato muito mais eficiente no sentido da distribuição urgente de direitos (a começar por comida!) do que qualquer tentativa irresponsável de apelar para uma força física de que não se dispunha (e olhem que coloco este verbo no passado apenas como um gesto de esperança...)
 
Ilegal? Sem dúvida, em relação aos limites de uma legalidade desenhada para coibir a realização da justiça. E o reconhecimento desses limites da legalidade não são invenção marxista: 1400 anos antes de Trotsky, já Santo Agostinho dizia que "uma lei injusta não é em absoluto uma lei".

O que conta no PT é que seu governo realizou o mais veloz e massivo processo de "desmiserificação" da história. Se foi sem mensalão, melhor. Se foi com mensalão, me importam muito mais os milhões de brasileiros que deixaram de passar fome do que o respeito à legalidade burguesa. Não diminuirei em um milímetro minha admiração pelo governo Lula e todos os que o viabilizaram.

Quanto aos que clamam pela condenação... pode parecer bem esquisito, mas o que isso me recordou foi uma passagem da "Paixão segundo São Mateus", obra em que o relato bíblico foi musicado e comentado poeticamente por Bach, o compositor barroco alemão. Nessa passagem a multidão, atiçada pelos notáveis da sociedade da época, está pedindo a Pilatos que crucifique Jesus. Pilatos pergunta, segundo o texto bíblico: "mas o que foi que ele fez de mau?". Antes que a Legião dos Inocentes Úteis responda, Bach convoca um soprano angelical a cantar: "A todos nós ele fez o bem: aos cegos deu visão, aos paralíticos fez andar, aos aflitos ele reergueu - fora isso meu Jesus nada fez” - após o quê a multidão açodada volta a rugir: "manda crucificar! manda crucificar!". Vale lembrar que os tais notáveis haviam encontrado bases legais para isso.

Estou certo de que quando a história da nossa época for relatada com suficiente distância, os que agora clamam pela condenação do partido e do governo que realizaram "o mais veloz e massivo processo de desmiserificação da história" aparecerão sob a mesma luz que aqueles que gritaram "manda crucificar". 

Da minha parte, não sei o quanto a minha voz pode, nem se deixarei um só traço visível na história - mas pelo menos morrerei com a satisfação de não ter sido à horda míope dos inocentes-úteis-a-causas-nocivas que eu juntei minha pequena força.
http://pluralf.blogspot.com.br/2012/08/e-se-tiver-havido-mensalao-que-crime_5.html?showComment=1344186038422#c1053048866494447042

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Lula & Dilma e a cena eleitoral


Transcrito:   http://www.brasil247.com

Lula, 69%, Dilma, 59%: é a cena eleitoral de 2014

Lula, 69%, Dilma, 59%: é a cena eleitoral de 2014Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

EX-PRESIDENTE VENCERIA DISPARADO O SENADOR AÉCIO NEVES (11,9%) E O GOVERNADOR DE PERNAMBUCO, EDUARDO CAMPOS (3,2%); JÁ COM A PRESIDENTE NA DISPUTA, AS ELEIÇÕES SERIAM VENCIDAS POR DILMA, COM 14,8% DOS VOTOS PARA O TUCANO E 6,5% PARA O SOCIALISTA; SEGUNDO PESQUISA DA CNT, 56,6% DOS ENTREVISTADOS AVALIAM POSITIVAMENTE O ATUAL GOVERNO

03 de Agosto de 2012 às 14:04
CNT – A Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgou nesta sexta-feira 3 o resultado da rodada nº 112 da Pesquisa CNT de Opinião. Entre os principais itens avaliados, a pesquisa simulou dois cenários para as eleições presidenciais de 2014. No primeiro, Lula aparece com 69,8% das intenções de voto, o senador Aécio Neves com 11,9% e governador pernambucano, Eduardo Campos, com 3,2%. No segundo quadro, com Dilma no lugar de Lula, a atual presidente lidera com 59%, Aécio Neves com 14,8% e Eduardo Campos com 6,5%.
Entre 18 e 22 de julho, duas mil pessoas foram entrevistadas, nas cinco regiões do país, e também responderam a questionamentos sobre temas como saúde, emprego e educação; avaliação do governo Dilma Rousseff; e itens como poder de compra, expectativas sobre os rumos da economia e reformas prioritárias a serem feitas pelo governo.
De acordo com a pesquisa, 56,6% dos entrevistados avaliam positivamente o governo Dilma Rousseff. Em agosto de 2011, data do último levantamento da CNT, o número era 49,2%. A avaliação negativa caiu de 9,3% para 7%. O desempenho pessoal da presidente foi aprovado por 75,7% dos consultados, enquanto 17,3% desaprovam.
Sobre a comparação do atual governo com o do ex-presidente Lula, aumentou o percentual dos que acreditam que a gestão de Dilma Rousseff está melhor - 11,5% para 15,9% - e diminuiu de 45,4% para 34,6% os que consideram o governo pior. Para 48,2% dos entrevistados, as duas gestões estão no mesmo patamar.
Em relação à crise econômica mundial, 38,4% dos entrevistados revelaram preocupação e deixaram de comprar, enquanto 60,8% não diminuíram o ritmo de consumo. Os principais desejos de consumo dos brasileiros são a casa própria (57%), carro novo (17,9%), móveis e eletrodomésticos (8,2%), viagem internacional (7,4%) e televisão moderna (1,9%).

Lula é nome favorito para 2014, aponta pesquisa CNT


Transcrito:

Mas nao tenho essa certeza, creio que o quadro sofrerá mudanças em favor da presidente dilma haja vista sua aprovação em 75,7%, 

CNT

Lula é o favorito em 2014?

Ex-presidente receberia 69,8% das intenções de voto, contra 11,9% do senador tucano Aécio Neves; Dilma foi citada por 59% dos eleitores em cenário sem Lula
O Estado de S.Paulo e Reuters escreveram:
Se as eleições de 2014 fossem hoje, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria o candidato favorito do eleitorado, de acordo com pesquisa divulgada nesta sexta-feira, 3, pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). O petista aparece com 69,8% das intenções de voto. Neste cenário, ficaria em segundo o senador Aécio Neves (PSDB), com 11,9% e governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), com 3,2%.
A pesquisa, realizada entre os dias 18 e 22 de julho, simulou dois cenários para as eleições presidenciais de 2014. Em um deles, com a presidente Dilma Rousseff no lugar de Lula, Dilma ficaria em primeiro com 59% das intenções de voto, seguida por Aécio Neves com 14,8% e Eduardo Campos com 6,5%. Duas mil pessoas foram entrevistadas em 134 municípios de cinco regiões do Brasil. A margem de erro da pesquisa é de 2,2 pontos percentuais.
Avaliação de governo. A avaliação positiva do governo Dilma ficou em 56,6% em julho, contra 49,2% em agosto de 2011, segundo pesquisa. Para 35,5% dos entrevistados, a avaliação dada foi "regular", ante 37,1% em agosto do ano passado, e para 7% foi negativa, contra 9,3% no levantamento anterior.
O levantamento também apontou que a aprovação pessoal de Dilma está em 75,7%, contra 70,2% em agosto de 2011.

DO BLOG DO MIRO


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Contraponto 8870 - "Cachoeira e delação premiada. Pânico!

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03/08/2012

Cachoeira e delação premiada. Pânico!

Do Blog do Miro - 01/08/2012


Por Altamiro Borges


A situação do mafioso Carlinhos Cachoeira complica-se a cada dia que passa. Ele já perdeu seu protetor no Senado Federal, o ex-demo Demóstenes Torres, que foi cassado. Sua companheira, Andressa Mendonça, foi presa por algumas horas após tentar chantagear um juiz com um dossiê escrito, segunda ela, pelo editor da Veja, Policarpo Júnior. E até o seu advogado, Marcio Thomaz Bastos, decidiu abandoná-lo no pior momento. Diante deste quadro dramático, crescem os boatos de que Cachoeira optaria pela delação premiada.

A coluna Painel, da Folha, confirmou esta hipótese. “Com a saída de Márcio Thomaz Bastos da defesa de Carlinhos Cachoeira, voltou a ganhar corpo a possibilidade de o empresário acusado de contravenção negociar delação premiada para deixar a prisão, já que as tentativas de libertá-lo fracassaram. O acordo com o Ministério Público é defendido por antigos advogados de Cachoeira, como Jeová Borges Júnior. A hipótese causa apreensão entre políticos de todos os partidos e promete tumultuar o reinício das atividades da CPI”.

A Folha tucana liga o ventilador no esgoto ao afirmar que a opção pela delação premiada “causa apreensão entre políticos de todos os partidos”. Na verdade, esta hipótese causa pânico principalmente no governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, nos amigos de Paulo Preto – ex-tesoureiro de Serra – e na direção do Grupo Abril, que edita a revista Veja e mantinha íntimas ligações com Cachoeira. Ela também pode ofuscar o circo montado com o julgamento do chamado “mensalão do PT”.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O vendedor de palavras



Ouviu dizer que o Brasil sofria de uma grave falta de palavras. Em um programa de TV, viu uma escritora lamentando que não se liam livros nesta terra, por isso as palavras estavam em falta na praça. O mal tinha até nome de batismo, como qualquer doença grande, "indigência lexical". Comerciante de tino que era, não perdeu tempo em ter uma idéia fantástica. Pegou dicionário, mesa e cartolina e saiu ao mercado cavar espaço entre os camelôs.

Entre uma banca de relógios e outra de lingerie instalou a sua: uma mesa, o dicionário e a cartolina na qual se lia: "Histriônico — apenas R$ 0,50!".


Demorou quase quatro horas para que o primeiro de mais de cinqüenta curiosos parasse e perguntasse.   — O que o senhor está vendendo?


— Palavras, meu senhor. A promoção do dia é histriônico a cinqüenta centavos como diz a placa.

— O senhor não pode vender palavras. Elas não são suas. Palavras são de todos

— O senhor sabe o significado de histriônico?

— Não.


— Então o senhor não a tem. Não vendo algo que as pessoas já têm ou coisas de que elas não precisem.

— Mas eu posso pegar essa palavra de graça no dicionário.

— O senhor tem dicionário em casa?


— Não. Mas eu poderia muito bem ir à biblioteca pública e consultar um.


— O senhor estava indo à biblioteca?

— Não. Na verdade, eu estou a caminho do supermercado.

— Então veio ao lugar certo. O senhor está para comprar o feijão e a alface, pode muito bem levar para casa uma palavra por apenas cinqüenta centavos de real!

— Eu não vou usar essa palavra. Vou pagar para depois esquecê-la?


— Se o senhor não comer a alface ela acaba apodrecendo na geladeira e terá de jogá-la fora e o feijão caruncha.

— O que pretende com isso? Vai ficar rico vendendo palavras?


— O senhor conhece Nélida Piñon?


— Não.


— É uma escritora. Esta manhã, ela disse na televisão que o País sofre com a falta de palavras, pois os livros são muito pouco lidos por aqui.

— E por que o senhor não vende livros?

— Justamente por isso. As pessoas não compram as palavras no atacado, portanto eu as vendo no varejo.

— E o que as pessoas vão fazer com as palavras? Palavras são palavras, não enchem barriga.


— A escritora também disse que cada palavra corresponde a um pensamento. Se temos poucas palavras, pensamos pouco. Se eu vender uma palavra por dia, trabalhando duzentos dias por ano, serão duzentos novos pensamentos cem por cento brasileiros. Isso sem contar os que furtam o meu produto. São como trombadinhas que saem correndo com os relógios do meu colega aqui do lado. Olhe aquela senhora com o carrinho de feira dobrando a esquina. Com aquela carinha de dona-de-casa ela nunca me enganou. Passou por aqui sorrateira. Olhou minha placa e deu um sorrisinho maroto se mordendo de curiosidade. Mas nem parou para perguntar. Eu tenho certeza de que ela tem um dicionário em casa. Assim que chegar lá, vai abri-lo e me roubar a carga. Suponho que para cada pessoa que se dispõe a comprar uma palavra, pelo menos cinco a roubarão. Então eu provocarei mil pensamentos novos em um ano de trabalho.


— O senhor não acha muita pretensão? Pegar um...


— Jactância.

— Pegar um livro velho...


— Alfarrábio.


— O senhor me interrompe!


— Profaço.


— Está me enrolando, não é?


— Tergiversando.

— Quanta lenga-lenga...


— Ambages.

— Ambages?


— Pode ser também evasivas.


— Eu sou mesmo um banana para dar trela para gente como você!


— Pusilânime.


— O senhor é engraçadinho, não?


— Finalmente chegamos: histriônico!


— Adeus.


— Ei! Vai embora sem pagar?


— Tome seus cinqüenta centavos.


— São três reais e cinqüenta.


— Como é?


— Pelas minhas contas, são oito palavras novas que eu acabei de entregar para o senhor. Só histriônico estava na promoção, mas como o senhor se mostrou interessado, faço todas pelo mesmo preço.

— Mas oito palavras seriam quatro reais, certo?


— É que quem leva ambages ganha uma evasiva, entende?

— Tem troco para cinco?

A SÍNDROME DE VIRA-LATAS

Circula na internet um excelente artigo de Leonardo Boff, no qual ele trata o comportamento da imprensa brasileira na cobertura da política externa do governo Lula sob a ótica da Fenomenologia do Espírito, de Hegel, que analisa a dialética do senhor e do servo. “O senhor se torna tanto mais senhor quanto mais o servo internaliza em si o senhor, o que aprofunda ainda mais seu estado de servo.” (*)


Boff identifica este comportamento na imprensa brasileira, que já se revela há muito tempo, mas ficou ainda mais explícito na mediação conduzida por Lula e pelo primeiro-ministro da Turquia da crise nuclear iraniana. O sucesso da missão de Lula, reconhecido na maior parte do mundo, foi negado pela imprensa brasileira, que tentou desqualificá-la com argumentos dignos dos mais raivosos falcões norte-americanos.

Para Boff, as opiniões da imprensa brasileira e da maioria de seus colunistas revelam que essas pessoas “têm saudades deste senhor imperial internalizado” e “não admitem que o Brasil ganhe relevância mundial e se transforme num ator político importante”. “Querem vê-lo no lugar que lhe cabe: na periferia colonial, alinhado ao patrão imperial, qual cão amestrado e vira-lata.”

Afinal, onde já se viu um presidente brasileiro não se levantar para o presidente norte-americano, como fez Lula em 2003, durante a reunião do G8, em Evian, na França. Questionado sobre a atitude, já que os demais presentes se levantaram, Lula respondeu singelamente: “Ninguém se levantou quando eu entrei.”

Os nossos colunistas não dispensaram tantas linhas de condenação quanto escrevem agora quando o chanceler brasileiro no governo de Fernando Henrique Cardoso tirou os sapatos para entrar nos Estados Unidos. A atitude de total subserviência já está assimilada no complexo de vira-latas, que perdemos no futebol ao vencermos a Copa de 1958, mas que se mantém na imprensa brasileira em termos de política externa.

O assunto parece não ter fim e foi retomado pelo jornalista Elio Gaspari na coluna que escreve para os jornais O Globo e Folha de S.Paulo. O jornalista classifica a diplomacia de Lula de “amoral”, pelo “beneplácito” que tem com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, e justifica a atitude semelhante do governo turco com o argumento pequeno de ser um país vizinho ao Irã, enquanto Brasília está a 11 mil quilômetros de distância.

Mais uma vez a síndrome de vira-latas se revela. Ao Brasil, cabe cuidar do seu mundinho, quiçá dos seus vizinhos sul-americanos. Por que se meter em questões tão distantes, já que somos um país de terceira? É a lógica do senhor totalmente arraigada e se manifestando sempre que se tenta sair dela.

A cura de síndromes exige tratamentos psicológicos e grandes vitórias. Para superar o medo de passar em túneis é preciso cruzá-los em algum momento para ver que não oferecem perigo. A imprensa brasileira ainda não se livrou do complexo subalterno que o país teve na arena internacional durante grande parte de sua história. Se comporta como alguém psicologicamente abalado que se recusa a enxergar o que está a sua frente.

(*) O artigo de Leonardo Boff citado pelo colunista pode ser lido  no Espaço Livre.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

SEREMOS AMIGOS PARA SEMPRE! FELIZ PÁSCOA PARA VOCÊ!



                                                       A CURIOSIDADE É UM FATO QUE
                                                       PODE LEVAR A DOIS CAMINHOS...


POR ISSO VOU DEVAGAR COM ESSE SER FRÁGIL
É MELHOR TOCAR DEVAGARINHO...


E   ASSIM ACONTECEU A CONFIANÇA
PARA O PRIMEIRO CONTATO...

                                                           FAZ BEM TER COMPANHIAS

PARA VIGIAR A NOSSA SONECA...QUE SONO
UAUÔF..UAUÔF....

CATAR UNS " BICHINS" NA CABEÇA. 
CRUSCH  CRUSCH..".DOTOSO"!!

FAZER POLEIRO NO MACIO

 CATAR MAIS UNS "BICHIS" NA BARRIGUINHA..
CRUSCH,CRUSCH, ANHAM, ANHAM....BOM...


 CATAR A CABECINHA.... PIC PIC PIC...ANHAM..
ANHAM..NÃO PÁRA NÃO VIU?
                 COMO VOU VIVER SEM VC? PORQUE NÃO NOS APROXIMAMOS ANTES?
                 AH, LEMBREI, "SOMOS RESPONSÁVEIS PELO QUE CULTIVAMOS"...
                   ENTÃO NAO NOS SEPARAREMOS, SEREMOS AMIGOS PARA SEMPRE!

A PASCOA DEVE SER UM POUCO ISSO, SUPERAR AS DIFERENÇAS, RENOVAR AS INTENÇÕES DE  PAZ, DE PERDÃO, DE AMOR. ESQUECER AS DISTINÇÕES DE TODAS AS ESPÉCIES, AS MÁGOAS. ASSIM VALERÁ O TAMANHO DA VIA CRUCIS DE JESUS .

FELIZ PASCOA AMIGOS E FAMILIA!

AH, GATO NAO É MELHOR QUE COELHO DA PASCOA? INTERAGE MAIS! RSRSR