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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Sininho ao CdB: “A mídia corporativa perdeu totalmente a credibilidade”


Por Gilberto de Souza - do Rio de Janeiro





A cineasta Elisa Quadros, a Sininho, falou com exclusividade ao Correio do Brasil
A cineasta Elisa Quadros, a Sininho, falou com exclusividade ao Correio do Brasil
Impactada por uma série de reportagens nos veículos de comunicação controlados pelas Organizações Globo e demais segmentos da mídia conservadora, sem uma apuração mais efetiva do que realmente ocorreu durante uma entrevista coletiva no sindicato dos jornalistas do Rio de Janeiro, sexta-feira passada, uma parcela dos profissionais sindicalizados lançou um manifesto pela destituição da diretoria liderada pela presidente da instituição, a jornalista Paula Mairán. No centro das manifestações que inundam as redes sociais, ao longo dos últimos dias, a cineasta e ativista social Elisa Quadros, a Sininho, encarnou o repúdio de parcela do público que acompanha a saga dos manifestantes presos, após a perseguição policial com apoio do Judiciário, que se segue há mais de um mês.
Avessa a entrevistas, Elisa Quadros tem evitado o contato com a imprensa desde o últimos eventos, no auditório do sindicato dos jornalistas, no Centro do Rio, principalmente por criticar a forma tendenciosa como os veículos da mídia corporativa tratam o assunto, em uma tentativa de criminalizar os movimentos sociais e de transformá-la em uma espécie de ‘terrorista’, em pleno estado democrático, por parte das forças da direita; ou como uma ‘selfie ativista’, como a definem setores da esquerda organizada, por integrar grupos que abrigam os black blocs, entre outros manifestantes mais radicais.
Ao Correio do Brasil, no entanto, por sua reconhecida independência e equidistância jornalística diante dos temas mais polêmicos, Elisa Quadros concedeu uma longa entrevista, na qual pontua os fatos que levaram os setores mais conservadores dos jornalistas sindicalizados a promover o levante contra Mairán. Na conversa com a reportagem do CdB, Sininho lembrou que a edição dos fatos gravados no auditório do sindicato teve o claro objetivo, mais uma vez, de atirar os manifestantes contra os jornalistas. Ela lembrou o que disse, na ocasião:
– A gente sabe que não é o profissional em si, mas a forma nojenta que tudo está sendo manipulado quando chega lá no editor-chefe e quando sai (é publicado) é a mesma coisa que a polícia em si, que sai batendo na gente.
Elisa Quadros, na entrevista exclusiva ao CdB, frisou que a coletiva de imprensa ocorreu apenas algumas horas depois que ela foi liberada do presídio Bangu 8, na Zona Norte do Rio, onde esteve presa por 12 dias. A angústia da prisão e a tensão, na hora da saída do presídio, em meio a um tumulto provocado pela ação dos fotógrafos e cinegrafistas que lutavam por uma imagem dos recém-libertos, acirrou os ânimos.
– Eu, como milhares de pessoas presas, sofremos todos os tipos de violência. Felizmente, não sofri violência física em si, mas presenciei torturas (no presídio) por frio e da fome. O Complexo de Bangu é extremamente frio, e todos que entram lá, para entenderem bem que a partir daquele momento estão sob custódia do Estado, têm sua vida, direitos e liberdades individuais esfacelados. Sua vida não lhe pertence mais – afirma.
– Quando a senhora e demais manifestantes presos ganharam a liberdade, foi gravado um vídeo no qual apareciam assediados por fotógrafos e cinegrafistas. Responsável por sua defesa perante a Justiça, o advogado Marino D’Icarahy afirmou que havia pedido para que, naquele momento, a imprensa se mantivesse a uma distância segura, como forma de não constranger os ativistas. A senhora pediu para não ser fotografada ou entrevistada naquele local?
– Eu imaginei que haveria muitos jornalistas lá fora esperando a nossa saída, mas não imaginava tamanho assedio. Estava presa, nervosa, esperando notícias do que iria acontecer com a minha vida. Nunca imaginei que haveria tanta confusão. A mídia inteira passou que “manifestantes mais uma vez atacaram jornalistas”, mas não mencionaram que aqueles manifestantes tentavam proteger as pessoas que estavam fragilizadas, na saída da prisão. Eu recebi um soco no rosto que só não me acertou em cheio porque o braço de um dos companheiros estava me protegendo. Minha mãe foi empurrada e só não foi ao chão porque tinha tanta gente tentando me fotografar que ela se segurou em alguém. São essas coisas que me chateiam, quando vejo o que a mídia conservadora está tentando fazer. Sempre colocam somente um lado e como já disse antes, é uma relação de confiança e, com certeza a mídia corporativa já perdeu totalmente a credibilidade, por distorcer tantas coisas ao longo da história, ao longo de todos esses meses, desde a remoção da Aldeia Maracanã em março de 2013.
– A senhora sabe que uma parte dos jornalistas sindicalizados se ofendeu com a manifestação promovida por ativistas, na sede do sindicato, durante aquela coletiva. A impressão que ficou foi a de que tentaram agredir ou expulsar jornalistas do recinto. Foi isso o que ocorreu?
– Fui naquela coletiva por respeito à direção (do sindicato dos jornalistas) que vejo lutando muito pela democratização da mídia brasileira. Tiveram pais que deram depoimentos sofridos e nenhum deles, quase, foi publicado. Sabemos que estamos vivendo um momento de tensão da mídia versus manifestantes. Mas isso sempre foi assim. Enquanto o jornalista não tiver a liberdade para escrever a sua própria matéria, sem cortes e edições manipuladas, vamos ter tensões, mas isso não significa que os queiramos mal… Ao contrário, conheço diversos jornalistas e os respeito mas, nesse caso, a mais desrespeitada tenho sido eu, por parte da mídia conservadora, sendo criminalizada e, sinceramente, penso ser uma falta de respeito inverter os valores em relação a essa realidade. Respondi o que pude, ainda estava abalada e não vou me sacrificar mais ainda para satisfazer aos grandes empresas de comunicação.
 FONTE:
http://correiodobrasil.com.br/noticias/brasil/sininho-ao-cdb-a-midia-corporativa-perdeu-totalmente-a-credibilidade/719837/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=b20140802.