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quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Fidel, bolivariano e martiano , dia 13 de agosto faz 90 anos!

Ángel Guerra Cabrera: Fidel, bolivariano e martiano


Fidel Castro, no início dos anos 1960 Fidel Castro, no início dos anos 1960
Aos 21 anos, Fidel, membro do Comitê Universitário para A Libertação de São Domingos, participou da frustrada expedição anti Trujillo, de Cayo Confines (1947). Um ano depois, no "bogotazo", colocou-se, armas nas mãos, ao lado dos seguidores de Jorge Eliecer Gaitán. Estava, na época, na capital colombiana organizando um congresso continental de estudantes, que se pronunciaria pela independência de Porto Rico, a devolução ao Panamá pelos Estados Unidos da área do Canal, a reintegração das Ilhas Malvinas à Argentina e contra as ditaduras militares ao sul do Rio Bravo, especialmente a de Trujillo na República Dominicana. O jovem cubano havia conquistado a liderança do comitê organizador da reunião de estudantes, que se colocava na direção oposta à da 9ª Conferência Pan-americana, que acabaria na criação da nefasta Organização dos Estados Americanos (OEA) e adotaria instrumentos de subordinação ao vizinho do norte, contando, entre outras coisas, com a cumplicidade incondicional dos representantes dos governos ditatoriais que havia imposto na região.

Fato simbólico, a OEA, sob enormes pressões e outras manhas de Washington, expulsou de seu seio a Cuba revolucionária (Punta del Este, Uruguai, 1962) e, ao passo de algumas décadas, o clamor unânime dos governos da região (San Pedro Sula, Honduras, 2009), acabou revertendo essa medida.

Havana reiterou que não regressará à OEA – será um despropósito –, mas isso não nega a grande carga política do reconhecimento e da dignidade de Cuba, liderada por Fidel, embutida naquela decisão.

Foi precisamente a exclusão da ilha do organismo que deu condições para que o então primeiro-ministro submetesse a Segunda Declaração de Havana (1962) para a aprovação – clamorosa – da Assembleia Geral Nacional do Povo de Cuba. Um documento essencial na história de nossos povos, que dá continuidade à Carta da Jamaica (1815), de Simón Bolívar e ao ensaio Nuestra América (1891), de José Martí.

Nela está postulado: "Nenhum povo da América Latina é fraco, porque faz parte de uma família de 200 milhões de irmãos que padecem das mesmas misérias, abrigam os mesmos sentimentos, têm o mesmo inimigo, sonham todos com um melhor destino e contam com a solidariedade de todos os homens e mulheres honrados do mundo inteiro".

Discípulo dedicado e consequente de Bolívar e Martí, esse conceito de fraternidade e união da nossa América formou parte do núcleo principal do pensamento político de Fidel desde os dias ancestrais de Cayo Confites e o bogotaço.

A revolução cubana, cuja profunda repercussão planetária é indiscutível, desencadeou um ciclo de lutas populares, revolucionárias e pela unidade e integração da América Latina e do Caribe que ainda não se concluiu, tampouco se concluirá no futuro próximo. "Quando falamos de humanidade pensamos, em primeiro lugar, nos nossos irmãos latino-americanos e caribenhos, aos que não esqueceremos nunca e, depois, o resto dessa humanidade que habita nosso planeta", disse o comandante. Inspirada por ele, Cuba foi sempre solidária com as lutas de todos os povos da Terra e, em particular, com as de nossa região.

Foi nela que apoiou as lutas das massas e, quando foi preciso, deu, àqueles que escolheram a via armada, toda a sua solidariedade e o sangue de alguns de seus melhores filhos. Estendeu sua mão amiga aos militares patriotas, desde Turcios Lima em Guatemala, passando por Caamaño na resistência dominicana contra a invasão ianque ao governo nacionalista de Velasco Alvarado no Peru e à luta dos panamenhos, com Omar Torrijos à frente, pela devolução do canal.

Desafiando o plano descomunal de Washington para derrubá-lo, Fidel e toda Cuba forneceram um apoio extraordinário para o governo da Unidade Popular do presidente Salvador Allende, amigo sincero, na primeira experiência de libertação nacional e socialista pela via política em nossa América.

Daquela experiência, Fidel concluiria: Nem povo sem armas, nem armas sem povo.


Fonte: La Jornada. Primeira parte

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Papa Francisco rejeitou a doação de 16 milhões e 666 mil pesosde Mauricio Macri


Redação Pragmatismo

O que há por trás do imbróglio entre o papa Francisco e Mauricio Macri

Em um gesto de indubitável repercussão política, o Papa Francisco rejeitou a doação de 16 milhões e 666 mil pesos que lhe foram outorgados pelo governo de Mauricio Macri

papa francisco maurício macri argentina
A rejeição do papa Francisco a uma doação milionária do governo argentino abriu uma nova frente de discórdia entre o Vaticano e o presidente Mauricio Macri.
A rede mundial Scholas Occorrentes, promovida pelo papa para a inclusão educativa e a paz rejeitou a doação e buscará “obter o aporte necessário de maneira imediata por meio dos organismos multilaterais de crédito e da ajuda de privados”, informou em uma carta datada de 9 de junho e destinada ao chefe de gabinete, Marcos Peña.
Macri havia ordenado por decreto a doação de 16,666 milhões de pesos (1,1 milhão de dólares) para pagar os gastos da sede local da rede mundial educativa.
A cifra ‘666’, o número da besta que faz referência a satanás, foi considerada uma “piada de mau gosto” em âmbitos religiosos, afirma o jornal Vatican Insider que cita a “perplexidade do papa” com a doação “imprevista”.
“Tudo é interpretado de forma negativa”, declarou à rádio Continental o diretor da Scholas Occurrentes, José María del Corral, ao colocar panos quentes no assunto.
Peña indicou, por sua vez, que “é um insulto à inteligência pensar que com uma doação de dinheiro pode-se comprar o papa”.

Constrangimento

Para o economista e analista Carlos Fernandes, a recusa do Vaticano representou um constrangimento internacional para o governo de Mauricio Macri.
“O que se especula no centro do poder religioso católico é que a doação seria uma forma de ‘comprar’ a simpatia do santo papa em relação ao governo macrista que sofre de uma avassaladora onda de impopularidade no seu país”, diz.
Além da desmoralização pública, o desconforto com o número da besta é evidente. “Pegou muito mal com o alto clero da igreja a cifra 666 estar presente no valor da doação. Incluir o número da Besta num donativo ao Vaticano é uma grosseria diplomática”, avalia.
A origem do dinheiro também não agrada. “O diretor geral da Scholas Occurrentes, José Maria del Corral, tornou o episódio ainda mais vergonhoso para Macri ao lembrar que essa não é a primeira vez que a fundação recusa esse tipo de doação. Dinheiro vindo da Conmebol também foi recusado devido ao seu envolvimento no esquema de corrupção da FIFA. Liguem os pontos e chegaremos a uma conclusão óbvia”, conclui Fernandes.

Tempos difíceis e mais distanciamento

Ainda de acordo com o Vatican Inseder “a quantia foi considerada como de todo excessiva em tempos em que seu país (Argentina) enfrenta uma delicada situação econômica”.
A rejeição representa um novo distanciamento entre o pontífice e o presidente argentino de centro-direita, que assumiu o governo no dia 10 de dezembro.
O papa recebeu Macri em uma audiência no fim de fevereiro em um encontro sério e formal, de breves 22 minutos, que foi considerado uma demonstração de frieza entre o religioso e o presidente argentino.
Macri assumiu a presidência com a promessa de de obter a ‘pobreza zero’.
Mas nos três primeiros meses de governo, 1,4 milhão de argentinos a mais caíram na pobreza, que afeta 34% da população de 40 milhões de pessoas, segundo um estudo da Universidade Católica.

FONTE: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/06/o-que-ha-por-tras-do-imbroglio-entre-o-papa-francisco-e-mauricio-macri.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+PragmatismoPolitico+%28Pragmatismo+Pol%C3%ADtico%29

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Lavar e enxaguar a lambança criada do governo Temer

E o #ForaTemer pelo Brasil

 

 


Há sinais fortes de que a conjuntura política mudou. A presidenta Dilma Rousseff, afastada para o julgamento do processo de impeachment, saiu das cordas, ao mesmo tempo em que – às vésperas de completar um mês de interinidade – o vice-presidente que ocupa ilegitimamente a Presidência da República, Michel Temer, se vê cada vez mais isolado, no Brasil e no mundo.
São dois os sinais da mudança na conjuntura – o primeiro foi a entrevista com a presidenta Dilma Rousseff na TV Brasil (exibida nesta quinta-feira, dia 9); o outro foram as enormes manifestações pelo “Fora Temer” desta sexta-feira (10). 
Dilma Rousseff pôde, naquela entrevista, manifestar uma opinião – e uma disposição – de enorme importância: sua adesão à tese da necessidade da consulta popular para construir a saída para a crise e, a partir dessa consulta (que poderia ser um plebiscito) redefinir os rumos de seu governo e conquistar o necessário apoio parlamentar para ele.
Os milhares de pessoas que, apesar do frio intenso, saíram às ruas na noite de ontem, atendendo ao chamado da Frente Brasil Popular e da Frente Povo Sem Medo, em mais de cinquenta cidades de quase todos os estados e o Distrito Federal (cidades como São Paulo – com a presença do ex-presidente Lula –, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, Porto Alegre e demais capitais), ergueram firmemente as bandeiras do Fora Temer, da resistência ao golpe e da denúncia da ilegalidade do afastamento da presidenta Dilma Rousseff. 
Foi uma unanimidade muito forte, que contrasta com a contínua impossibilidade do presidente postiço, Michel Temer, sair às ruas e que o leva a, sucessivamente, desmarcar compromissos devido ao medo de vaias e manifestações contrárias ao golpe.
Dilma Rousseff foi enfática ao defender a consulta popular para, em sua opinião, “lavar e enxaguar essa lambança que está sendo o governo Temer”. 
Foi uma maneira expressiva de dizer que somente o povo pode devolver a legitimidade a um governo que conduza o Brasil na rota da superação da crise e encontre novos caminhos de crescimento e fortalecimento da democracia. 
Um governo que reafirme – contra as tentativas ilegítimas e impopulares da direita, dos conservadores e seu governo usurpador – o programa de mudanças políticas, sociais e econômicas que venceu todas as eleições presidenciais desde 2002. Programa que precisa se consolidar, contra a ganância e os privilégios da elite direitista e neoliberal que, tendo tomado de assalto a Presidência da República, faz de tudo para desmontar as ferramentas construídas pelos governos Lula e Dilma e submeter o país apenas ao atendimento de seus interesses mesquinhos e particulares. 
FONTE :

Os impactos do golpe do Temer, nos Direitos Trabalhistas



   
Comprovam essa assertiva as dezenas de projetos de leis (PLs), que tramitam na Câmara Federal e no Senado Federal, visando à redução, ao rés do chão, e/ou a supressão dos direitos fundamentais sociais, elencados nos Arts. 6º e 7º, da CF, 611 e seguintes, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

É difícil dizer qual deles é mais pernicioso. Todos o são, sem exceção. Com a finalidade de se colaborar com a adequada compreensão deles e de sua letalidade, traz-se, aqui, a síntese dos objetivos, dos mais nocivos, se é que há possibilidade de se estabelecer tal hierarquia. Tamanha é nocividade de todos eles.

2- Parece induvidoso que o maior petardo advém do PL N.6411/2013, de autoria do Deputado Carlos Bezerra, do PMDB do Mato Grosso, que tem por escopo pôr fim à maior conquista dos trabalhadores, desde a promulgação da CF, que se consubstancia na ultratividade das normas coletivas, ou seja, que garante a adesão destas aos contratos individuais de trabalho, conforme a Súmula N. 277, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que se embasa no Art. 114, § 2º, parte final, da CF.

Se for aprovado o disposto neste PL, cada negociação coletiva começará da estaca zero. Isto porque, vencido o prazo de sua vigência, que pode variar de um a quatro anos, todas as conquistas garantidas em convenções e/ou acordos coletivos evaporam-se dos contratos de trabalho, como se nunca tivessem existido; somente voltando a eles se e quando forem novamente asseguradas por instrumento normativo de igual natureza.

O referido PL propõe que se acrescente ao Art. 614, da CLT, o § 3º, com a seguinte redação: “ § 3º Não será permitido estipular duração de Convenção ou Acordo coletivos superior a quatro anos, sendo inaplicável o princípio da ultratividade das cláusulas normativas, cujas condições de trabalho vigoram no prazo assinado, sem integrar, de forma definitiva, os contratos”.

Na justificativa da propositura, o Deputado propositor, sem nenhum pejo, afirma que a apresenta acatando sugestão da Confederação Nacional da Indústria (CNI), para quem, com a Súmula N. 277, do TST, com a sua nova redação, “ .. houve grande prejuízo ao contínuo processo de negociação coletiva. Afinal, de um lado, tem-se uma situação de conforto com as condições coletivas já garantidas e, de outro, tem-se o receio de concessão de novos benefícios.

3 O segundo PL, com maior grau de nocividade, que, somado ao anterior, põe em perigo de morte, para sempre, todos os direitos fundamentais sociais, é de N.4962/2016 , de autoria do Deputado Federal Júlio Lopes, do PP-RJ, que traz de volta o monstro da prevalência absoluta do negociado sobre o legislado, velho conhecido dos (as) trabalhadores (as), desde a era Fernando Henrique- a famigerada Emenda 3.

De acordo com este PL, o Art. 618, da CLT, deve vigorar com a seguinte redação:
Art. 1º O artigo 618 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 618 – As condições de trabalho ajustadas mediante convenção ou acordo coletivo de trabalho prevalecem sobre o disposto em lei, desde que não contrariem a Constituição Federal e as normas de medicina e segurança do trabalho.

§ 1º - No caso de flexibilização de norma legal relativa a salário e jornada de trabalho, autorizada pelos incisos VI, XIII e XIV do art. 7º da Constituição Federal, a convenção e acordo coletivo de trabalho firmado deverá explicitar a vantagem compensatória concedida em relação a cada cláusula redutora de direito legalmente assegurado.

§ 2º - A flexibilização de que cogita o parágrafo anterior limita-se à redução temporária de direito legalmente assegurado, especialmente em período de dificuldade econômica e financeira pelo qual passe o setor ou a empresa, não sendo admitida a supressão do direito previsto em norma legal.

§ 3º - Não são passíveis de alteração por convenção ou acordo coletivo de trabalho normas processuais ou que disponham sobre direito de terceiro.

§ 4º - Em caso de procedência de ação anulatória de cláusula de acordo ou convenção coletiva que tenha disposto sobre normas de medicina e segurança do trabalho, processuais ou de direito de terceiros, deverá ser anulada igualmente a cláusula da vantagem compensatória, com devolução do indébito.”


A justificativa do comentado PL busca respaldo nas convenções OIT, de Ns. 98, de 1949, e 154, de 1981, ambas ratificadas pelo Brasil, que tem por escopo dar efetividade às negociações coletivas, valorizando-as e tornando-as obrigatórias, para empregadores e empregados. Porém, em sentido diametralmente oposto ao suscitado pelo Deputado Júlio Lopes.

Igualmente, busca respaldo na Decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), tomada no julgamento do Processo de recurso extraordinário (RE) de N. 590.415-SC, que, indiscutivelmente, rasga o princípio constitucional de vedação de retrocesso social, pois que admite renúncia coletiva (firmada por sindicatos) a direitos fundamentais sociais, desde que não fira o “padrão civilizatório mínimo”, consoante as palavras do Ministro Roberto Barroso, registrada no seu voto, acolhido pelo Pleno do STF.

Para pavimentar a sua proposta, com lastro na realçada Decisão, do STF, o citado Deputado afirma, com arroubo:

“ A diretriz traçada pelo Supremo Tribunal Federal, como ratio decidendi desse leading case, se deveu ao quadro jurisprudencial refratário à flexibilização de direitos trabalhistas apresentado pela Justiça do Trabalho em suas diferentes instâncias, calcada numa concepção superlativamente abrangente da insdiponibilidade dos direitos trabalhistas”

Parafraseando a Bíblia, pode-se dizer, que, nos termos da proposta do Deputado Júlio Lopes, no tocante aos direitos fundamentais sociais, não ficará pedra sobre pedra, que não seja derrubada; ou, em outras palavras: tudo, absolutamente tudo, pode ser objeto de renúncia, pelos trabalhadores, por meio de seus sindicatos.

Para não deixar dúvida alguma, sobre quais interesses, efetivamente, buscam-se a proteção, no PL em questão, o autor afirma, ainda, na Justificativa:

“Com efeito, em se tratando de normas de medicina e segurança do trabalho, processuais ou relativas a direito de terceiros (como FGTS), obviamente não há margem para a flexibilização. Mas tratando-se de salário e jornada, com vantagens compensatórias ofertadas pelas empresas para flexibilizar determinados direitos, não há como se falar em nulidade das cláusulas. E muito menos anulação apenas das cláusulas desvantajosas ao trabalhador, sem a anulação do próprio negócio jurídico materializado no acordo ou convenção coletiva, já que fruto de mútuas concessões, ou a anulação concomitante das vantagens compensatórias outorgadas pelo setor patronal”.

Se, pela análise deste arrazoado do autor, ainda paira alguma dúvida sobre as suas reais intenções, esta se dissipa pela simples leitura do § 4º, proposto, que determina a devolução (indébito), de eventual vantagem compensatória, recebida pelo trabalhador, caso a cláusula de renúncia seja declarada nula pela Justiça do Trabalho.

Não, por mero esquecimento, ou falha de redação, o autor, quer no texto proposto, quer na sua justificação, não diz uma palavra sobre a devolução pela empresa, em casos que tais, ou seja, de anulação de cláusula de renúncia. Equivale a dizer: sendo declarada a anulação de cláusula deste jaez, o empregado devolve o que recebeu, como compensação; a empresa, não. Isto, nos termos do Art. 882, do Código Civil (CC), chama-se enriquecimento ilícito ou sem causa, e é, por isto mesmo, absolutamente vedado.

Há de se acrescentar, ainda, sob o realçado PL e sobre todos os que primam por igual objetivo, que a negociação coletiva, a que aludem e hipoteticamente buscam fortalecer, pode prescindir da participação dos sindicatos, como permite o Art. 617, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que a Justiça do Trabalho considera como vigente, não obstante a CF, no Art. 7º, inciso VI, estabelecer como obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas.

4 O Deputado Sílvio Costa, do PTB de Pernambuco, não se contentou em tentar modificar Arts. esparsos, da CLT, por meio de seu PL N. 1463/2011, pretende substituir a CLT inteira, por um código do trabalho, que, como se extrai de sua Justificação, almeja substituir a proteção dos trabalhadores, ainda existente, pela integral proteção dos interesses empresariais, mesmo os mais lesivos àqueles (as).

Já no Art. 2º, Parágrafo único, não deixa remanescer dúvida alguma sobre o que realmente intenta, ou seja, diz a que vem; e vem para beneficiar as empresas. Nele, acha-se indelevelmente asseverado: “As condições de trabalho previstas neste Código podem ser alteradas por meio de : I convenção ou acordo coletivo de trabalho; ou acordo individual, desde que o trabalhador perceba salário mensal igual ou superior a dez vezes o limite máximo do salário de contribuição da previdência social”.

Se isto é possível, este PL mostra-se mais nocivo do que o de N. 4962/2016, esposado pelo Deputado Júlio Lopes, pois que autoriza, também, a renúncia individual. Muito embora, condicione-a à percepção, pelo empregado renunciante, de salário igual ou superior a dez vezes o teto de contribuição da Previdência Social, hoje, de R$ 5.189,92. Isto quebra, em definitivo, a regra de nulidade absoluta de renúncia individual, reconhecida inclusive pelo STF, no Processo que serve de justificativa para aquele PL; a partir dela, tudo será questão de tempo, pois que, como diz a velha metáfora mineira: cesteiro que faz um cesto, faz um cento.

“Hoje, a inflexibilidade para se contratar é, sem dúvida, o mais grave problema da legislação trabalhista, pois impede a competitividade das empresas. Como a concorrência nos mercados internos e externos é cada vez mais acirrada, e só vence quem oferece o menor preço, as empresas não hesitam em transferir fábricas para países onde o custo de produção é baixo.

Por isso, nosso urgente interesse na aprovação de um Código do Trabalho. Nosso objetivo maior não é propor uma revolução na legislação trabalhista, mas reduzir a complexidade e o anacronismo da legislação atual e permitir que empregados e empregadores possam negociar condições de trabalho diferentes da lei, com todas as garantias previstas na Constituição Federal.

Flexibilizar, garantindo-se direitos mínimos, vem ao encontro da tendência mundial de afastamento do intervencionismo e protecionismo exacerbado do Estado, dando força à composição entre as partes como forma reguladora das relações laborais.

5 O PL N. 4193/2012, de autoria do Deputado Federal Irajá Abreu, tem o mesmo objetivo dos retrocomentados, nos itens 3 e 4; sem ser tão explícito, no tocante ao alcance e aos seus verdadeiros objetivos, quanto este. Mas, ao fim e ao cabo, deles não se diferencia.

6- O PL N. 948/2011, do Deputado Laércio Oliveira, PR-SE, visa a acrescentar § 2º, ao Art. 477, da CLT, para impedir que o (a) trabalhador (a), após assinar o termo de rescisão de contrato de trabalho, busque a Justiça do Trabalho, para cobrar direitos, porventura, não observados durante a vigência do contrato de trabalho.

A redação proposta é a seguinte: “O instrumento de rescisão ou recibo de quitação, qualquer que seja a causa ou forma de dissolução do contrato, terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas”.

A rigor, o que se pretende, com este PL, é tornar insuscetível de cobrança judicial, a tunga a direitos trabalhistas, que é prática sistemática de centenas de milhares de empresas, pelo Brasil afora; e, que, por certo, se multiplicará caso ela seja legalizada.

Esta pretensão é sonho antigo, acalentado por todas as empresas que assim agem; e que, ao início da década de 1990, teve o primeiro ensaio, com a Súmula N. 330, do TST, que se converteu em objeto de duríssimas e incontáveis críticas de todos quantos não o avalizam, inclusive juízes e tribunais. Ao ver desnudado o verdadeiro objetivo da mencionada Súmula, o TST viu-se compelido a alterar o seu conteúdo, de modo a limitar o alcance da eficácia decorrente de rescisão de contrato, aos valores nela especificados e efetivamente pagos.

Agora, o Deputado Laércio Oliveira pretende ressuscitar este cadáver, há muito, levado às catacumbas, definitivamente; ao menos, o que se pensava.

De acordo com a proposta sob comentários, somente não se verificará quitação plena, nas rescisões de contrato, quando nela se opuserem ressalvas específicas, isto é, sobre o que não foi observado durante o contrato. O que é quase impossível. Primeiro, por demandar conhecimento detalhado do contrato de trabalho; o que, na maioria das vezes, nem o próprio trabalhador o possui. Segundo, porque, no momento da rescisão, não se vislumbra nenhuma possibilidade de se adquirir este conhecimento; até, por faltar ao homologador tempo e preparo para isto.

Caso prospere essa excrescência, os documentos de quitação se transformarão em sentença de morte, para os trabalhadores que os assinarem.

7 O PL N.8294 /2014, do Deputado Fábio Ramalho, tem por objetivo o acréscimo de Parágrafo único, ao Art. 444, da CLT, com a seguinte redação:

“ O art. 444 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, passa vigorar acrescido do seguinte parágrafo único
Parágrafo único. Os limites para a livre estipulação do contrato de trabalho, estabelecidos no caput, não se aplicam quando:

I- o empregado for portador de diploma de nível superior e perceber salário mensal igual ou superior a duas vezes p limite máximo do salário-de-contribuição da previdência social;

II- o empregado, independentemente do nível de escolaridade, perceber salário mensal igual ou superior a três vezes o limite máximo do salário-de-contribuição da previdência social.

Este PL, no tocante à renúncia individual de direitos trabalhistas, consegue ser muito mais agressivo do que o assinado pelo Deputado Sílvio Costa, que a admite quando o salário for igual ou superior a dez vezes o salário de contribuição da Previdência Social; apesar de portar o mesmo escuso objetivo: redução de direitos.

O Art. 444, da CLT, veda qualquer pactuação que não respeite as demais normas da CLT e dos acordos e convenções coletivas de trabalho; e é exatamente esta regra que o PL em questão visa a quebrar.

8 O PL N.2409/2011, do Deputado Roberto Ballestra, PP-GO, altera o Art. 58, da CLT, para excluir-lhe a parte final do § 2º, que assegura a integração à jornada de trabalho do tempo despendido para o local de trabalho e o seu retorno, em transporte fornecido pelo empresa, quando se tratar de local de difícil acesso e/ou não servido por transporte público regular, conhecido como horas in itinere; bem assim, o § 3º, para estender a possibilidade de redução do referido tempo, por meio de convenção ou acordo coletivo, para todas as empresas; pela atual redação, isto somente é possível para as micros e as de pequeno porte.

A Súmula 90, do TST, regula esta matéria do seguinte modo:


“Súmula nº 90 do TST

HORAS "IN ITINERE". TEMPO DE SERVIÇO (incorporadas as Súmulas nºs 324 e 325 e as Orientações Jurisprudenciais nºs 50 e 236 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005

I - O tempo despendido pelo empregado, em condução fornecida pelo empregador, até o local de trabalho de difícil acesso, ou não servido por transporte público regular, e para o seu retorno é computável na jornada de trabalho. (ex-Súmula nº 90 - RA 80/1978, DJ 10.11.1978)

II - A incompatibilidade entre os horários de início e término da jornada do empregado e os do transporte público regular é circunstância que também gera o direito às horas "in itinere". (ex-OJ nº 50 da SBDI-1 - inserida em 01.02.1995)

III - A mera insuficiência de transporte público não enseja o pagamento de horas "in itinere". (ex-Súmula nº 324 – Res. 16/1993, DJ 21.12.1993)

IV - Se houver transporte público regular em parte do trajeto percorrido em condução da empresa, as horas "in itinere" remuneradas limitam-se ao trecho não alcançado pelo transporte público. (ex-Súmula nº 325 – Res. 17/1993, DJ 21.12.1993)

V - Considerando que as horas "in itinere" são computáveis na jornada de trabalho, o tempo que extrapola a jornada legal é considerado como extraordinário e sobre ele deve incidir o adicional respectivo. (ex-OJ nº 236 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001)”

Estes PLs, somados ao PLC N. 30/2015- que autoriza a terceirização sem limites e, a rigor, sem nenhuma única regra benéfica ao mundo do trabalho, se aprovados, farão ruir todos fundamentos, princípios e garantias constitucionais, quanto à dignidade da pessoa humana e dos valores sociais do trabalho; prevalecendo, a partir deles, como regra soberana, a ganância do capital e o seu descomunal poderio, escudado pelo Poder Legislativo, sempre vigilante em sua defesa; e, a depender do Presidente do TST, Ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho- como asseverado em seu discurso de posse, no dia 25 de fevereiro de 2016, e em entrevista concedida ao Jornal O Globo-, também, da instância máxima da Justiça do Trabalho: o TST.

Além do Presidente do TST, o Ministro do STF, Roberto Barroso- que foi relator do RE que inspirou o PL do Deputado Júlio Lopes, acima comentado-, em recente palestra, promovida pela Brazil Legal Society, por linhas transversas, fez a defesa do ajuste fiscal, da reforma da Previdência Social, e do fim do suposto preconceito contra a iniciativa privada. Será que estas enigmáticas palavras são aleatórias? Por que será que se tornaram notícias? Por mera coincidência? Parece fora de dúvida que tem o mesmo objetivo das que foram pronunciadas pelo Presidente do TST; com outra tinta; porém, com a mesma finalidade.

Faz-se necessário registrar que todos os comentados PLs, com exceção do que cria o Código do Trabalho- igualmente, nocivo-, tem como autores arautos do processo de impeachment, ora em tramitação no Senado. O que torna forçosa a conclusão de que representam a antessala do Programa do usurpador Vice- Presidente da República, Michel Temer, desavergonhadamente intitulado de “Ponte para o Futuro”; mas que, em verdade, nada mais é do que escada rolante para o inferno profundo. Aquele da obra de Dante Alighiere, A Divina Comédia; que, em seu oitavo e último círculo, era guardado por uma loba, que se alimentava de carne humana e quanto mais comia, mais fome sentia.
Se tais PLS, em sentido estrito, não se alimentam de carne humana; não se pode negar que se alimentam de direitos fundamentais sociais e a sua ganância deixa acanhada a fome da loba, citada por Dante. E o que é pior: isto não é tudo. Marcha, ao lado dos comentados PLs, com igual ganância, a reforma da Previdência Social, que, segundo o Ministro da Fazenda, de plantão, Henrique Meireles, é, igualmente, prioridade do governo Temer, e só não vai atingir os aposentados e os que já possuem direito adquirido; todos os demais sofrerão as suas consequências.

A Reforma da Previdência Social, como toda reforma ditada pelo capital, não visa à expansão de direitos e/ou a sua base de financiamento, hoje, sustentada, em larga medida, pelos segurados (trabalhadores); mas, sim, para reduzir os direitos que são por ela assegurados e, com isto, abrir a porteira para a previdência privada; e para destinar as verbas que vão para a previdência pública, ao pagamento de mais juros para os banqueiros.

A Previdência Social, desde a Constituição de 1988, transformou-se na maior e mais eficaz política pública, sendo, efetivamente, o principal instrumento de transferência de renda, para os mais pobres, retirando da miséria milhões de brasileiros (as), antes desamparados; em especial, no campo.
A aposentadoria rural, de um salário mínimo, constitui-se na maior fonte de riqueza de mais de três mil e quinhentos, dos cinco mil, quinhentos e setenta, municípios brasileiros; representando, para eles, mais do que o Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

O que se quer reformar, na Previdência Social? A sua vinculação com o salário mínimo, que é a principal garantia dos segurados, pois que mantém o seu valor real; e a idade mínima, para se aposentar, passando a ser de sessenta e cinco anos, para homens e mulheres.

Se esta idade mínima for aprovada e, juntamente com ela, a redução da idade, para ingresso no mundo do trabalho, de dezesseis, para quatorze anos, como também se quer (PEC N. 18/2011), os filhos dos trabalhadores terão de trabalhar até cinquenta e um anos, para ter direito à aposentadoria.

Diz-se que a previdência social é deficitária; só que, convenientemente, não se diz o porquê, pois, isto desmoralizaria este argumento.

Mesmo com a desvinculação de vinte por cento das receitas da previdência social, pela chamada DRU; com a desoneração da folha de pagamento, que representa bilhões de reais a menos no financiamento da previdência social, a previdência urbana ainda é superavitária, ou seja, arrecada mais do que gasta.

A previdência rural é que deficitária, que não possui financiamento próprio, uma vez que os trabalhadores rurais, a rigor, para ela não contribuem, por falta de condições; e os proprietários rurais, por descarada sonegação, com a cumplicidade governamental.

Se se concretizar a razão de ser do imposto governo Temer, acima sintetizada, no campo dos direitos fundamentais sociais; há de se perguntar: após ela, haverá Estado Democrático de Direito- que, consonante preconiza o Art. 1º, da Constituição Federal, alicerça-se na cidadania (inciso II), na dignidade da pessoa humana (inciso III), nos valores sociais do trabalho (inciso IV)?

A resposta somente pode o desolador não.

Aqui, vale a sábia lição do escritor peruano, Manuel Scorza, em belíssimo livro “Redoble para Rancas”, traduzido livremente para o Português como “Bom dia para os defuntos”, que conta a história do massacre dos indios de Rancas, nas décadas de 1950 e 1960, contra a exploração e o crescimento do latifúndio, com a promoção e a cumplicidade do governo.

Para impedir o desmanche do Brasil, só há o caminho, já indicado por Voltaire, no já longínquo século 18: o clamor popular; ou seja, o povo em combate.

A hora é agora. Ao depois, será muito tarde.

Nada de novo e de decente pode ser esperado do governo Temer, pois isto inverte a sua essência e os seus vis propósitos.

Os Impactos do Golpe


A série de artigos "Os Impactos do Golpe", organizado pelo Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho (CES) reúne diversos textos sobre a conjuntura atual com o intuito de oferecer uma melhor compreensão para o momento vigente e suas consequências futuras.

*José Geraldo de Santana Oliveira é advogado em Goiás, assessor Jurídico da Fitrae MTMS, Contee, Fitrae-BC, do Sinpro-GO, Sintrae-MS e Sintrae-MT e professor de assuntos jurídicos do CES.


FONTE: http://www.vermelho.org.br/noticia/282331-1

Dilma não participou de operações do Plano Safra

Ex-secretários: Dilma não participou de operações do Plano Safra


Agência Senado
Ex-secretários do governo Dilma também disseram que o Banco Central não determinou prazos para pagamento ao Banco do Brasil, e portanto Dilma não pode ser acusada de atrasar tais repasses  Ex-secretários do governo Dilma também disseram que o Banco Central não determinou prazos para pagamento ao Banco do Brasil, e portanto Dilma não pode ser acusada de atrasar tais repasses 
Ex-secretários do governo Dilma, eles argumentaram que as portarias do Banco Central sobre a equalização de taxas de juros do programa não determinam prazos para pagamento ao Banco do Brasil, e portanto Dilma não pode ser acusada de atrasar tais repasses.

O Plano Safra tem taxas de juros menores para agricultores e a União tem a responsabilidade de fazer o pagamento da diferença entre as taxas de juros mais baixas concedidas aos agricultores e as taxas praticadas pelo mercado. A denúncia aprovada na Câmara dos Deputados para o impeachment trata como crime de responsabilidade atrasos no pagamento aos bancos dessas equalizações (diferenças) das taxas de juros.

O primeiro a ser ouvido foi o ex-secretário de Planejamento Estratégico do Ministério do Planejamento, Gilson Alceu Bittencourt, que afirmou não ter havido participação direta de Dilma Rousseff em qualquer ato das operações do Plano Safra.

“Não há participação efetiva e assinatura em nenhum ato ligado ao Plano Safra diretamente pela presidente. A lei não estabelece isso e nem mesmo as portarias”, garantiu.

Gilson Bittencourt alegou ainda que repasses do Plano Safra não configuram operação de crédito e sim prestação de serviço, não havendo, portanto, desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal.

Os defensores do impeachment tentaram justificar a acusação, dizendo que quando o governo não repassa o dinheiro, o Banco do Brasil acaba usando recursos próprios para bancar o programa, representando um empréstimo, o que é vedado por lei.

Bittencourt rechaçou o argumento, dizendo que “em momento algum, o que a União paga ao banco está diretamente relacionado ao que o produtor recebe. Ele recebe um recurso que vem do próprio banco, ou vem de outra fonte, como o Funcafé, por exemplo, e a participação da União é na diferença entre a taxa de juros, entre o que o produtor paga e o custo desse dinheiro”, explicou.

Prejuízo para economia


O segundo depoente, o ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, André Nassar, afirmou que a falta de recursos para as subvenções do Plano Safra teriam acarretado grandes prejuízos para a economia do país. E confirmou que as portarias do Ministério da Fazenda não estabeleceram prazos para que o Tesouro pagasse o Banco do Brasil.

Respondendo à senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Nassar disse que a questão de repasses de equalização de taxas de juros do Plano Safra estão fora do escopo de sua antiga secretaria e que a dúvida se esses atos seriam operações de crédito ou prestação de serviço não eram discutidos no Ministério da Agricultura.

Já à senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), Nassar disse que o Plano Safra foi bastante fortalecido pelo governo nos últimos anos e garantiu que não houve qualquer tipo de ruptura no programa nas últimas décadas que prejudicassem o andamento do programa de subvenções agrícolas.

O ex-secretário também respondeu que, se o governo não tivesse garantido os pagamentos para o Plano Safra, teria havido uma “crise de grandes proporções para o setor”.

Na interpretação de Humberto Costa, Nassar “confirmou que não há qualquer participação direta da presidenta na elaboração do decreto que trata da elaboração do Plano Safra”.

E Lindbergh voltou a afirmar que o processo de impeachment seria um “golpe contra a democracia” tramado por políticos que querem paralisar a Operação Lava Jato.

Agenda da semana


O ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho também deporia nesta terça-feira, mas a defesa de Dilma Rousseff pediu a troca por outra testemunha a ser definida.

Para apressar as oitivas de testemunhas, o presidente da comissão, senador Raimundo Lira (PMDB-PB), convocou sessões para todos os dias desta semana. A reunião da quarta-feira (15) começa às 11h. Na quinta (16) e na sexta (17), o início das atividades será às 10h.

Nesta quarta-feira vence o prazo para que os membros da Comissão de Impeachment, a acusação e a defesa apresentem ressalvas, caso as tenham, a respeito da junta técnica escolhida pela presidência para conduzir perícia sobre os documentos da denúncia do impeachment.


De Brasília, com Agência Senado 

Dâmocles e Jonas – leituras da crise através da mídia



   
Na primeira notícia, um ministro do STF intervém politicamente na praça pública como se fosse um cidadão comum, não evitando fazer uso do peso que a função em órgão supremo do Judiciário lhe outorga¹ . Intervindo na esfera política, mesmo quando a toga aconselharia reserva, torna-se assim parte do processo e objeto de análise também pela urgência que revela em marcar o terreno ideológico.

Noutra notícia, desta feita sobre Temer, é denunciada a pressão que sobre ele exerce Eduardo Cunha². Segundo o Jornal do Brasil, citando coluna do Estadão, Cunha ameaçava, ao cair, “levar junto outros 150 deputados federais, um senador e um ministro próximo ao correligionário” (seria caso para dizer que quem tem amigos assim não precisa de inimigos). A notícia tem a tinta ainda fresca, faltando confirmação da sua consistência. Cunha nega (segundo o Estadão, por meio da sua conta no Twitter), mas foi exatamente isso que o vimos fazer com Dilma, desencadeando o processo de impeachment assim que viu negado apoio do PT na comissão de ética do Parlamento. Dificilmente saberemos a verdade, mas é já significativo a grande mídia dar seguimento à informação; e talvez isso seja até mais relevante que a veracidade do relato.

Sobre a primeira notícia referida, do ministro do STF, ela vem na continuidade de várias outras anteriores, tipificando um comportamento no mínimo estranho (quando comparado ao de outras cortes judiciais do mesmo estatuto, a nível internacional). O STF é composto por 11 ministros. 10 deles raramente são vistos no espaço mediático a opinar sobre questões políticas (essa é, aliás, a conduta que se espera de juízes cientes do princípio constitucional da separação e independência dos poderes).

A presidente eleita (agora afastada) Dilma Rousseff comunicou publicamente a sua disponibilidade para a realização de eleições antecipadas, como a única forma de resolução democrática da crise política no Brasil. Trata-se de uma proposta que começa a afirmar-se em vários quadrantes e que atende a dois princípios fundamentais: de um diagnóstico da séria crise ética que atravessa a política brasileira, cada vez mais visível, onde o sentido de serviço público cedeu lugar ao clientelismo, e do reconhecimento de onde deve situar-se a fonte legitimadora do poder democrático: o voto popular.

Assim que a possibilidade surgiu no horizonte, apareceram logo vozes que se empenham no seu combate a nível ideológico. No dia seguinte ao da afirmação de Dilma pelas eleições antecipadas, vimos o ministro do STF Gilmar Mendes perorando em sentido oposto, que “eleição antecipada é mote político”.

Mendes empenha-se em contrariar a viabilidade desse projeto político, enumerando dificuldades: “a proposta teria de passar inicialmente pelo Congresso Nacional com três quintos dos votos para um emenda constitucional. Depois, teríamos de enfrentar uma discussão sobre a constitucionalidade da proposta, cuja realização é extremamente difícil".

A notícia acrescenta, por fim, um vaticínio: "quem não conseguiu um terço de votos para impedir o impeachment terá dificuldade de obter três quintos para aprovar uma emenda constitucional". O mesmo já dizia Mendes, 6 meses atrás no STF, sobre a impossibilidade de governar que a Presidente Dilma enfrentaria caso o impeachment não se consumasse. A sua preocupação política é notória, mas é sabido que não cabe ao poder judiciário garantir politicamente a governabilidade. Essa será competência partilhada apenas entre o legislativo e executivo.

O vaticínio considera apenas a dimensão formal da democracia representativa numa perspetiva estática. Faz por ignorar a dinâmica da sociedade, dos processos de formação e transformação das vontades coletivas, da luta de classes e dos movimentos sociais. É certo que a atual composição do Congresso, tanto da Câmara como do Senado, não suscita especial confiança numa resolução amplamente democrática.

Noutra notícia, também difundida pela mídia³ , diz-se: Mendes afirma que o “impeachment está a caminho de se concretizar”, e considera que “o processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff evidencia que "algum tipo de falha grave nós cometemos", em relação à fiscalização das instituições”.

Segundo o articulista, Mendes diz que “não tem a ver com política de esquerda ou de direita", e constata “que o Brasil se tornou uma república egoísta, corporativista”. De seguida, relata o articulista que “Mendes contou que conversou nesta semana com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) e ambos ficaram satisfeitos com o trabalho das instituições”, concluindo com a citação de uma curiosa opinião: "No passado, em crises dessa dimensão, começava-se a falar em nomes de generais. No momento, não conhecemos nomes de generais, mas de juízes".

Que ilação se pode retirar disto? Que os juízes se devem sentir satisfeitos na condição de substitutos de generais, onde o poder judiciário substitua o militar, numa crise que abala a cúpula das estruturas do poder político? O atual processo de impeachment configura cada vez mais isso: uma tomada do poder apoiado, não na força da farda militar, mas na da toga. Mas isso não garante a eliminação das causas da crise, nem da corrupção que grassa no sistema político.

Diz Mendes que “a realidade fiscal não aceita desaforos, brincadeiras com essas questões resultam no estado que hoje nos encontramos. Se formos adotar uma ideologia, que seja a da estabilidade financeira”. Assim, numa penada, imiscuindo-se em processo que se encontra em fase de julgamento na mais alta instância, o magistrado dá antecipadamente por provada a acusação sem sequer ouvir a defesa, pretendendo ignorar que, estando o impeachment a meio caminho, competirá ao Senado, sob a presidência de Ricardo Lewandowski, julgar do sentido em que se fará a sua resolução.

Na sua intervenção política, Mendes acaba por desqualificar o papel de instituições do Estado (no caso, do Senado). Enfatiza a constatação de que os votos necessários para derrotar o impeachment são insuficientes para governar. Logo, o governo de Dilma estaria politicamente condenado à partida. Seguindo essa lógica, o próprio julgamento e o desempenho do Senado no rito do empeachment seriam reduzidos a mero formalismo e desperdício de tempo (vemos como se instalou a pressa no processo).

O linguajar é também indiciador do sentido que impregna o discurso político de Mendes: a sua ideologia é financista – da estabilidade a qualquer custo, dentro dos parâmetros da alta finança – e de autoritarismo (fala de uma realidade que diz não aceitar “desaforos” – quereria talvez dizer, “contradições”?).

E a satisfação que, segundo a notícia, terá sido manifesta por Mendes e FHC em relação ao trabalho das instituições? Ficaram satisfeitos com o nível de desempenho institucional revelado pela Câmara no passado dia 17 de Abril? Ficam satisfeitos por ver a cúpula do Senado debaixo da espada de Dâmocles, com inquéritos em curso no STF e pedidos de prisão (que só não foram atendidos porque os ilustres senadores não foram apanhados em flagrante)? Ou será que terão a satisfação de ver Cunha, tal qual Jonas, colocar em risco o próprio governo interino de Michel Temer?

A situação, os papéis desempenhados e os objetivos mais fundos, clarificam-se pouco a pouco. Muitas questões com uma única certeza: a cada dia que passa, opor-se ao impeachment, opor-se ao golpe, não é apenas uma questão política: é questão de dignidade.

*Alexandre Weffort, residente em Portugal, é professor, mestre em Ciência das Religiões e doutorando em Comunicação e Cultura.

Notas

1-http://portugaldigital.com.br/politica/ver/20103622-gilmar-mendes-diz-que-eleicao-presidencial-antecipada-e-qmote-politicoq-de-dilma

2-http://www.jb.com.br/pais/noticias/2016/06/13/eduardo-cunha-avisa-a-michel-temer-que-se-cair-leva-deputados-e-aliados/

3- http://www.valor.com.br/politica/4596367/gilmar-mendes-impeachment-esta-caminho-de-se-concretizar


FONTE :  http://www.vermelho.org.br/noticia/282328-1

sábado, 14 de maio de 2016

A hora da resistência

Daniel Almeida: A hora da resistência 


   
O retrato do governo ilegítimo de Temer revela ainda mais os motivos que levaram o vice-presidente da República a patrocinar a interrupção democrática, promovendo, na prática, uma eleição indireta para o Palácio do Planalto. Sem tradição de diálogo com os movimentos sociais democráticos, a equipe do peemedebista terá a missão de implantar na marra um projeto político neoliberal, derrotado nas urnas em 2014.

O avanço do golpe no país só foi possível graças ao empenho de setores do Judiciário, do Ministério Público, da oposição e da mídia. Se não fossem as artimanhas espúrias do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o processo não teria chegado ao Senado. O afastamento da presidenta honesta não teria ocorrido nesta semana. Não existe crime de responsabilidade que o justifique.

Fica claro que a elite brasileira usou Cunha para derrubar Dilma e viabilizar seus interesses. É certo que haverá prejuízos graves para os brasileiros mais pobres. O discurso de que programas sociais - Bolsa Família, Prouni e Minha Casa, Minha Vida – serão “aprimorados” significa que sofrerão um enxugamento profundo. O próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem dito que o corte de despesas públicas será o foco da gestão.

A grande vítima, entretanto, deve ser o trabalhador que enfrentará retrocessos e ameaças a direitos duramente conquistados. Uma das primeiras medidas estruturais que deve ser anunciada pelo governo golpista é propor aposentadoria com idade mínima de 65 anos para homens e de 60 anos para mulheres. Vale lembrar que, em alguns estados, o cidadão terá de trabalhar até a morte, sem ter a oportunidade de desfrutar do merecido descanso, tendo em vista a baixa expectativa de vida das pessoas.

Com a perspectiva de tempos sombrios, é fundamental que todos se mantenham em vigília permanente nas ruas para lutar contra tentativas de redução de direitos sociais e trabalhistas. É hora de resistir! Perdemos uma batalha esta semana no Senado, mas a grande luta está apenas começando. Grandes desafios virão.


*É deputado federal pelo PCdoB da Bahia e líder do Partido na Câmara dos Deputados. 

Imprensa internacional critica governo golpista de Temer

Imprensa internacional critica governo golpista de Temer 


 A mídia internacional criticou o ministério formado por Temer, composto de homens brancos e envolvidos em crimes de corrupção.  A mídia internacional criticou o ministério formado por Temer, composto de homens brancos e envolvidos em crimes de corrupção.
Segundo a revista, os congressistas, por não estarem interessados em cortes de gastos e aumentos de impostos, podem "resistir ao aperto de cinto necessário, especialmente (tendo em vista) a corrida para importantes eleições locais de outubro". A publicação lembrou que Temer é acusado pelos apoiadores de Dilma Rousseff de ser um usurpador do poder.

De acordo com a revista, Temer "carece de legitimidade eleitoral para (executar) as reformas estruturais radicais, como as pensões generosas, as leis trabalhistas rígidas, os impostos bizantinos" e o sistema eleitoral. "É o caso de, se e quando, ele terá em mãos as chaves do (Palácio) da Alvorada", destacou The Economist.

O jornal norte-americano Los Angeles Times afirmou que o novo governo terá de superar as "acusações de que tomou o poder ilegitimamente e, ao mesmo tempo, enfrentar a pior recessão do Brasil em décadas".

No noticiário e no site, a rede de televisão CNN informou que a presidenta afastada Dilma Rousseff terá, depois da aprovação do início do processo de impeachment, "os próximos 180 dias para enfrentar as acusações de que contrariou as leis orçamentárias, (enquanto) Temer tem a tarefa imensamente difícil de conquistar a confiança dos brasileiros".

Críticas ao ministério

O jornal canadense The Globe and Mail, depois de enumerar as medidas anunciadas pelo presidente interino Michel Temer para ajustar a economia e atrair investimentos, acrescentou que a Operação Lava Jato atinge sete dos 24 ministros anunciados pela administração que substituiu Dilma Rousseff.

Em sua edição norte-americana, o jornal britânico The Guardian disse que Michel Temer prometeu restaurar a confiança na maior economia da América Latina, mas para realizar a tarefa nomeou um ministério "visivelmente branco" em uma das nações "mais etnicamente diversas do mundo".

Na matéria principal da seção internacional, o New York Times publicou que a primeira escolha de Temer para ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação era um criacionista (que se opõe à teoria de evolução das espécies) e que ele próprio (Temer) é o primeiro líder brasileiro em décadas que não incluiu mulheres em seu gabinete.

Para a revista norte-americana Time, o escândalo que atingiu a Petrobras revelou a corrupção profunda de todo o setor político brasileiro e que "Temer foi implicado por testemunhas no escândalo, mas ele não foi acusado", informou a revista. A Time lembrou que "vários membros do gabinete de Temer foram atingidos, entre outras, com acusações de corrupção". 


 De Brasília, com Agência Brasil

FONTE : http://www.vermelho.org.br/noticia/280894-1

LEMBRANDO : Vitória do golpe no Senado inicia governo ilegítimo e impostor

Vitória do golpe no Senado inicia governo ilegítimo e impostor

   Com todo apoio do Ministro Gilmar Mendes

 

A votação que terminou na madrugada desta quinta-feira (12) no Senado, foi mais um passo na pantomina golpista que ocorre no Brasil. Por 55 votos contra 22, o golpe perpetrado contra a democracia e a Constituição colocou entre parênteses os 54,5 milhões de votos dados a Dilma Rousseff em 2014. E suspendeu o mandato legítimo da presidenta que agora vai responder ao processo instalado naquela casa legislativa.
 
A votação no Senado dá origem ao mandato interino e ilegítimo de um usurpador, o vice-presidente da República Michel Temer, que conduzirá um governo para o qual não recebeu um único voto popular, mas apenas os votos de 367 deputados federais e 55 senadores que aceitaram a admissibilidade do processo de impeachment da presidenta legitimamente eleita.
 
A ilegitimidade do ocupante do mais alto cargo da nação aponta para uma nova etapa da resistência contra o golpe da direita neoliberal. A oposição manterá as duas faces fundamentais do movimento democrático que ocorre desde o acatamento do pedido de impeachment pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados, o notório punguista Eduardo Cunha. 
 
Estas dimensões são formadas pela mobilização popular, que deverá crescer, e a ação institucional, que se acentuará. Agora com o objetivo de derrotar o golpe ao longo do processo, que poderá durar até 180 dias. Derrotar o golpe principalmente no julgamento que será feito pelo Senado, conduzido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski.
 
Julgamento aliás prenhe de dificuldades para a direita golpista, que precisará demonstrar objetivamente a existência de crime de responsabilidade que a presidenta Dilma Rousseff tenha cometido. Como provar um crime que não existe? O julgamento traz essa dificuldade para a direita – não há crime! 
 
Esta conjectura frágil gera um governo Michel Temer fraco e combalido, que não encontrará solução para a profunda crise criada pela direita que negou no parlamento votos para iniciativas fundamentais promovidas por Dilma Rousseff. 
 
Foram essa negação do voto e as chamadas “pautas bomba” que ajudaram a cimentara o caminho do golpe. 
 
A ilegitimidade de um governo Temer vai enfrentar a oposição organizada dos trabalhadores, dos movimentos sociais, dos democratas e progressistas de todo o país. 
 
A normalidade democrática poderá ser recuperada apenas pela derrota do golpe e pelo restabelecimento do governo Dilma Rousseff, com o reforço de sua base social. Ou pela consulta à única fonte da soberania e poder na República – a vontade do eleitor, a única capaz de deslindar a dúvida sobre a legitimidade do governante. O povo deve ser chamado a falar através de um plebiscito onde poderá manifestar sua vontade sobre os rumos do Brasil.

Uruguai não reconhece governo Temer - GOLPISTA

247 - O ministro das Relações Exteriores e chanceler do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, se posicionou mais uma vez contra o impeachment de Dilma Rousseff, e disse neste sábado que seu país não tem intenções de reconhecer Michel Temer (PMDB) como presidente do Brasil.
"O Uruguai se manifestou politicamente, já disse o que tinha que dizer. Com certeza estamos muito preocupados com esta situação e esperamos que tudo ocorra dentro dos parâmetros constitucionais e institucionais. A posição do nosso governo está clara, pois nós já nos posicionamos a respeito disso", disse Nin Novoa em entrevista a jornalistas na quinta-feira (12), data do primeiro dia de mandato do presidente em exercício.

Questionado se irá entrar em contato com Temer ou com alguém de seu gabinete, o chanceler foi direto: "Não [haverá nenhum tipo de comunicação]. Já dissemos o que deveríamos ter dito, de maneira que não temos mais nada a agregar."
O vizinho do sul não é o único país que não reconhece a legitimidade do peemedebista como chefe de Estado brasileiro. Já a Ministra das Relações Exteriores da Rússia, María Zajárova, afirmou que "é inaceitável a interferência externa na atual situação política do Brasil" e que Moscou espera um país "estável e democrático".
De acordo com o portal da TeleSur, o governo do Chile também manifestou sua preocupação com as circunstâncias em que Dilma foi afastada. "Nos preocupamos com a nossa nação irmã, que tem gerado incerteza em nível internacional", alegou institucionalmente em comunicado.
Ainda no Chile, o Partido Comunista local se posicionou contra "a violação do Estado Democrático de Direito", em referência ao impeachment. Outras legendas e órgãos, como o Die Linke, da Alemanha, e o PSUV, da Venezuela, bem como a Unasur (União das Nações Sul-Americanas), também criticaram duramente o processo.
LEIA MAIS NA FONTE ORIGINAL : http://www.brasil247.com/pt/247/mundo/232220/Uruguai-n%C3%A3o-reconhece-governo-Temer.htm

Golpe contra DILMA desmoraliza o Brasil diante do mundo

247 – A imagem do Brasil no mundo vive hoje seu ponto mais baixo em muitas décadas. O Brasil não é mais o país que eliminou drasticamente a pobreza e se consolidava como uma das democracias mais sólidas do mundo, elegendo um presidente operário e, em seguida, a primeira mulher para o comando da República.
Agora, o Brasil é, aos olhos do mundo, uma república bananeira, onde um Congresso corrupto, liderado por um presidente afastado, com milhões escondidos na Suíça, se uniu para afastar uma presidente honesta.
Esse é o tom dos editoriais dos principais jornais do mundo. A reação ao golpe parlamentar no Brasil foi praticamente consensual – e negativa.

Na Alemanha, a reação foi unânime. O Die Zeit agora classifica o Brasil como um país de "democracia fraca", o que representa uma ameaça para a realização dos Jogos Olímpicos de 2016.
Para o espanhol, a presidente Dilma Rousseff foi afastada "sem provas". O francês Le Monde destacou o caráter misógino da equipe do presidente interino Michel Temer, com seu ministério sem mulheres, composto apenas por homens velhos e ricos.
Segundo o britânico The Guardian, o sistema político corrupto do Brasil é que deveria ser julgado – e não a presidente honesta.
Para o New York Times, a pena imposta a Dilma foi desproporcional. Já o britânico Financial Times elogiou a equipe econômica, liderada por Henrique Meirelles.
Com isolamento no mundo, Temer conta com a boa vontade das empresas familiares de mídia no Brasil.

Ivan Martins: com Temer, Brasil retrocedeu 31 anos em um dia

Felizes com Temer, queridos?
As pessoas que foram às ruas depor Dilma ganharam um governo com cara de 1985, espírito de 1964 e ideário do século 19
Em um dia, retrocedemos 31 anos. De repente, estávamos novamente na posse de José Sarney, mas sem Ulisses Guimarães para freá-lo. Livre para ser o que é, Michel Temer cercou-se rapidamente do que há de pior na política brasileira. A turma do boi, a turma da Bíblia, a turma da bala. Na cena da posse, que parecia um quadro falsificado de Rembrandt, a modernidade ficou de fora. Em vez de jovens, negros, mulheres e grupos homossexuais, ouviu-se o apelo positivista por
 Ordem e Progresso.
O discurso de Temer deve ter enchido de ânimo os corações que depositaram na derrubada de Dilma a esperança de ter no Brasil um “bom governo”. O interino prometeu reconciliar, privatizar, seguir com a Lava Jato e melhorar os programas sociais. Falou em reformar a Previdência e garantir direitos. Soou razoável, equânime, equilibrado. Teve palavras deferentes até para a presidente Dilma, a quem traiu da forma mais abjeta. Um ancião engasgado cavalgando mesóclises.
Com ministros Michel Temer faz seu primeiro discurso como presidente interino - Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil
Com ministros Michel Temer faz seu primeiro discurso como presidente interino – Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil
Apenas que as suas palavras não têm relação com a realidade do governo. Se a Lava Jato seguir implacável, pode levar ao Supremo vários ministros de Temer – alguns muito próximos a ele e muito citados em Curitiba, como Romero Jucá e Geddel Vieira. A presença desses velhos praticantes no primeiro escalão do temerato sugere que a retidão não será prioridade de governo.
A promessa de cuidar de Saúde, Educação e Segurança como “competências naturais” do Estado (o resto talvez possa ser privatizado) nasce estragada pela figura dos novos ministros.
Alexandre de Moraes, da Justiça, dirigiu em São Paulo, com apoio de Geraldo Alckmin, uma polícia que mata jovens negros da periferia de forma sistemática e que reprime adolescentes com violência, mas não consegue deter o avanço do crime organizado, talvez o problema mais grave do Brasil. Em 2015, o jornal O Estado de S.Paulo revelou que Moraes atuou como advogado de uma cooperativa de transporte investigada como braço econômico do PCC. Sabe-se que em 2014 ele advogou por Eduardo Cunha num processo de falsificação de documentos. Um homem complicado.
O novo ministro da Educação e Cultura, Mendonça Filho, não tem formação ou experiência em nenhuma das duas áreas. Seu vínculo mais conhecido com a educação foi criado pela tentativa de seu partido, o DEM, de derrubar a política de cotas no Supremo Tribunal Federal. O novo ministro diz agora que é a favor das “cotas sociais”. Ainda parece inconformado com as cotas raciais, que nos últimos três anos levaram 150 mil jovens negros à universidade, pela primeira vez na história do Brasil.
Ricardo Barros, que ficou com a Saúde, é um engenheiro que se notabilizou na política por duas façanhas. Quando secretário de governo no Paraná, foi pego num telefonema esquisito em que parecia orientar um subordinado a ajeitar uma licitação. Afastou-se da função. Como deputado federal, propôs um corte de R$ 10 bilhões no Bolsa Família, para ajustar o orçamento da União. Enorme sensibilidade social. Sua primeira entrevista no cargo foi para dizer que vai rever o Mais Médicos, programa criado por Dilma que pôs 18 mil profissionais de saúde nos vilarejos do Brasil profundo e na periferia das grandes cidades. Para que, né?
Parece óbvio que Temer vai governar com e para os deputados reacionários que o “elegeram” na votação do impeachment. Isso significa o governo mais conservador, mais à direita e mais antipopular instalado no Brasil desde 1964. Mas não só.
Significa, também, que o Estado brasileiro estará sujeito a uma guerra de interesses paroquiais constante e implacável, incompatível com a condução do governo. Quem achava que Dilma havia leiloado sua administração ainda não viu a quimera que Temer tem a oferecer como governabilidade.
Sem votos, sem legitimidade, inteiramente refém da mídia, do mercado e do baixo clero parlamentar, o interino governará como suplicante, entregando e recebendo favores todos os dias do seu indesejado interregno.
Se desse arranjo insustentável resultar uma administração estável, o Brasil terá se convertido em caso único – um país que no século 21 concordou pacificamente em ser arrastado de volta ao século 19, quando as massas não tinham voto, voz ou direitos, e viviam vidas miseráveis em prol dos 20% no topo da pirâmide. Felizes, queridos?
LEIA MAIS NA FONTE _ http://www.brasil247.com/pt/247/cultura/232236/Ivan-Martins-com-Temer-Brasil-retrocedeu-31-anos-em-um-dia.htm

Momento politico : Tudo a Temer no Brasil


O vice-presidente Michel Temer (PMDB). AFP

Tudo a Temer no Brasil

O Brasil mantém seu histórico de rupturas democráticas a todo custo. Dias temerários virão

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O Brasil desconhece o Brasil, uma certa Buenos Aires tampouco sabe o que se passa na periferia da capital argentina, aqui tiro uma buena onda com o amigo Washington Cucurto, meu escritor portenho contemporâneo predileto, mais para a cumbia do que para o tango, mais para a linguagem da rua e de los perros callejeros, digo, os vira-latas, do que para os cães de madame.
O cara, em termos de linguagem, está mais para as doideiras do Maradona e do Carlito Tévez do que para as estatísticas vitoriosas do Messi. Um portenho de uma Buenos Aires periférica, longe da velha ideia europeia que compramos como fetiche borgiano e metalinguístico de los hermanos.
Encontrei com o Cucurto, ainda nesse longo dia que narraremos adiante, vestido em uma camiseta vintage do Sport Club do Recife, no café da manhã —no seu país ele é torcedor do Independiente— e logo o comuniquei que o seu novo time em Pernambuco perdera na noite anterior para o Santa Cruz. Uma moça bonita, conhecedora da sua obra, me confessou: “Culpa minha, sou rubro-negra mais que tudo nessa vida”.
Cucurto, autor do genial Cosa de negros , entre outros livros, esteve aqui com a gente para participar do Clisertão, um congresso literário que acontece anualmente em Petrolina. Fez uma mesa de bate-papo genial com o escritor Marcelino Freire, mediada pela professora de literatura Paula Santana, sobre o lugar da fala, o batismo das coisas e travessias culturais.

É golpe ou não é?

No que agora indagamos, todo mundo junto, com o auxílio genial de outro nordestino que se achega, falo do paraibano Bráulio Tavares (Campina Grande), um cara que consegue nos contar de tudo nesta noite. Das suas traduções do romance noir de Raymond Chandler —meu autor predileto— aos enredos dos cordéis clássicos e às parcerias com Lenine, nosso amigo comum de comunismos d'antanho.
Pelos meus 30 e tantos anos de jornalismo e de traumas históricos, chamo declaradamente de golpe
Agorinha mesmo na beira do São Francisco, o grande rio da unidade nacional brasileira, tomando uma cerva depois de atravessar de Petrolina a Juazeiro, a grande dúvida é uma só: como nomear o que está acontecendo no país. Pelos meus 30 e tantos anos de jornalismo e de traumas históricos, chamo declaradamente de golpe. Que me desculpem, quem sabe não passo de um paranoico benjaminiano.
Não consigo encontrar os atenuantes semânticos, tampouco eufemismos que justifiquem alguma ideia de processo democrático. A maioria dos amigos me acompanham neste batismo de fogo; outros, educadamente, mesmo trabalhando em fábricas de salsicha, dizem que não é bem assim etc.
Creio, e nisso não vejo nenhuma lenda do Curupira, que a ordem democrática foi quebrada pelo tripé tendencioso constituído, sem se ligar na Constituição, por:
1) Avexamentos de juízes de primeiras instâncias e pela demora exagerada dos ministros das instâncias derradeiras, vulgo STF...
Jamais esquecerei o dia em que um repórter entrou de Curitiba, meio sem saber o que tinha de fato nas mãos, para ler o relatório de um grampo fornecido pelo juiz Moro sobre uma conversa de Lula/Dilma. O grampo ao vivo. O grampo sessão da tarde. O primeiro grampo ao vivo da história da TV brasileira. No justo momento em que havia um certo esmorecimento da direitona... Falo do ritmo do noticiário bipolar que temos vivido.
2) Repare no relato de uma mídia que deixou tudo límpido nos seus editoriais clamorosos e repletos de mesóclises... E, óbvio ululante, pelo Cunha delinquente-mor da Câmara, o grifo é do procurador-geral da República, que comandou todo circo de horrores.
As mesóclises, como todo beletrismo —marca das cartas e poemas do próprio Temer— denunciam, amigo Lacan, a repetição da linguagem golpista. Dar-te-ei... Os editoriais e o vice que versa falavam a mesma língua e tramavam a mesma redundante trama. Só a linguagem denuncia e escancara os sentidos. Lacan vale por mil Janôs ou esperas dos Godôs do STF que deixaram o impeachment chegar antes de qualquer crime de responsabilidade da presidenta. Isso é um escândalo? Nada. É apenas o óbvio ignorado.
3) A mídia dos grandes veículos brasileiros chegou tão longe na sua narrativa de tirar Dilma, mulher, do seu posto, que não pode mais voltar atrás. Todo mundo avançou muitas casas, negociatas foram feitas, os patinhos quem-quéns da Fiesp, nada bossa nova, se instalaram de vez na paisagem, o golpe foi dado como consumado. O Brasil mantém seu histórico de rupturas democráticas a todo custo. Dias temerários virão.
Xico Sá, escritor e jornalista, é autor de “Os Machões dançaram –crônicas de amor & sexo em tempos de homens vacilões” (editora Record), entre outros livros. Na tv, é comentarista do “Papo de Segunda” (canal GNT).

quinta-feira, 28 de abril de 2016

O Calvário das Viúvas foi "a limpeza" das mulheres do território pós guerra.









Que insulto á condição humana é esse!?
Tratar mulheres como na época sombria do nazismo???
Infelizmente como cidadão belga, sei que na Segunda guerra, Tudo isso aconteceu
E não quero que aconteça com mulheres de ideologia  diferente, como deseja  Bolsonaro 

 "O deputado Jair Bolsonaro recentemente declarou em uma entrevista que as mulheres que se consideram feministas mereciam O Calvário das Viúvas. !!!!!!

Como pouco se sabe sobre a Épuration Légale, a afirmação dele foi esquecida.
O Calvário das Viúvas foi "a limpeza" das mulheres do território pós guerra. 

Quando os soldados nazistas invadiam as cidades europeias, estupravam mulheres e as mantinham sob ameaças. Mulheres viúvas ou que os maridos tinham partido para a guerra, eram submetidas a todo o tipo de "trabalho" e abusos para os soldados alemães. Após a liberação dos territórios ocupados pelos alemães dos países europeus, milhares de mulheres que tinham esse tipo de relacionamento (trabalho e abusos sexuais) com os soldados alemães eram retiradas de suas casas para serem expostas em praças públicas pelas mãos dos homens da família tradicional da cidade.

Era como a caça bruxa das impuras, se houvesse um indício qualquer, a mulher tinha sua cabeça raspada e era exposta em público como desgraça da nação. Muitas vezes só raspar a cabeça não bastava, eram despidas, abusadas, desenhavam a suástica nos seus rostos, ou queimavam a marca com ferro em brasa na testa.

Elas ficavam conhecidas como "nacionalmente indignas" e além da humilhação pública, sofriam penas de seis meses a um ano de prisão, seguida da perda total de direitos civis por mais um ano, quando ainda eram violentadas e insultadas nas ruas. Muitas não suportaram a vergonha daquela situação e sucumbiram cometendo suicídio. Há um registro não oficial na França de que mais de 300.000  suicidaram na época.

Seus filhos foram usados indiscriminadamente para testar medicamentos não aprovados. Somente em 2005, o parlamento norueguês publicou um pedido formal de desculpas a essas vítimas inocentes e aprovou a compensação para as experiências no valor de 3 milhões de euros.

É isso que um homem que defende a moral e os bons costumes da família tradicional brasileira quer que aconteça com mulheres que decidem ter uma ideologia. É isso que defende um homem que prega a justiça com as próprias mãos, como faziam com o Calvário das Viúvas - uma população despejando ódio nos seres humanos, como sempre, mais vulneráveis: As mulheres. Jair Bolsonaro não é novo, ele é só uma reprodução dos mesmos homens de antes, do que sempre aconteceu. Uma repetição de um passado que lutamos tanto progredir, que nos indignamos quando abrimos um livro de história.

Será que ainda somos os mesmos inquisidores do Calvário das Viúvas? Será que ainda não evoluímos ao ponto de proporcionar direitos humanos outros? Ao ver que ele é eleito deputado com o maior número de votos do estado do Rio de Janeiro, acredito que não mudamos, só disfarçamos nossa inquisição interna com a hipocrisia de "cidadãos que querem a democracia"

Autor Anônimo do texto acima 
PS_ Há controvérsias sobre a citação do Deputado no site do E-Farsas.