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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O papa Francisco revisa a teologia do inferno -Vale o arrependimento

A Igreja oficial defende desde o século XV que o castigo do inferno destinado aos pecadores é “eterno”, ideia iniciada no século VI com Santo Agostinho. O papa Francisco acaba de revisar tal doutrina católica ao afirmar que a Igreja “não condena para sempre”.
Sem necessidade de grandes encíclicas, com suas falas habituais, Francisco está realizando uma revisão da Igreja para aproximá-la de suas raízes históricas.

Deu o último golpe de graça em um momento um pouco mais solene do que suas conversas habituais com os jornalistas. Dessa vez aproveitou, dias atrás, seu discurso aos novos cardeais para recordar-lhes que o castigo do inferno com o qual a Igreja atormenta os fiéis não é “eterno”.


Segundo Francisco, no DNA da Igreja de Cristo, não existe um castigo para sempre, sem retorno, inapelável.
O Papa jesuíta é formado em teologia, ainda que não tenha feito o doutorado. Dele, talvez hoje o papa renunciante e doutor em teologia, Bento XVI, possa dizer o que afirmava sobre seu antecessor, o papa polonês João Paulo II: que sabe pouca teologia.
Durante um jantar informal em Roma, na casa de um jornalista alemão seu amigo, Ratzinger confessou, efetivamente, aos poucos comensais presentes, que o papa Wojtyla “era mais poeta que teólogo” e que ele, como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cargo que ocupava na época, precisava revisar seus discursos e documentos papais para que não escapasse “alguma imprecisão teológica”.
Francisco é, entretanto, um fiel seguidor da teologia inspirada no cristianismo original, que era, afirma ele, não o da “exclusão”, mas o da “acolhida” de todos, até mesmo dos maiores pecadores. É inspirado por aquele cristianismo antes que a teologia liberal do profeta Jesus de Nazaré fosse contaminada pela severa teologia aristotélica e racional.
Não foi um lapso a afirmação de Francisco aos cardeais de que a Igreja “não condena ninguém para sempre”, o que equivale a dizer que o castigo de Deus não é “eterno”, já que as portas da Igreja da misericórdia e do perdão estão sempre abertas ao pecador.
O Papa que está exigindo aos seus, começando pelos cardeais, a ir ao encontro daqueles que o mundo esquece e marginaliza, ao invés de perder seu tempo nos palácios do poder, sabe que essa doutrina teológica sobre a eternidade e irreversibilidade das penas do inferno, foi sofrendo mudanças ao longo da História da Igreja.
Até o século III a Igreja nunca defendeu a doutrina da eternidade do inferno. Pelo contrário, o exegeta das Escrituras, Orígenes (250) defendeu a doutrina da apocatástase, segundo a qual o Deus dos Evangelho perdoa sempre. Orígenes baseava-se na parábola do Filho pródigo que volta aos braços do pai e é recebido com tanta festa que causa a inveja do irmão bom e fiel.
Somente no século VI começa a aparecer o conceito de “condenação eterna”, sobretudo com Santo Agostinho, o mesmo que defendia que as crianças mortas sem batismo deveriam ir para o inferno. Diante dos protestos das mães dessas crianças, a Igreja criou a doutrina do Limbo, um lugar onde essas crianças “não gozam nem sofrem”, algo completamente estranho aos Evangelhos
Em nossos dias, o falecido papa polaco, João Paulo II, no Catecismo da Igreja Universal nascido das discussões do Concílio Vaticano II, aboliu o Limbo. De acordo com comentários de amigos pessoais do papa, Wojtyla nunca aceitou que uma irmã sua nascida morta e que não pôde ser batizada, pudesse não estar no céu por ter morrido antes de ser libertada do pecado original com o batismo.
A família do futuro Papa era muito católica e, fiel àquela doutrina, nem sequer enterraram o corpo da pequena por não ter podido receber o batismo. Ele mesmo confirmou quando ao falar do túmulo no qual gostaria de juntar os restos de toda sua família, frisou que faltava somente sua irmãzinha, “pois havia nascido morta”. Foi jogada no lixo.
Foi o Concílio de Florença no século XV que rubricou definitivamente a doutrina de Santo Agostinho de um castigo e um inferno eterno. Já no século V, entretanto, São Jerônimo estava convencido de que a doutrina do inferno com a misericórdia de Deus não era conciliável. De todo modo, pedia-se aos sacerdotes e bispos que continuassem defendendo a doutrina tradicional “para que os fiéis, por temor ao castigo do inferno eterno, não pecassem”.
Hoje, o papa Francisco deu um salto de séculos, colocou-se ao lado das primeiras comunidades cristãs ainda embebidas da doutrina do misericordioso profeta de Nazaré, que veio “para salva e não para condenar”.
Os primeiros cristãos sabiam que Jesus havia sido duro e severo com a hipocrisia e com o poder tirano, enquanto abraçava os marginalizados pela sociedade bem como os que a Igreja oficial de seu tempo tachava de pecadores.
Podem parecer minúcias teológicas para os não religiosos, mas são muito importantes para milhões de cristãos que durante séculos sofreram oprimidos pela doutrina de um Deus tirano, sedento de castigo e de castigo eterno.
Lembro que no final dos anos 60, após escrever no jornal espanholPueblo um artigo intitulado “O Deus no qual não acredito”, em que defendia que os cristãos precisavam escolher entre Deus e o inferno eterno, já que ambos eram conceitos inconciliáveis, sofri um duro interrogatório do então arcebispo de Madri, Monsenhor Casimiro Morcillo, que me acusou de “ter escandalizado os fiéis”.
Aqui no Brasil, o teólogo da libertação, Leonardo Boff, me contou que há 16 anos o grande escritor e poeta de Pernambuco João Cabral de Mello Neto estava para morrer e, apesar de não ser religioso, estava angustiado naquele momento pela doutrina sobre o medo do inferno, que lhe haviam inculcado na infância. Foi chamado para o tranquilizar. Boff, que foi condenado ao silêncio pelo papa Bento XVI quando este era Prefeito da Congregação da Fé, usou com o escritor as mesmas palavras que agora o papa Francisco usa para assegurar que Deus não condena ninguém para sempre.
Boff disse com humor ao poeta que alguém capaz de escrever a joia literária, social e humana Morte e Vida Severina, merecia indulgência plena na hora de se despedir da vida.
A mudança é copernicana. Hoje é um papa como Francisco que afirma com total naturalidade que o Deus cristão “não condena ninguém para sempre”, que é como dizer que não existem infernos eternos, uma afirmação que há pouco tempo atrás poderia ter servido para abrir um processo contra um teólogo e condená-lo ao ostracismo.

FONTE : http://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/20/politica/1424448314_104080.html

Intelectuais,como Leonardo Boff e Maria da Conceição Tavares,denunciam golpe contra Petrobras

Intelectuais denunciam golpe contra Petrobras em manifesto 

Documento assinado por nomes de peso do país, como Fabio Konder Comparato, Marilena Chauí, Cândido Mendes, Celso Amorim, João Pedro Stédile, Leonardo Boff, Luiz Pinguelli Rosa e Maria da Conceição Tavares, alerta para a tentativa de destruição da Petrobras e de seus fornecedores. Eles propõem um pacto pela democracia, e denunciam a intenção de mudança do modelo que rege a exploração de petróleo no Brasil. 


O manifesto diz que "os interesses dominantes" estimulam o desgaste do Governo legitimamente eleito, com vista a abreviar o seu mandato.O manifesto diz que "os interesses dominantes" estimulam o desgaste do Governo legitimamente eleito, com vista a abreviar o seu mandato.
"Com efeito, há uma campanha para esvaziar a Petrobras, a única das grandes empresas de petróleo a ter reservas e produção continuamente aumentadas", diz o texto. "Debilitada a Petrobras, âncora do nosso desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, serão dizimadas empresas aqui instaladas, responsáveis por mais de 500.000 empregos qualificados, remetendo-nos uma vez mais a uma condição subalterna e colonial." 

Confira o manifesto, na íntegra:

O QUE ESTÁ EM JOGO AGORA

A chamada Operação Lava Jato, a partir da apuração de malfeitos na Petrobras, desencadeou um processo político que coloca em risco conquistas da nossa soberania e a própria democracia.

Com efeito, há uma campanha para esvaziar a Petrobras, a única das grandes empresas de petróleo a ter reservas e produção continuamente aumentadas. Além disso, vem a proposta de entregar o pré-sal às empresas estrangeiras, restabelecendo o regime de concessão, alterado pelo atual regime de partilha, que dá à Petrobras o monopólio do conhecimento da exploração e produção de petróleo em águas ultraprofundas. Essa situação tem lhe valido a conquista dos principais prêmios em congressos internacionais.

Está à vista de todos a voracidade com que interesses geopolíticos dominantes buscam o controle do petróleo no mundo, inclusive através de intervenções militares. Entre nós, esses interesses parecem encontrar eco em uma certa mídia a eles subserviente e em parlamentares com eles alinhados.

Debilitada a Petrobras, âncora do nosso desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, serão dizimadas empresas aqui instaladas, responsáveis por mais de 500.000 empregos qualificados, remetendo-nos uma vez mais a uma condição subalterna e colonial.

Por outro lado, esses mesmos setores estimulam o desgaste do Governo legitimamente eleito, com vista a abreviar o seu mandato. Para tanto, não hesitam em atropelar o Estado de Direito democrático, ao usarem, com estardalhaço, informações parciais e preliminares do Judiciário, da Polícia Federal, do Ministério Público e da própria mídia, na busca de uma comoção nacional que lhes permita alcançar seus objetivos, antinacionais e antidemocráticos.

O Brasil viveu, em 1964, uma experiência da mesma natureza. Custou-nos um longo período de trevas e de arbítrio. Trata-se agora de evitar sua repetição. Conclamamos as forças vivas da Nação a cerrarem fileiras, em uma ampla aliança nacional, acima de interesses partidários ou ideológicos, em torno da democracia e da Petrobras, o nosso principal símbolo de soberania.

20 de fevereiro de 2015

Alberto Passos Guimarães Filho

Aldo Arantes

Ana Maria Costa

Ana Tereza Pereira

Cândido Mendes

Carlos Medeiros

Carlos Moura

Claudius Ceccon

Celso Amorim

Celso Pinto de Melo

D. Demetrio Valentini

Emir Sader

Ennio Candotti

Fabio Konder Comparato

Franklin Martins

Jether Ramalho

José Noronha

Ivone Gebara

João Pedro Stédile

José Jofilly

José Luiz Fiori

José Paulo Sepúlveda Pertence

Ladislau Dowbor

Leonardo Boff

Ligia Bahia

Lucia Ribeiro

Luiz Alberto Gomez de Souza

Luiz Pinguelli Rosa

Magali do Nascimento Cunha

Marcelo Timotheo da Costa

Marco Antonio Raupp

Maria Clara Bingemer

Maria da Conceição Tavares

Maria Helena Arrochelas

Maria José Sousa dos Santos

Marilena Chauí

Marilene Correa

Otavio Alves Velho

Paulo José

Reinaldo Guimarães

Ricardo Bielschowsky

Roberto Amaral

Samuel Pinheiro Guimarães

Sergio Mascarenhas

Sergio Rezende

Silvio Tendler

Sonia Fleury

Waldir Pires


Fonte: Jornal do Brasil

e Portal Vermelho: http://www.vermelho.org.br/noticia/259321-8

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Adalberto Coxinha das Neves quer o melhor para o "Brazil"

Adalberto Coxinha das Neves
















FERNANDO MOURA
Link da última  entrevista:  com o escritor Fernando Moura …: http://youtu.be/O9uvqo1m41s

Anos atrás conheci um grande amigo, o Adalberto. Morávamos na mesma rua e estudávamos na mesma escola. Vizinhos de porta. Os anos se passaram e Adalberto cresceu, assim como eu. Hoje, ele é um cara super legal. Um cara descolado, com ideias super “prafrentex”, inovadoras. Ele vai à missa, é um homem de bem, de família. Um exemplo mesmo. Ele não é racista, mas troca de calçada quando vê um negro caminhando em sua direção. Não odeia gays, até têm amigos que são. Seus filhos não serão gays. Seus pais são gays, e de forma incongruente, segundo o próprio, ele “deu certo”.
Ele é contra a corrupção, e mostra-se indignado ante qualquer desvio de verba pública. Vocifera. Adalberto é um democrata, desde que o partido dele esteja no poder, do contrário, segue sendo um democrata, mas golpista, o que na visão dele é a mesma coisa.
Certa vez, Adalberto passou fome: o motoboy demorou a entregar o seu barquinho de sushi. Claro, o trânsito estava infernal, pois desde 2003 não se pode mais transitar pelas grandes metrópoles; muitos automóveis. “Até pedreiro tem carro”, diz o Adalberto.

Pra se sentir bem, em dia, com os amigos, ele costuma ir à baladas e coisas do tipo. Veste Gucci, banha-se com Dior. Seu Chow Chow vai à creche e come sucrilhos, um mimo só! Adalberto é fã do David Guetta, e não perde nenhuma rave. Ele fuma maconha o dia inteiro, mas vota na Ana Amélia Lemos. Ele vê na maconha a sua válvula de escape, mas odeia qualquer ideal progressista e de esquerda. Quer a legalização da maconha. Ele gosta de fumar coisa ruim, pagando caro e, assistir de camarote a morte dos negrinhos da favela, afinal, estes merecem estar onde estão. A meritocracia, um dia, há de colocá-los num lugar melhor, mesmo sem saber quando.


O betinho, como é conhecido pelos mais íntimos, é contra o aborto, mas já mandou abortar três filhos. Não seriam legítimos, pois as crianças seriam, digamos, “bastardas”, já que as mães destes não passavam de... Prostitutas.


Adalberto odeia o PT. Em sua mente fértil, a corrupção é fato novo, o tal PT a trouxe. O Brasil era muito melhor sem este partido. Sempre fora. Atualmente, ele não mais encontra empregadas domésticas pra limpar o seu quarto. Acabaram-se as festas de fim de semana, pois se cansou de limpar sozinho toda a bagunça.


Adalberto vai à marcha do dia 15 de março pedir o “impitiman” de Dilma Rousseff. Ele não aguenta ver a Petrobrás neste caótico estado. Ele anseia por uma estatal mais competitiva, mais “cool”, mais mercantil, mais estadunidense. Ah, Adalberto é nacionalista, é um legítimo brasileiro... Dos Estados Unidos do Brasil, como era em 1967, idos do seu falecido vovô, um partidário da ARENA; aquilo que era partido, aquilo que era, de fato, democracia. Não esta ditadura bolivariana-lulo-comuna-
dilmista. Ele quer o impeachment, pois, como todo menino mimado, não sabe perder uma “briga”. O seu salvador da Pátria, Aécio, perdeu o pleito, coitado. Lembro-me de quando jogávamos videogame, ainda adolescentes, e eu o vencia; meu bom deus, ele saía chorando do quarto e pedia socorro a sua zelosa mamãe. Parece que não mudou em nada. Adalberto acredita no futuro da nação com o Michel Temer de Presidente, e o Eduardo Cunha de Vice-Presidente. Acredito que ele não saiba que o seu ídolo, Aécio, não será o novo presidente.
Passado alguns anos, a empresa de seu pai não andava bem, e o patriarca teve de pedir falência. O prodígio, então, teve de abandonar o curso de medicina. Mais tarde, adentrou novamente, mas desta vez pelo ENEM. Acabou formando-se em medicina. Hoje, Adalberto está na Inglaterra fazendo mestrado pelo programa federal Ciência sem Fronteiras, ganhando uns dois mil e quinhentos euros por mês. Suas postagens, diuturnamente, clamam pela saída da Dilma.
A última vez que o vi, foi na fila do Cinemark, portando uma carteira falsa de estudante pra pagar meia entrada. Esse é o meu amigo Adalberto.
Adalberto é um cara legal. Ele só quer o melhor para o "Brazil".


Crônica do escritor Fernando Moura  - 
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