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sábado, 14 de maio de 2016

Ivan Martins: com Temer, Brasil retrocedeu 31 anos em um dia

Felizes com Temer, queridos?
As pessoas que foram às ruas depor Dilma ganharam um governo com cara de 1985, espírito de 1964 e ideário do século 19
Em um dia, retrocedemos 31 anos. De repente, estávamos novamente na posse de José Sarney, mas sem Ulisses Guimarães para freá-lo. Livre para ser o que é, Michel Temer cercou-se rapidamente do que há de pior na política brasileira. A turma do boi, a turma da Bíblia, a turma da bala. Na cena da posse, que parecia um quadro falsificado de Rembrandt, a modernidade ficou de fora. Em vez de jovens, negros, mulheres e grupos homossexuais, ouviu-se o apelo positivista por
 Ordem e Progresso.
O discurso de Temer deve ter enchido de ânimo os corações que depositaram na derrubada de Dilma a esperança de ter no Brasil um “bom governo”. O interino prometeu reconciliar, privatizar, seguir com a Lava Jato e melhorar os programas sociais. Falou em reformar a Previdência e garantir direitos. Soou razoável, equânime, equilibrado. Teve palavras deferentes até para a presidente Dilma, a quem traiu da forma mais abjeta. Um ancião engasgado cavalgando mesóclises.
Com ministros Michel Temer faz seu primeiro discurso como presidente interino - Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil
Com ministros Michel Temer faz seu primeiro discurso como presidente interino – Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil
Apenas que as suas palavras não têm relação com a realidade do governo. Se a Lava Jato seguir implacável, pode levar ao Supremo vários ministros de Temer – alguns muito próximos a ele e muito citados em Curitiba, como Romero Jucá e Geddel Vieira. A presença desses velhos praticantes no primeiro escalão do temerato sugere que a retidão não será prioridade de governo.
A promessa de cuidar de Saúde, Educação e Segurança como “competências naturais” do Estado (o resto talvez possa ser privatizado) nasce estragada pela figura dos novos ministros.
Alexandre de Moraes, da Justiça, dirigiu em São Paulo, com apoio de Geraldo Alckmin, uma polícia que mata jovens negros da periferia de forma sistemática e que reprime adolescentes com violência, mas não consegue deter o avanço do crime organizado, talvez o problema mais grave do Brasil. Em 2015, o jornal O Estado de S.Paulo revelou que Moraes atuou como advogado de uma cooperativa de transporte investigada como braço econômico do PCC. Sabe-se que em 2014 ele advogou por Eduardo Cunha num processo de falsificação de documentos. Um homem complicado.
O novo ministro da Educação e Cultura, Mendonça Filho, não tem formação ou experiência em nenhuma das duas áreas. Seu vínculo mais conhecido com a educação foi criado pela tentativa de seu partido, o DEM, de derrubar a política de cotas no Supremo Tribunal Federal. O novo ministro diz agora que é a favor das “cotas sociais”. Ainda parece inconformado com as cotas raciais, que nos últimos três anos levaram 150 mil jovens negros à universidade, pela primeira vez na história do Brasil.
Ricardo Barros, que ficou com a Saúde, é um engenheiro que se notabilizou na política por duas façanhas. Quando secretário de governo no Paraná, foi pego num telefonema esquisito em que parecia orientar um subordinado a ajeitar uma licitação. Afastou-se da função. Como deputado federal, propôs um corte de R$ 10 bilhões no Bolsa Família, para ajustar o orçamento da União. Enorme sensibilidade social. Sua primeira entrevista no cargo foi para dizer que vai rever o Mais Médicos, programa criado por Dilma que pôs 18 mil profissionais de saúde nos vilarejos do Brasil profundo e na periferia das grandes cidades. Para que, né?
Parece óbvio que Temer vai governar com e para os deputados reacionários que o “elegeram” na votação do impeachment. Isso significa o governo mais conservador, mais à direita e mais antipopular instalado no Brasil desde 1964. Mas não só.
Significa, também, que o Estado brasileiro estará sujeito a uma guerra de interesses paroquiais constante e implacável, incompatível com a condução do governo. Quem achava que Dilma havia leiloado sua administração ainda não viu a quimera que Temer tem a oferecer como governabilidade.
Sem votos, sem legitimidade, inteiramente refém da mídia, do mercado e do baixo clero parlamentar, o interino governará como suplicante, entregando e recebendo favores todos os dias do seu indesejado interregno.
Se desse arranjo insustentável resultar uma administração estável, o Brasil terá se convertido em caso único – um país que no século 21 concordou pacificamente em ser arrastado de volta ao século 19, quando as massas não tinham voto, voz ou direitos, e viviam vidas miseráveis em prol dos 20% no topo da pirâmide. Felizes, queridos?
LEIA MAIS NA FONTE _ http://www.brasil247.com/pt/247/cultura/232236/Ivan-Martins-com-Temer-Brasil-retrocedeu-31-anos-em-um-dia.htm

Momento politico : Tudo a Temer no Brasil


O vice-presidente Michel Temer (PMDB). AFP

Tudo a Temer no Brasil

O Brasil mantém seu histórico de rupturas democráticas a todo custo. Dias temerários virão

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O Brasil desconhece o Brasil, uma certa Buenos Aires tampouco sabe o que se passa na periferia da capital argentina, aqui tiro uma buena onda com o amigo Washington Cucurto, meu escritor portenho contemporâneo predileto, mais para a cumbia do que para o tango, mais para a linguagem da rua e de los perros callejeros, digo, os vira-latas, do que para os cães de madame.
O cara, em termos de linguagem, está mais para as doideiras do Maradona e do Carlito Tévez do que para as estatísticas vitoriosas do Messi. Um portenho de uma Buenos Aires periférica, longe da velha ideia europeia que compramos como fetiche borgiano e metalinguístico de los hermanos.
Encontrei com o Cucurto, ainda nesse longo dia que narraremos adiante, vestido em uma camiseta vintage do Sport Club do Recife, no café da manhã —no seu país ele é torcedor do Independiente— e logo o comuniquei que o seu novo time em Pernambuco perdera na noite anterior para o Santa Cruz. Uma moça bonita, conhecedora da sua obra, me confessou: “Culpa minha, sou rubro-negra mais que tudo nessa vida”.
Cucurto, autor do genial Cosa de negros , entre outros livros, esteve aqui com a gente para participar do Clisertão, um congresso literário que acontece anualmente em Petrolina. Fez uma mesa de bate-papo genial com o escritor Marcelino Freire, mediada pela professora de literatura Paula Santana, sobre o lugar da fala, o batismo das coisas e travessias culturais.

É golpe ou não é?

No que agora indagamos, todo mundo junto, com o auxílio genial de outro nordestino que se achega, falo do paraibano Bráulio Tavares (Campina Grande), um cara que consegue nos contar de tudo nesta noite. Das suas traduções do romance noir de Raymond Chandler —meu autor predileto— aos enredos dos cordéis clássicos e às parcerias com Lenine, nosso amigo comum de comunismos d'antanho.
Pelos meus 30 e tantos anos de jornalismo e de traumas históricos, chamo declaradamente de golpe
Agorinha mesmo na beira do São Francisco, o grande rio da unidade nacional brasileira, tomando uma cerva depois de atravessar de Petrolina a Juazeiro, a grande dúvida é uma só: como nomear o que está acontecendo no país. Pelos meus 30 e tantos anos de jornalismo e de traumas históricos, chamo declaradamente de golpe. Que me desculpem, quem sabe não passo de um paranoico benjaminiano.
Não consigo encontrar os atenuantes semânticos, tampouco eufemismos que justifiquem alguma ideia de processo democrático. A maioria dos amigos me acompanham neste batismo de fogo; outros, educadamente, mesmo trabalhando em fábricas de salsicha, dizem que não é bem assim etc.
Creio, e nisso não vejo nenhuma lenda do Curupira, que a ordem democrática foi quebrada pelo tripé tendencioso constituído, sem se ligar na Constituição, por:
1) Avexamentos de juízes de primeiras instâncias e pela demora exagerada dos ministros das instâncias derradeiras, vulgo STF...
Jamais esquecerei o dia em que um repórter entrou de Curitiba, meio sem saber o que tinha de fato nas mãos, para ler o relatório de um grampo fornecido pelo juiz Moro sobre uma conversa de Lula/Dilma. O grampo ao vivo. O grampo sessão da tarde. O primeiro grampo ao vivo da história da TV brasileira. No justo momento em que havia um certo esmorecimento da direitona... Falo do ritmo do noticiário bipolar que temos vivido.
2) Repare no relato de uma mídia que deixou tudo límpido nos seus editoriais clamorosos e repletos de mesóclises... E, óbvio ululante, pelo Cunha delinquente-mor da Câmara, o grifo é do procurador-geral da República, que comandou todo circo de horrores.
As mesóclises, como todo beletrismo —marca das cartas e poemas do próprio Temer— denunciam, amigo Lacan, a repetição da linguagem golpista. Dar-te-ei... Os editoriais e o vice que versa falavam a mesma língua e tramavam a mesma redundante trama. Só a linguagem denuncia e escancara os sentidos. Lacan vale por mil Janôs ou esperas dos Godôs do STF que deixaram o impeachment chegar antes de qualquer crime de responsabilidade da presidenta. Isso é um escândalo? Nada. É apenas o óbvio ignorado.
3) A mídia dos grandes veículos brasileiros chegou tão longe na sua narrativa de tirar Dilma, mulher, do seu posto, que não pode mais voltar atrás. Todo mundo avançou muitas casas, negociatas foram feitas, os patinhos quem-quéns da Fiesp, nada bossa nova, se instalaram de vez na paisagem, o golpe foi dado como consumado. O Brasil mantém seu histórico de rupturas democráticas a todo custo. Dias temerários virão.
Xico Sá, escritor e jornalista, é autor de “Os Machões dançaram –crônicas de amor & sexo em tempos de homens vacilões” (editora Record), entre outros livros. Na tv, é comentarista do “Papo de Segunda” (canal GNT).

quinta-feira, 28 de abril de 2016

O Calvário das Viúvas foi "a limpeza" das mulheres do território pós guerra.









Que insulto á condição humana é esse!?
Tratar mulheres como na época sombria do nazismo???
Infelizmente como cidadão belga, sei que na Segunda guerra, Tudo isso aconteceu
E não quero que aconteça com mulheres de ideologia  diferente, como deseja  Bolsonaro 

 "O deputado Jair Bolsonaro recentemente declarou em uma entrevista que as mulheres que se consideram feministas mereciam O Calvário das Viúvas. !!!!!!

Como pouco se sabe sobre a Épuration Légale, a afirmação dele foi esquecida.
O Calvário das Viúvas foi "a limpeza" das mulheres do território pós guerra. 

Quando os soldados nazistas invadiam as cidades europeias, estupravam mulheres e as mantinham sob ameaças. Mulheres viúvas ou que os maridos tinham partido para a guerra, eram submetidas a todo o tipo de "trabalho" e abusos para os soldados alemães. Após a liberação dos territórios ocupados pelos alemães dos países europeus, milhares de mulheres que tinham esse tipo de relacionamento (trabalho e abusos sexuais) com os soldados alemães eram retiradas de suas casas para serem expostas em praças públicas pelas mãos dos homens da família tradicional da cidade.

Era como a caça bruxa das impuras, se houvesse um indício qualquer, a mulher tinha sua cabeça raspada e era exposta em público como desgraça da nação. Muitas vezes só raspar a cabeça não bastava, eram despidas, abusadas, desenhavam a suástica nos seus rostos, ou queimavam a marca com ferro em brasa na testa.

Elas ficavam conhecidas como "nacionalmente indignas" e além da humilhação pública, sofriam penas de seis meses a um ano de prisão, seguida da perda total de direitos civis por mais um ano, quando ainda eram violentadas e insultadas nas ruas. Muitas não suportaram a vergonha daquela situação e sucumbiram cometendo suicídio. Há um registro não oficial na França de que mais de 300.000  suicidaram na época.

Seus filhos foram usados indiscriminadamente para testar medicamentos não aprovados. Somente em 2005, o parlamento norueguês publicou um pedido formal de desculpas a essas vítimas inocentes e aprovou a compensação para as experiências no valor de 3 milhões de euros.

É isso que um homem que defende a moral e os bons costumes da família tradicional brasileira quer que aconteça com mulheres que decidem ter uma ideologia. É isso que defende um homem que prega a justiça com as próprias mãos, como faziam com o Calvário das Viúvas - uma população despejando ódio nos seres humanos, como sempre, mais vulneráveis: As mulheres. Jair Bolsonaro não é novo, ele é só uma reprodução dos mesmos homens de antes, do que sempre aconteceu. Uma repetição de um passado que lutamos tanto progredir, que nos indignamos quando abrimos um livro de história.

Será que ainda somos os mesmos inquisidores do Calvário das Viúvas? Será que ainda não evoluímos ao ponto de proporcionar direitos humanos outros? Ao ver que ele é eleito deputado com o maior número de votos do estado do Rio de Janeiro, acredito que não mudamos, só disfarçamos nossa inquisição interna com a hipocrisia de "cidadãos que querem a democracia"

Autor Anônimo do texto acima 
PS_ Há controvérsias sobre a citação do Deputado no site do E-Farsas. 

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Impeachment é o novo Plano Cohen versão 2016 -DILMA e GETULIO VARGAS

Impeachment é o novo Plano Cohen

:
Entre o golpe de 1930 – que os historiadores houveram por bem chamar de "revolução" – e o de 1937, o Brasil viveu um breve, porém agitado, período democrático, mesmo com Getúlio Vargas no poder.
Em 1934 entrou em vigor uma nova constituição, formulada por uma Assembleia Constituinte, que legalizou a situação de Vargas, transfomando-o em presidente da República, por eleição indireta dos constituintes, com mandato de quatro anos, improrrogáveis e marcou eleições presidenciais para janeiro de 1938.
Em mais um gesto voltado, na aparência, para agradar aos paulistas, que ele tinha esmagado em 1930 e em 1932, Getúlio colocou no governo dois ministros de São Paulo: Macedo Soares e Vicente Rao.
A Assembleia Constituinte também elegeu o novo governador de São Paulo, Armando de Salles Oliveira, engenheiro formado pela Escola Politécnica, que tinha sido interventor de Getúlio a partir de 1933. Salles assumiu o cargo de governador, agora também legalizado, a 11 de abril de 1935 e o deixou a 29 de dezembro de 1936 para se lançar candidato a presidente da República.
Desde o início ficou claro que ele entrara para ganhar. Apoiado pelas forças econômicas paulistas, naturalmene conservadoras, que tinham sido fustigadas por Vargas em 1930, sua campanha, lançada em janeiro de 1937 num banquete-monstro, como era comum na época, tendo por convidados de honra os ministros Macedo Soares e Vicente Rao tinha por objetivo recolocar São Paulo na liderança política do país.
Alto e magro, cabelos penteados para trás, ele discursava de forma empolada, como se cantasse, e seus gestos que lembravam os de um maestro regendo a orquestra, mas seus pronunciamentos empolgavam pelo conteúdo, sempre polêmico e pela forma grandiloquente.
"A nossa campanha está aberta" proclamou Salles no banquete inaugural, realizado no Theatro Municipal. "E as suas perspectivas são tais que os próprios cegos as veem. A bandeira que erguemos não é pequena. É uma só e está sustentada por brasileiros de todos os pontos do país. O seu tamanho é, por conseguinte, o tamanho do próprio país".
Além dos empresários paulistas, Salles tinha apoio de governadores do Nordeste e – mais importante que tudo – do poderoso governador do Rio Grande do Sul, general Flores da Cunha. Ex-aliado de Getúlio em 1930, além de ser o governador ele comandava uma tropa estadual portentosa.
Um dos pontos altos da campanha foi a visita de Salles a Porto Alegre. Desembarcando no porto do rio Guaíba, ele foi recebido por uma multidão entusiasmada que lotou completamente o cais. O automóvel em que se deslocava mal conseguia avançar, tal era a aglomeração à sua volta. Faixas com dizeres otimistas tais como "certos da vitória" foram penduradas em todo o percurso.
Dois outros políticos estavam na disputa. O ex-ministro da Viação Civil de Getúlio, o escritor José Américo de Almeida era o candidato oficial do governo, mas sua campanha não tinha nem o mesmo vigor nem os mesmos investimentos da de Salles e nenhum entusiasmo de Vargas. O máximo que disse a respeito foi: "José Américo é um bom candidato porque divide".
O terceiro postulante era o chefe da Ação Integralista, Plinio Salgado. Seu movimento, de inspiração nazi-fascista tinha representantes no governo Vargas, o que leva a crer que, embora não fosse candidato oficial, contava com certo apoio governamental.
Fazia sua campanha nas principais avenidas do Rio de Janeiro, onde marchavam homens vestidos de preto, com bandeiras nazistas e saudações à la "heil Hitler", como também grupos de mulheres e de estudantes de todas as idades, inclusive crianças.
Estava claro que o candidato a combater era Salles. O lance mais ousado – e no qual Vargas vislumbrou o grande perigo que ele representava – deu-se em meados de 1937. No dia em que a constituição completou três anos, Salles promoveu, na capital federal, um imenso comício noturno, no estádio do América F.C., ao qual compareceram 50 mil cariocas.
Sob o manto da U.D.B. (União Democrática Brasileira), uma congregação de partidos estaduais que pretendia se tornar nacional, ele expôs, nessa noite os cinco pontos defendidos por sua candidatura: 1) luta pela democracia; 2) voto secreto; 3) pluralidade partidária; 4) defesa das liberdades políticas e 5) eleições em janeiro de 1938.
Vargas, como de hábito, ficou na moita durante toda a campanha, dando a impressão de que deixava a coisa rolar, sem interferir no andamento, sem declarações, passando à opinião pública a impressão de que abandonara o autoritarismo e aceitaria de bom grado a decisão que os brasileiros tomassem pelo voto direto e secreto, em janeiro de 1938, mesmo se perdesse, o que parecia inevitável
Tudo indicava que Armando Salles de Oliveira seria o próximo presidente eleito do Brasil quando, no dia 1º. de outubro de 1937, os jornais assustaram os cariocas com manchetes retumbantes.
O Estado Maior do Exército, chefiado pelo germanófilo Goes Monteiro havia descoberto um documento sigiloso com as digitais do Komintern logo chamado pela imprensa de "tenebroso".
Mesmo sem questionar como foi descoberto, onde, como, quando e porque os jornais o consideraram verdadeiro, pois a fonte, segundo os editores, era quentíssima. Tratava-se de um plano em que Moscou orientava os comunistas brasileiros a derrubarem o governo Vargas, insuflando a classe operária a promover saques e depredações na capital federal.
Nos dias seguintes, as manchetes, sempre ameaçadoras, informavam que os ministros militares, em nome da "salvação da Pátria" solicitavam que o presidente da República clamasse ao Congresso para ser decretado, de forma urgente, mas legal, o "estado de guerra", a fim de evitar que a tragédia se abatesse sobre o Brasil.
Não se falava de outra coisa nas ruas do Rio. Na Confeitaria Colombo, nos botecos populares e nas praças públicas os cariocas, assustados com a promessa comunista de saques e depredações já não viam a hora de o "estado de guerra" ser oficializado, mesmo sem saber direito do que se tratava, para salvá-los dos "comedores de criancinhas" e agora candidatos a vândalos que poderiam, inclusive, depredar suas casas.
O clamor "das ruas" ecoava no Congresso. Não havia tempo a perder. "Estado de guerra"! era a palavra de ordem na boca dos parlamentares, que não podiam decepcionar seus eleitores, expostos a um perigo iminente.
Somente um deputado teve a ousadia de contestar a onda avassaladora.
"A Câmara sabe o que esta medida significa"? perguntou Octavio Mangabeira, num discurso que ninguém quis ouvir. "O que esta medida representa? Está a Câmara devidamente informada dos fatos que a justificam? Que satisfação dará ao país votando imediatamente como se pretende medida de tal gravidade sem ao menos ter salvo as aparências nem ao menos ter dado a impressão de que examinou devidamente as peças ou os documentos que lhe foram apresentados, sem mesmo sequer os ter lido"?
Seu discurso não foi suficiente, é claro, para conter a avalanche. O estado de guerra foi aprovado a toque de caixa – sem resistência. Não se tem notícia de comemorações efusivas, provavelmente não, porque a TV Globo não existia.
Decretado o "estado de guerra"", o passo seguinte foi o ministro, da Guerra, é claro, Eurico Gaspar Dutra determinar o imediato envio de tropas ao Rio Grande do Sul. Para proteger nossas fronteiras, suspeitando que Moscou invadisse o Brasil a partir do Uruguai? Não, para dar um xeque-mate no general Flores da Cunha, "federalizando" suas poderosas tropas estaduais, que passaram a obedecer ao comando do Ministro da Guerra.
Flores da Cunha não teve outra coisa a fazer senão renunciar ao cargo de governador e partir para o exílio, abandonando o país e a campanha de Armando de Salles de Oliveira de quem era o mais poderoso aliado (o único que dispunha de tropas).
O valente paulista não deu o braço a torcer, avaliou que ainda haveria eleições, mesmo com "estado de guerra" e seria consagrado nas urnas.
Mal sabia ele que um golpe maior do que aquele, contra a sua candidatura, estava em marcha e seria consumado a 10 de novembro de 1937, quando Vargas, apoiado no "estado de guerra" decretado legalmente e que se fundamentava, por sua vez, no "plano tenebroso" que ficou conhecido com o "Plano Cohen" fechou o Congresso, extinguiu os partidos, cancelou as eleições e rasgou a constituição de 1934, substituindo-a por outra, redigida por um obscuro advogado que, de secretário da Educação do Distrito Federal foi promovido a Ministro da Justiça do novo governo, agora denominado "Estado Novo". E que não foi submetida aos deputados e senadores, pois não havia mais nem Senado, nem Câmara dos Deputados.
Somente o ministro da Agricultura, Odilon Braga, não assinou a infame e autoritária constituição de Francisco Campos e somente o embaixador nos Estados Unidos, Oswaldo Aranha a criticou, ainda assim não publicamente, mas em carta ao seu irmão:
"Essa constituição foi concebida por um anormal".
No dia seguinte, o ministro da Guerra, naturalmente por ordem de Vargas expediu um comunicado aos militares, reproduzido em manchete por "O Globo":
"Qualquer perturbação da ordem será uma brecha para os inimigos da Pátria, para os adversários do regimen democratico que nos consagra".
Num toque de mágica, um golpe autoritário foi classificado de evento de um "regimen democratico", por decisão de Vargas, do ministro da Guerra e da imprensa.
Mas não acaba aí essa história que teve consequências funestas para os brasileiros, com centenas de prisões, torturas, queima de livros e de bandeiras, proibição de obras primas como "O grande ditador", de Charles Chaplin, dentre outros crimes.
Em 1945, quando o "regimen democratico" de Vargas agonizava, pressionado externa e internamente depois de o Brasil ter participado, ao lado de outros países democráticos da campanha vitoriosa da Segunda Guerra Mundial, que derrotou os regimes autoritários da Alemanha e da Itália, o general Goes Monteiro revelou, espontaneamente. que o "Plano Cohen" não fora escrito pelo Komintern, nem representou qualquer ameaça dos comunistas aos cariocas, nem ao Brasil.
Não passou de um papelucho redigido por um agente secreto dos quadros da Ação Integralista – o capitão Olympio Mourão Filho, que, em 1964, detonaria o golpe militar – sob encomenda de Plinio Salgado, que o ofereceu de bandeja a Getúlio Vargas, que prometera transformá-lo em Ministro da Educação do Estado Novo.
Recomendo aos homens e mulheres de bem do Senado, onde hoje começa a discussão da versão 2016 do Plano Cohen, desta vez batizado de "impeachment", que leiam essa história para, inspirados nela, não permitirem que mais uma fraude, de consequências imprevisíveis, mas sempre dolorosas, seja usada com o objetivo de derrubar um presidente da República e macular, de novo, a democracia brasileira.
LEIA AQUI: 

FONTE - http://www.brasil247.com/pt/blog/alex_solnik/228089/Impeachment-%C3%A9-o-novo-Plano-Cohen.htm

sexta-feira, 22 de abril de 2016

ONU para a América Latina, condenou a tentativa de golpe no Brasil !