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domingo, 12 de março de 2017

Dilma Rousseff rebateu a declaração de Gilmar Mendes em Genebra.



"Não há como deixar de chegar no PSDB", adverte Dilma a Gilmar Mendes



Guilherme Santos Sul 21
  
"Por que será que ele fala sobre isso agora?", questiona Dilma. E completa: "Acho isso muito interessante. Passei toda uma campanha eleitoral e nunca ouvi isso. Acho que uma coisa está mudando. Não há como deixar de chegar no PSDB", afirmou Dilma com ironia aos jornalistas no evento.

Dilma enfatizou que foi vítima de uma conspiração política que não trouxe paz nem desenvolvimento ao Brasil. "Vivemos uma situação indefinida no Brasil e ninguém sabe como as coisas vão se desenrolar", afirmou.

Ela também defendeu o legado de seu governo e destacou os programas sociais, cintando ainda a transposição do Rio São Francisco como um legado deixado pelo ex-presidente Lula. Nesta sexta (10), a obra do trecho leste foi inaugurada por Michel Temer.

Se referindo a ele como "presidente ilegítimo", Dilma disse que Temer não pode buscar melhorar sua popularidade "em cima da obra alheia".

Sem citar o nome de seu sucessor, a quem chamou de "presidente ilegítimo", Dilma afirmou que Temer não pode tentar melhorar sua popularidade "em cima da obra alheia".

Ainda segundo a ex-presidente, o governo atual representa uma ameaça ao conjunto de políticas sociais implementadas durante o seu mandato. Ela também atribui a Temer a degradação do cenário econômico brasileiro. "Embora a imprensa diga que a situação econômica esteja melhorando, tanto a crise econômica quanto a crise política se aprofundaram", afirmou.

Perguntada sobre Lula, ela afirmou que o maior objetivo político no Brasil no momento é garantir que ele se candidate nas eleições de 2018. “Assegurar que Lula seja candidato é fundamental”, disse Dilma. Segundo ela, Lula atravessou um período no qual todos os meios de comunicação estavam contra ele, mas, apesar de tudo que fizeram contra o ex-presidente, “ele é o primeiro nas pesquisas”.

Dilma negou ter recebido propina da construtora ou de outras empresas em suas campanhas. “Nunca pedi propinas, nunca recebi propinas, e, de fato, nunca falei com todos aqueles que agora estão sendo investigados ou presos por terem pago propinas”, afirmou ela, que foi citada na delação premiada da Odebrecht.

Sobre a crise, Dilma também citou fatores externos como "a queda mundial do preço das commodities e o fim do 'quantitative easing' (afrouxamento monetário) nos EUA", como alguns dos responsáveis pela crise econômica no Brasil. Dilma também fez uma auto-crítica sobre suas políticas no governo.

"Achei que, diminuindo impostos do setor privado, teria um aumento dos investimentos. Me arrependo disso. Fragilizei o lado fiscal e, em vez de investirem, eles aumentaram a margem de lucros", refletiu a ex-presidente.

Após o festival, Dilma deve se encontrar com parlamentares suíços e relatores de direitos humanos, além de participar de um reunião na sede da Organização Internacional do Trabalho e de uma palestra no Graduate Institute of Geneva, um centro de estudos de Ralações Internacionais, para falar sobre o futuro da luta contra o neoliberalismo.
 

FONTE:  Portal Vermelho
12 de março de 2017 -

sexta-feira, 10 de março de 2017

Juiza aconselha Temer: isente todas as mulheres de qualquer contribuição.!

"Lugar de mulher é onde ela quiser", escreve juíza a Temer



  
Na cerimônia no Palácio do Planalto em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, o presidente Michel Temer apontou, nesta quarta-feira (8), a sua visão sobre a mulher na sociedade, destacando seu papel na vida doméstica.

Temer ressaltou saber “o quanto a mulher faz pela casa”. Falou da importância da figura feminina para a criação dos filhos que, segundo ele, é tarefa da mulher, e da capacidade que elas têm em “indicar os desajustes de preços em supermercados” e “identificar flutuações econômicas no orçamento doméstico”. As declarações geraram uma onda de críticas no país que foram destaque na imprensa internacional. 

Confira a íntegra da carta da juíza Vera Lúcia, publicada pelo jornal Zero Hora:

CARTA AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Senhor Presidente. No dia 8 de março, como fazem há muito tempo, as mulheres saíram de casa e foram às ruas. O senhor precisa saber que, em pleno século XXI, nossa força de trabalho representa 43,8% do total no país. Como era Dia Internacional da Mulher, o trânsito em Porto Alegre estava difícil. Muitas mulheres do interior do Estado, entre trabalhadoras, jovens e agricultoras de mãos calejadas faziam manifestações em prol da equidade de gênero.

Representando minha associação de classe, fui ao primeiro compromisso do dia: encontro com mulheres líderes em instituições, a convite da desembargadora Corregedora-Geral da Justiça do TJRS. Lá estavam a Presidente do TRE/RS, a 2ª vice-presidente do TJRS, deputadas estaduais, promotoras de justiça, advogadas, defensoras públicas, delegadas de polícia, policiais militares.Tratamos da defesa dos direitos das mulheres.

Depois, pelo mesmo motivo, participei de programa de rádio com três jornalistas mulheres. E no final da tarde, de evento cultural com várias mulheres artistas. Nada surpreendente, já que, em pleno século XXI, somos quase maioria no planeta, e na Magistratura do RS passamos de 50%, na qual, assim como em outras carreiras, a presença feminina é crescente.

A surpresa do dia ficou por sua conta. Em uma interpretação desconectada com o tempo em que vivemos, em rede nacional, alardeou uma avaliação de que a nossa contribuição para a economia do país se resume a verificação de preços no supermercado. Diante disso, peço que oriente a Receita Federal e os demais órgãos de arrecadação de impostos que isente todas as mulheres de qualquer contribuição. E, para não deixar de atender sua expectativa, depois de atendido meu pedido, assumo compromisso de ir ao supermercado todos os dias úteis da semana e olhar os preços. Só peço que informe a quem devo comunicar quando subirem.

Senhor Presidente, a mulher pode ser dona de casa, desde que isso não seja uma imposição. Pode, se quiser, controlar os preços no supermercado, desde que isso não seja uma política pública. Mas o senhor precisa saber: lugar de mulher é onde ela quiser!

Vera Lúcia Deboni
Vice-presidente Administrativa da Ajuris
veradeboni@ajuris.org.br

Herança Lula: Itália aprova criação de "Bolsa Família" de até 480 euros



Itália aprova criação de "Bolsa Família" de até 480 euros



"Bolsa Família" italiana pagará até 480 euros
"Bolsa Família" italiana pagará até 480 euros
Para receber o benefício, os italianos terão que cumprir uma série de requisitos, como comprovação de baixa renda e ser uma família com ao menos um filho menor de idade.

O texto foi aprovado com 138 votos a favor, 71 contrários e 21 abstenções e já tinha recebido o aval da Câmara dos Deputados em julho do ano passado.

"Foi aprovada a lei da #pobreza. É mais um passo para ajudar as famílias em dificuldades. O compromisso social é uma prioridade para o governo", disse, pelo Twitter, o primeiro-ministro da Itália, Paolo Gentilioni.

De acordo com o ministro do Trabalho da Itália, Giuliano Poletti, foram destinados 2 bilhões de euros (sendo 1,6 bilhão dos cofres italianos, e o restante de recursos europeus) para o projeto em 2017, e a mesma quantia para 2018.
10 de março de 2017

Fonte: Ansa

Mulheres cientistas: por que ainda somos consideradas minoria?



Mulheres cientistas: por que ainda somos consideradas minoria?

10 de março de 2017


Para Tamara Naiz, da ANPG, mulheres enfrentam entraves na carreira acadêmicaPara Tamara Naiz, da ANPG, mulheres enfrentam entraves na carreira acadêmica
Dentre 11 países, Brasil e Portugal são os países que mais contam com publicações científicas de mulheres cientistas, 49%. Enquanto que noutros países, como França, Austrália e Canadá, essa taxa varia em torno de 40%. É o que aponta o relatório do Gender in the Global Research Landscape com pesquisas feitas entre os anos de 1996 a 2000 e de 2011 a 2015.

Agora, quando vemos os dados por área de pesquisa aumentam as diferenças de gênero nas publicações. Na área de exatas as publicações científicas feitas por mulheres correspondem a apenas 25% do total no Brasil. Essa baixa representatividade das mulheres nas exatas é observada há anos sem que sejam necessárias pesquisas específicas. A Professora do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Dra Sônia Guimarães já ressaltou em entrevistas a discriminação notória às mulheres em sala de aula, de tal modo que a motiva dialogar e até ter que provar a capacidade de suas alunas aos duvidosos alunos do gênero masculino.

Noutras instâncias acadêmicas como reitorias e pró-reitorias a desigualdade é ainda maior. São raras as mulheres em cargo de liderança nas Universidades, tal qual no mercado de trabalho. Em entrevista à Folha de São Paulo na data de hoje, 8 de março, a presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Tamara Naiz destaca os entraves que as mulheres precisam superar para seguirem uma carreira acadêmica, como a questão da maternidade. Tamara tem como ponto importante de luta a defesa dos direitos das pesquisadoras que são mães ou tornam-se mães no meio de sua pós-graduação. Essas pesquisadoras em sua maioria sentem resistência por parte de seus orientadores e ainda têm de enfrentar os desafios da maternidade somatizado às suas pesquisas, sem ou quase sem nenhum amparo por parte das Universidades, entre outros.

Segundo matéria do jornal espanhol El País, a Nature, revista inglesa, apresentou novos estudos, em meados de janeiro/2017, sobre a questão de gênero com indicativos da baixa participação das mulheres na ciência. Exemplo disso é que mesmo com 28% de representatividade (baixo índice) na União Americana de Geofísica (AGU, sigla em inglês) apenas 20% dessas cientistas é revisora de trabalhos científicos (entre 2012 e 2015). Outro ponto interessante para análise é que ainda que as cientistas tenham mais de 60% de seus trabalhos científicos aprovados a percentagem de trabalhos apresentados por elas para publicação é de pouco mais de 27%.

Ainda na matéria do El País outra pesquisa, agora pela Science, pesquisadores identificaram preconceito de gênero em crianças desde os 6, 7 anos de idade. Na pesquisa as crianças acreditam que pessoas brilhantes são do sexo masculino, inclusive as meninas se consideram menos inteligentes que os meninos, mesmo que elas tirem melhores notas na escola. Já em crianças de até 5 anos as diferenças não foram identificadas. Agora os autores pesquisam as causas desta distinção, desse entendimento equivocado que levam menos meninas a seguirem nas áreas das engenharias, conforme estudo.

Em vários estudos observa-se uma complexidade e fartura de dados indicando a baixa representatividade das mulheres no mundo acadêmico. E apesar das hipóteses pontuais não apresentam pesquisas decisivas sobre a discriminação de gênero, pois parecem ser subliminares às ocorrências cotidianas de preconceito e subjugação da capacidade das mulheres cientistas. Isso fora as barreiras sociais e econômicas enfrentadas pelas mulheres no mundo moderno para superação de desafios diversos, como profissionais e pior ainda como cientistas. Notoriamente, de acordo com as pesquisas feitas, os preconceitos já vão se formando desde a primeira infância. No entanto, os pesquisadores não elencaram ainda a educação que vai passando de geração a geração, constituindo valores e preconceitos em crianças às discriminações de gênero na vida acadêmica, por exemplo – identificaram a discriminação, mas não a causa. Sabe-se o quão fundamental é a formação na primeira infância, podendo gerar inúmeros problemas psicológicos em adultos, do mesmo modo formam-se ainda adultos preconceituosos e futuros pesquisadores discriminatórios e futuras pesquisadoras inseguras de sua inteligência e capacidade intelectual. Bom, seria essa uma das causas de relações tão complexas e que ainda devem ser profundamente pesquisadas, afinal há também uma disputa de espaços de poder em jogo.



Leia também:

Ana Paula Bueno é jornalista e diretora da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG)

Fonte: Portal Grabois

quinta-feira, 9 de março de 2017

Temer reforça em discurso papel da mulher subalterna

Feministas: Temer reforça em discurso papel da mulher subalterna



Sofia Morais/ Cuca da UNE
  

Temer ressaltou saber “o quanto a mulher faz pela casa”. Falou da importância da figura feminina para a criação dos filhos que, segundo ele, é tarefa da mulher e da capacidade que elas têm em “indicar os desajustes de preços em supermercados" e "identificar flutuações econômicas no orçamento doméstico". As declarações geraram uma onda de críticas no país que foram destaque na imprensa internacional.
 
“As declarações do presidente ilegítimo manifestam mais uma vez a concepção retrógrada e conservadora das relações sociais de gênero, do papel da mulher na sociedade”, declarou Lúcia. Para ela, esse ideário está marcando a política desse governo de ataque à toda a legislação e políticas progressistas.
 
“Essa visão autoritária, patriarcal das relações eles vêm manifestando em todo o processo político no Brasil. Um processo impregnado de falta de caráter, atitudes sorrateiras, traição. Tudo faz parte de uma forma de ver o mundo e que corremos o risco de ver crescer na nossa sociedade porque a legislação que esse governo tem estimulado e implantado intervém em toda a legislação progressista”, comparou Lúcia.
 
Na opinião de Liége Rocha, secretária nacional da Mulher do PCdoB, o destaque dado por Temer ao papel doméstico da mulher aposta no atraso e não reconhece o avanço da mulher no mercado de trabalho e na participação social. “Ele tenta relegar a mulher a um papel secundário, não quer reconhecer nossa atuação como construtoras desse grande país que é o Brasil”. 
 
Na primeira gestão da presidenta Dilma Rousseff, mais da metade dos empregos formais criados foram ocupados por mulheres. Um dos maiores programas de transferência de renda do país, o Bolsa Família, que atende 14 milhões de brasileiros, tem 93,2% de mulheres responsáveis pelo benefício.
 
Houve avanços, mas ainda tímidos. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de 2016 mostra que o trabalho doméstico continua sendo um dos líderes entre os postos ocupados por mulheres. Em março do ano passado, o trabalho não remunerado feito em casa somava 5,9 milhões de mulheres, 14% da população feminina. 
 
De acordo com Ieda Castro, ex-secretária nacional de Assistência Social (SNAS) no governo da presidenta Dilma, o governo usa uma falsa tese de pente fino no Bolsa família para “impedir que as mulheres tenham uma transferência de renda e voltem à condição de subalternidade”.
 
Liége disse que Temer quer reforçar as estatísticas que jogam a mulher na invisibilidade. Segundo ela, nesse cenário, ganha força a ideia de 'nenhum direito a menos'. “Hoje há mulheres exercendo funções relevantes em diversos espaços e, ao contrário do que pretende o presidente golpista, nós queremos avançar ainda mais. Nossa luta é para superar a sub-representação feminina nos espaços de poder enquanto Temer quer jogar as mulheres na invisibilidade”, criticou. 
 
As manifestações do 8 de março unificaram os movimentos contra as reformas de Michel Temer, sobretudo a da Previdência Social. A denúncia da violência doméstica, a defesa do direito ao aborto se somaram às críticas ao projeto de Temer que ataca a proteção social prevista na Constituição brasileira de 1988.
 
“As estatísticas recentes têm mostrado a reprovação ao desempenho do ilegítimo presidente. Apontam que a maior parte da população vai se esclarecendo quanto ao caráter do golpe que sofremos no Brasil. O 8 de março mostrou a população indignada com o golpe que está sofrendo no mundo do trabalho e na sua história de vida e na sua perspectiva de velhice”, enfatizou Lúcia.

Lula sobre transposição do Rio São Francisco

9 de março de 2017 -

Lula sobre transposição: Quem estava no poder estudava, mas não fazia



  
"Muita gente disse que era impossível fazer a transposição do rio São Francisco. Quem estava no poder estudava, estudava, mas nada fazia. Até que Lula foi lá e fez. Em 2007 as obras começaram. A água começou a chegar a Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Serão 12 milhões de pessoas beneficiadas em 390 municípios", diz a publicação, com fotos de Lula e Dilma no local.

"São 470 km de canais, túneis, aquedutos e barragens. São ainda 38 ações socioambientais, como o resgate de bens arqueológicos e o monitoramento da fauna e flora. Conforme as imagens começam a chegar, mostrando a felicidade do povo sertanejo ao ver seu sonho se tornando realidade, chega também a certeza de que esse é um esforço que está mudando e ainda vai mudar muito o Brasil", diz ainda o texto.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso prometeu realizar a transposição durante suas duas campanhas presidenciais, mas engavetou a ideia em seu governo. Na campanha presidencial de 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) criticou as obras, dizendo que elas estavam "abandonadas", fala que Dilma rebateu, dizendo ser mentira.

Agora os tucanos tentam puxar para si a paternidade da obra, como fez o governador Geraldo Alckmin, viajando até o local, e a bancada do PSDB na Câmara, afirmando que Lula e Dilma não entregaram a obra, que só foi concluída agora, sob a supervisão do deputado Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE), da comissão da Câmara que vem acompanhando o empreendimento. 

"São as águas de março do Velho Chico fechando o verão do semiárido nordestino", finaliza o post de Lula.


Fonte: Brasil 247

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Fidel, bolivariano e martiano , dia 13 de agosto faz 90 anos!

Ángel Guerra Cabrera: Fidel, bolivariano e martiano


Fidel Castro, no início dos anos 1960 Fidel Castro, no início dos anos 1960
Aos 21 anos, Fidel, membro do Comitê Universitário para A Libertação de São Domingos, participou da frustrada expedição anti Trujillo, de Cayo Confines (1947). Um ano depois, no "bogotazo", colocou-se, armas nas mãos, ao lado dos seguidores de Jorge Eliecer Gaitán. Estava, na época, na capital colombiana organizando um congresso continental de estudantes, que se pronunciaria pela independência de Porto Rico, a devolução ao Panamá pelos Estados Unidos da área do Canal, a reintegração das Ilhas Malvinas à Argentina e contra as ditaduras militares ao sul do Rio Bravo, especialmente a de Trujillo na República Dominicana. O jovem cubano havia conquistado a liderança do comitê organizador da reunião de estudantes, que se colocava na direção oposta à da 9ª Conferência Pan-americana, que acabaria na criação da nefasta Organização dos Estados Americanos (OEA) e adotaria instrumentos de subordinação ao vizinho do norte, contando, entre outras coisas, com a cumplicidade incondicional dos representantes dos governos ditatoriais que havia imposto na região.

Fato simbólico, a OEA, sob enormes pressões e outras manhas de Washington, expulsou de seu seio a Cuba revolucionária (Punta del Este, Uruguai, 1962) e, ao passo de algumas décadas, o clamor unânime dos governos da região (San Pedro Sula, Honduras, 2009), acabou revertendo essa medida.

Havana reiterou que não regressará à OEA – será um despropósito –, mas isso não nega a grande carga política do reconhecimento e da dignidade de Cuba, liderada por Fidel, embutida naquela decisão.

Foi precisamente a exclusão da ilha do organismo que deu condições para que o então primeiro-ministro submetesse a Segunda Declaração de Havana (1962) para a aprovação – clamorosa – da Assembleia Geral Nacional do Povo de Cuba. Um documento essencial na história de nossos povos, que dá continuidade à Carta da Jamaica (1815), de Simón Bolívar e ao ensaio Nuestra América (1891), de José Martí.

Nela está postulado: "Nenhum povo da América Latina é fraco, porque faz parte de uma família de 200 milhões de irmãos que padecem das mesmas misérias, abrigam os mesmos sentimentos, têm o mesmo inimigo, sonham todos com um melhor destino e contam com a solidariedade de todos os homens e mulheres honrados do mundo inteiro".

Discípulo dedicado e consequente de Bolívar e Martí, esse conceito de fraternidade e união da nossa América formou parte do núcleo principal do pensamento político de Fidel desde os dias ancestrais de Cayo Confites e o bogotaço.

A revolução cubana, cuja profunda repercussão planetária é indiscutível, desencadeou um ciclo de lutas populares, revolucionárias e pela unidade e integração da América Latina e do Caribe que ainda não se concluiu, tampouco se concluirá no futuro próximo. "Quando falamos de humanidade pensamos, em primeiro lugar, nos nossos irmãos latino-americanos e caribenhos, aos que não esqueceremos nunca e, depois, o resto dessa humanidade que habita nosso planeta", disse o comandante. Inspirada por ele, Cuba foi sempre solidária com as lutas de todos os povos da Terra e, em particular, com as de nossa região.

Foi nela que apoiou as lutas das massas e, quando foi preciso, deu, àqueles que escolheram a via armada, toda a sua solidariedade e o sangue de alguns de seus melhores filhos. Estendeu sua mão amiga aos militares patriotas, desde Turcios Lima em Guatemala, passando por Caamaño na resistência dominicana contra a invasão ianque ao governo nacionalista de Velasco Alvarado no Peru e à luta dos panamenhos, com Omar Torrijos à frente, pela devolução do canal.

Desafiando o plano descomunal de Washington para derrubá-lo, Fidel e toda Cuba forneceram um apoio extraordinário para o governo da Unidade Popular do presidente Salvador Allende, amigo sincero, na primeira experiência de libertação nacional e socialista pela via política em nossa América.

Daquela experiência, Fidel concluiria: Nem povo sem armas, nem armas sem povo.


Fonte: La Jornada. Primeira parte

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Papa Francisco rejeitou a doação de 16 milhões e 666 mil pesosde Mauricio Macri


Redação Pragmatismo

O que há por trás do imbróglio entre o papa Francisco e Mauricio Macri

Em um gesto de indubitável repercussão política, o Papa Francisco rejeitou a doação de 16 milhões e 666 mil pesos que lhe foram outorgados pelo governo de Mauricio Macri

papa francisco maurício macri argentina
A rejeição do papa Francisco a uma doação milionária do governo argentino abriu uma nova frente de discórdia entre o Vaticano e o presidente Mauricio Macri.
A rede mundial Scholas Occorrentes, promovida pelo papa para a inclusão educativa e a paz rejeitou a doação e buscará “obter o aporte necessário de maneira imediata por meio dos organismos multilaterais de crédito e da ajuda de privados”, informou em uma carta datada de 9 de junho e destinada ao chefe de gabinete, Marcos Peña.
Macri havia ordenado por decreto a doação de 16,666 milhões de pesos (1,1 milhão de dólares) para pagar os gastos da sede local da rede mundial educativa.
A cifra ‘666’, o número da besta que faz referência a satanás, foi considerada uma “piada de mau gosto” em âmbitos religiosos, afirma o jornal Vatican Insider que cita a “perplexidade do papa” com a doação “imprevista”.
“Tudo é interpretado de forma negativa”, declarou à rádio Continental o diretor da Scholas Occurrentes, José María del Corral, ao colocar panos quentes no assunto.
Peña indicou, por sua vez, que “é um insulto à inteligência pensar que com uma doação de dinheiro pode-se comprar o papa”.

Constrangimento

Para o economista e analista Carlos Fernandes, a recusa do Vaticano representou um constrangimento internacional para o governo de Mauricio Macri.
“O que se especula no centro do poder religioso católico é que a doação seria uma forma de ‘comprar’ a simpatia do santo papa em relação ao governo macrista que sofre de uma avassaladora onda de impopularidade no seu país”, diz.
Além da desmoralização pública, o desconforto com o número da besta é evidente. “Pegou muito mal com o alto clero da igreja a cifra 666 estar presente no valor da doação. Incluir o número da Besta num donativo ao Vaticano é uma grosseria diplomática”, avalia.
A origem do dinheiro também não agrada. “O diretor geral da Scholas Occurrentes, José Maria del Corral, tornou o episódio ainda mais vergonhoso para Macri ao lembrar que essa não é a primeira vez que a fundação recusa esse tipo de doação. Dinheiro vindo da Conmebol também foi recusado devido ao seu envolvimento no esquema de corrupção da FIFA. Liguem os pontos e chegaremos a uma conclusão óbvia”, conclui Fernandes.

Tempos difíceis e mais distanciamento

Ainda de acordo com o Vatican Inseder “a quantia foi considerada como de todo excessiva em tempos em que seu país (Argentina) enfrenta uma delicada situação econômica”.
A rejeição representa um novo distanciamento entre o pontífice e o presidente argentino de centro-direita, que assumiu o governo no dia 10 de dezembro.
O papa recebeu Macri em uma audiência no fim de fevereiro em um encontro sério e formal, de breves 22 minutos, que foi considerado uma demonstração de frieza entre o religioso e o presidente argentino.
Macri assumiu a presidência com a promessa de de obter a ‘pobreza zero’.
Mas nos três primeiros meses de governo, 1,4 milhão de argentinos a mais caíram na pobreza, que afeta 34% da população de 40 milhões de pessoas, segundo um estudo da Universidade Católica.

FONTE: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/06/o-que-ha-por-tras-do-imbroglio-entre-o-papa-francisco-e-mauricio-macri.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+PragmatismoPolitico+%28Pragmatismo+Pol%C3%ADtico%29

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Lavar e enxaguar a lambança criada do governo Temer

E o #ForaTemer pelo Brasil

 

 


Há sinais fortes de que a conjuntura política mudou. A presidenta Dilma Rousseff, afastada para o julgamento do processo de impeachment, saiu das cordas, ao mesmo tempo em que – às vésperas de completar um mês de interinidade – o vice-presidente que ocupa ilegitimamente a Presidência da República, Michel Temer, se vê cada vez mais isolado, no Brasil e no mundo.
São dois os sinais da mudança na conjuntura – o primeiro foi a entrevista com a presidenta Dilma Rousseff na TV Brasil (exibida nesta quinta-feira, dia 9); o outro foram as enormes manifestações pelo “Fora Temer” desta sexta-feira (10). 
Dilma Rousseff pôde, naquela entrevista, manifestar uma opinião – e uma disposição – de enorme importância: sua adesão à tese da necessidade da consulta popular para construir a saída para a crise e, a partir dessa consulta (que poderia ser um plebiscito) redefinir os rumos de seu governo e conquistar o necessário apoio parlamentar para ele.
Os milhares de pessoas que, apesar do frio intenso, saíram às ruas na noite de ontem, atendendo ao chamado da Frente Brasil Popular e da Frente Povo Sem Medo, em mais de cinquenta cidades de quase todos os estados e o Distrito Federal (cidades como São Paulo – com a presença do ex-presidente Lula –, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, Porto Alegre e demais capitais), ergueram firmemente as bandeiras do Fora Temer, da resistência ao golpe e da denúncia da ilegalidade do afastamento da presidenta Dilma Rousseff. 
Foi uma unanimidade muito forte, que contrasta com a contínua impossibilidade do presidente postiço, Michel Temer, sair às ruas e que o leva a, sucessivamente, desmarcar compromissos devido ao medo de vaias e manifestações contrárias ao golpe.
Dilma Rousseff foi enfática ao defender a consulta popular para, em sua opinião, “lavar e enxaguar essa lambança que está sendo o governo Temer”. 
Foi uma maneira expressiva de dizer que somente o povo pode devolver a legitimidade a um governo que conduza o Brasil na rota da superação da crise e encontre novos caminhos de crescimento e fortalecimento da democracia. 
Um governo que reafirme – contra as tentativas ilegítimas e impopulares da direita, dos conservadores e seu governo usurpador – o programa de mudanças políticas, sociais e econômicas que venceu todas as eleições presidenciais desde 2002. Programa que precisa se consolidar, contra a ganância e os privilégios da elite direitista e neoliberal que, tendo tomado de assalto a Presidência da República, faz de tudo para desmontar as ferramentas construídas pelos governos Lula e Dilma e submeter o país apenas ao atendimento de seus interesses mesquinhos e particulares. 
FONTE :

Os impactos do golpe do Temer, nos Direitos Trabalhistas



   
Comprovam essa assertiva as dezenas de projetos de leis (PLs), que tramitam na Câmara Federal e no Senado Federal, visando à redução, ao rés do chão, e/ou a supressão dos direitos fundamentais sociais, elencados nos Arts. 6º e 7º, da CF, 611 e seguintes, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

É difícil dizer qual deles é mais pernicioso. Todos o são, sem exceção. Com a finalidade de se colaborar com a adequada compreensão deles e de sua letalidade, traz-se, aqui, a síntese dos objetivos, dos mais nocivos, se é que há possibilidade de se estabelecer tal hierarquia. Tamanha é nocividade de todos eles.

2- Parece induvidoso que o maior petardo advém do PL N.6411/2013, de autoria do Deputado Carlos Bezerra, do PMDB do Mato Grosso, que tem por escopo pôr fim à maior conquista dos trabalhadores, desde a promulgação da CF, que se consubstancia na ultratividade das normas coletivas, ou seja, que garante a adesão destas aos contratos individuais de trabalho, conforme a Súmula N. 277, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que se embasa no Art. 114, § 2º, parte final, da CF.

Se for aprovado o disposto neste PL, cada negociação coletiva começará da estaca zero. Isto porque, vencido o prazo de sua vigência, que pode variar de um a quatro anos, todas as conquistas garantidas em convenções e/ou acordos coletivos evaporam-se dos contratos de trabalho, como se nunca tivessem existido; somente voltando a eles se e quando forem novamente asseguradas por instrumento normativo de igual natureza.

O referido PL propõe que se acrescente ao Art. 614, da CLT, o § 3º, com a seguinte redação: “ § 3º Não será permitido estipular duração de Convenção ou Acordo coletivos superior a quatro anos, sendo inaplicável o princípio da ultratividade das cláusulas normativas, cujas condições de trabalho vigoram no prazo assinado, sem integrar, de forma definitiva, os contratos”.

Na justificativa da propositura, o Deputado propositor, sem nenhum pejo, afirma que a apresenta acatando sugestão da Confederação Nacional da Indústria (CNI), para quem, com a Súmula N. 277, do TST, com a sua nova redação, “ .. houve grande prejuízo ao contínuo processo de negociação coletiva. Afinal, de um lado, tem-se uma situação de conforto com as condições coletivas já garantidas e, de outro, tem-se o receio de concessão de novos benefícios.

3 O segundo PL, com maior grau de nocividade, que, somado ao anterior, põe em perigo de morte, para sempre, todos os direitos fundamentais sociais, é de N.4962/2016 , de autoria do Deputado Federal Júlio Lopes, do PP-RJ, que traz de volta o monstro da prevalência absoluta do negociado sobre o legislado, velho conhecido dos (as) trabalhadores (as), desde a era Fernando Henrique- a famigerada Emenda 3.

De acordo com este PL, o Art. 618, da CLT, deve vigorar com a seguinte redação:
Art. 1º O artigo 618 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 618 – As condições de trabalho ajustadas mediante convenção ou acordo coletivo de trabalho prevalecem sobre o disposto em lei, desde que não contrariem a Constituição Federal e as normas de medicina e segurança do trabalho.

§ 1º - No caso de flexibilização de norma legal relativa a salário e jornada de trabalho, autorizada pelos incisos VI, XIII e XIV do art. 7º da Constituição Federal, a convenção e acordo coletivo de trabalho firmado deverá explicitar a vantagem compensatória concedida em relação a cada cláusula redutora de direito legalmente assegurado.

§ 2º - A flexibilização de que cogita o parágrafo anterior limita-se à redução temporária de direito legalmente assegurado, especialmente em período de dificuldade econômica e financeira pelo qual passe o setor ou a empresa, não sendo admitida a supressão do direito previsto em norma legal.

§ 3º - Não são passíveis de alteração por convenção ou acordo coletivo de trabalho normas processuais ou que disponham sobre direito de terceiro.

§ 4º - Em caso de procedência de ação anulatória de cláusula de acordo ou convenção coletiva que tenha disposto sobre normas de medicina e segurança do trabalho, processuais ou de direito de terceiros, deverá ser anulada igualmente a cláusula da vantagem compensatória, com devolução do indébito.”


A justificativa do comentado PL busca respaldo nas convenções OIT, de Ns. 98, de 1949, e 154, de 1981, ambas ratificadas pelo Brasil, que tem por escopo dar efetividade às negociações coletivas, valorizando-as e tornando-as obrigatórias, para empregadores e empregados. Porém, em sentido diametralmente oposto ao suscitado pelo Deputado Júlio Lopes.

Igualmente, busca respaldo na Decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), tomada no julgamento do Processo de recurso extraordinário (RE) de N. 590.415-SC, que, indiscutivelmente, rasga o princípio constitucional de vedação de retrocesso social, pois que admite renúncia coletiva (firmada por sindicatos) a direitos fundamentais sociais, desde que não fira o “padrão civilizatório mínimo”, consoante as palavras do Ministro Roberto Barroso, registrada no seu voto, acolhido pelo Pleno do STF.

Para pavimentar a sua proposta, com lastro na realçada Decisão, do STF, o citado Deputado afirma, com arroubo:

“ A diretriz traçada pelo Supremo Tribunal Federal, como ratio decidendi desse leading case, se deveu ao quadro jurisprudencial refratário à flexibilização de direitos trabalhistas apresentado pela Justiça do Trabalho em suas diferentes instâncias, calcada numa concepção superlativamente abrangente da insdiponibilidade dos direitos trabalhistas”

Parafraseando a Bíblia, pode-se dizer, que, nos termos da proposta do Deputado Júlio Lopes, no tocante aos direitos fundamentais sociais, não ficará pedra sobre pedra, que não seja derrubada; ou, em outras palavras: tudo, absolutamente tudo, pode ser objeto de renúncia, pelos trabalhadores, por meio de seus sindicatos.

Para não deixar dúvida alguma, sobre quais interesses, efetivamente, buscam-se a proteção, no PL em questão, o autor afirma, ainda, na Justificativa:

“Com efeito, em se tratando de normas de medicina e segurança do trabalho, processuais ou relativas a direito de terceiros (como FGTS), obviamente não há margem para a flexibilização. Mas tratando-se de salário e jornada, com vantagens compensatórias ofertadas pelas empresas para flexibilizar determinados direitos, não há como se falar em nulidade das cláusulas. E muito menos anulação apenas das cláusulas desvantajosas ao trabalhador, sem a anulação do próprio negócio jurídico materializado no acordo ou convenção coletiva, já que fruto de mútuas concessões, ou a anulação concomitante das vantagens compensatórias outorgadas pelo setor patronal”.

Se, pela análise deste arrazoado do autor, ainda paira alguma dúvida sobre as suas reais intenções, esta se dissipa pela simples leitura do § 4º, proposto, que determina a devolução (indébito), de eventual vantagem compensatória, recebida pelo trabalhador, caso a cláusula de renúncia seja declarada nula pela Justiça do Trabalho.

Não, por mero esquecimento, ou falha de redação, o autor, quer no texto proposto, quer na sua justificação, não diz uma palavra sobre a devolução pela empresa, em casos que tais, ou seja, de anulação de cláusula de renúncia. Equivale a dizer: sendo declarada a anulação de cláusula deste jaez, o empregado devolve o que recebeu, como compensação; a empresa, não. Isto, nos termos do Art. 882, do Código Civil (CC), chama-se enriquecimento ilícito ou sem causa, e é, por isto mesmo, absolutamente vedado.

Há de se acrescentar, ainda, sob o realçado PL e sobre todos os que primam por igual objetivo, que a negociação coletiva, a que aludem e hipoteticamente buscam fortalecer, pode prescindir da participação dos sindicatos, como permite o Art. 617, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que a Justiça do Trabalho considera como vigente, não obstante a CF, no Art. 7º, inciso VI, estabelecer como obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas.

4 O Deputado Sílvio Costa, do PTB de Pernambuco, não se contentou em tentar modificar Arts. esparsos, da CLT, por meio de seu PL N. 1463/2011, pretende substituir a CLT inteira, por um código do trabalho, que, como se extrai de sua Justificação, almeja substituir a proteção dos trabalhadores, ainda existente, pela integral proteção dos interesses empresariais, mesmo os mais lesivos àqueles (as).

Já no Art. 2º, Parágrafo único, não deixa remanescer dúvida alguma sobre o que realmente intenta, ou seja, diz a que vem; e vem para beneficiar as empresas. Nele, acha-se indelevelmente asseverado: “As condições de trabalho previstas neste Código podem ser alteradas por meio de : I convenção ou acordo coletivo de trabalho; ou acordo individual, desde que o trabalhador perceba salário mensal igual ou superior a dez vezes o limite máximo do salário de contribuição da previdência social”.

Se isto é possível, este PL mostra-se mais nocivo do que o de N. 4962/2016, esposado pelo Deputado Júlio Lopes, pois que autoriza, também, a renúncia individual. Muito embora, condicione-a à percepção, pelo empregado renunciante, de salário igual ou superior a dez vezes o teto de contribuição da Previdência Social, hoje, de R$ 5.189,92. Isto quebra, em definitivo, a regra de nulidade absoluta de renúncia individual, reconhecida inclusive pelo STF, no Processo que serve de justificativa para aquele PL; a partir dela, tudo será questão de tempo, pois que, como diz a velha metáfora mineira: cesteiro que faz um cesto, faz um cento.

“Hoje, a inflexibilidade para se contratar é, sem dúvida, o mais grave problema da legislação trabalhista, pois impede a competitividade das empresas. Como a concorrência nos mercados internos e externos é cada vez mais acirrada, e só vence quem oferece o menor preço, as empresas não hesitam em transferir fábricas para países onde o custo de produção é baixo.

Por isso, nosso urgente interesse na aprovação de um Código do Trabalho. Nosso objetivo maior não é propor uma revolução na legislação trabalhista, mas reduzir a complexidade e o anacronismo da legislação atual e permitir que empregados e empregadores possam negociar condições de trabalho diferentes da lei, com todas as garantias previstas na Constituição Federal.

Flexibilizar, garantindo-se direitos mínimos, vem ao encontro da tendência mundial de afastamento do intervencionismo e protecionismo exacerbado do Estado, dando força à composição entre as partes como forma reguladora das relações laborais.

5 O PL N. 4193/2012, de autoria do Deputado Federal Irajá Abreu, tem o mesmo objetivo dos retrocomentados, nos itens 3 e 4; sem ser tão explícito, no tocante ao alcance e aos seus verdadeiros objetivos, quanto este. Mas, ao fim e ao cabo, deles não se diferencia.

6- O PL N. 948/2011, do Deputado Laércio Oliveira, PR-SE, visa a acrescentar § 2º, ao Art. 477, da CLT, para impedir que o (a) trabalhador (a), após assinar o termo de rescisão de contrato de trabalho, busque a Justiça do Trabalho, para cobrar direitos, porventura, não observados durante a vigência do contrato de trabalho.

A redação proposta é a seguinte: “O instrumento de rescisão ou recibo de quitação, qualquer que seja a causa ou forma de dissolução do contrato, terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas”.

A rigor, o que se pretende, com este PL, é tornar insuscetível de cobrança judicial, a tunga a direitos trabalhistas, que é prática sistemática de centenas de milhares de empresas, pelo Brasil afora; e, que, por certo, se multiplicará caso ela seja legalizada.

Esta pretensão é sonho antigo, acalentado por todas as empresas que assim agem; e que, ao início da década de 1990, teve o primeiro ensaio, com a Súmula N. 330, do TST, que se converteu em objeto de duríssimas e incontáveis críticas de todos quantos não o avalizam, inclusive juízes e tribunais. Ao ver desnudado o verdadeiro objetivo da mencionada Súmula, o TST viu-se compelido a alterar o seu conteúdo, de modo a limitar o alcance da eficácia decorrente de rescisão de contrato, aos valores nela especificados e efetivamente pagos.

Agora, o Deputado Laércio Oliveira pretende ressuscitar este cadáver, há muito, levado às catacumbas, definitivamente; ao menos, o que se pensava.

De acordo com a proposta sob comentários, somente não se verificará quitação plena, nas rescisões de contrato, quando nela se opuserem ressalvas específicas, isto é, sobre o que não foi observado durante o contrato. O que é quase impossível. Primeiro, por demandar conhecimento detalhado do contrato de trabalho; o que, na maioria das vezes, nem o próprio trabalhador o possui. Segundo, porque, no momento da rescisão, não se vislumbra nenhuma possibilidade de se adquirir este conhecimento; até, por faltar ao homologador tempo e preparo para isto.

Caso prospere essa excrescência, os documentos de quitação se transformarão em sentença de morte, para os trabalhadores que os assinarem.

7 O PL N.8294 /2014, do Deputado Fábio Ramalho, tem por objetivo o acréscimo de Parágrafo único, ao Art. 444, da CLT, com a seguinte redação:

“ O art. 444 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, passa vigorar acrescido do seguinte parágrafo único
Parágrafo único. Os limites para a livre estipulação do contrato de trabalho, estabelecidos no caput, não se aplicam quando:

I- o empregado for portador de diploma de nível superior e perceber salário mensal igual ou superior a duas vezes p limite máximo do salário-de-contribuição da previdência social;

II- o empregado, independentemente do nível de escolaridade, perceber salário mensal igual ou superior a três vezes o limite máximo do salário-de-contribuição da previdência social.

Este PL, no tocante à renúncia individual de direitos trabalhistas, consegue ser muito mais agressivo do que o assinado pelo Deputado Sílvio Costa, que a admite quando o salário for igual ou superior a dez vezes o salário de contribuição da Previdência Social; apesar de portar o mesmo escuso objetivo: redução de direitos.

O Art. 444, da CLT, veda qualquer pactuação que não respeite as demais normas da CLT e dos acordos e convenções coletivas de trabalho; e é exatamente esta regra que o PL em questão visa a quebrar.

8 O PL N.2409/2011, do Deputado Roberto Ballestra, PP-GO, altera o Art. 58, da CLT, para excluir-lhe a parte final do § 2º, que assegura a integração à jornada de trabalho do tempo despendido para o local de trabalho e o seu retorno, em transporte fornecido pelo empresa, quando se tratar de local de difícil acesso e/ou não servido por transporte público regular, conhecido como horas in itinere; bem assim, o § 3º, para estender a possibilidade de redução do referido tempo, por meio de convenção ou acordo coletivo, para todas as empresas; pela atual redação, isto somente é possível para as micros e as de pequeno porte.

A Súmula 90, do TST, regula esta matéria do seguinte modo:


“Súmula nº 90 do TST

HORAS "IN ITINERE". TEMPO DE SERVIÇO (incorporadas as Súmulas nºs 324 e 325 e as Orientações Jurisprudenciais nºs 50 e 236 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005

I - O tempo despendido pelo empregado, em condução fornecida pelo empregador, até o local de trabalho de difícil acesso, ou não servido por transporte público regular, e para o seu retorno é computável na jornada de trabalho. (ex-Súmula nº 90 - RA 80/1978, DJ 10.11.1978)

II - A incompatibilidade entre os horários de início e término da jornada do empregado e os do transporte público regular é circunstância que também gera o direito às horas "in itinere". (ex-OJ nº 50 da SBDI-1 - inserida em 01.02.1995)

III - A mera insuficiência de transporte público não enseja o pagamento de horas "in itinere". (ex-Súmula nº 324 – Res. 16/1993, DJ 21.12.1993)

IV - Se houver transporte público regular em parte do trajeto percorrido em condução da empresa, as horas "in itinere" remuneradas limitam-se ao trecho não alcançado pelo transporte público. (ex-Súmula nº 325 – Res. 17/1993, DJ 21.12.1993)

V - Considerando que as horas "in itinere" são computáveis na jornada de trabalho, o tempo que extrapola a jornada legal é considerado como extraordinário e sobre ele deve incidir o adicional respectivo. (ex-OJ nº 236 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001)”

Estes PLs, somados ao PLC N. 30/2015- que autoriza a terceirização sem limites e, a rigor, sem nenhuma única regra benéfica ao mundo do trabalho, se aprovados, farão ruir todos fundamentos, princípios e garantias constitucionais, quanto à dignidade da pessoa humana e dos valores sociais do trabalho; prevalecendo, a partir deles, como regra soberana, a ganância do capital e o seu descomunal poderio, escudado pelo Poder Legislativo, sempre vigilante em sua defesa; e, a depender do Presidente do TST, Ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho- como asseverado em seu discurso de posse, no dia 25 de fevereiro de 2016, e em entrevista concedida ao Jornal O Globo-, também, da instância máxima da Justiça do Trabalho: o TST.

Além do Presidente do TST, o Ministro do STF, Roberto Barroso- que foi relator do RE que inspirou o PL do Deputado Júlio Lopes, acima comentado-, em recente palestra, promovida pela Brazil Legal Society, por linhas transversas, fez a defesa do ajuste fiscal, da reforma da Previdência Social, e do fim do suposto preconceito contra a iniciativa privada. Será que estas enigmáticas palavras são aleatórias? Por que será que se tornaram notícias? Por mera coincidência? Parece fora de dúvida que tem o mesmo objetivo das que foram pronunciadas pelo Presidente do TST; com outra tinta; porém, com a mesma finalidade.

Faz-se necessário registrar que todos os comentados PLs, com exceção do que cria o Código do Trabalho- igualmente, nocivo-, tem como autores arautos do processo de impeachment, ora em tramitação no Senado. O que torna forçosa a conclusão de que representam a antessala do Programa do usurpador Vice- Presidente da República, Michel Temer, desavergonhadamente intitulado de “Ponte para o Futuro”; mas que, em verdade, nada mais é do que escada rolante para o inferno profundo. Aquele da obra de Dante Alighiere, A Divina Comédia; que, em seu oitavo e último círculo, era guardado por uma loba, que se alimentava de carne humana e quanto mais comia, mais fome sentia.
Se tais PLS, em sentido estrito, não se alimentam de carne humana; não se pode negar que se alimentam de direitos fundamentais sociais e a sua ganância deixa acanhada a fome da loba, citada por Dante. E o que é pior: isto não é tudo. Marcha, ao lado dos comentados PLs, com igual ganância, a reforma da Previdência Social, que, segundo o Ministro da Fazenda, de plantão, Henrique Meireles, é, igualmente, prioridade do governo Temer, e só não vai atingir os aposentados e os que já possuem direito adquirido; todos os demais sofrerão as suas consequências.

A Reforma da Previdência Social, como toda reforma ditada pelo capital, não visa à expansão de direitos e/ou a sua base de financiamento, hoje, sustentada, em larga medida, pelos segurados (trabalhadores); mas, sim, para reduzir os direitos que são por ela assegurados e, com isto, abrir a porteira para a previdência privada; e para destinar as verbas que vão para a previdência pública, ao pagamento de mais juros para os banqueiros.

A Previdência Social, desde a Constituição de 1988, transformou-se na maior e mais eficaz política pública, sendo, efetivamente, o principal instrumento de transferência de renda, para os mais pobres, retirando da miséria milhões de brasileiros (as), antes desamparados; em especial, no campo.
A aposentadoria rural, de um salário mínimo, constitui-se na maior fonte de riqueza de mais de três mil e quinhentos, dos cinco mil, quinhentos e setenta, municípios brasileiros; representando, para eles, mais do que o Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

O que se quer reformar, na Previdência Social? A sua vinculação com o salário mínimo, que é a principal garantia dos segurados, pois que mantém o seu valor real; e a idade mínima, para se aposentar, passando a ser de sessenta e cinco anos, para homens e mulheres.

Se esta idade mínima for aprovada e, juntamente com ela, a redução da idade, para ingresso no mundo do trabalho, de dezesseis, para quatorze anos, como também se quer (PEC N. 18/2011), os filhos dos trabalhadores terão de trabalhar até cinquenta e um anos, para ter direito à aposentadoria.

Diz-se que a previdência social é deficitária; só que, convenientemente, não se diz o porquê, pois, isto desmoralizaria este argumento.

Mesmo com a desvinculação de vinte por cento das receitas da previdência social, pela chamada DRU; com a desoneração da folha de pagamento, que representa bilhões de reais a menos no financiamento da previdência social, a previdência urbana ainda é superavitária, ou seja, arrecada mais do que gasta.

A previdência rural é que deficitária, que não possui financiamento próprio, uma vez que os trabalhadores rurais, a rigor, para ela não contribuem, por falta de condições; e os proprietários rurais, por descarada sonegação, com a cumplicidade governamental.

Se se concretizar a razão de ser do imposto governo Temer, acima sintetizada, no campo dos direitos fundamentais sociais; há de se perguntar: após ela, haverá Estado Democrático de Direito- que, consonante preconiza o Art. 1º, da Constituição Federal, alicerça-se na cidadania (inciso II), na dignidade da pessoa humana (inciso III), nos valores sociais do trabalho (inciso IV)?

A resposta somente pode o desolador não.

Aqui, vale a sábia lição do escritor peruano, Manuel Scorza, em belíssimo livro “Redoble para Rancas”, traduzido livremente para o Português como “Bom dia para os defuntos”, que conta a história do massacre dos indios de Rancas, nas décadas de 1950 e 1960, contra a exploração e o crescimento do latifúndio, com a promoção e a cumplicidade do governo.

Para impedir o desmanche do Brasil, só há o caminho, já indicado por Voltaire, no já longínquo século 18: o clamor popular; ou seja, o povo em combate.

A hora é agora. Ao depois, será muito tarde.

Nada de novo e de decente pode ser esperado do governo Temer, pois isto inverte a sua essência e os seus vis propósitos.

Os Impactos do Golpe


A série de artigos "Os Impactos do Golpe", organizado pelo Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho (CES) reúne diversos textos sobre a conjuntura atual com o intuito de oferecer uma melhor compreensão para o momento vigente e suas consequências futuras.

*José Geraldo de Santana Oliveira é advogado em Goiás, assessor Jurídico da Fitrae MTMS, Contee, Fitrae-BC, do Sinpro-GO, Sintrae-MS e Sintrae-MT e professor de assuntos jurídicos do CES.


FONTE: http://www.vermelho.org.br/noticia/282331-1