Ángel Guerra Cabrera: Fidel, bolivariano e martiano
Nesta sábado, 13 de agosto, Fidel Alejandro Castro Ruz (Birán, Holguín, Cuba, 1926) fará 90 anos. É impossível nesse espaço enumerar a diversidade de áreas e importantes epopeias revolucionárias das quais ele participou. Por isso, longe de querer esgotar o tema, me concentrarei no seu pensamento latino-americanista, sua irredutível solidariedade com a libertação da América Latina e do Caribe e com a conquista de sua unidade e integração.
Fidel Castro, no início dos anos 1960
Fato simbólico, a OEA, sob enormes pressões e outras manhas de Washington, expulsou de seu seio a Cuba revolucionária (Punta del Este, Uruguai, 1962) e, ao passo de algumas décadas, o clamor unânime dos governos da região (San Pedro Sula, Honduras, 2009), acabou revertendo essa medida.
Havana reiterou que não regressará à OEA – será um despropósito –, mas isso não nega a grande carga política do reconhecimento e da dignidade de Cuba, liderada por Fidel, embutida naquela decisão.
Foi precisamente a exclusão da ilha do organismo que deu condições para que o então primeiro-ministro submetesse a Segunda Declaração de Havana (1962) para a aprovação – clamorosa – da Assembleia Geral Nacional do Povo de Cuba. Um documento essencial na história de nossos povos, que dá continuidade à Carta da Jamaica (1815), de Simón Bolívar e ao ensaio Nuestra América (1891), de José Martí.
Nela está postulado: "Nenhum povo da América Latina é fraco, porque faz parte de uma família de 200 milhões de irmãos que padecem das mesmas misérias, abrigam os mesmos sentimentos, têm o mesmo inimigo, sonham todos com um melhor destino e contam com a solidariedade de todos os homens e mulheres honrados do mundo inteiro".
Discípulo dedicado e consequente de Bolívar e Martí, esse conceito de fraternidade e união da nossa América formou parte do núcleo principal do pensamento político de Fidel desde os dias ancestrais de Cayo Confites e o bogotaço.
A revolução cubana, cuja profunda repercussão planetária é indiscutível, desencadeou um ciclo de lutas populares, revolucionárias e pela unidade e integração da América Latina e do Caribe que ainda não se concluiu, tampouco se concluirá no futuro próximo. "Quando falamos de humanidade pensamos, em primeiro lugar, nos nossos irmãos latino-americanos e caribenhos, aos que não esqueceremos nunca e, depois, o resto dessa humanidade que habita nosso planeta", disse o comandante. Inspirada por ele, Cuba foi sempre solidária com as lutas de todos os povos da Terra e, em particular, com as de nossa região.
Foi nela que apoiou as lutas das massas e, quando foi preciso, deu, àqueles que escolheram a via armada, toda a sua solidariedade e o sangue de alguns de seus melhores filhos. Estendeu sua mão amiga aos militares patriotas, desde Turcios Lima em Guatemala, passando por Caamaño na resistência dominicana contra a invasão ianque ao governo nacionalista de Velasco Alvarado no Peru e à luta dos panamenhos, com Omar Torrijos à frente, pela devolução do canal.
Desafiando o plano descomunal de Washington para derrubá-lo, Fidel e toda Cuba forneceram um apoio extraordinário para o governo da Unidade Popular do presidente Salvador Allende, amigo sincero, na primeira experiência de libertação nacional e socialista pela via política em nossa América.
Daquela experiência, Fidel concluiria: Nem povo sem armas, nem armas sem povo.
Fonte: La Jornada. Primeira parte


O ministro das Relações Exteriores e chanceler do Uruguai,
Rodolfo Nin Novoa, se posicionou mais uma vez contra o impeachment de
Dilma Rousseff, e disse neste sábado que seu país não tem intenções de
reconhecer Michel Temer como presidente do Brasil; "Com certeza estamos
muito preocupados com esta situação e esperamos que tudo ocorra dentro
dos parâmetros constitucionais e institucionais. Não haverá nenhum tipo
de comunicação. Já dissemos o que deveríamos ter dito, de maneira que
não temos mais nada a agregar", disse Nin Novoa; golpe já foi rechaçado
por outros vizinhos sul-americanos, como Bolívia, Venezuela e Equador
Foi consensual, e negativa, a reação dos principais jornais do
mundo ao processo de impeachment no Brasil; para o espanhol, a
presidente Dilma Rousseff foi afastada "sem provas"; o alemão Die Zeit
disse que o Brasil se tornou um país de "democracia fraca", o que gera
preocupação para a Rio 2016; o francês Le Monde destacou o caráter
misógino da equipe do presidente interino Michel Temer; o britânico The
Guardian pontuou que o sistema político corrupto do Brasil é que deveria
ser julgado – e não a presidente honesta; para o New York Times, a pena
imposta a Dilma foi desproporcional; o britânico Financial Times
elogiou a equipe econômica; com isolamento no mundo, Temer conta com a
boa vontade das empresas familiares de mídia no Brasil
"Em um dia, retrocedemos 31 anos. De repente, estávamos
novamente na posse de José Sarney, mas sem Ulisses Guimarães para
freá-lo. Livre para ser o que é, Michel Temer cercou-se rapidamente do
que há de pior na política brasileira. A turma do boi, a turma da
Bíblia, a turma da bala. Na cena da posse, que parecia um quadro
falsificado de Rembrandt, a modernidade ficou de fora. Em vez de jovens,
negros, mulheres e grupos homossexuais, ouviu-se o apelo positivista
por Ordem e Progresso", diz o escritor e jornalista Ivan Martins; "Se
desse arranjo insustentável resultar uma administração estável, o Brasil
terá se convertido em caso único – um país que no século 21 concordou
pacificamente em ser arrastado de volta ao século 19, quando as massas
não tinham voto, voz ou direitos, e viviam vidas miseráveis em prol dos
20% no topo da pirâmide. Felizes, queridos?"
