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sexta-feira, 26 de abril de 2013

A raiz dos estereótipos

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Elias Thomé Saliba

26.04.2013 10:17

A raiz dos estereótipos

Henri Fajfel nasceu na Polônia, mas como o país proibia aos judeus matricular-se em universidades, transferiu-se para a França, onde estudou Química até o início da Segunda Guerra Mundial. Após engajar-se no exército francês, caiu prisioneiro num campo alemão. Lá os nazistas distinguiam prisioneiros segundo alguns pedigrees. Se fosse apenas francês seria tratado como inimigo. Se judeu-francês, como animal. E o judeu-polonês teria morte rápida e certa. Fajfel escolheu o caminho do meio e, apesar da morte de todos os seus amigos e familiares, sobreviveu. Marcado pela experiência da prisão, realizou estudos importantes sobre as manifestações inconscientes na formação da identidade social, estereotipagem e preconceito.
Classificar e discriminar. Skinheads contrapõem-se a hippies em Londres, 1969. Foto: Cara Spencer/ Cortesia Museum of London
Classificar e discriminar. Skinheads contrapõem-se a hippies em Londres, 1969. Foto: Cara Spencer/ Cortesia Museum of London
Fajfel demonstrou que, da mesma maneira que o cérebro preenche lacunas em dados visuais ou sonoros, nossa mente subliminar pega os dados incompletos para completar a imagem, faz deduções e produz resultados algumas vezes exatos, outras vezes distorcidos, mas sempre muito convincentes. Nossa mente também preenche as lacunas quando julgamos os outros. E a categoria a que pertence o indivíduo é parte dos dados que usamos para fazer isso. Fajfel sugeriu que essa percepção inconsciente da categorização estaria na raiz de todos os preconceitos. Até a segunda metade dos anos 1980 ele foi esquecido, pois a maioria dos psicólogos passou a ver a discriminação como um comportamento intencional, não surgido de nossos processos cognitivos normais e inevitáveis, relacionados à propensão do cérebro para classificar e categorizar. Após décadas de experiências surgidas das pesquisas da neurociência, hoje sabemos que a estereotipagem inconsciente ou “implícita” é a regra, não a exceção.
Este é um entre muitos dos extraordinários relatos do físico norte-americano Leonard Mlodinow em Subliminar – Como o inconsciente influencia nossas vidas (Zahar, 304 págs., R$ 39,90 e e-book R$ 24,90), síntese provocadora e divertida de como as novas pesquisas em neurociência alteram nossa percepção do mundo subliminar. Que a publicidade e o marketing se utilizam delas para nos empanturrar de produtos dos quais não precisamos, sabemos. Há muito descobriram que “fatores ambientais”, como formato da embalagem, tamanho, porção e até mesmo a descrição dos pratos nos cardápios nos afetam de modo inconsciente. Descrições floreadas não apenas levam as pessoas a pedir comidas descritas poeticamente como também as levam a classificar tais pratos como “mais gostosos” do que aqueles idênticos, descritos de forma genérica. Até diferentes fontes de letra em cartazes e sites podem exercer o que se chama de “efeito fluência”, ou seja, se a forma for difícil de assimilar, isso afeta nosso julgamento da própria substância da informação.
*Leia matéria completa na Edição 746 de CartaCapital, já nas bancas

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