Une governista, inimiga dos estudantes
Pela
primeira vez, aqueles que há mais de 20 anos atuavam
dentro do movimento popular propondo o caminho
eleitoral para a transformação da sociedade
concretizaram seus planos. Agora, com Luis Inácio no
governo, PT, PCdoB que controlam a tanto tempo o movimento
popular, vão além dos pedidos de calma e paciência
para o povo. Defendem descaradamente a repressão e o ataque
aos direitos do povo, como o fazem com a contra-reforma na
universidade. Nunca ficou tão escancarada a posição do
movimento estudantil burguês, a Une. Um ano e meio em
que o oportunismo assume o poder, Une e Ubes mostram
como são agentes do ministério da educação nas escolas
e universidades. Encabeçaram desde o início, a campanha
do governo "pela reforma universitária já!",
através da chamada "Caravana Une pelo Brasil".
Durante meses a Une levou o MEC para as universidades para defender
a contra-reforma do Banco Mundial. Na maioria das
universidades, a Une foi expulsa e não conseguiu falar,
tamanha a repulsa dos estudantes. Na UFMG por exemplo,
chegaram a sair fugidos, correndo (literalmente),
expulsos pelos mais de 200 estudantes que em
manifestação no dia da chamada caravana, gritavam em
alto e bom som: Fora PCdoB da UFMG!
Os oportunistas vão se
desmascarando, todas as lutas estudantis que se
desenvolvem se dão por fora e contra a Une/Ubes.
Estudantes universitários boicotam taxas nas universidades,
fazem manifestações e resistem a contra-reforma
universitária. Estudantes secundaristas tomam as ruas e
radicalizam a luta pelo passe livre como em Fortaleza, Florianópolis,
Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Une, Ubes são cada vez
mais identificadas como inimigas dos estudantes. PT e
PCdoB começam a ser expulsos das escolas e
universidades com a perda de vários grêmios, DCEs e
DAs. O rompimento com Une/Ubes se coloca ainda mais na
ordem do dia para todos estudantes e organizações que
pretendem desenvolver a verdadeira luta dentro das escolas
e universidades, luta independente e combativa.
Logo quando da vitória
da eleição de Lula, o presidente da Une declarou que o
movimento estudantil deixaria de ser de resistência
para ser de "proposição" ao governo "popular e
democrático". Para tentar convencer os estudantes,
repetem mil vezes que são os continuadores do movimento
estudantil de 1968, de Honestino Guimarães, Helenira
Rezende e tantos outros revolucionários que dentro do
movimento estudantil deram exemplo de rebeldia e espírito
revolucionário. Com este discurso querem fazer todos acreditarem
que os jovens revolucionários da década de 60 e
70 lutaram e morreram para que hoje o povo brasileiro pudesse
votar e eleger Luis Inácio, e que a Une é a representação
máxima dos estudantes.
No entanto ficar
afirmando que a Une lutou no passado e que por isto
hoje é legítima representante dos estudantes, não
esconde que na prática é uma entidade governamental. É
necessário que observemos a história para enxergarmos
como se deu o desenvolvimento do movimento estudantil
brasileiro e como a Une se transformou nesta entidade oficial
e governista.
Histórico do Movimento Estudantil
Assim
como no movimento operário e popular temos no
movimento estudantil dois caminhos de desenvolvimento: o
revolucionário e o reformista. Produto das direções
oportunistas e eleitoreiras o caminho reformista
predominou também no movimento estudantil. O auge do
caminho revolucionário no m.e. se deu no final dos anos
60 e início dos anos 70, quando toda uma geração de
jovens se levantou no audacioso combate ao regime
militar. Em que pese os erros e insuficiências, este
foi o período de maior combatividade e de maior massividade
do m.e. brasileiro. Isto se deu exatamente porque foi neste momento
que o movimento estudantil rompeu com as ilusões
eleitorais e se dispôs a fundir-se com o povo na luta
pela tomada do poder. O auge do caminho reformista se
dá agora com a chegada do oportunismo ao controle do
aparato central do Estado reacionário, concretizaram um
projeto que se acumuluva há anos com traições,
enganação e semeando muita ilusão eleitoral entre as
massas. Estes caminhos sempre se enfrentaram e durante
curtos momentos o revolucionário predominou, desde o início
dos anos 80 tem predominado o caminho reformista sob a hegemonia
do PCdoB. Mas como diria o camarada Lenin, a vitória do
oportunismo é sempre temporária, cedo ou tarde com
as crises inevitáveis do sistema capitalista as massas
se levantam contra suas velhas direções e retomam
o caminho da luta combativa, é este momento que agora se
abre!
Desde o período
colonial, na luta pela independência do jugo português,
os estudantes brasileiros participam ativamente da
luta de classes de nosso país. Os jovens que estudavam
na Europa foram fundamentais para dar o suporte teórico
das Conjurações Mineira (1789) e Baiana (1796),
trazendo para o Brasil a revolucionária influência do
iluminismo e do racionalismo, das revoluções burguesas
norte-americana e francesa. Durante o império os
estudantes se destacaram pela participação na luta
contra a escravidão, expressão desta atuação foi o
jovem poeta baiano Castro Alves, que fez o curso de Direito
em Pernambuco e na USP, que fez de seus versos os mais belos
manifestos pela libertação dos escravos. A simpatia das
massas estudantis com as lutas do povo pobre se
evidencia com as manifestações de apoio a Canudos
(1897), particularmente no manifesto dos universitários
baianos denunciando a bárbarie e o genocídio perpetrado
pelo Estado reacionário.
No entanto, uma maior
politização e organização do movimento estudantil
ocorrerá a partir da intervenção do Partido Comunista
do Brasil (fundado em 1922) entre os jovens
intelectuais. Em 1936 é fundada a União da Juventude
Comunista, organização que será decisiva para diversas
mobilizações estudantis como as manifestações
anti-fascistas, exigindo que o Brasil participasse na II Guerra
contra o nazi-fascismo; os protestos contro envio de tropas
para a invasão ianque na Coréia; e a campanha
antiimperialista pela nacionalização do petróleo, "O
petróleo é nosso". A UJC também foi
decisiva para desatrelar a Une do Estado Novo, dando a ela um
caráter mais combativo e uma direção proletária.
Porém o reformismo que se instala na direção do PCB,
principalmente nos anos 50 e 60, irá desviar o
movimento estudantil para o caminho eleitoreiro e da conciliação
de classes. O reformismo do PCB irá se expressar nos apoios
aos chamados "governos do povo" de Getúlio e
JK e a participação ativa na gestão de João
Goulart. Esta postura governista e conciliadora desarmou o movimento
estudantil levando-o à paralisia e ao distanciamento da
massa.
A primeira
contraposição a esquerda da direção reformista será a
da Ação Popular, grupo oriundo da juventude católica
que adere ao marxismo e propugna um projeto
revolucionário de tomada do poder. A AP hegemonizará a
direção da Une de 62 até 68, oscilará entre a posição
revolucionária das manifestações contra a invasão
ianque ao Vietnã e as posições governistas de
conciliação com o presidente João Goulart. Apesar da
posição combativa da AP, esta não terá fibra ideológica
suficiente para contrapor mais profundamente o caminho
reformista no movimento estudantil, pesava muito a
herança do cristianismo. A ligação da Une com o governo
Jango era intensa, a entidade chegava a participar da
escolha do ministro da educação. Esta relação próxima
longe de tornar o governo mais democrático tornou a Une
ainda mais governista. O governismo da Une ficou
patente na histórica "Greve do 1/3", este foi uma das
maiores e mais importantes mobilizações dos estudantes
pela democratização das universidades, sua principal
reivindicação era de que 1/3 dos conselhos
universitários fossem compostos por estudantes (hoje, os
estudantes representam cerca de 1/10 dos conselhos). O movimento
se alastrou por todo o país e a greve paralizou praticamente
todas as universidades federais. Esta reivindicação
batia de frente com as orientações do imperialismo
norte-americano para a educação brasileira, que
mais tarde deveneria nos acordos MEC/USAID, que dentre outras
coisas visava restringir a autonomia das universidades. O
governo Jango estava irredutível nas negociações
da greve, foi então que a direção da Une
capitulou, sob a argumentação de que o movimento estava
atiçando as "forças golpistas de direita", então a Une
encerrou a maior greve estudantil da história de nosso
país. Este episódio comprova a existência de ilusões
com o governo demagógico/populsista de João Goulart e
com o Estado burguês/latifundiário. Tanto que no dia do
golpe, 1o de abril de 64, a Une lança um manifesto
conclamando os militares a defenderem o governo ‘legítimo’
de João Goulart.
O golpe militar
produzirá uma mudança significativa na direção do
movimento estudantil. Jango não resistiu ao golpe e
fugiu para o Uruguai, a constituição e o congresso
"soberanos" foram ignorados, enfim mais uma vez a
história comprovou que as instituições "democráticas"
no capitalismo existem até quando lhe são úteis. As
ilusões de mudar o país pela via eleitoral, os
devaneios de que Jango era um governante popular, isto
é, toda a justificativa política das posições
reformistas ruíram em apenas um dia. É o início da
ascensão de uma nova e revolucionária direção dentro do
movimento estudantil. A posição dos estudantes se
desenvolve rapidamente: primeiro lutas econômicas
combativas, depois luta contra o regime militar, para
então luta pelo o poder.
A primeira luta
importante se dará no ano de 66 contra os acordos
MEC/USAID e posteriormente contra a lei Suplicy de Lacerda.
Os acordos MEC/USAID foram firmados entre os militares e o governo
ianque em 1965, o tratado radicalizava a intervenção
do EUA na elaboração das políticas educacionais
brasileiras. No segundo semestre de 66 a Une, mesmo na
ilegalidade, dirige uma grande jornada de lutas contra
os acordos, denunciando seu caráter vil e vende-pátria.
Os militares, que sempre se apresentavam como
nacionalistas, foram denunciados por crimes de
subserviência colonial. O movimento foi tão intenso que
obrigou o regime a recuar e a rever alguns pontos do
acordo. Com esta derrota a ditadura aprendeu que não
poderia implementar seus planos para a educação sem
antes dar golpes mais duros na organização independente
dos estudantes. Em 67 radicaliza-se a aplicação da lei
Suplicy de Lacerda (nome do ministro da educação), que
em 64 colocara a Une na ilegalidade, são destituídas
as direções dos principais centros acadêmicos e são
convocadas eleições antecipadas. Os revolucionários
boicotaram este engendro dos milicos e posteriormente
organizaram eleições paralelas. Em contraposição aos
diretórios da ditadura foram criados os chamados CA’s
livres, que não eram reconhecidos oficialmente, tinham
suas sedes fora da universidade, mas representavam
seguramente a liderança da massa estudantil. Mesmo sob
estas difíceis condições os revolucionários souberam se
organizar, a repressão e a violência do regime
aumentava, porém já começava a gestar a rebelião do
povo, eram os preparativos para os grandes embates de
68.
No ano de 1968 ocorreu a
maior rebelião estudantil da história do Brasil. É o
ano em que os secundaristas se engajam com mais vigor,
trazendo para os protestos sua ousadia e audácia. No
dia 28 de março, estudantes que almoçavam no refeitório
estudantil Calabouço, que funcionava no centro do Rio,
iniciam um protesto contra o aumento da refeição. A
polícia intervêm e invade o refeitório, os estudantes
reagem com paus, pedras, pratos e talheres, a tropa
começa a atirar contra os estudantes e o secundarista Edson
Luís, paraense, de 18 anos, é ferido fatalmente.
Dá-se então uma dura batalha pelo corpo do estudante
assassinado, a massa consegue resgatá-lo e levam-no para
a Assembléia Legislativa. Acompanharam o enterro no dia
seguinte mais de 50 mil pessoas. Por todo o país estouram
mobilizações em repúdio ao assassinato. Em
Goiânia outro estudante é morto pela polícia. Daí por
diante estudantes e regime se baterão abertamente nas
passeatas. A massa organiza barricadas e uma grande artilharia
composta de pedras, vasos e paus surge do alto dos prédios.
Em junho ocorre a histórica manifestação
dos cem mil, cuja principal consigna era "Abaixo a ditadura!".
O general Costa e Silva recebe uma comissão de estudantes,
mas encerra a reunião se considerando desacatado. Em outubro
é realizado clandestinamente o Congresso da Une em
Ibiúna-SP, o regime descobre o encontro e prende mais
de 1000 estudantes. Estavam nas mãos do Exército as
principais lideranças do movimento estudantil
brasileiro. Foi um grande golpe. Em dezembro é editado o
Ato Institucional número 5 que legaliza as
arbitrariedades e a tortura. Junto dele veio o famigerado Decreto-lei
477 que permitia a expulsão de militantes do movimento
estudantil das universidades. A maioria dos dirigentes
presos em Ibiúna foi expulsa de suas faculdades. O
regime militar tentava pôr fim ao movimento que não
conseguira deter em 64 e 67 com a lei Suplicy de
Lacerda.
As
manifestações de 68 representaram um grande
desenvolvimento das lutas de 66 contra o acordo
MEC/USAID. O que se planteava agora era "Abaixo a
ditadura, povo no poder!". Os estudantes foram para as
ruas com este propósito e fizeram estremecer o regime.
Ao longo das lutas as massas ganharam grande experiência
nos enfrentamentos com a polícia e claramente os estudantes
levavam a vantagem. Mas era ilusão querer derrubar a ditadura
com manifestações de rua, esta expectativa conduziu
o movimento a erros importantes: desligamento dos estudantes
com as massas camponesas e operárias (que apoiavam a
luta mas ainda não participavam) e a crença na vitória
rápida e de um só golpe. A concepção
de achar que estava-se perto da tomada do poder descolou o movimento
da massa de estudantes. Outro erro desta concepção
foi o descuido com as questões de autodefesa do movimento,
subestimou-se a facistização do regime. O movimento
estudantil havia "desafiado o imperador" e era preciso
estar preparado para a rebordosa. A queda do congresso de
Ibiúna mostra que o movimento não havia se preparado o
suficiente para os momentos mais duros da luta.
Não há dúvida que o
aspecto principal das lutas de 68 é o positivo. A
politização e a combatividade dos estudantes atingiram o
patamar mais elevado, isto produziu uma riquíssima
geração de revolucionários, de valorosos e destemidos
jovens que se dispuseram a pegar em armas para fazer a
revolução em nosso país. Milhares de estudantes foram
para a luta armada e impuseram uma resistência heróica
aos facínoras. Mas aqui também encontraremos as ilusões
da possibilidade de derrubar a ditadura rapidamente.
Esta concepção dizia que bastava um pequeno grupo
iniciar a revolução que a massa os seguiria. Isto
descolou os revolucionários do povo e consistiu no
principal erro da luta armada neste período. A
experiência mais avançada foi a da guerrilha do
Araguaia, da qual participaram dezenas de militantes oriundos
do movimento estudantil. Esta foi a primeira tentativa de iniciar
a guerra popular no Brasil. A estratégia do PCdoB
previa que seria um combate prolongado e que para ser
vitorioso era fundamental a ligação com as massas. No
entanto, esta experiência não escapou das influências
das idéias e concepções em voga, se concentrou em uma
região aonde não existia nenhuma experiência política
das massas, houve pouco trabalho político entre o povo
da região e acreditou-se que poderia se vencer os
sucessivos cercos do inimigo.
A partir de 76,
praticamente todas as organizações que dirigiram a luta
armada estavam desmanteladas. O regime militar
conseguira aniquilar a direção do processo, foram
assasinados Pedro Pomar e Maurício Grabois do PCdoB, Manoel
Lisboa e Emmanoel Bezerra do PCR, Carlos Marighela e Joaquimm
Câmara da ALN, Carlos Lamarca do MR 8 e Mário Alves
do PCBR e muitos outros dirigentes. Esta derrota temporária
do caminho revolucionário em nosso país irá
repercutir diretamente no movimento estudantil. Com o extermínio
dos principais líderes revolucionários o que sobrou
de suas organizações abandona o caminho da revolução.
Ao invés de se realizar um balanço para se descobrir
os erros e prosseguir na senda revolucionária, as principais
organizações optaram por depor as armas. A lei de
anistia representou o acordo de capitulação dos
guerrilheiros arrependidos, que aceitavam ser colocados na mesma
condição dos torturadores e gendarmes do Estado
e se preparavam para integrar-se ao sistema, reingressar na chamada
"vida política nacional", leia-se voltar a participar
de eleições. O abandono do caminho revolucionário
culminará na campanha pelas "Diretas já" em
1984. Era o retorno às ilusões reformistas de mudanças
na vida do povo através das eleições.
No final dos anos 70 as
massas oprimidas davam mostras de sua disposição de
luta. Estouram greves operárias em São Bernardo e em
Belo Horizonte, barricadas são levantadas, inúmeras
fábricas ficam paradas. Na greve da Mannesman em BH os
operários além da reivindicação salarial exigiam a
libertação dos presos políticos. Vivia-se um auge do
movimento de massas, porém faltou uma direção a altura
que desse a estas enormes mobilizações uma perspectiva
revolucionária. No movimento estudantil também vivemos
este auge, inicia-se um massivo movimento de
reconstrução das entidades de base e nacionais. Em 79
realiza-se em Salvador o congresso de reconstrução da
Une, este congresso foi fruto de intenso trabalho de base e
de derrubada das velhas direções dos centros e diretórios
acadêmicos ligados ao regime. Em Juiz de Fora, Minas Gerais,
uma manifestação de 5000 estudantes derruba a antiga
diretoria do DCE da UFJF e assim foi por todo o país. Este
importante processo estava marcado pelo ódio à ditadura
que emanava dos estudantes. O centro das reivindicações
era a exigência de liberdades democráticas, o que
estava correto porque expressava o sentimento de toda a
massa. No entanto, a luta por liberdades democráticas
não consiste em um objetivo final e sim um meio para
que se possa desenvolver melhor a luta popular pela a
tomada do poder. Já nas eleições de 80 praticamente
todas as correntes do movimento estudantil estavam
envolvidas no processo eleitoral. Um grande retrocesso,
pois desde 67 as organizações estudantis vinham
organizando as campanhas pelo "Voto nulo!".
A Une se transformou em um símbolo de paralisia, burocratismo e peleguismo.
O engajamento no processo eleitoral,
ainda sob o regime militar, expressa o abandono
completo do caminho revolucionário no movimento
estudantil. Todas as lutas neste período estarão dentro
da estratégia oportunista de acumular eleitoralmente.
Nos anos 80 as principais forças no movimento estudantil
serão MR 8, PCdoB e PT. Desde 1984 o Pecedobê consegue
garantir a hegemonia na diretoria da Une, o que levará
a um crescente aparelhismo e burocratismo da entidade. Os congressos
foram piorando ano a ano, deixando de ser um espaço
sério para discussão política para ser uma grande festa
alienada; a disputa das correntes deixaram de ser por
posições políticas para ser cada vez mais por cargos na
entidade. O Congresso da Une de 1986 marca a
radicalização do aparelhismo desta entidade, que entra
num caminho sem volta de oportunismo e peleguismo.
Neste Congresso o Pecedobê é derrotado na questão da
eleição para a nova diretoria, que deixa de ser
congressual para ser direta. As eleições ocorrem e o
Pecedobê frauda descaradamente, o roubo é descoberto e
denunciado. O MR 8 propõem a construção de uma nova
Une, mas o PT fecha um acordo com o Pecedobê e valida,
em troco de cargos, as eleições fraudadas. É o início
da aliança (PT e PCdoB) no movimento estudantil, que
vigora até hoje no controle de Une e Ubes.
O
chamado "Fora Collor" marcou o estilo oportunista de
fazer movimento estudantil e foi a base de toda a
atuação de Une e Ubes durante os anos 90. Este foi um
movimento gestado pela mídia e que interessava a vários
setores das classes dominantes e do imperialismo. A
roubalheira perpetrada por Fernando Collor colocava em
risco a aplicação das políticas imperialistas de
privatização das empresas estatais e de reestruturação
do Estado reacionário. Tirá-lo passou a ser um problema
chave para a grande burguesia. Não é a toa que a Rede
Globo, que tanto investiu na eleição de Collor para
presidente, mudou de posição e se solidarizou com
o movimento dos "caras pintadas". Além disto o
"Fora Collor" foi utilizado para "demonstrar" que
realmente vivemos em uma democracia, pois "quem elege
pode destituir". Esta ilusão difundida pelo oportunismo
busca reforçar no povo a consciência atrasada de
acreditar nas eleições como forma de mudança.
O "Fora Collor" moldou o
velho movimento estudantil tanto em seu conteúdo como
em sua forma. Durante os oito anos de gerência FHC os
oportunistas tentaram reeditar este movimento. Em
conseqüência disto a década de 90 foi uma década de
enormes derrotas para os estudantes. As lutas concretas
contra a privatização das universidades e contra o fim
do ensino técnico foram substituídas pelo esquálido e
pacífico "Fora FHC". Em nenhum país da América Latina a
reforma Educacional do Banco Mundial foi levada tão a
fundo como no Brasil. Em nenhum país da América Latina
houve tão pouca resistência contra estas reformas.
Enquanto na Venezuela, Uruguai, Chile e Equador os
estudantes ocupavam escolas e universidades, faziam
greves, entravam em confronto com a polícia contra a
reforma do ensino técnico e universitária, aqui no
Brasil a Une acumulava para a estratégia de eleger Lula
presidente. Apostaram tudo na saída eleitoral, na mudança
de gestor para solucionar os problemas da educação e
do povo.
Com a vitória de Luis
Inácio nas eleições de 2002, Une e Ubes deixam de ser
apenas estruturas burocráticas, pelegas e reformistas
para serem também órgãos oficiais e institucionais do
novo governo, numa política de traição aberta aos
estudantes. Para os oportunistas esta é uma grande
conquista, a todo instante se gabam de reunirem
periodicamente com o Ministro da Educação, se
transformaram em orgulhosos representantes do MEC e do Estado
reacionário. Hoje a pauta da Une é ditada pelo governo,
centram suas forças na concretização da "reforma
universitária", que não passa de mais uma contra-reforma
do governo Lula definida pelo FMI. Exatamente como na reforma
da previdência o governo e os oportunistas dizem que as
mudanças serão boas, acenam com propostas progressistas
mas na prática aplicam os planos de privatizar a
universidade. E Une e Ubes cumprem o vil papel de
justificar todas as ações do governo. É claro que farão
críticas pontuais como demagogia para na essência
apoiar todas as medidas do governo. Esta decadente
tarefa revela para as amplas massas estudantis de que
material são feitos estes oportunistas, não resta mais
dúvidas da ideologia traidora destes pelegos. O que
aparenta ser uma grande vitória para PT e Pecedobê é na
verdade uma grande derrota, estamos assistindo a
falência do oportunismo no movimento estudantil, estas
velhas direções não são referência de luta para mais
nenhum estudante. Este é o momento mais propício para o
combate e denúncia da traição dos pelegos. Há anos
afirmamos que os oportunistas são inimigos do povo, há
anos anunciávamos que as eleições nada mudaria na vida
de miséria de nosso povo, agora vemos a confirmação
cabal de nossas teses.
Romper com a Une: condição primeira para o desenvolvimento da luta e do movimento estudantil.
Para aqueles que querem construir um movimento
estudantil combativo e independente, a questão que se
coloca hoje é mais do que nunca a de participar ou não
das organizações estatais, Une/Ubes. Por mais que
mantenham na aparência alguma massividade estas
entidades não representam nenhum interesse do povo. É
com a referência no histórico que descrevemos e na
falência destas entidades, que vemos a necessidade
peremptória da ruptura com o oportunismo no movimento
estudantil. Une e Ubes são governo, são abertamente
inimigas dos estudantes não podem andar ao lado ou em
conjunto dos que querem desenvolver um verdadeiro movimento
estudantil de luta.
É fácil enxergar esta
necessidade, por exemplo, na luta contra a "reforma"
universitária. Se a Une está numa assembléia sobre a
"reforma" universitária, temos que ficar discutindo se é
justo ou não lutar contra a privatização da
universidade. Isto é perda do tempo que poderíamos
utilizar para discutir as estratégias da nossa luta.
Devemos garantir a independência do movimento
estudantil. Os estudantes comprometidos com a luta não
podem cair na choramingação do PCdoB que pede unidade
do movimento. O que querem no fundo é a unidade dos
estudantes com seus algozes, os que pisam sobre os
direitos do povo, os que privatizam a universidade, os que
vendem a alma para garantir cargos e o poder das classes dominantes
em nosso país. Não pode existir unidade com a Une,
com governo algum deste Estado de grandes burgueses e
latifundiários serviçais do imperialismo.
Ninguém mais pode ter a
ilusão de que existe disputa dentro de Une/Ubes. O
problema destas entidades não está simplesmente nas
suas direções, mas em toda estrutura burocratizada em
que se transformaram nos últimos anos. Existem para
tentar conter e controlar o movimento estudantil, manter os estudantes
dóceis e alienados. Não existe debate político
dentro destas entidades. Seus congressos são um jogo de
cartas marcadas onde as decisões já estão
previamente decididas por estes partidos governistas. Enquanto
a cúpula de governistas garante toda as diretivas e cargos
da entidade dentro da linha do governo, colocam os
estudantes para participarem de algo parecido com
mega-shows ou grandes feirinhas. Vale tudo para
garantir o controle destas entidades: burlar, falsificar,
fraudar. Participar destas estruturas significa legitimar a ação
governamental no movimento estudantil e um verdadeiro
atraso na luta dos estudantes. Se aliar com estas
entidades significa aliar com o governo e isto levaria
necessariamente à derrota o movimento estudantil
brasileiro.
"A unidade com os
oportunistas significa presentemente de fato a
subordinação da classe operária à ‘sua’ burguesia
nacional" (O socialismo e a guerra, Lênin)
Estar dentro da Une,
mesmo na condição de "oposição", é fazer unidade com o
oportunismo, pois esta "oposição política" nada mais é
que a legitimação do oportunismo. Por mais que falemos
que não concordamos com a "maioria" da diretoria, isto
é, o Pecedobê, apontamos aos estudantes a referência da
luta estudantil sendo um organismo dirigido por
traidores. Pecedobê e PT se aliaram para sempre com as
classes dominantes e com o imperialismo, unir-se com
eles na Une é estar unido com a burguesia. Seu
antiimperialismo é ser contra o Estados Unidos e a
favor da União Européia, da Rússia e da China. As
forças que apregoam a unidade com o oportunismo e são
contra a ruptura com a Une, ainda alimentam ilusões com
setores do PT e do Pecedobê e mesmo de que o governo Lula
fará algumas mudanças democráticas. É preciso
combater estas ilusões.
Existem aqueles que
dizem que é incorreto sair da Une porque é sob a
direção da Une que estão as amplas massas estudantis.
No texto O imperialismo e a cisão do socialismo, Lênin
faz uma profunda análise sobre a relação da ruptura com
o oportunismo e o distanciamento das massas: "Um
dos sofismas mais difundidos pelo kautitskismo é a
referência às massas. Nós, dizem eles, não queremos
cortar-nos das massas e das organizações de massas!".
Realizar congressos e passeatas com milhares de
estudantes não representa necessariamente massividade,
massas e multidão são duas coisas distintas. A Une
representa somente uma aparência de movimento, o que está
na superfície. "Engels distingue do partido operário
burguês as velhas trade unions, da minoria privilegiada,
a ‘massa inferior’ , a maioria real, apela para ela,
não contaminada pela ‘respeitabilidade burguesa".
É isto que devemos distinguir, as velhas entidades das
amplas massas estudantis, que não estão dirigidas
pelo oportunismo, estas são a maioria e é para estas
que os revolucionários devem apelar.
Não pode ser um
impeditivo da ruptura com a Une o cálculo se a posição
combativa ficará com a maioria: "Não podemos e
ninguém pode calcular qual é precisamente a parte do
proletariado que segue e seguirá os sociais
chauvinistas e oportunistas. Isto só a luta o mostrará,
só a revolução socialista o resolverá
definitivamente." Os bolcheviques durante quase
todo o processo revolucionário foram minoria nas
organizações de massa e isto não impediu que fizessem a
revolução. Justamente porque eles aplicam a "única tática marxista" romperam com o oportunismo, pois tinham a certeza que eles: "representam apenas uma minoria" e que:
"o nosso dever, se queremos permanecer socialistas é
ir mais baixo e mais fundo, para as verdadeiras massas:
nisto consiste toda a importância na luta contra o
oportunismo e todo o conteúdo desta luta. Desmascarando
que os oportunistas e sociais-chauvinistas traem e
vendem de fato os interesses das massas, que eles defendem os
privilégios temporários de uma minoria privilegiada
de operários, que eles propagam as idéias e influência
Burguesa, que de fato eles são de fato aliados e gentes
da burguesia – ensinamos deste modo as massas a identificar
os seus reais interesses políticos, a lutar pelo socialismo
e pela revolução através de todas as peripécias,
longas e dolorosas, das guerras imperialistas e dos
armistícios".
"Explicar às massas a
inevitabilidade e a necessidade da cisão com o
oportunismo, educá-las para uma luta revolucionária
implacável contra ele, ter em conta a experiência da
guerra para revelar todas as infâmias da política
operária nacional-liberal. E não para as ocultar, tal é
a única tática marxista para o movimento operário no
mundo." Devemos levar bastante a sério estes
ensinamentos. Nem ilusão nem aliança com o oportunismo.
Ao contrário combatê-los de forma inseparável do
combate ao imperialismo e a toda a reação.
Romper com a Une é o
primeiro passo para garantirmos a unidade
revolucionária dos estudantes, pois só é possível a
unidade com a luta e a Une é mais do que nunca uma
entidade governista. É ilusão achar que poderemos
derrubar as direções de PT/Pecedobê no movimento
estudantil por dentro da Une sem se contaminar pela
mesma moléstia. Se antes de serem governo o seu aparelhismo
já era enorme, agora com a máquina estatal nas mãos
é que não sairão mesmo de seus "lugarzinhos
rendosos". Romper com a Une representará o isolamento
para as forças governistas. Estarão sós e não poderão
mais falar por todos os estudantes. A ruptura coma Une
representará um impulsionamento das lutas estudantis.
Alguns companheiros
ainda pensam que romper com a Une representaria deixar
para o Pecedobê e o PT uma entidade com um passado de grandes
lutas. Romper com a Une não significa negar este passado
mas sim resgatá-lo. Um passado de luta e heroísmo
não pode se restringir a uma sigla; da mesma forma que
o Pecedobê de hoje não tem sequer nenhum vestígio
do PCdoB do Araguaia, a Une de hoje não é mais uma
entidade combativa e massiva que foi nos anos 60 e 70. Se queremos
herdar o passado das lutas dos combativos estudantes
brasileiros devemos é mirar em seus exemplos.
Representam os jovens da década de 60 aqueles que
mantêm seus ideais, ou seja, a revolução brasileira. A
Une de hoje é a negação deste passado.Para os
estudantes a Une longe de significar um passado de luta
representa uma máquina burocrática falida, que agora
foi reduzida a uma mera delegacia do Ministério da
Educação.
É por toda esta
situação que convocamos todos os estudantes a não só
romper como também expulsar das escolas e universidades
brasileiras esta entidade burguesa e governamental.
Não aceitamos a interferência do governo e do Estado
dentro do movimento estudantil. Sua bancarrota começa,
mas é necessário que atuemos ativamente na sua derrubada,
ela não cairá sozinha.
A derrota do Pecedobê e
do PT em várias eleições de grêmios, DAs e DCEs nos
apontam que são grandes as perspectivas. A Une e seus
mantenedores são conhecidos cada vez mais como inimigos
dos estudantes. Esta é a condição primeira para
conduzirmos novamente o movimento estudantil brasileiro
para o caminho da luta do povo e transformação revolucionária
do nosso país.
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