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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A alma de Joaquim Barbosa é pior que a de Thurgood Marshall, o primeiro negro da Suprema Corte Americana

A alma de Joaquim Barbosa é pior que a de Thurgood Marshall, o primeiro negro da Suprema Corte Americana



Postado em 29 Nov 2013
Thurgood-marshall-2
Joaquim Barbosa foi o primeiro negro brasileiro a se tornar juiz do Supremo Tribunal Federal.
Thurgood Marshall foi o primeiro da Suprema Corte americana.
Ambos vieram de famílias humildes e tiveram dificuldades para poder estudar.
É possível que Marshall tenha servido de inspiração para a nomeação de Barbosa, mas as semelhanças param ai.
O currículo acadêmico de Barbosa é superior ao de Marshall. Toca piano e violino, fala alemão e francês, além de português e do inglês de Marshall. Fez pós graduação na faculdade de direito da Sorbonne na rua Assas, em Paris, homenageada no nome da empresa que fundou em Miami, a Assas JB Corporation.
Marshall nunca fez pós graduação, nunca foi bolsista, acadêmico, funcionário público, nem empresário. Sempre foi advogado dos negros pobres americanos e uma águia nos tribunais americanos em defesa de seus pares.
Se Rui Barbosa foi o águia de Haia, Marshall foi a águia negra de Washington.
Nos tempos do colégio, o pai de Marshall – ajudante de um clube granfinos – gostava de ouvir julgamentos no tribunal e discutir os casos com os filhos.
Ele, o pai e o irmão mantinham debates acirrados sobre qualquer coisa. Costumavam discutir cinco noites por semana na mesa de jantar.
No colégio foi um aluno acima da média e usava seu talento como debatedor para apresentar os trabalhos escolares. Também costumava aprontar e, como castigo, foi obrigado a decorar toda a Constituição americana.
Ingressou na Lincoln University – uma universidade para negros da Pennsylvania – e foi membro da Alpha Phi Alpha – primeira associação masculina de estudantes negros dos EUA – como Martin Luther King e Jesse Owens, o velocista que obteve quatro medalhas de ouro nas olimpíadas de Berlin, deixando Hitler mais revoltado que Malcolm X.
Após formar-se em literatura americana e filosofia, Marshall decidiu tornar-se advogado. E foi rejeitado pela faculdade de direito da Universidade de Maryland por ser negro.
Novamente ingressou numa escola para negros, a Howard University. Seu mentor foi o vice-reitor Charles Hamilton Houston, formado em Harvard, que só era vice por que era negro também.
Formado em direito com louvor, começou a advogar para a Associação Nacional para o Desenvolvimento das “Pessoas de Cor” – a NAACP, em Baltimore. Seu primeiro grande caso foi Murray v. Pearson, em que defendeu outro estudante negro barrado como ele pela faculdade de direito da Universidade de Maryland. E venceu, aos 27 anos.
Hoje, a biblioteca da escola de direito da Universidade de Maryland tem o nome dele.
Em 1940, aos 35, obteve a primeira vitória na suprema corte e tornou-se conselheiro chefe da NAACP pelos próximos 25 anos. Em Chambers v. Florida conseguiu reverter uma sentença de morte da Flórida contra um jovem negro acusado de matar um branco após uma confissão forçada pela polícia.
Em Brown v. Topeka ele acabou com a segregração racial nas escolas.
Até hoje ele é o recordista em número de vitórias pelos direitos civis e a igualdade racial na suprema corte americana.
Após uma série de vitórias nos tribunais que sedimentaram a jurisprudência da igualdade de oportunidade racial nos EUA, Marshall foi nomeado por John Kennedy para a corte nacional de apelos, contra a vontade da bancada democrata sulista.
Nenhuma de suas 98 sentenças foi revertida pela corte suprema.
Lyndon Johnson nomeou-o procurador geral da União em 1965, no auge do movimento negro pelos direitos civis. Em seguida, forçou a demissão de um dos juízes da Suprema Corte nomeando seu filho como procurador geral de justiça. Com isso, abriu a vaga que desejava para colocar Marshall na corte suprema e torná-lo seu primeiro membro afrodescendente.
Ele, no entanto, preferia ser chamado de “crioulo” (negro).
Marshall colaborou na redação das constituições de Ghana e da atual Tanzania.
Ao se aposentar em 1991, aos 82 anos, ele lamentou que seu sucessor – Clarence Thomas – seria nomeado por George Bush Sr.
“Thurgood” é uma redução de thoroughgood – completamente bom.
Lula e Lyndon Johnson acertaram ao decidir equilibrar a composição social das cortes supremas do Brasil e dos EUA, deixando-as com uma cor mais parecida com a do povo.
A pele de Barbosa é muito mais negra do que a de Marshall.
Mas a alma – e o currículo -, não.
Ninguém percebeu: nem Frei Betto, nem Thomas Bastos, nem Lula.
Será que Dirceu percebeu?
Sobre o Autor
Jura Passos é jornalista especializado em comunicação do setor público, por enquanto. Foi corretor de imóveis, professor de matemática, fotógrafo, cozinheiro e físico, tendo fracassado em tudo isso. É um eterno aprendiz de capoeira e maracatu e adora viajar de bicicleta por ai, menos em São Paulo
 
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A falsa vitória dos golpistas

Enviado por on 03/12/2013 – 11:29 am 13 comentários
Finalmente encontrei a imagem que eu vinha buscando, há dias, para entender um paradoxo.
Por que a vitória da mídia, da direita e dos coxinhas psicóticos, no caso do mensalão, teve um resultado tão melancólico?
Como alguém pode subir ao podium, estourar uma champanhe, receber uma medalha, e ao mesmo tempo ser observado, por outros, como alguém que está sofrendo, sem disso ter consciência, uma derrota acachapante?
O julgamento do mensalão, da maneira como foi conduzido, noticiado e finalizado com as prisões de Dirceu e Genoíno, talvez tenha sido o canto do cisne da mídia. A sua última vitória. Última não no sentido de a mais recente, mas de derradeira. O início do fim.
Não quero me iludir ou dourar a pílula. Admito a derrota. O nosso campo conseguiu vencer a mídia em várias frentes, nos últimos anos. Por isso mesmo, o mensalão tornou-se tão importante para a mídia. Era um ponto de honra para ela vencer essa batalha. E quando falo “mídia”, refiro-me a todo um bloco de poder, um dos mais fortes no país, liderado politicamente pela grande imprensa, mas que reúne diversos setores sociais importantes, na classe média, nas elites e até mesmo junto ao povo.
No caso do mensalão, perdemos.
E, no entanto, vencemos.
A imagem que eu, no início do post, disse ter finalmente encontrado é a cena que abre e fecha um clássico do cinema italiano: o filme C’eravamo tanto amati, de Ettore Escola, ou Nós que nos amávamos tanto.
A cena traz um paradoxo. Três amigos, dois homens e uma mulher, param um carro velho e cheio de defeitos (o volante só funciona para a esquerda) junto a uma mansão situada num bairro de ricaços, no subúrbio de Roma. Eles saem do carro e caminham ao longo da murada. Vêem um homem sair da casa, vestindo um roupão, e dirigir-se à beira da piscina. O homem escala um trampolim, estica os braços e mergulha. A cena congela com o homem parado no ar.
À primeira vista, estamos diante de um vencedor. Um homem de meia idade, atlético, bonito, rico, proprietário de uma linda mansão com piscina num dos melhores bairros dos arredores da capital italiana.
Entretanto, acontece uma coisa estranha. Os três amigos que assistem a cena observam o homem com estupefação e melancolia.
“Pobre Gianni”, diz a moça, contemplando tristemente o seu ex-amigo. Os outros também fazem comentários parecidos e todos voltam ao carro, para ir embora.
Qual o mistério? Como assim, “pobre Gianni”?
É isso que o filme irá explicar. Apesar de toda a riqueza aparente, Gianni (interpretado por Vittorio Gassman) era um homem destruído moralmente. Não tinha mais alma. Para chegar onde chegou teve que se vender a um político corrupto da direita, admirador de Mussolini, inclusive casando com sua filha, que não amava. Para isso, teve que abandonar o seu grande amor, a linda Luciana, interpretada por Stefania Sandrelli.
Antes que um coxinha confunda as bolas, esclareço um ponto: Gianni não era um político de esquerda que se alia, politica ou eleitoralmente, a um quadro conservador com vistas a vencer um adversário ainda mais à direita, ou formar uma coalização de governo. Gianni largou o emprego de assessor de um político de esquerda para se tornar empregado de um parlamentar de inclinações fascistas. Mais ainda: ele ingressa na própria família do parlamentar, e assume o comando de suas negociatas e golpes, adotando um discurso cínico e antipovo.
Gianni não se alia ao diabo; ele toma o seu lugar.
A sua vitória, portanto, é falsa, porque foi paga com a sua alma.
O seu antípoda é o ultrapolitizado Antonio, vivido por Nino Manfredi, um enfermeiro de hospital que, aos poucos, se vai emancipando economicamente. Conforme os anos se passam, Antonio se torna uma espécie de operário aburguesado, que vota na centro-esquerda e rechaça o radicalismo vazio de Nicola, o terceiro do grupo de amigos que haviam lutado juntos na Resistência contra o fascismo. Nicola era um professor falido e amargurado, com ideais puros. Antonio se casa com a musa do filme, Luciana, e, pese as dificuldades econômicas que ainda enfrenta, é um homem feliz.
O filme é uma grande metáfora da história política italiana. Mas a imagem que eu procurava estava ali, naquela cena paradoxal, onde um homem rico e esbelto, saltando na piscina, representa o derrotado.
A mídia, em especial a Globo, conseguiu prender os “mensaleiros”, mas ao custo de vender o prestígio que vinha, com muito esforço, tentando recuperar após a redemocratização.
A prisão dos mensaleiros fez os coxinhas psicóticos terem orgasmo. Sentem prazer com a desgraça dos réus, condenados num processo notoriamente político, onde tudo foi de exceção. Mas eu os vejo como derrotados, porque se submeteram a um circo vergonhoso. Chancelaram um julgamento farsesco.
O Datafolha pode até afirmar que a maioria apoia a prisão dos “mensaleiros”. Claro, a informação que chegou ao povo, inclusive aos simpatizantes do PT, é de que houve uma série de crimes. Em alguns casos, até houve crimes, mas não os crimes mencionados pela acusação.
Neste sentido, outro grande derrotado é o Supremo Tribunal Federal (STF).
Confira essa fala de Ayres Brito, por exemplo, durante o julgamento do mensalão, onde ele diz que a Companhia Brasileira de Meios de Pagamento, a Visanet, uma empresa multinacional, é “pública” porque traz o “Brasileira” no nome… Brito diz que a Visanet é como a Embrapa… É simplesmente inacreditável.
Como alguém pode ser tão ridículo? E pensar que este homem, dias depois de se desligar do STF, após cumprir a missão imposta pela mídia, assinou o prefácio do livro de Merval Pereira, colunista político da Globo. Eles nem disfarçam!
O julgamento está cheio de erros grotescos desse tipo. A mídia é cúmplice dos erros porque jamais os denunciou. Dezenas de comentaristas contratados pelos grandes meios de comunicação acompanharam o julgamento e ninguém teve a coragem de apontar seus erros. Erros lógicos. Erros de data. Erros de números. Erros de nome. Erros crassos sobre o funcionamento de campanhas eleitorais. Erros monumentais sobre o que são acordos políticos e partidários.
A mídia explorou todos os preconceitos populares contra a classe política e conseguiu transformar os réus nos bodes expiatórios de séculos de corrupção. Ao adotar a fórmula clássica do linchamento, porém, jogou no lixo qualquer imagem de referencial democrático que pudesse aspirar. Abandonou todos os escrúpulos éticos que acalentava após o fim da ditadura. E não obteve ganho político significativo. Ao contrário. Dirceu e Genoíno foram presos de braços erguidos. Importantes juristas e mesmo associações de magistrados se indignaram contra as ilegalidades. A classe política ainda está em estado de choque com o show de sadismo de Joaquim Barbosa e mídia na prisão intempestiva de um homem doente como José Genoíno.
Mais importante que tudo: a mídia e seus correligionários perderam eleições em 2012 exatamente em meio aos momentos mais sensacionalistas do julgamento do mensalão. E correm o risco de perder ainda mais poder em 2014, conforme já apontam as pesquisas de intenção de voto.
Além disso, o caso do mensalão vive o seu anticlímax. Agora que os réus foram presos, que a justiça “foi feita”, a novidade virá dos próprios condenados. Afinal, justa ou injustamente, eles já começaram a pagar a sua dívida com a sociedade. Não estão mortos. A decisão de proibir Genoíno de dar entrevistas, por exemplo, é só uma tentativa ridícula e desesperada de adiar o inevitável. Eles terão oportunidade de dar sua própria versão sobre o acontecido. A novidade agora não é a condenação, que já aconteceu; não é a prisão, que já aconteceu. A novidade são os erros do processo.
A novidade é que agora temos todo o tempo do mundo para analisar esses erros, destrinchá-los, denunciá-los, e apontar os perigos de uma corte suprema ultrapoderosa (a mais poderosa do mundo, segundo Canotilho, constitucionalista português) vergada à pressão da mídia.
E conforme formos ampliando o acesso a estas informações a um conjunto maior de pessoas (e não só brasileiros), estaremos cada vez menos sozinhos nessa luta.
Queremos que todos os corruptos sejam punidos, do PT, do governo, de qualquer partido. Mas exigimos uma corte suprema livre de pressões espúrias, e que os julgamentos se dêem de forma limpa, isenta e objetiva, fundamentados em provas e não em ilações e preconceitos.
O julgamento do mensalão teve importância histórica, sim, porque marcou um dos momentos mais indignos do STF, e nos alertou para os perigos de uma aliança conservadora e golpista entre mídia e ministros do Supremo.
A “vitória” da mídia foi prender um homem sem uso de provas, como é o caso de Dirceu; e que usará este fato para construir uma resposta histórica e avassaladora contra o neogolpismo judiciário que emergiu no país.
A “vitória” da mídia foi cometer a vileza inominável de inflingir uma tortura desnecessária a um político a quem o Estado já havia torturado uma vez, como é o caso de José Genoíno.
A “vitória” da Globo foi terminar o ano com a menor audiência de sua história, e ainda manchada com uma grave denúncia de sonegação feita por um humilde blogueiro.
No fundo, eles sabem que perderam, e talvez seja essa a explicação para seu sadismo contra Genoíno e Dirceu: não aceitam que eles tenham se entregado à polícia de cabeça erguida, os punhos erguidos em sinal de vitória. E também por isso Dirceu e Genoíno ergueram os braços. Ambos sabem que a própria injustiça da qual são vítimas é o louro de seu triunfo. O que perderam em liberdade, ganharam em honra.
Deixemo-los, portanto, aos barões da mídia, aos coxinhas psicóticos e raivosos, darem seu último mergulho na piscina de suas indignidades e vilezas. Deixemo-los se comprazer com sua efêmera vitória, e comemorarem o sofrimento de um homem íntegro como José Genoíno.
Eles não poderão jamais matar a paixão com a qual travamos o bom combate político. Eles não tem tanto poder assim. Nem nos persuadirão, como às vezes tentam fazer com suas provocações, a ultrapassar o marco democrático e apelar à violência. Não. A nós, interessa a paz e a democracia. Foram eles que defenderam a ditadura, a truculência, a censura. Fomos nós que lutamos pela democracia, pela paz e pela liberdade.
Iremos vencê-los nas urnas, e esmagar seus ímpetos golpistas com leis democráticas e universalizantes. E todos os seus golpes de hoje serão cobrados com juros e correção monetária.
nos_opt
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A falsa vitória dos golpistas

Enviado por on 03/12/2013 – 11:29 am 13 comentários
Finalmente encontrei a imagem que eu vinha buscando, há dias, para entender um paradoxo.
Por que a vitória da mídia, da direita e dos coxinhas psicóticos, no caso do mensalão, teve um resultado tão melancólico?
Como alguém pode subir ao podium, estourar uma champanhe, receber uma medalha, e ao mesmo tempo ser observado, por outros, como alguém que está sofrendo, sem disso ter consciência, uma derrota acachapante?
O julgamento do mensalão, da maneira como foi conduzido, noticiado e finalizado com as prisões de Dirceu e Genoíno, talvez tenha sido o canto do cisne da mídia. A sua última vitória. Última não no sentido de a mais recente, mas de derradeira. O início do fim.
Não quero me iludir ou dourar a pílula. Admito a derrota. O nosso campo conseguiu vencer a mídia em várias frentes, nos últimos anos. Por isso mesmo, o mensalão tornou-se tão importante para a mídia. Era um ponto de honra para ela vencer essa batalha. E quando falo “mídia”, refiro-me a todo um bloco de poder, um dos mais fortes no país, liderado politicamente pela grande imprensa, mas que reúne diversos setores sociais importantes, na classe média, nas elites e até mesmo junto ao povo.
No caso do mensalão, perdemos.
E, no entanto, vencemos.
A imagem que eu, no início do post, disse ter finalmente encontrado é a cena que abre e fecha um clássico do cinema italiano: o filme C’eravamo tanto amati, de Ettore Escola, ou Nós que nos amávamos tanto.
A cena traz um paradoxo. Três amigos, dois homens e uma mulher, param um carro velho e cheio de defeitos (o volante só funciona para a esquerda) junto a uma mansão situada num bairro de ricaços, no subúrbio de Roma. Eles saem do carro e caminham ao longo da murada. Vêem um homem sair da casa, vestindo um roupão, e dirigir-se à beira da piscina. O homem escala um trampolim, estica os braços e mergulha. A cena congela com o homem parado no ar.
À primeira vista, estamos diante de um vencedor. Um homem de meia idade, atlético, bonito, rico, proprietário de uma linda mansão com piscina num dos melhores bairros dos arredores da capital italiana.
Entretanto, acontece uma coisa estranha. Os três amigos que assistem a cena observam o homem com estupefação e melancolia.
“Pobre Gianni”, diz a moça, contemplando tristemente o seu ex-amigo. Os outros também fazem comentários parecidos e todos voltam ao carro, para ir embora.
Qual o mistério? Como assim, “pobre Gianni”?
É isso que o filme irá explicar. Apesar de toda a riqueza aparente, Gianni (interpretado por Vittorio Gassman) era um homem destruído moralmente. Não tinha mais alma. Para chegar onde chegou teve que se vender a um político corrupto da direita, admirador de Mussolini, inclusive casando com sua filha, que não amava. Para isso, teve que abandonar o seu grande amor, a linda Luciana, interpretada por Stefania Sandrelli.
Antes que um coxinha confunda as bolas, esclareço um ponto: Gianni não era um político de esquerda que se alia, politica ou eleitoralmente, a um quadro conservador com vistas a vencer um adversário ainda mais à direita, ou formar uma coalização de governo. Gianni largou o emprego de assessor de um político de esquerda para se tornar empregado de um parlamentar de inclinações fascistas. Mais ainda: ele ingressa na própria família do parlamentar, e assume o comando de suas negociatas e golpes, adotando um discurso cínico e antipovo.
Gianni não se alia ao diabo; ele toma o seu lugar.
A sua vitória, portanto, é falsa, porque foi paga com a sua alma.
O seu antípoda é o ultrapolitizado Antonio, vivido por Nino Manfredi, um enfermeiro de hospital que, aos poucos, se vai emancipando economicamente. Conforme os anos se passam, Antonio se torna uma espécie de operário aburguesado, que vota na centro-esquerda e rechaça o radicalismo vazio de Nicola, o terceiro do grupo de amigos que haviam lutado juntos na Resistência contra o fascismo. Nicola era um professor falido e amargurado, com ideais puros. Antonio se casa com a musa do filme, Luciana, e, pese as dificuldades econômicas que ainda enfrenta, é um homem feliz.
O filme é uma grande metáfora da história política italiana. Mas a imagem que eu procurava estava ali, naquela cena paradoxal, onde um homem rico e esbelto, saltando na piscina, representa o derrotado.
A mídia, em especial a Globo, conseguiu prender os “mensaleiros”, mas ao custo de vender o prestígio que vinha, com muito esforço, tentando recuperar após a redemocratização.
A prisão dos mensaleiros fez os coxinhas psicóticos terem orgasmo. Sentem prazer com a desgraça dos réus, condenados num processo notoriamente político, onde tudo foi de exceção. Mas eu os vejo como derrotados, porque se submeteram a um circo vergonhoso. Chancelaram um julgamento farsesco.
O Datafolha pode até afirmar que a maioria apoia a prisão dos “mensaleiros”. Claro, a informação que chegou ao povo, inclusive aos simpatizantes do PT, é de que houve uma série de crimes. Em alguns casos, até houve crimes, mas não os crimes mencionados pela acusação.
Neste sentido, outro grande derrotado é o Supremo Tribunal Federal (STF).
Confira essa fala de Ayres Brito, por exemplo, durante o julgamento do mensalão, onde ele diz que a Companhia Brasileira de Meios de Pagamento, a Visanet, uma empresa multinacional, é “pública” porque traz o “Brasileira” no nome… Brito diz que a Visanet é como a Embrapa… É simplesmente inacreditável.
Como alguém pode ser tão ridículo? E pensar que este homem, dias depois de se desligar do STF, após cumprir a missão imposta pela mídia, assinou o prefácio do livro de Merval Pereira, colunista político da Globo. Eles nem disfarçam!
O julgamento está cheio de erros grotescos desse tipo. A mídia é cúmplice dos erros porque jamais os denunciou. Dezenas de comentaristas contratados pelos grandes meios de comunicação acompanharam o julgamento e ninguém teve a coragem de apontar seus erros. Erros lógicos. Erros de data. Erros de números. Erros de nome. Erros crassos sobre o funcionamento de campanhas eleitorais. Erros monumentais sobre o que são acordos políticos e partidários.
A mídia explorou todos os preconceitos populares contra a classe política e conseguiu transformar os réus nos bodes expiatórios de séculos de corrupção. Ao adotar a fórmula clássica do linchamento, porém, jogou no lixo qualquer imagem de referencial democrático que pudesse aspirar. Abandonou todos os escrúpulos éticos que acalentava após o fim da ditadura. E não obteve ganho político significativo. Ao contrário. Dirceu e Genoíno foram presos de braços erguidos. Importantes juristas e mesmo associações de magistrados se indignaram contra as ilegalidades. A classe política ainda está em estado de choque com o show de sadismo de Joaquim Barbosa e mídia na prisão intempestiva de um homem doente como José Genoíno.
Mais importante que tudo: a mídia e seus correligionários perderam eleições em 2012 exatamente em meio aos momentos mais sensacionalistas do julgamento do mensalão. E correm o risco de perder ainda mais poder em 2014, conforme já apontam as pesquisas de intenção de voto.
Além disso, o caso do mensalão vive o seu anticlímax. Agora que os réus foram presos, que a justiça “foi feita”, a novidade virá dos próprios condenados. Afinal, justa ou injustamente, eles já começaram a pagar a sua dívida com a sociedade. Não estão mortos. A decisão de proibir Genoíno de dar entrevistas, por exemplo, é só uma tentativa ridícula e desesperada de adiar o inevitável. Eles terão oportunidade de dar sua própria versão sobre o acontecido. A novidade agora não é a condenação, que já aconteceu; não é a prisão, que já aconteceu. A novidade são os erros do processo.
A novidade é que agora temos todo o tempo do mundo para analisar esses erros, destrinchá-los, denunciá-los, e apontar os perigos de uma corte suprema ultrapoderosa (a mais poderosa do mundo, segundo Canotilho, constitucionalista português) vergada à pressão da mídia.
E conforme formos ampliando o acesso a estas informações a um conjunto maior de pessoas (e não só brasileiros), estaremos cada vez menos sozinhos nessa luta.
Queremos que todos os corruptos sejam punidos, do PT, do governo, de qualquer partido. Mas exigimos uma corte suprema livre de pressões espúrias, e que os julgamentos se dêem de forma limpa, isenta e objetiva, fundamentados em provas e não em ilações e preconceitos.
O julgamento do mensalão teve importância histórica, sim, porque marcou um dos momentos mais indignos do STF, e nos alertou para os perigos de uma aliança conservadora e golpista entre mídia e ministros do Supremo.
A “vitória” da mídia foi prender um homem sem uso de provas, como é o caso de Dirceu; e que usará este fato para construir uma resposta histórica e avassaladora contra o neogolpismo judiciário que emergiu no país.
A “vitória” da mídia foi cometer a vileza inominável de inflingir uma tortura desnecessária a um político a quem o Estado já havia torturado uma vez, como é o caso de José Genoíno.
A “vitória” da Globo foi terminar o ano com a menor audiência de sua história, e ainda manchada com uma grave denúncia de sonegação feita por um humilde blogueiro.
No fundo, eles sabem que perderam, e talvez seja essa a explicação para seu sadismo contra Genoíno e Dirceu: não aceitam que eles tenham se entregado à polícia de cabeça erguida, os punhos erguidos em sinal de vitória. E também por isso Dirceu e Genoíno ergueram os braços. Ambos sabem que a própria injustiça da qual são vítimas é o louro de seu triunfo. O que perderam em liberdade, ganharam em honra.
Deixemo-los, portanto, aos barões da mídia, aos coxinhas psicóticos e raivosos, darem seu último mergulho na piscina de suas indignidades e vilezas. Deixemo-los se comprazer com sua efêmera vitória, e comemorarem o sofrimento de um homem íntegro como José Genoíno.
Eles não poderão jamais matar a paixão com a qual travamos o bom combate político. Eles não tem tanto poder assim. Nem nos persuadirão, como às vezes tentam fazer com suas provocações, a ultrapassar o marco democrático e apelar à violência. Não. A nós, interessa a paz e a democracia. Foram eles que defenderam a ditadura, a truculência, a censura. Fomos nós que lutamos pela democracia, pela paz e pela liberdade.
Iremos vencê-los nas urnas, e esmagar seus ímpetos golpistas com leis democráticas e universalizantes. E todos os seus golpes de hoje serão cobrados com juros e correção monetária.
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