A classe média suicida
23 de Dezembro de 2013 | 14:42 Autor: Fernando Brito
- Imbecis, é por vocês que vou morrer!
O comportamento da elite brasileira, por vezes, lembra o daqueles franceses, que, por covardia e interesses pessoais, tornaram-se agentes da dominação hitleriana sobre o país.
O Brasil jamais, em sua história, foi mais um país de classe média como é hoje – não obstante ainda termos uma legião imensa de excluídos. Parece mesmo irônico que o governo petista viesse a repetir aquela frase com que procurava desqualificar, nos tempos de imaturidade, Getúlio Vargas, apontado como “o pai dos pobres e a mãe dos ricos”.
Ontem, o BC divulgou o salto dos gastos de brasileiros no exterior: US$ 2,1 bilhões em abril de 2013, 17% acima do registrado em abril do ano passado. Nos quatro primeiros meses do ano, passaram de US$ 8 bilhões.
É obvio que tamanha gastança não é feita pelas elites tradicionais, apenas. Grande parte dela provém da classe média que, deslumbrada com seu poder de compra crescente, viaja à Turquia por causa da novela da Globo ou compra enxovais de bebês em Nova York.
Não se está condenando estas pessoas – embora haja coisas bem melhores para motivar viagens – mas apontando a contradição entre o que podem hoje e o que se deixam levar a pensar sobre o governo que sustenta um crescimento econômico que lhes permite o que, antes, não podia fazer.
Mas é impressionante como ela se deixa levar pelo catastrofismo econômico que, há anos e sob as mais variadas formas, os porta-vozes da dominação financeira que subjugou este país impõem através da mídia e daqueles que ela seleciona como “analistas de economia”.
Porque é ele, o mundo das finanças e dos ganhos astronômicos que não perdoa que, em parte, tenha tido de moderar seus apetites sobre a carne suculenta deste país que, antes, devoravam sem qualquer moderação.
Ontem, o Brasil 247 pôs o dedo na ferida: embora a inflação inicie uma trajetória de queda, a economia aumente sua atividade e o IBGE acabe de registrar o menor índice de desemprego para o mês de abril em 11 anos, a pressão do catastrofismo não dá tréguas.
O 247 vai ao ponto: eles querem é mais juros.
Os juros que, aliás, a classe média paga em seu consumo.
Como os soldados de Vichy, eles seguem o que os colaboracionistas da dominação lhes ordenam. E nem percebem que são ordens, acham que é mesmo aquilo o que pensam.
Felizmente, também como na França ocupada, eles são minoria, como provam as pesquisas de opinião sobre a popularidade do Governo Dilma.
Mas são os que têm voz, pelos meios de comunicação.
Porque nós, os que defendemos uma trajetória de libertação e avanço deste país, não falamos. E, quando falamos, nos fixamos muito mais na crítica às concessões que a política obriga um governo progressista a fazer.
E, sob este clima, toda sorte de oportunismos se espalha: os marinismos, as chantagens parlamentares do PMDB, a dança com que Eduardo Campos se oferece como alternativa à direita, desfalcada de um José Serra que afunda – atirando, aliás – e um Aécio Neves que não decola.
E, tal como naquela França do pré-guerra, não vão faltar figuras como a de Pierre Laval, que passou de socialista a expoente da direita e um dos maiores colaboradores dos alemães.
Se não entendermos que teremos, nas eleições do ano que vem, de enfrentar corações e mentes desta classe média ascendente com o máximo de solidez possível na base de apoio ao Governo progressista, estaremos correndo sérios riscos.
Isso, de maneira alguma, significa deixarmos de pensar o que pensamos e combater desvios – políticos e pessoais – do poder.
Mas, também, e jamais, esquecermos que a luta que se trava é maior e mais, muito mais, importante e vital.
É pelos direitos do povo brasileiro – mesmo os de sua classe média – de viver melhor, num país livre, que não mais será escravo de ninguém.
http://tijolaco.com.br/blog/?p=181
PUBICAÇÃO ORIGINAL DO BLOG TIJOLAÇO
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