Páginas

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

EUA testaram armas químicas em cidadãos pobres

EUA testaram armas químicas em cidadãos pobresOs Estados Unidos estão se aproveitando da agudização da guerra civil na Síria para realizar mais uma intervenção militar, que tem como objetivo real enriquecer sua poderosa indústria militar e controlar mais um país na estratégica região do Oriente Médio. Os pretextos são os mesmos utilizados nas outras intervenções que recheiam sua extensa folha corrida de ataques à soberania dos povos: defesa da liberdade e dos direitos humanos – autoproclamando-se polícia do mundo – ou a cínica defesa incondicional dos interesses e da segurança do povo estadunidense.
Esses pretextos estão cada vez desmoralizados. Um país que patrocinou diversos golpes de Estado, incluindo as sangrentas ditaduras militares na América Latina, não tem moral para se considerar defensor da liberdade no mundo. Defender direitos humanos enquanto tortura presos em Guantánamo também não dá para engolir. Mas agora é a própria preocupação e zelo com a segurança de seus cidadãos que está em xeque – pelo menos se esses cidadãos forem negros e pobres.
Um estudo conduzido por Lisa Martino-Taylor, professora de sociologia da Faculdade Comunitária de Saint Louis, publicado em setembro do ano passado nos EUA, vasculhou documentos públicos e verificou casos de envenenamento por sulfeto de cádmio e zinco durante as décadas de 1950 e 1960. A pesquisa indicou que os militares norte-americanos haviam testado em seus próprios cidadãos esses compostos empregados na fabricação de armas químicas, utilizando a desculpa de que estavam testando em Saint Louis uma cortina de fumaça que protegeria a cidade em caso de ataques aéreos soviéticos.
As Forças Armadas dos EUA patrocinaram os testes especificamente em áreas socialmente marginalizadas, de elevada densidade populacional, onde a predominância era de cidadãos negros e de baixo poder aquisitivo. Em entrevista ao jornal local KSDK, a pesquisadora se disse “muito chocada com o grau de falsidade e sigilo” das autoridades responsáveis pelas operações. “Elas claramente se esforçaram ao máximo para enganar as pessoas”, concluiu.
Os testes de armas químicas em humanos teriam sido produto do que Lisa Martino chama de Coalizão Manhattan-Rochester, um programa de pesquisas do governo norte-americano que tentou mensurar, no contexto da Guerra Fria, o impacto de reações radioativas no organismo humano. Experimentos semelhantes também teriam ocorrido na cidade de Corpus Christi, Estado do Texas.
A maior parte dos compostos tóxicos era despejada por meio de aviões durante voos rasantes sobre os alvos. No entanto, Lisa Martino alega que pulverizadores também eram posicionados no alto de arranha-céus e torres meteorológicas da região. Em 1953, foram ao todo 16 testes – não menos que 35 disparos de sulfeto de zinco e cádmio em Saint Louis. A vizinhança mais afetada é descrita como “uma favela densamente povoada”, onde residiam cerca de 10 mil cidadãos de baixa renda, em sua maioria crianças.
As vítimas do teste
Uma possível vítima desses experimentos militares foi DorisSpate, hoje uma aposentada de 58 anos. A aposentada era uma bebê quando seu pai morreu inexplicavelmente em 1955. Além disso, quatro de seus irmãos morreram de câncer relativamente jovens e ela própria sobreviveu a um câncer na coluna cervical. As pulverizações eram realizadas do alto de seu edifício.
“Eu estou espantada que isso tenha se dado em nosso sistema”, disse Spates. “Quando ouvi sobre o teste, pensei: ‘Ó, meu Deus, se eles fizeram isso, não há como dizer o que mais estão escondendo.”
Mary Helen Brindell, 69 anos, também ficou chocada. Sua família morou em um bairro operário multirracial em que houve os testes. O exército admite apenas ter utilizado os pulverizadores para espalhar o produto químico, mas Mary se recorda de um dia de verão em que jogava basebol na rua com outras crianças quando um esquadrão de aviões verdes do exército voou rente ao chão e soltou uma substância poeirenta. Ela entrou, lavou o rosto e os braços, e saiu de novo para jogar. Ao longo dos anos, Brindell lutou contra quatro tipos de câncer: mama, tireoide, pele e útero.
“Eu me senti traída”, disse Brindell, que é branca. “Como puderam fazer isso? Nós condenamos o Holocausto e fizemos isto?”
Martino-Taylor disse não ter conhecimento de nenhuma ação ajuizada por vítimas dos testes militares e que nenhum pagamento de indenizações e nem sequer um pedido de desculpas foi feito por parte do governo às pessoas atingidas.
Radiotividade
A pesquisa não foi capaz de concluir com precisão se realmente havia compostos radioativos em meio à mistura de sulfeto de cádmio e zinco. Em sua entrevista ao jornal KSDK, Lisa Martino diz que “há várias evidências de que houve compostos radiológicos envolvidos no experimento”.
Sua hipótese principal é de que a essa mistura foram adicionadas partículas fluorescentes, utilizadas para “iluminar” os alvos e identificá-los para outros testes. Há suspeita de que uma companhia chamada US Radium esteve envolvida com esta parte do experimento.
Como este caso demonstra, a máquina de guerra estadunidense não existe para garantir a liberdade, a democracia e muito menos os direitos humanos. Ela serve para garantir os interesses imperialistas de sua burguesia. E, para isso, é capaz de sacrificar seus próprios compatriotas pobres e negros, da mesma forma como Hitler sacrificou os judeus na Alemanha.
Clodoaldo de Oliveira, João Pessoa

Nenhum comentário:

Postar um comentário