Olga Benario Prestes: um exemplo para os jovens de hoje
A revolucionária, até o último dia de sua trágica existência, manteve-se firme perante o inimigo e solidária com as companheiras
07/02/2011
Anita Leocadia Prestes
Olga
Benario Prestes nasceu em Munique (Alemanha) a 12 de fevereiro de 1908.
Aos quinze anos de idade, sensibilizada pelos graves problemas sociais
presentes na Alemanha dos anos de 1920, Olga viria a aproximar-se da
Juventude Comunista, organização política em que passaria a militar
ativamente. Aos 16 anos, apaixonada pelo jovem dirigente comunista Otto
Braum, Olga sai da casa paterna e junto com o companheiro viaja para
Berlim, onde ambos irão desenvolver intensa atividade política no bairro
operário de Neukölln. Embora vivendo com nomes falsos, na
clandestinidade, Olga e Otto acabam sendo presos em outubro de 1926.
Ainda que Olga tenha ficado detida apenas dois meses, Otto permaneceu
preso, acusado de “alta traição à pátria”. Em abril de 1928, Olga, à
frente de um grupo de jovens comunistas, lidera assalto à prisão de
Moabit para libertar Otto. A ação foi coroada de êxito total, pois além
de o prisioneiro ter escapado da prisão de “segurança máxima”, Olga e
seus camaradas conseguiram fugir incólumes. A cabeça de Olga é posta a
prêmio pelas autoridades alemãs.
Tarefa internacional
Por
decisão do Partido Comunista, Olga e Otto viajaram clandestinamente
para Moscou, onde a jovem comunista de apenas 20 anos se torna dirigente
destacada da Internacional Comunista da Juventude. No final de 1934, já
separada de Otto, Olga recebe a tarefa da Internacional Comunista de
acompanhar Luiz Carlos Prestes em sua viagem de volta ao Brasil, zelando
pela sua segurança, uma vez que o governo Vargas decretara sua prisão.
Prestes e Olga partiram de Moscou no final de dezembro de 1934, viajando
com passaportes falsos, como marido e mulher, apesar de estarem se
conhecendo naqueles dias. Durante a longa e acidentada viagem rumo ao
Brasil, os dois se apaixonam, tornando-se efetivamente marido e mulher.
Em
março de 1935, Prestes é aclamado, no Rio de Janeiro, presidente de
honra da Aliança Nacional Libertadora (ANL), uma ampla frente única,
cujo programa visava a luta contra o imperialismo, o latifúndio e a
ameaça fascista, que pairava sobre o mundo e também sobre o Brasil.
Prestes e Olga chegam ao Brasil em abril desse ano, passando a viver
clandestinamente na cidade do Rio de Janeiro. O “Cavaleiro da Esperança”
torna-se a principal liderança do movimento antifascista no Brasil e,
assessorado o tempo todo por Olga, participa da preparação da
insurreição armada contra o governo Vargas, a qual deveria estabelecer
no país um governo Popular Nacional Revolucionário, representativo das
forças sociais e políticas agrupadas na ANL.
Repressão e prisão
Com
o insucesso dos levantes de novembro de 1935, desencadeia-se violenta
repressão policial contra os comunistas e seus aliados. Em 5 de março de
1936, Prestes e Olga são presos no subúrbio carioca do Méier por ordem
do famigerado capitão Filinto Muller, então chefe de polícia do governo
Vargas. A ordem expedida aos agentes policiais era clara – a liquidação
física de Luiz Carlos Prestes. No momento da prisão, Olga salvou-lhe a
vida, interpondo-se entre ele e os policiais, impedindo o assassinato do
líder revolucionário. Uma vez localizados e presos, Prestes e Olga
foram violentamente separados. Ele, conduzido para o antigo quartel da
Polícia Especial, no morro de Santo Antônio, no centro do Rio. Olga,
após uma breve passagem pela Polícia Central, foi levada para a Casa de
Detenção, situada então à rua Frei Caneca, onde ficou detida junto às
demais companheiras que haviam participado do movimento da ANL.
Extradição
Prestes
e Olga nunca mais se veriam. Em setembro de 1936, Olga, grávida de sete
meses, era extraditada para a Alemanha hitlerista pelo governo de
Getúlio Vargas. Junto com Elise Ewert, outra comunista e
internacionalista alemã que participara da luta antifascista no Brasil,
foi embarcada à força, na calada da noite, no navio cargueiro alemão “La
Coruña”, viajando ilegalmente, sem culpa formada, sem julgamento nem
defesa. O comandante do navio recebeu ordens expressas de cônsul alemão
no Brasil para dirigir-se direto a Hamburgo, sem parar em nenhum outro
porto estrangeiro, pois havia precedentes de os portuários franceses e
espanhóis resgatarem prisioneiros deportados para a Alemanha, quando
tais navios aportavam à Espanha ou à França. Após longa e pesada
travessia, as duas prisioneiras foram conduzidas incomunicáveis para a
prisão de mulheres de Barnimstrasse, em Berlim, onde Olga deu à luz sua
fi lha Anita Leocadia, em novembro de 1936.
Numa
exígua cela dessa prisão, submetida a regime de rigoroso isolamento,
Olga conseguiu criar a fi lha até a idade de 14 meses, graças à ajuda,
em alimentos, roupas e dinheiro, que recebeu da mãe e da irmã de
Prestes. Ambas se encontravam em Paris dirigindo a campanha
internacional de solidariedade aos presos políticos no Brasil. Com a
deportação de Olga, a campanha se ampliara em defesa da esposa de
Prestes e de sua filha. Várias delegações estrangeiras foram à Alemanha
pressionar a Gestapo, obtendo afinal a entrega da criança à avó paterna –
Leocádia Prestes, mulher valente e decidida, a quem o grande poeta
chileno Pablo Neruda dedicou o poema Dura Elegia, que se inicia com o
verso : “Señora, hiciste grande, más grande, a nuestra América...”
Assassinada numa câmara de gás
A
campanha internacional, que atingiu vários continentes, não conseguiu,
contudo, a libertação de Olga. Logo depois ela seria transferida para a
prisão de Lichtenburg, situada a cem quilômetros ao sul de Berlim. Um
ano mais tarde, Olga era confinada no campo de concentração de
Ravensbruck, onde juntamente com milhares de outras prisioneiras seria
submetida a trabalhos forçados para a indústria de guerra da Alemanha
nazista. A situação de Olga seria particularmente penosa, pois carregava
consigo duas pechas consideradas fatais – a de comunista e a de judia.
Em abril de 1942, Olga era transferida, numa leva de prisioneiras
marcadas para morrer, para o campo de concentração de Bernburg, onde
seria assassinada numa câmara de gás.
O exemplo
Olga,
segundo os depoimentos de todos que a conheceram e conviveram com ela,
nunca vacilou diante das grandes provações que teve que enfrentar. Até o
último dia de sua trágica existência, manteve-se firme perante o
inimigo e solidária com as companheiras. Ao despedir-se do marido e da
fi lha, antes de ser levada para a morte, escreveu: ”Lutei pelo justo,
pelo bom e pelo melhor do mundo”; “até o último momento manter-me-ei
firme e com vontade de viver”.
A vida e a luta de
uma revolucionária como Olga, comunista e internacionalista, não foi em
vão; seu heroísmo serve de exemplo e de inspiração para os jovens de
hoje.
Anita
Leocádia Prestes é professora do Programa de Pós-graduação em História
Comparada da UFRJ e Presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes.
Artigo publicado originalmente na edição 414 do Brasil de Fato.
http://www.brasildefato.com.br/node/5617
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